Há perguntas demais sem resposta no caso que resultou na demissão do ministro do GSI
O presidente chegou ao Palácio do Planalto com uma oposição ideologicamente enfraquecida, embora bastante aguerrida e validada por boa parte do eleitorado.
Lula tinha tudo para ver seus inimigos sofrerem aos poucos um processo de atrofia.
Em vez disso, é do governo que sai o combustível que mantém o bolsonarismo aceso.
É ministro passeando em feira de cavalos com diárias da Presidência, anúncios atabalhoados sobre voltar atrás em reformas, bravatas sobre barrar serviços de carros por aplicativo, divulgações apressadas sobre a taxação das compras nas tremendamente populares varejistas chinesas como Shein e Shopee. Só para citar alguns exemplos.
Ontem, a bomba de gasolina jorrou mais forte após a veiculação das imagens obtidas pela CNN Brasil, mostrando Gonçalves Dias no interior do Palácio do Planalto, no auge do quebra-quebra bolsonarista. A versão difundida ontem à tarde pelos auxiliares do presidente, de que ele não sabia de nada e teria sido enganado pelo auxiliar, vem cheia de buracos.
Lula teria pedido ao ministro que lhe entregasse as imagens das câmeras de TV após os ataques e sido ignorado. Aos olhos desta colunista, já soa bem estranho que um presidente da República, diante da gravidade dos fatos, tenha aceitado pacificamente a recusa de um auxiliar em fornecer essas imagens.
Além disso, o ministro teria dito que a câmera em frente ao gabinete presidencial estava quebrada.
Lula teria pedido para ver especificamente as imagens da câmera do gabinete presidencial? Com que propósito?
Não seria natural ter confiado nos seus ministros e pedido uma seleção de trechos onde houve depredação?
Pela tese petista, o ministro se recusou a fornecer as imagens, disse que uma câmera em especial estava quebrada e ficou por isso mesmo.
Ainda assim, o mesmo ministro entrega espontaneamente todo o conteúdo do circuito interno a órgãos de investigação?
Ao menos foi o que o próprio disse ontem após pedir demissão.
Ainda assim, pessoas próximas a Lula insistiam no fim da tarde de ontem em descrever Gonçalves Dias como um homem fiel ao presidente.
Um aliado que jamais teria agido em conjunto com os bolsonaristas nos ataques.
Mas, se o ministro mentiu para o presidente como está sendo dito, o que o torna merecedor de tamanha confiança?
Outro ponto mencionado frequentemente é que Gonçalves Dias tinha acabado de assumir e, portanto, o time do GSI que estava sob seu comando naquele dia ainda era herdado da gestão de Jair Bolsonaro. Supostamente, o ministro teria sido traído por sua equipe.
Como mostram as imagens, ele estava dentro do Planalto no momento dos ataques.
Portanto, deve ter assistido ao ocorrido e procurado identificar quem agisse em desacordo com o que se espera da segurança presidencial.
Houve uma investigação posterior?
Essas pessoas foram chamadas pelo ministro a dar explicações?
Alguém foi punido?
Fica no ar a sensação de que o governo quis agir rápido. Diante da força das imagens veiculadas ontem, a situação do ministro teria ficado insustentável e o melhor seria estancar logo a sangria.
Mas são perguntas demais que seguem sem resposta.
+Saiba mais: Escândalo do chefe do GSI traz uma antiga assombração para Lula
Clarissa Oliveira - Coluna Revista VEJA
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