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sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Os procuradores diante do luto - O Globo



Bernardo Mello Franco

Os procuradores e o luto de Lula


O procurador Deltan Dallagnol apresenta denúncia contra o ex-presidente Lula

O procurador Deltan Dallagnol apresenta denúncia contra o ex-presidente Lula -  Paulo Lisboa/Brazil Photo Press /Agência O Globo/14.09.2016

Em janeiro de 2017, Marisa Letícia sofreu um derrame. No grupo dos procuradores da Lava-Jato, Deltan Dallagnol escreveu que ela chegou ao hospital “sem resposta, como vegetal”. Januário Paludo comentou: “Estão eliminando as testemunhas...”. A ex-primeira-dama morreria dez dias depois. Deixou marido, quatro filhos e seis netos.

Durante o velório, circulou no chat nota sobre a agonia de Marisa após a operação da PF em sua casa. “Ridículo... Uma carne mais salgada já seria suficiente para subir a pressão... ou a descoberta de um dos milhares de humilhantes pulos de cerca do Lula”, reagiu Laura Tessler. “Sempre tive uma pulga atrás da orelha com esse aneurisma. Não me cheirou bem”, emendou Paludo.

[os mortos merecem o mais complete sincero respeito - morreu, acabou qualquer encrenca com o falecido.
O PT armou todo um esquema para tentar soltar Lula, queimar a Lava-Jato e o ministro Moro. 
Fracassaram - plural, já que além do 'partido dos trouxas' teve site intercept, mais conhecido como intercePTação, autores do 'escândalo que encolheu'.
Clique aqui e saiba mais  detalhes sobre a armação.]
 
Na manhã seguinte, Antônio Carlos Welter comentou: “A morte da Marisa fez uma mártir petista e ainda liberou ele pra gandaia sem culpa ou consequência politica”. Thaméa Danelon reclamou da ida de outra procuradora ao velório: “É como um colega ir ao enterro da esposa do líder de uma facção do PCC”.

Em 29 de janeiro deste ano, morreu Vavá, irmão de Lula. “Ele vai pedir para ir ao enterro. Se for, será um tumulto imenso”, disse Deltan. Welter lembrou que a lei garante este direito a todos os presos. Paludo ironizou: “O safado só queria passear e o Welter com pena”. Laura Tessler se juntou ao deboche: “Muito mimimi”.

Um mês depois, morreu Arthur, neto de Lula, de 7 anos. Jerusa Viecili escreveu: “Preparem para nova novela ida ao velório”. “Putz... no meio do carnaval”, lamentou Athayde Ribeiro Costa. Deltan compartilhou nota sobre o choro do ex-presidente ao receber ligação de solidariedade. “Estratégia para se ‘humanizar’, como se isso fosse possível no caso dele rsrs”, divertiu-se Roberson Pozzobon. No velório, Lula disse que o neto sofria bullying na escola. Em outro chat, Monique Cheker criticou: “Fez discurso político (travestido de despedida) em pleno enterro”.

Os diálogos foram revelados na terça-feira pelo UOL e pelo Intercept Brasil. Horas depois, Jerusa se manifestou no Twitter: “Errei. E minha consciência me leva a fazer o correto: pedir desculpas à pessoa diretamente afetada, o ex-presidente Lula”. Os outros procuradores nada disseram. Deltan, que raramente passa um dia sem tuitar, está em abstinência desde domingo.


Bernardo Mello Franco,  jornalista - O Globo

sábado, 8 de julho de 2017

Vanessa, Samara, Arthur e Eduarda

Eu me senti como Janot. Mas minha náusea é com a bala perdida, que fez 632 vítimas no estado do Rio em seis meses 

Cada história dessas é um soco em nossa consciência, é um tiro de fuzil na cidadania brasileira. E tiro de fuzil não é tiro de pistola. Ele destrói o organismo, todo o tecido social em volta. Se nada acontecer – ou apenas retórica vazia –, teremos atingido o fundo do poço civilizatório.

Vanessa, 10 anos, foi morta em casa com um tiro de fuzil na cabeça, em companhia de PMs que disseram ter buscado ali um abrigo. Samara, 14 anos, teve um pulmão perfurado por um tiro de fuzil no pátio da escola e diz que sobreviveu “por milagre”. Arthur foi baleado dentro do útero materno, luta para viver e o mais provável é que fique paraplégico. Maria Eduarda, a Duda, 13 anos, foi morta na quadra esportiva da escola, ao se levantar para beber água no intervalo da educação física. Tudo isso desde o fim de março.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sente “náusea” ao ouvir a conversa de porão no Palácio presidencial? Ele fica “enjoado” com a gravação entre um presidente e um bandido, entre um bandido e um empresário, ou entre dois bandidos? [destaque-se que um dos bandidos, o delator Joesley foi perdoado pelo procurador, super premiado com anistia total e permissão para usufruir livremente, no Brasil e no Exterior, do produto dos mais de 200 crimes confessados e devidamente anistiados pelo procurador-geral, que assumiu as funções de PODER JUDICIÁRIO SUPREMO.
De tudo, resta inequívoco que Janot só sente náusea de alguns bandidos.] Eu também fico, Janot. Mas, hoje, minha náusea é com a “bala perdida” que fez 632 vítimas no estado do Rio em seis meses. Sessenta e sete pessoas morreram com um tiro vindo de não sei onde. Em casa, na escola, no trabalho, na rua, no restaurante. Atingidos até antes de nascer.

É guerra, os hospitais sabem disso, mas o governador Pezão só grava declarações, deve meses à PM e aos aposentados. E o prefeito itinerante Crivella vai para Paris, em sua sexta viagem internacional. O secretário estadual de Segurança, Roberto Sá, dá desculpas esfarrapadas e diz que a UPP foi um equívoco e uma utopia. [a única declaração correta, tendo em conta que as UPPs - Unidade de Perigo ao Policial - também foram uma fraude.]
 
Mesmo? Logo o Sá, ex-braço direito de José Mariano Beltrame. As balas perdidas, as mortes e os confrontos haviam diminuído muito com as UPPs. O Estado tinha uma estratégia séria e premiada. Mas Sérgio Cabral preferiu investir em joias em vez de fazer sua parte na pacificação. E prossegue a omissão criminosa de Pezão, Crivella e do bunker de bandidos federais engravatados em Brasília, preocupados apenas em salvar mandatos e mordomias.

Vanessa Vitória dos Santos tinha chegado da escola na terça-feira, onde ensaiou para a festa junina. Deixou a mochila rosa com desenho de princesa junto à porta. A madrinha ouviu tiros e viu quando policiais da UPP correram para dentro da casa em que a menina morava com a mãe, o padrasto e dois irmãos, em 10 metros quadrados. “Calma, moço, deixa eu pegar minha afilhada.” Mas Vanessa só teve tempo de dizer que estava com medo. O tiro entrou pela testa e saiu pela nuca. O impacto foi tão forte que ela parou do lado de fora da casa. A mãe, Adriana, se mudou, foi embora com marido e dois filhos. Está com medo.

Samara Gonçalves estava no pátio da escola na quarta-feira quando sentiu um impacto nas costas. “Mãe, se eu me levanto poderia ter sido na minha cabeça, no meu ouvido, Deus me protegeu”, disse a menina. Uma professora a abraçou chorando, avisou a direção, que chamou o Corpo de Bombeiros. Samara vive.

Maria Eduarda Alves da Conceição queria ser atleta de basquete e colecionava medalhas em competições. No pátio da escola, foi morta com dois tiros na cabeça e um nas costas. “Estou sem chão, mataram minha caçula”,  disse a mãe, Rosilene, que acabara de dar um celular para a filha de presente. Duda gostava de selfies como toda adolescente e era apaixonada pelo cantor Justin Bieber.

Resposta de Crivella ao Rio? Prometeu erguer muros mais altos na escola de Duda e outras, com argamassa especial contra balas, fabricada nos Estados Unidos. Um espanto. Dos 100 dias de aulas neste ano, em apenas sete dias todas as escolas do município do Rio funcionaram sem interrupção. Tudo por causa da violência. Isso atinge 130 mil estudantes. Quando não mata nem fere, traumatiza.

Arthur nasceria dali a alguns dias. O tiro atravessou o quadril da mãe, Claudineia dos Santos Melo, perfurou um pulmão do bebê e provocou uma lesão na coluna, que pode deixar Arthur sem movimento das pernas. Claudineia saía de uma mercearia na Favela do Lixão, na Baixada Fluminense, quando bandidos atiraram em policiais que faziam patrulha. Ela se salvou. Seu maior sonho, ao receber alta, era “tocar” Arthur.

Desculpe falar disso no fim de semana. Desculpe, porque você não é parente dessas crianças, eu não sou parente dessas crianças, você pode nem morar no Rio ou, se morar, não vive numa casa de 10 metros quadrados na favela como vivia Vanessa, a última vítima de “balas perdidas” enquanto escrevo. Escrevo porque me senti como Janot. Senti náusea com a sucessão de tragédias absurdas e a falta total de solidariedade e de estratégia do poder público, diante das famílias enlutadas pelo horror, no fundo do poço. 

Fonte: Ruth de Aquino - ÉPOCA

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