Se de fato a Coreia do Norte detonou uma bomba
de hidrogênio ou termonuclear, isso significa que o país comunista
deixou a "segunda divisão" entre as potências nucleares para entrar na
mais seleta —e mais letal— "primeira divisão". A elite nuclear tem tanto a bomba-A (bomba atômica) como a bomba-H
(bomba de hidrogênio); os "clubes" de menos destaque têm só a bomba-A.
Os dois tipos de bomba são chamadas de nucleares porque são baseadas em
propriedades físicas do núcleo dos átomos, a fissão e a fusão. Na fissão, átomos de elementos pesados (isto é, compostos de muitos
átomos), como o urânio ou o plutônio, se partem, e com isso produzem
muita energia. Já na fusão, acontece o contrário: átomos de um elemento
leve, o hidrogênio, se fundem para criar um outro elemento, o hélio,
produzindo ainda mais energia.
Em termos militares, a bomba-A (de fissão) tem um limite na sua
capacidade explosiva; já o céu é o limite para o poder destrutivo da
bomba-H.
A fusão nuclear, afinal, é a energia que alimenta as estrelas,
como o Sol.
Para se ter uma ideia da diferença, no caso das maiores bombas
nucleares, a "espoleta" para sua detonação é uma bomba atômica. A
explosão atômica cria a altíssima temperatura necessária para que os
átomos de hidrogênio se fundam, por isso a bomba é conhecida também como
"termonuclear".
Produzir uma bomba tão sofisticada poderia ser algo que a Coreia do
Norte não seria capaz, já que se trata de um país subdesenvolvido, que
mal consegue alimentar sua população. Mas a ênfase no armamentismo —além
das bombas, os seus "vetores", isto é, mísseis balísticos— é uma
constante naquele que é provavelmente o país mais autoritário e
totalitário do planeta. Logo, a dúvida persiste.
Alcance e outras bombas
Os norte-coreanos já fizeram vários testes de mísseis balísticos.
Obviamente são capazes de chegar até a Coreia do Sul ou ao Japão, países
muito próximos. Estima-se hoje que poderiam atingir a base americana na
ilha de Guam. No futuro próximo, talvez consigam atingir o estado
americano do Havaí. Mas ainda estariam bem longe de conseguirem chegar à
América do Norte.
Apesar das dificuldades, a "primeira divisão" conseguiu criar seu
arsenal nuclear em torno de meio século atrás, prova de que não é uma
tecnologia tão impossível de obter no século 21. São os cinco países que eram os "grandes aliados" da Segunda Guerra
Mundial (1939-1945) e que se tornaram os cinco membros permanentes do
Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Os EUA explodiram suas primeiras bombas A e H, em 1945 e 1952. A URSS,
com bom auxílio de espionagem industrial-científica, veio a seguir,
explodindo sua primeira bomba-A em 1949 e a primeira bomba-H em 1953. A
Grã-Bretanha fez o mesmo, respectivamente em 1952 e 1957; a China em
1964 e 1967. A primeira bomba-A francesa explodiu em 1960 e a bomba-H em
1968.
A segunda divisão são os países que se acredita terem bombas atômicas, apesar de alguns não revelarem sua posse. A Índia explodiu uma bomba-A em 1974 e pode ter a tecnologia para uma
bomba-H. Acredita-se que Israel tenha várias bombas estocadas, assim
como o Paquistão. A África do Sul do apartheid chegou a cogitar em ter a
bomba. Brasil e Argentina renunciaram conjuntamente a produzir armamento nuclear. [a renúncia do Brasil foi um dos erros imperdoáveis do ex-presidente Collor.]
E há países do Primeiro Mundo, por exemplo Alemanha, Canadá, Itália e
Japão, com tecnologia capaz de produzir bombas, mas que se recusam
politicamente a fazê-lo.
Impacto
O que torna diferentes as armas nucleares das convencionais é a enorme
concentração de energia em um tamanho pequeno, que pode ser liberada de
repente com resultados devastadores. Armas nucleares também deixam um subproduto letal por muitos anos:
material radioativo causador de doenças. Radioatividade é a propriedade
de certos elementos de emitirem partículas ou radiação eletromagnética
como fruto da instabilidade dos seus núcleos. A primeira bomba atômica foi detonada em 16 de julho de 1945, em um
teste em Alamogordo, no deserto do estado de Novo México, EUA. Ela foi
resultado de um ambicioso e secreto programa americano, o Projeto
Manhattan.
A primeira bomba, assim como duas outras usadas contra o Japão nas cidades de Hiroshima
e Nagasaqui, tinham todas o poder explosivo de cerca de entre 15 mil a
20 mil toneladas de TNT (o explosivo convencional trinitrotolueno), ou
entre 15 e 20 kilotons (ainda se debate sobre a real capacidade dessas
primeiras bombas, pois a tecnologia estava nascendo).
Para medir a capacidade explosiva de uma arma nuclear se usam os termos
"kiloton" e "megaton" _ um kiloton equivale à explosão de mil toneladas
de TNT; um megaton corresponde a um milhão de toneladas. As armas usadas contra o Japão são pequenas perto do que se fez depois.
Cientistas calcularam que, durante os seis anos da Segunda Guerra, em
todos os continentes, foram empregados o equivalente a 3.000 kilotons
(ou 3 megatons) de explosivo convencional.
Os EUA testaram em1954 no mar em torno da ilha Bikini, no oceano
Pacífico, uma bomba de hidrogênio de 15 megatons _ isto é, 15 milhões de
toneladas de TNT, uma bomba entre 750 a 1.000 vezes mais potente que as
lançadas contra o Japão. Mais de 2.000 armas nucleares foram testadas desde 1945 até hoje. Os EUA e URSS construíram durante a Guerra Fria um arsenal equivalente a
7.500 megatons _ isto é, suficiente para repetir a Segunda Guerra por
2.500 vezes.
Não é o tipo de poder que o mundo gostaria de ver nas mãos dos ditadores da Coreia do Norte.
Fonte: Folha de S. Paulo/UOL
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domingo, 3 de setembro de 2017
Se for real, bomba eleva ameaça norte-coreana; entenda riscos
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