Estratégia eleitoral prevê a dobradinha Bolsonaro-Sergio Moro em 2022 e o ex-juiz como cabeça de chapa em 2026. Consumada a aliança, será a consagração da união entre o antipetismo, o bolsonarismo e o lavajatismo
Com a toga de magistrado sob ranhuras, mas ainda dono de imagem popular pouco ou quase nada abalada, o ministro da Justiça Sergio Moro está bem próximo de atravessar o seu rubicão particular – o caminho sem retorno para a política. Se Suetônio, o narrador da travessia de Júlio Cesar em 49 a.C., celebrizava naquele momento a expressão em latim “Alea jacta est”, mais de dois mil anos depois a sorte está lançada para o ex-juiz. A estratégia é pragmática e bem empacotada com o beneplácito do presidente Jair Bolsonaro. A senha foi dada na sexta-feira 5 quando o mandatário sacou a reveladora frase: “O povo irá dizer se estamos certos ou não”. A ideia é mesmo submete-los – ele e o próprio Moro – ao escrutínio popular. Mas não nas próximas pesquisas de opinião, e sim nas urnas. No Palácio do Planalto, auxiliares do presidente já falam abertamente sobre o que classificam de chapa inexpugnável: Bolsonaro na cabeça e Sergio Moro de vice em 2022, com o coadjuvante Moro virando protagonista e sucessor do presidente reeleito, em 2026.
“Eu vejo, eu ouço, eu agradeço” Sergio Moro, ministro da Justiça, ao comentar no twitter as manifestações populares em apoio a ele e à Lava Jato.
A aliança político-eleitoral ganhou impulso nas últimas semanas, a partir das revelações do The Intercept Brasil. Ao ombrear o ex-juiz a Antígona, que agiu em nome do dever, sem se importar com eventuais conflitos de cunho ético, os diálogos entrelaçaram a dupla Bolso-Moro quase que indissoluvelmente. Como numa simbiose, um precisa do outro. Agora e mais adiante. Por exemplo, é conveniente, neste momento, a Bolsonaro, cuja popularidade claudica, grudar-se como um imã à capa de herói de Sergio Moro. Já para o ministro é fundamental a demonstração pública do presidente de que, independentemente do que fora divulgado, ele está mais do que prestigiado no cargo. No longo prazo, ou seja, para 2022, quem tem mais a faturar é Bolsonaro. Recentes pesquisas em poder do governo já identificaram vantagens eleitorais para o inquilino do Palácio do Planalto no chamado episódio Vaza-Jato.[ou 'o escândalo que encolheu'.] Serviu para reorganizar a militância, galvanizar setores da direita, que ameaçavam se desgarrar, e intensificar o Fla-Flu político personificados nos grupos “PT versus anti-PT”, polarização decisiva para o triunfo de Bolsonaro no segundo turno de 2018. Se é consenso que o antipetismo é maior do que o bolsonarismo, é quase igualmente unânime que o fenômeno ganha ainda mais musculatura quando associado ao lavajatismo, encarnado por Sergio Moro. Daqui a três anos, comporia a tríade perfeita e quase imbatível, na avaliação do entorno presidencial. Para o mesmo grupo de assessores presidenciais, a união do bolsonarismo com o antipetismo e o lavajatismo constituiria o big bang da política nacional, no sentido da expansão do conservadorismo.
Eliminando adversários
Tidos como invencíveis, Bolso-Moro desencorajariam os voos-solos de João Doria e Luciano Huck, que hoje trafegam em semelhante espectro político. Atualmente, poucos entre os que orbitam em torno do presidente ousam discordar da tese. Concretizada a coalizão, também seria uma saída honrosa a Moro à eventual impossibilidade de ser guindado a ministro do Supremo, para cujos apoios do mundo jurídico se escasseiam a cada átimo de tempo. Até 2026, Moro, na condição de vice-presidente, teria o tempo necessário para ganhar jogo de cintura político e aprimorar o “physique du rôle” de candidato número um. Nas eleições, seria o sucessor ideal, a quem Bolsonaro entregaria a chave do seu governo, assim como na transmissão da faixa de Lula a Dilma em 2010. Estaria assim consagrada a era bolsonarista. “Se Deus quiser, conseguiremos entregar o País muito melhor a quem me suceder em 2026”, deixou escapar Bolsonaro durante festa de São João do Clube Naval.
Até 2026, Moro — na condição de vice — teria tempo para ganhar musculatura eleitoral e se aprimorar no jogo de cintura político
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