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domingo, 2 de abril de 2023

Alô, mercadores! Nem todos estão à venda. Percival Puggina

            Os primeiros, foram os eleitores. Levaram a sério a ideia de que um partido nascido da fusão do Democratas com o PSL forçosamente estaria alinhado na trincheira oposta àquela onde se instalasse o PT, se vitorioso na eleição presidencial. O União Brasil jamais seria parceiro de um governo petista. Em seguida, contados os votos, foi a vez de jornalistas, cientistas políticos, colunistas, palpiteiros, internautas no remo ou na cabine de comando, em ampla maioria, passarem recibo ao mesmo conceito: as cadeiras do União no Congresso ocupavam o quadrante direito dos gráficos.

Ninguém contava com a má-fé que, passada a eleição, levou o partido com a segunda maior bancada conservadora e liberal do Congresso a ocupar três ministérios no governo Lula. Verdade que o apoio prestado não está correspondendo ao que informam as tabelas usuais de conversão de cargos de governo em votos parlamentares nas casas legislativas do país. Sim, é desse jeito que a coisa funciona. No caso do União, é visível o desconforto de congressistas que se mantém fiéis às convicções com que se apresentaram aos eleitores em outubro do ano passado.

Nesse território se movimenta o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, filiado ao Novo. No horizonte político do centro para a direita, ele é um dos nomes que pode surgir como alternativa caso se inviabilize a apresentação de Bolsonaro em 2026. 
No entanto, o Novo que o reelegeu conquistou apenas três cadeiras na Câmara dos Deputados e nenhuma no Senado.
 
Ciente disso, Zema tem trabalhado para ampliar o partido no Congresso, ciscando nas insatisfações do União Brasil. 
No mês passado, atraiu o combativo senador Eduardo Girão, do Podemos. Nestes dias, tem conversado com o senador Sérgio Moro, do União. 
É óbvio que o senador paranaense deve andar muito desconfortável sob uma legenda da base de apoio do Lula que regurgita anseios de vingança em relação a ele e o acusa de armar um autossequestro.

À medida que o desastre anunciado se for confirmando (coisa que, sinceramente, não desejo à nação) e o novo governo, em sua volta ao passado, [ou à cena do crime, como disse Alckmin, vice-presidente do ex-presidiário e que está pronto a cumprir, se necessário, o seu DEVER CONSTITUCIONAL]  atolar todos no pântano do qual havíamos conseguido sair, a colheita de Zema deve prosperar. E a oposição ganhará consistência no Congresso.

Felizmente, nem tudo se paga com cargos e nem todos por eles se vendem.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

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