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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Estado precisa criar estratégias para conter casos de balas perdidas - Editorial - O Globo

Pelo menos quatro crianças já foram atingidas por tiros este ano no Rio, situação inaceitável

No dia 10 de janeiro, a menina Anna Carolina de Souza Neves, de 8 anos, estava no sofá de sua casa, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, quando foi atingida na cabeça por uma bala perdida. Ela foi levada para o Hospital estadual Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias, mas não conseguiram salvá-la. Como mostrou reportagem do GLOBO, a Delegacia de Homicídios da Baixada abriu inquérito para investigar o caso, mas não se sabe ainda de onde partiu o tiro. É sintomático que, à época, noticiou-se que Anna era a primeira criança vítima de bala perdida este ano no estado. A rotina violenta do Rio fazia supor que haveria outras. Como, de fato, houve.

[se impõe considerar alguns pontos:
- sempre que alguém, criança ou adulto, é vitimado por uma bala perdida, a reação imediata é de responsabilizar a polícia - seja partindo de um  repórter que gosta de estar bem na fita com bandidos (infelizmente, existe alguns deste tipo; poucos, mas, há alguns.) ou de moradores que são coagidos a declarar que o tiro partiu dos policiais - imagine, que morador de favela vai ter coragem para declarar a imprensa, com moradores e bandidos assistindo, que o tiro partiu dos traficantes ou que não viu de qual lado? o morador sempre declara, e vai continuar declarando, que o tiro partiu da polícia.
Assim, antes de acusar o policial deve ser feito uma perícia e se comprovado que o disparo partiu da arma de um policial, que se investigue,  buscando comprovar se houve dolo ou apenas uma fatalidade.
Não pode ser olvidado em qualquer investigação que os traficantes podem perfeitamente, durante tiroteios, disparar contra uma criança ou adulto - sempre que alguém é atingido por uma uma bala perdida, o conceito da polícia cai e a tendência a restringir operações, que sempre prejudicam o tráfico, aumenta.
A polícia é que não tem nenhum interesse em que inocentes, especialmente crianças, sejam atingidos;
qualquer policial sabe que inocente atingido por bala perdida significa complicar, com o aumento do risco para os policiais, a realização de operações policiais.]

O mês mal terminara e, na quarta-feira passada, já se contabilizavam quatro crianças atingidas por balas perdidas. O caso mais recente ocorreu na noite de 27 de janeiro. O menino Arthur Gonçalves Monteiro foi baleado na cabeça quando jogava bola no Morro São João, no Engenho Novo. Moradores relataram que no momento em que a criança foi ferida traficantes e policiais da UPP trocavam tiros, mas não se sabe a origem do disparo. O caso ganhou contornos ainda mais dramáticos porque a família do garoto precisou recorrer à Justiça para conseguir vaga numa UTI pediátrica. Somente depois de decisão judicial Arthur foi transferido do Hospital Salgado Filho, no Méier, para o Getúlio Vargas, na Penha. O que mostra o despreparo da rede pública de saúde para socorrer as vítimas dessa guerra urbana.

Infelizmente, as balas perdidas passaram a fazer parte do cotidiano do Rio. Não há locais mais ou menos suscetíveis. Tragédias desse tipo podem acontecer em qualquer lugar. No morro ou no asfalto, dentro ou fora de casa, no carro, na escola, no trabalho, no hospital. No compêndio de absurdos, incluem-se casos de bebês baleados dentro da barriga da mãe, tornando-se vítimas da violência antes mesmo de nascer.

São muitos os fatores que contribuem para essa saraivada de balas perdidas, como guerras entre quadrilhas, operações policiais mal planejadas, despreparo de agentes e, evidentemente, o grande número de armas e munição em circulação — legal ou não. Preocupa o fato de esse arsenal estar em constante expansão, especialmente diante da política do governo Jair Bolsonaro de flexibilizar o acesso a armas. Na semana passada, uma portaria quadruplicou a quantidade de munição permitida para compra por civis.

Os casos de balas perdidas — e não só os de grande repercussão, como o da menina Ágatha Félix, no Complexo do Alemão, em 2019— precisam ser investigados e estudados, de modo que o estado possa criar estratégias para conter essa sequência de episódios trágicos. Antes que eles se tornem tão frequentes a ponto de serem banalizados.

Editorial - O Globo



quarta-feira, 20 de novembro de 2019

VIOLÊNCIA POLICIAL - A polícia que mata e mente - O Globo



Bernardo Mello Franco

Na noite de 20 de setembro, um tiro de fuzil atingiu as costas de Ágatha Félix, de 8 anos. A menina estava com a mãe no banco traseiro de uma Kombi, no Complexo do Alemão. Foi submetida a uma cirurgia de cinco horas, mas morreu no hospital.
Os parentes da vítima disseram que o tiro partiu de um policial militar. O motorista da Kombi confirmou o relato. “Não teve tiroteio, foi só o policial que disparou”, contou. O porta-voz da PM, Mauro Fliess, contestou as testemunhas e disse que os agentes reagiram a um ataque de “marginais”. O coronel aproveitou para fazer propaganda. “Não iremos recuar. O governo está no caminho certo”, discursou.


[Lamentável o ocorrido com a menina Ágatha. Mas, antes de acusar o policial militar de 'homícidio doloso', tem que ser considerando que a inocente criança foi vítima de uma fatalidade.
 
O policial militar não disparou contra ela e o projétil atingiu um poste, ricocheteou e um fragmento atingiu uma placa de ferro que protege o motor da Kombi, novo ricochete, levou o fragmento a atingiu o banco do veículo, perfurou o estofamento e atingiu a criança.
 
Se trata de uma conclusão oficial da perícia que mostra a sequência de fatores totalmente fora do controle do policial.]


A versão de tiroteio foi mantida por 60 dias e sustentada em ao menos duas notas oficiais. Era falsa, informou ontem a Polícia Civil. Responsável pela investigação, o delegado Marcus Drucker concluiu que não houve confronto no local. O PM tentou balear um motociclista, errou o alvo e acertou a menina que sonhava em virar bailarina. “A primeira reação do governo foi dizer que todas as testemunhas estavam mentindo, inclusive a mãe da Ágatha”, critica o advogado Rodrigo Mondego, da Comissão de Direitos Humanos da OAB. Quem mentiu no caso foi a PM, na tentativa de desacreditar a família e proteger o culpado pelo crime.

Nos primeiros nove meses do ano, a polícia matou 1.402 pessoas no Estado do Rio — uma média superior a cinco mortes por dia. Apesar da estatística macabra, o governador Wilson Witzel insiste na apologia do “tiro na cabecinha”. Sua política de segurança estimula o bangue-bangue, aterroriza as favelas e aumenta o risco de vítimas inocentes.

Ágatha foi uma das seis crianças mortas por bala perdida no Rio em 2019. Todas eram negras, pobres e viviam em bairros periféricos. “Os negros são as principais vítimas da ação letal das polícias e o perfil predominante da população prisional do Brasil”, lembrava uma placa exposta até ontem no Congresso. A peça foi arrancada e pisoteada pelo deputado Coronel Tadeu (PSL-SP), um dos próceres da bancada da bala.

Bernardo Mello Franco, colunista - O Globo

 

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Ágatha vai à cova e Witzel leva a filha à escola - UOL



Blog do Josias

Wilson Witzel teve um domingo assombrosamente normal. Plugou-se às redes sociais antes do nascer do Sol. Às 5h, postou um "parabéns" à cidade de São Gonçalo, que faz aniversário de 129 anos. Celebrou o Dia Mundial Sem Carro. "Eu apoio essa iniciativa por um mundo sem poluição." E pendurou nas redes uma foto na qual aparece de costas ao lado de uma de suas filhas. "Minha filha, Beatriz, faz hoje a prova de ingresso para o Colégio Militar", anotou na legenda.

[dois lembretes:
- os três casos, lamentáveis, mencionados quarto parágrafo não ocorreram no governo Witzel;
- até o presente momento nada indica que a morte de Agatha tenha sido provocada por tiros disparados pela polícia.
O tão comentado aumento da letalidade policial é algo perfeitamente normal quando a polícia começa a trabalhar para valer no combate ao crime.]
Beatriz Witzel, 11, é apenas três anos mais velha do que Ágatha Félix, 8, a menina que foi morta por um tiro de fuzil, quando estava com sua mãe numa Kombi, durante operação policial no Complexo do Alemão. Executada na noite de sexta-feira, Ágatha foi sepultada neste domingo. Embora já fossem decorridos quase três dias da tragédia, o governador fluminense manteve em relação ao tema um silêncio tumular.


Por uma trapaça do destino, Ágatha foi conduzida à cova por sua família no mesmo dia em que o pai de Beatriz levou-a para a escola. Produziu-se um incômodo contraste entre o domingo normal de Witzel e a anormalidade decorrente da política de segurança baseada no lema do "tiro na cabecinha". A execução de mais uma alma inocente, de fulgurante jovialidade, é um acontecimento do tipo que fere a rotina como uma lâmina fria, fazendo o cotidiano escapar do controle. Ignore-se por um instante o tiro que matou Ágatha, e fixe-se a atenção no que aconteceu antes e depois do disparo. Antes, Witzel consolidou-se como narrador de uma nova era. 

Disse coisas assim: "A polícia vai fazer o correto: vai mirar na cabecinha e… fogo!" Ou assim: "Cova, a gente cava." Ou ainda: "Criminosos serão combatidos e caçados nas comunidades." Depois, o silêncio. Banalizou-se o noticiário sobre policiais entrando em bairros onde moram pessoas pobres, confrontando-se com bandidos e matando "suspeitos". Em três casos extremos, abateram-se, por exemplo, suspeitos de portar armas e drogas. Um carregava uma furadeira. Outro, um guarda-chuva. Um terceiro levava na mochila um par de chuteiras, uma sandália de dedo e R$ 85,00. Tudo isso antes do tiro que transfixou o corpo de Ágatha. Depois, o silêncio de Witzel. Pode-se imaginar que o governador não tenha perdido a loquacidade no ambiente familiar. 

Cercada de guarda-costas, Beatriz chegou da escola. E o pai-governador decerto perguntou: "Como foi a prova, minha querida?" A menina talvez tenha respondido: "Acho que fui bem, papai". Esse é um tipo de diálogo banal que os familiares de Ágatha jamais poderão travar. Se a normalidade reinante no cotidiano de Wilson Witzel tem alguma serventia é para demonstrar que algo de muito anormal precisa acontecer no Rio de Janeiro e no Brasil.

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