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domingo, 21 de outubro de 2018

"WhatsApp é gópi

Se você pensa que viver fantasiado de herói progressista é moleza, está enganado. A vida é dura. Pensa que é só inventar uma mentira charmosa, dessas que funcionam maravilhosamente no Facebook, no Baixo Gávea e na Vila Madalena, e viver disso para sempre? Negativo.  Você terá que ser mais e mais criativo, se superar a cada diaaté chegar às raias da genialidade ao propagar que o WhatsApp ameaça a democracia. Sim, você pode! Mas não pense que é fácil.

Tudo começou quando deu errado o truque de reabilitar os bandidos gente boa do PT lutando contra a ditadura do século passado. Até chegou-se ao milagre de levar ao segundo turno o partido que depenou o Brasil, mas aí o Ibope e o Datafolha – que vinham sendo super legais e parceiros – tiveram que desmontar aquele cenário da vitória final inevitável contra a caricatura da direita, tão bem alimentada por mais de um ano. Deu ruim, e o jeito foi mostrar a real: Haddad morrendo na praia de novo.

Mas se você é um suposto gladiador da elite cultural, ideias não te faltam. Quem passou mais de ano espalhando fake news do Rodrigo Janot, transformando açougueiro biônico (laranja bilionário do Lula) em denunciante da corrupção generalizada, pode criar outras narrativas espertas. Foi assim que a cruzada do petismo enrustido foi dar nos costados do WhatsApp. A mensagem é clara: só quem está autorizado a espalhar fake news é veículo de mídia tradicional aparelhado pela narrativa politicamente correta. Ou seja: você só pode veicular notícia falsa se ela tiver sido produzida genuinamente pela sua empresa. Como o WhatsApp não produz notícia, não tem a prerrogativa de espalhar mentira.

Fica combinado assim: Lula ia salvar a democracia de dentro da cadeia e foi impedido por um golpe de estado do WhatsApp. Quem achar a formulação complexa demais, peça ao companheiro Cid Gomes para resumir. Decidido o novo script dos cafetões da bondade, todos se tranquilizaram e partiram para o bom e velho show de bravura cívica a 1,99. Surgiu inclusive um slogan “ditadura nunca mais”, com um complemento que acabou não circulando, mas nós publicamos a seguir: Ditadura nunca mais, a não ser uma como a do Maduro, ou a do Ortega, ou a do Kadhafi, ou a do Ahmadinejad, ou a do Saddam, ou a de algum outro amigo do Lula que arranque o couro do povo sem perder a ternura e a simpatia do Roger Waters. O resto a gente não aceita.

E o show tem que continuar. Preocupado com a liberdade de expressão, o grupo de artistas e intelectuais decidido a garantir a qualidade do conteúdo nas mídias e no WhatsApp deveria criar logo uma junta de notáveis para tomar conta disso. Alguns nomes naturais, dado o histórico do movimento, seriam os dos pensadores Nicolás Maduro, Lindbergh Farias, Robert Mugabe e Renan Calheiros. Para mostrar que quem ameaçar a democracia eles prendem e arrebentam, poderiam difundir com mais intensidade o vídeo do professor Haddad explicando por que Stalin era melhor que Hitler: porque, diferentemente do nazista alemão, ele lia os livros de suas vítimas antes de fuzilá-las. Não é lindo?

Vai ver é por isso que há editores de livros no manifesto democrático em defesa do poste iluminado do PT. Importante é afirmar, em defesa do estado de direito e das liberdades individuais, que o WhatsApp é golpista – e nós podemos provar. Por exemplo: estava tudo correndo perfeitamente bem na democrática operação de abafar a notícia de que o PT, na sua metamorfose verde-amarela, apagou seu apoio à ditadura pacifista e sanguinária do companheiro Maduro.  Se acabamos de demonstrar que Stalin é um ser evoluído, é claro que está tudo certo com a prática de fazer informações sumirem do mapa e, também, com a consequente ocultação do expurgo.

Aí o que faz o WhatsApp? Espalha essa informação que tinha sido tão bem escondida. É ou não é golpista?  Outra notícia que estava fora das manchetes e esse aplicativo fascista mandou para todo mundo foi a da conclamação do companheiro Boulos à invasão da casa de Bolsonaro. É o tipo da informação irrelevante, considerando que Boulos é ex-companheiro de partido do homem que tentou matar o candidato com uma facada – portanto está todo mundo cansado de saber que o negócio deles é barbarizar geral, nenhuma novidade aí.  O Brasil não sabe o que será o provável governo Bolsonaro. Mas os progressistas de carnaval que cultivaram tão dedicadamente a polarização burra em que o país entrou já sabem o que farão: atiçarão sofregamente a boçalidade para tentar continuar vivendo (bem) como vítimas profissionais."


Guilherme Fiuza - Gazeta do Povo 


quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Um dos coordenadores do Movimento Brasil Livre sofre ataque homofóbico. Ou: Os interlocutores do MBL são o povo brasileiro e o futuro



Um rapaz chamado Allan dos Santos, descontente com uma postagem de Acácio Dorta — um dos coordenadores do Movimento Brasil Livre —, publicou no Facebook um troço detestável, pleno de intolerância, preconceito e violência retórica gratuita. Reproduzo, caros leitores, e advirto que a coisa mergulha no baixo calão:  “Acácio Dorta, o futuro Jean Wyllys. Debocha do prof. Olavo de Carvalho, é homossexual assumido, membro do [partido] NOVO, liberal, e acha que pelo fato de aguentar uma pica na bunda, assim tem o direito de esculachar os outros”.

Não conheço Dorta. Não sei se é homossexual ou não. Se é, não creio que isso interfira em seus juízos políticos. Assim como não aceito que a homossexualidade seja considerada um traço distintivo positivo e gerador de direitos especiais — e sei o que me custa combater essa tendência —, repudio que a condição sexual desse ou daquele seja empregada para desqualificar.

Isso não é de direita, isso não é de esquerda, isso não é libertário. Isso é apenas truculência, ignorância e discriminação. O MBL passou a ser atacado — e as pessoas têm o direito de pensar o que lhes der na telha; não seria eu a contestá-lo depois que subscreveu a denúncia contra Dilma, junto com outros movimentos, encabeçado por Hélio Bicudo, um ex-petista — como se isso conspurcasse a sua pureza ideológica.

O Vem Pra Rua, o MBL e outros movimentos fizeram as maiores manifestações políticas da história do país. E, mais de uma vez, exaltei aqui o clima de paz, de ordem e de tolerância que deu a tônica dos protestos. E espero que assim continuem, não cedendo a baixarias dessa natureza.  Em nota, o Movimento Brasil Livre repudiou a publicação de Allan e se solidarizou com Dorta.  “É um absurdo que ainda hoje tal postura retrógrada encontre apoiadores entusiasmados e militantes. Enquanto defensores das liberdades individuais, estaremos sempre do lado contrário de gente que acha que opção sexual é categoria de pensamento”.

E noto que, não me refiro a esse ou àquele, nem opção é, mas condição que não depende de escolha. Combato com energia, clareza e determinação o tal “gayzismo”, a tentativa de grupos organizados de impor sua agenda, ao arrepio da sociedade.  Tome-se como delírio dessa turma o esforço para impor nas escolas a chamada “ideologia de gênero”, uma estrovenga autoritária, que tem de ser combatida. Mas tem de ser combatida com luzes, não com obscurantismo; tem de ser combatida com tolerância, não com ainda mais intolerância; tem de ser combatida como iniciativa para submeter a sociedade a um gerenciamento que lhe é estranho, não com o ânimo de quem cria pechas.

Não conheço Dorta, mas me solidarizo com ele. Ou será que, daqui a pouco, vão aparecer supostos “conservadores” para dizer que “não há veados de direita”, assim como Ahmadinejad, ex-presidente do Irã, e o aiatolá Khamenei asseguram que não existem homossexuais no Irã?

Devagar com o andor
Aliás, aqui e ali, parece que noto em supostos defensores do impeachment de Dilma certo receio de que, de fato, ela caia, não é? Parecem temer que este ou aquele grupos, de algum modo, acabem se dando bem… Não quero ser pessimista, não! Sou apenas realista. Aviso aos muito exaltados que, hoje, o mais provável ainda é que Dilma não caia. Não há despojos a disputar. Nem haverá ainda que o impedimento aconteça.

Quem me conhece sabe que não aconselho. Apenas opino. E a minha opinião é que o Movimento Brasil Livre, o Vem Pra Rua e outros têm de ter claro que o seu interlocutor verdadeiro é o povo brasileiro. Não caiam na cilada de levar adiante uma briga de rinhas e tendências minoritárias, como aqueles embates encantadores entre o PSTU, PSOL e PCO para saber quem é mais obtuso e irrelevante.

Opino que os adversários que interessam são os esquerdistas, é o estado gigante, são as corporações que infelicitam os brasileiros. Achar que a condição sexual desse ou daquele qualifica suas opiniões ou sua obra é uma estupidez que costuma unir a extrema direita à extrema esquerda — e não estou qualificando Allan, que também não conheço, disso ou daquilo. Estou expondo a filiação de certas ideias.


Que o Movimento Brasil Livre ganhe tempo, cuidando de coisas relevantes, e não ceda à tentação de perder tempo debatendo o sexo dos anjos ou dos indivíduos. Entre quatro paredes, não havendo crianças e não sendo sexo forçado, parece-me razoável que cada uma faça o que bem entender, não é mesmo? Ou alguém tem alguma tese diferente? Ah, sim: também acho que se devem excluir os bichos.

Que coisa lamentável!

Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo