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domingo, 14 de julho de 2019

Moro será o próximo vice? Isto É

Estratégia eleitoral prevê a dobradinha Bolsonaro-Sergio Moro em 2022 e o ex-juiz como cabeça de chapa em 2026. Consumada a aliança, será a consagração da união entre o antipetismo, o bolsonarismo e o lavajatismo

Com a toga de magistrado sob ranhuras, mas ainda dono de imagem popular pouco ou quase nada abalada, o ministro da Justiça Sergio Moro está bem próximo de atravessar o seu rubicão particular – o caminho sem retorno para a política. Se Suetônio, o narrador da travessia de Júlio Cesar em 49 a.C., celebrizava naquele momento a expressão em latim “Alea jacta est”, mais de dois mil anos depois a sorte está lançada para o ex-juiz. A estratégia é pragmática e bem empacotada com o beneplácito do presidente Jair Bolsonaro. A senha foi dada na sexta-feira 5 quando o mandatário sacou a reveladora frase: “O povo irá dizer se estamos certos ou não”. A ideia é mesmo submete-los – ele e o próprio Moro – ao escrutínio popular. Mas não nas próximas pesquisas de opinião, e sim nas urnas. No Palácio do Planalto, auxiliares do presidente já falam abertamente sobre o que classificam de chapa inexpugnável: Bolsonaro na cabeça e Sergio Moro de vice em 2022, com o coadjuvante Moro virando protagonista e sucessor do presidente reeleito, em 2026.

“Eu vejo, eu ouço, eu agradeço” Sergio Moro, ministro da Justiça, ao comentar no twitter as manifestações populares em apoio a ele e à Lava Jato.

A aliança político-eleitoral ganhou impulso nas últimas semanas, a partir das revelações do The Intercept Brasil. Ao ombrear o ex-juiz a Antígona, que agiu em nome do dever, sem se importar com eventuais conflitos de cunho ético, os diálogos entrelaçaram a dupla Bolso-Moro quase que indissoluvelmente. Como numa simbiose, um precisa do outro. Agora e mais adiante. Por exemplo, é conveniente, neste momento, a Bolsonaro, cuja popularidade claudica, grudar-se como um imã à capa de herói de Sergio Moro. Já para o ministro é fundamental a demonstração pública do presidente de que, independentemente do que fora divulgado, ele está mais do que prestigiado no cargo. No longo prazo, ou seja, para 2022, quem tem mais a faturar é Bolsonaro. Recentes pesquisas em poder do governo já identificaram vantagens eleitorais para o inquilino do Palácio do Planalto no chamado episódio Vaza-Jato.[ou 'o escândalo que encolheu'.]  Serviu para reorganizar a militância, galvanizar setores da direita, que ameaçavam se desgarrar, e intensificar o Fla-Flu político personificados nos grupos “PT versus anti-PT”, polarização decisiva para o triunfo de Bolsonaro no segundo turno de 2018. Se é consenso que o antipetismo é maior do que o bolsonarismo, é quase igualmente unânime que o fenômeno ganha ainda mais musculatura quando associado ao lavajatismo, encarnado por Sergio Moro. Daqui a três anos, comporia a tríade perfeita e quase imbatível, na avaliação do entorno presidencial. Para o mesmo grupo de assessores presidenciais, a união do bolsonarismo com o antipetismo e o lavajatismo constituiria o big bang da política nacional, no sentido da expansão do conservadorismo.

Eliminando adversários
Tidos como invencíveis, Bolso-Moro desencorajariam os voos-solos de João Doria e Luciano Huck, que hoje trafegam em semelhante espectro político. Atualmente, poucos entre os que orbitam em torno do presidente ousam discordar da tese. Concretizada a coalizão, também seria uma saída honrosa a Moro à eventual impossibilidade de ser guindado a ministro do Supremo, para cujos apoios do mundo jurídico se escasseiam a cada átimo de tempo. Até 2026, Moro, na condição de vice-presidente, teria o tempo necessário para ganhar jogo de cintura político e aprimorar o “physique du rôle” de candidato número um. Nas eleições, seria o sucessor ideal, a quem Bolsonaro entregaria a chave do seu governo, assim como na transmissão da faixa de Lula a Dilma em 2010. Estaria assim consagrada a era bolsonarista. “Se Deus quiser, conseguiremos entregar o País muito melhor a quem me suceder em 2026”, deixou escapar Bolsonaro durante festa de São João do Clube Naval.

Até 2026, Moro — na condição de vice — teria tempo para ganhar musculatura eleitoral e se aprimorar no jogo de cintura político

Por ora, Moro prefere exaltar sua “missão” de perseguir o combate à corrupção à frente da Justiça. Mas não foram poucos os que enxergaram digitais eleitorais no tweet do ex-magistrado usado para comentar os apoios recebidos por ele durante as últimas manifestações de rua. O “Eu vejo, eu ouço, eu agradeço” constituiria uma espécie de “eco messiânico” de suas pretensões futuras de poder. O recente itinerário público de Bolso-Moro embala os sonhos de quem quer ver a dobradinha até 2026 se consumar na prática. Enquanto a mulher do ministro da Justiça, Rosângela Moro, se aproxima da primeira-dama Michelle Bolsonaro em colegiados do governo e o vice atual Hamilton Mourão fica de escanteio, a agenda dos prováveis futuros parceiros de chapa inclui jogos do Campeonato Brasileiro, cerimônias de governo e até a final da Copa América, no Maracanã. Nas arquibancadas, houve um misto de aplausos e vaias, mas que nada depõem contra políticos específicos, mas políticos em geral, considerados “estranhos no ninho” em ambientes esportivos. Foi assim com Lula, no auge da popularidade em 2007, durante abertura do Pan no Rio, e Dilma, em 2016. Não seria diferente agora, uma vez que brasileiro em estádio não costuma respeitar nem minuto silêncio, diria Nelson Rodrigues. Mais eloqüente é o som das urnas. E serão nelas que Bolsonaro e Sergio Moro depositarão suas esperanças nesse rubicão sem volta para o ex-juiz.

sábado, 15 de junho de 2019

O calvário de Moro

[imperativo ter em conta:

- não existe, até o presente momento, o menor fiapo de prova a garantir a autenticidade das supostas conversas;

- provas obtidas por meio ilícito  não são válidas.

Tanto que os comentários de um dos  integrantes do 'intercept', erra quando diz que vem mais coisa por aí.

Que venham.]

A divulgação de conversas privadas com procuradores da Lava Jato expõe o ministro da Justiça, Sergio Moro. Por ora, no entanto, há muita espuma em torno do caso e um desejo irrefreável de setores do judiciário de desmoralizar a Lava Jato e criar um ambiente favorável à soltura de Lula

Os diálogos revelados, na última semana, pelo site The Intercept Brasil sacudiram a República por envolverem o suprassumo da operação Lava Jato, em especial, o ministro da Justiça, Sergio Moro – ex-juiz até então acima de qualquer suspeita e elevado à condição de herói nacional depois de mandar para a cadeia empresários e políticos poderosos. A reportagem, no entanto, deixa uma série de fios desencapados expostos. A origem do material, obtido provavelmente de forma ilícita, a maneira como foi divulgado e por quem – um jornalista que jamais escondeu ser partidário da causa lulista – abrem margem para dúvidas. Divulgada a íntegra, observou-se que algumas trocas de mensagens foram descontextualizadas na edição. Ainda há, portanto, uma nuvem de mistérios e contradições a pairar sobre o caso ao qual se pretende dar ares de escândalo. 

Algo, no entanto, já é possível depreender das conversas até agora reveladas: como a figura mitológica Antígona que enterrou o irmão à revelia do rei, o ex-juiz Sergio Moro parece ter admitido, movido pelo dever, flexibilizar os limites das normas que regem o convívio dos magistrados com os procuradores. Aparentemente, o juiz entendeu que, para desmantelar quadrilhas, enjaular empreiteiros e apanhar os mais altos hierarcas do País, não bastaria agir candidamente, sob pena de perder a batalha para criminosos donos de conhecidos tentáculos no Judiciário, Executivo e Legislativo.  

A julgar pelos efusivos aplausos recebidos pelo magistrado durante o jogo do Flamengo, em Brasília, na quarta-feira 12, a sociedade nutre semelhante compreensão. Por isso, ao fim e ao cabo, fatalmente Sergio Moro tende a ser absolvido no tribunal do povo. Ocorre que o desenlace do rumoroso episódio não constituirá um referendo popular. E essa é a nossa tragédia grega: é possível condenar um juiz que pode ter colocado a ética da convicção acima da ética da responsabilidade, de que falava o sociólogo Max Weber, na hora de enviar para trás das grades corruptos – muitas vezes confessos – flagrados no maior assalto aos cofres públicos da história recente do Brasil? Uma coisa é certa: existe um desejo incontido de setores do Judiciário para anular os processos da Lava Jato. Os que sempre acalentaram o sonho de desmoralizar a operação, mas receavam virar alvo de críticas, agora rasgaram de vez a fantasia. A campanha está aberta.

Será preciso mais do que mera vontade para desacreditá-la. Os diálogos revelados até agora não evidenciam crime ou ilegalidade de fato. Não há plantações de provas, nem desrespeito ao devido processo legal. As conversas sugerem que Moro instruía procuradores da Lava Jato. Mostram uma proximidade na relação com integrantes do Ministério Público Federal por meio da qual o julgador não só orientava como cooperava com o acusador. Em trechos dos diálogos, Moro aconselhou o procurador que trocasse a ordem de fases da Lava Jato, cobrou agilidade em novas operações, deu conselhos e pistas informais. “Talvez fosse o caso de inverter a ordem das duas planejadas”, sugeriu Moro a Deltan Dallagnol, falando sobre fases da investigação. “Não é muito tempo sem operação?”, questionou o atual ministro da Justiça, após um mês sem que a força-tarefa fosse às ruas. “Não pode cometer esse tipo de erro agora”, repreendeu, se referindo ao que considerou uma falha da Polícia Federal. Em outra conversa, Dallagnol relata a Moro que o ministro do STF Luiz Fux garantiu que a Lava Jato poderia contar com ele. Ao que o ex-juiz respondeu: “In Fux we trust”. Trata-se de um desvio ético capaz de fazer com que Moro perca a presunção da infalibilidade?

Decerto. Não se verifica, porém, antecipação do juízo de mérito de processos pelo juiz. Também não são tratadas questões relativas à culpa de acusados. Ademais, nada do que fora divulgado é muito diferente do que acontece nos corredores e gabinetes do poder Judiciário, não raro à luz do sol. Como bem lembrou a deputada estadual Janaína Paschoal “em um país em que parentes de ministros advogam nos tribunais superiores, a nata da advocacia criminal faz jantar em homenagem ao presidente da Corte que julgará suas causas, em que o magistrado da causa oferece festa de aniversário para a parte e um ex-ministro de Estado se refere a um ministro do STF (Gilmar Mendes) como “nosso advogado” e ninguém se considera suspeito, parece piada querer fazer um carnaval por causa de três frases em um grupo de whatsapp”. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez coro: “O vazamento de mensagens entre juiz e promotor da Lava-Jato mais parece tempestade em copo d’água”, disse. A maioria dos juristas segue a mesma linha. Entende que a proximidade entre procuradores e juízes é normal no Brasil — ainda que possa ser considerado imoral e viole o código de ética dos magistrados.



Os diálogos

O site Intercept Brasil publicou, no domingo 9, uma série de diálogos entre integrantes da força-tarefa do Ministério Público Federal do Paraná com o então juiz Sergio Moro. Neles, o atual ministro da Justiça aparece orientando o trabalho dos procuradores em investigações.

[destacamos que não foi publicado pelo 'intercept' nenhuma 'captura de tela' , que sirva de subsidio para comprovar, ainda que de forma contestável, a tenacidade do material.

Todo o material divulgado reforça o entendimento das conversas terem sido forjadas.]

(...) 

Também ouvimos Leandro Demori, editor executivo do site e o outro responsável pelo que já é conhecido como o Escândalo Vaza Jato.

Moro e os procuradores federais cometeram crimes?
Não dissemos que o juiz nem os procuradores cometeram crimes. Nossas reportagens até agora mostraram que Moro pode ter violado regras éticas claras ao interagir com eles nos casos em que parecia julgar de forma neutra. Ele e Deltan Dallagnol, ao afirmarem que não havia um ambiente de colaboração mútua, não estavam sendo verdadeiros. Deltan e outros procuradores da Lava Jato também afirmaram apartidarismo, mas entre eles, queriam que o PT perdesse a eleição e estavam dispostos a tomar medidas para tanto. A força-tarefa tinha sérias dúvidas sobre o caso contra Lula, enquanto diziam ao público que as evidências de sua culpa eram inegáveis. [Lula é corrupto, é ladrão, está preso cumprindo pena de uma condenação, tem outra a ser confirmada nos próximos dias e responde a mais processos, que gerarão novas condenações.

Ainda que seja solto - não devido aos vazamentos, que nada provam e sim por já ter cumprido um sexto da pena = primeira condenação - será preso novamente, logo que a segunda condenação seja confirmada pelo TRF - 4.]

A revelação parcial das conversas não indicaria direcionamento?
Se publicássemos tudo, seríamos acusados de irresponsabilidade e de invasão de privacidade. Se publicássemos apenas as exceções, diriam que tiramos o material do contexto. Selecionamos trechos contextualizados e nada distorcidos.

MATÉRIA COMPLETA, em IstoÉ