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quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

A farra dos privilégios - Carlos Alberto Sardenberg

Estava pensando em dar à Fiocruz o prêmio “Republicano de 2020”.   Melhor não. Republicanos é o nome do partido de Crivella/Igreja Universal, cujo comportamento não corresponde ao nome.

Assim, vamos dizer que a Fiocruz é merecedora do prêmio de responsabilidade social e política, ao se negar a reservar doses de vacina aos tribunais superiores. Inversamente, o Supremo Tribunal Federal, o Superior Tribunal de Justiça e o Tribunal Superior do Trabalho merecem o prêmio vexame do ano. Os egrégios tribunais solicitaram oficialmente à Fiocruz a reserva de doses da vacina (7 mil no caso do STF) para aplicação nos ministros e seus funcionários.

Em ofício, o diretor do STF, Edmundo Verdas dos Santos Filho, chegou a dizer que a vacinação de ministros e funcionários contribuiria “com o país” já que garantiria a “utilização dos recursos humanos e materiais disponíveis no Tribunal para ajudar a desafogar outras estruturas de saúde”.

É ridículo ter que argumentar contra isso, mas considerada a fonte, vamos lá. Há muitas outras categorias cuja vacinação contribuiria mais com o país. E é justamente essa regra que se utiliza em qualquer lugar do mundo quando se organiza a fila da vacinação. E é óbvio que a reserva das primeiras doses vai para o pessoal da saúde e para a sua turma de apoio, o que inclui, por exemplo, maqueiros e motoristas de ambulâncias.

O diretor do STF lembrou, en passant, que muitos membros do tribunal estão no grupo de risco. Desnecessário. Os grupos de risco vão para os primeiros lugares. Mas na fila comum, para todos, e não para uma eventual fila exclusiva de 7 mil membros do STF, a serem vacinados em locais da Corte, especiais e separados do povão.[Não será surpresa se algum dos ministros supremos - especialmente os plantonistas extraordinários - determinar que as atividades dos beneficiados com a vacina que pediram à Fiocruz (pedido já negado) - ministros e servidores são essenciais = caso isso ocorra ficará a dúvida se a atividade dos servidores encarregados de afastar as cadeiras dos ministros, quando em plenário, para que se sentem, será considerada também essencial.???]

Dirão alguns leitores: mas por que se preocupa com questão tão pequena? Ocorre que não é só isso. Os privilégios não se limitam a isso. São os salários acima do teto constitucional, são as férias de dois meses, sem contar os recessos, são as mordomias. Isso se refere não apenas ao STF, mas à alta cúpula do serviço público que acha natural ter essas vantagens.

Refere-se também a uma elite política que, por exemplo, acha um absurdo que um prefeito, um deputado, um senador ou um ministro possam ser presos. A demanda por privilégios vai assim do pedido de reserva de vacinas aos esforços para abafar o combate à corrupção. Isto inclui, por exemplo: o engavetamento da lei de prisão em segunda instância, a decisão do ministro Marques de encurtar o tempo de inelegibilidade dos fichas-suja, o desmantelamento da Lava Jato.

E mais: o fato da elite política de Brasília considerar absolutamente normal que um réu por corrupção, o deputado Arthur Lira, seja candidato a presidente da Câmara dos Deputados. [um lembrete: importante destacar que um réu não é necessariamente culpado = no popular: qualquer denunciado por prática criminosa e que tem a denúncia aceita (sem julgamento, apenas com um exame preliminar do teor da denúncia) se torna réu. O réu se torna culpado quando, após o julgamento, é condenado.

A mais recente manifestação do Poder Judiciário sobre o deputado citado - que não goza de nossa simpatia nem antipatia - foi no sentido de arquivar um processo contra o mesmo = fosse réu no processo, deixou de ser.]

O que nos traz ao tema corrupção, outro assunto movimentado nestes dias com a prisão do prefeito Marcelo Crivella. Isso num estado em que seis ex-governadores foram apanhados por corrupção e lavagem de dinheiro. Dinheiro público e da saúde. Até algum tempo se dizia que a corrupção era pequena e apenas um problema moral. Errado. Primeiro, porque a Lava Jato mostrou o tamanho da corrupção aqui no Brasil e no exterior. Segundo, porque há uma estreita relação entre corrupção e ineficiência econômica.

Num ambiente corrupto, empresas que trabalham para governo corrupto – via contratos ou concessões – sabem que se ganha uma concorrência não por qualidade técnica, mas pelo valor da propina. Empresas sérias se afastam desses ambientes, como é o caso de muitas companhias e Organizações Sociais que desistiram de trabalhar no Rio e muitas que simplesmente desistiram do que têm a receber, por trabalhos legítimos, porque não querem entrar na fila da propina.

Trata-se do “capitalismo de amigos”, revelado pela Lava Jato e tão resistente a ponto de conseguir abafar a própria Lava Jato. Portanto, um prêmio para a Fiocruz que deu uma lição ao STF: as vacinas vão todas para o programa nacional de imunização, não podendo ser reservadas nem para os funcionários da Fiocruz. Até o fechamento desta coluna, ontem à tarde, apenas um ministro do STF havia se manifestado, Marco Aurélio: “peço desculpas”. E os outros?

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista 

Coluna publicada em O Globo - Economia 24 de dezembro de 2020

 

sábado, 8 de julho de 2017

Vanessa, Samara, Arthur e Eduarda

Eu me senti como Janot. Mas minha náusea é com a bala perdida, que fez 632 vítimas no estado do Rio em seis meses 

Cada história dessas é um soco em nossa consciência, é um tiro de fuzil na cidadania brasileira. E tiro de fuzil não é tiro de pistola. Ele destrói o organismo, todo o tecido social em volta. Se nada acontecer – ou apenas retórica vazia –, teremos atingido o fundo do poço civilizatório.

Vanessa, 10 anos, foi morta em casa com um tiro de fuzil na cabeça, em companhia de PMs que disseram ter buscado ali um abrigo. Samara, 14 anos, teve um pulmão perfurado por um tiro de fuzil no pátio da escola e diz que sobreviveu “por milagre”. Arthur foi baleado dentro do útero materno, luta para viver e o mais provável é que fique paraplégico. Maria Eduarda, a Duda, 13 anos, foi morta na quadra esportiva da escola, ao se levantar para beber água no intervalo da educação física. Tudo isso desde o fim de março.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sente “náusea” ao ouvir a conversa de porão no Palácio presidencial? Ele fica “enjoado” com a gravação entre um presidente e um bandido, entre um bandido e um empresário, ou entre dois bandidos? [destaque-se que um dos bandidos, o delator Joesley foi perdoado pelo procurador, super premiado com anistia total e permissão para usufruir livremente, no Brasil e no Exterior, do produto dos mais de 200 crimes confessados e devidamente anistiados pelo procurador-geral, que assumiu as funções de PODER JUDICIÁRIO SUPREMO.
De tudo, resta inequívoco que Janot só sente náusea de alguns bandidos.] Eu também fico, Janot. Mas, hoje, minha náusea é com a “bala perdida” que fez 632 vítimas no estado do Rio em seis meses. Sessenta e sete pessoas morreram com um tiro vindo de não sei onde. Em casa, na escola, no trabalho, na rua, no restaurante. Atingidos até antes de nascer.

É guerra, os hospitais sabem disso, mas o governador Pezão só grava declarações, deve meses à PM e aos aposentados. E o prefeito itinerante Crivella vai para Paris, em sua sexta viagem internacional. O secretário estadual de Segurança, Roberto Sá, dá desculpas esfarrapadas e diz que a UPP foi um equívoco e uma utopia. [a única declaração correta, tendo em conta que as UPPs - Unidade de Perigo ao Policial - também foram uma fraude.]
 
Mesmo? Logo o Sá, ex-braço direito de José Mariano Beltrame. As balas perdidas, as mortes e os confrontos haviam diminuído muito com as UPPs. O Estado tinha uma estratégia séria e premiada. Mas Sérgio Cabral preferiu investir em joias em vez de fazer sua parte na pacificação. E prossegue a omissão criminosa de Pezão, Crivella e do bunker de bandidos federais engravatados em Brasília, preocupados apenas em salvar mandatos e mordomias.

Vanessa Vitória dos Santos tinha chegado da escola na terça-feira, onde ensaiou para a festa junina. Deixou a mochila rosa com desenho de princesa junto à porta. A madrinha ouviu tiros e viu quando policiais da UPP correram para dentro da casa em que a menina morava com a mãe, o padrasto e dois irmãos, em 10 metros quadrados. “Calma, moço, deixa eu pegar minha afilhada.” Mas Vanessa só teve tempo de dizer que estava com medo. O tiro entrou pela testa e saiu pela nuca. O impacto foi tão forte que ela parou do lado de fora da casa. A mãe, Adriana, se mudou, foi embora com marido e dois filhos. Está com medo.

Samara Gonçalves estava no pátio da escola na quarta-feira quando sentiu um impacto nas costas. “Mãe, se eu me levanto poderia ter sido na minha cabeça, no meu ouvido, Deus me protegeu”, disse a menina. Uma professora a abraçou chorando, avisou a direção, que chamou o Corpo de Bombeiros. Samara vive.

Maria Eduarda Alves da Conceição queria ser atleta de basquete e colecionava medalhas em competições. No pátio da escola, foi morta com dois tiros na cabeça e um nas costas. “Estou sem chão, mataram minha caçula”,  disse a mãe, Rosilene, que acabara de dar um celular para a filha de presente. Duda gostava de selfies como toda adolescente e era apaixonada pelo cantor Justin Bieber.

Resposta de Crivella ao Rio? Prometeu erguer muros mais altos na escola de Duda e outras, com argamassa especial contra balas, fabricada nos Estados Unidos. Um espanto. Dos 100 dias de aulas neste ano, em apenas sete dias todas as escolas do município do Rio funcionaram sem interrupção. Tudo por causa da violência. Isso atinge 130 mil estudantes. Quando não mata nem fere, traumatiza.

Arthur nasceria dali a alguns dias. O tiro atravessou o quadril da mãe, Claudineia dos Santos Melo, perfurou um pulmão do bebê e provocou uma lesão na coluna, que pode deixar Arthur sem movimento das pernas. Claudineia saía de uma mercearia na Favela do Lixão, na Baixada Fluminense, quando bandidos atiraram em policiais que faziam patrulha. Ela se salvou. Seu maior sonho, ao receber alta, era “tocar” Arthur.

Desculpe falar disso no fim de semana. Desculpe, porque você não é parente dessas crianças, eu não sou parente dessas crianças, você pode nem morar no Rio ou, se morar, não vive numa casa de 10 metros quadrados na favela como vivia Vanessa, a última vítima de “balas perdidas” enquanto escrevo. Escrevo porque me senti como Janot. Senti náusea com a sucessão de tragédias absurdas e a falta total de solidariedade e de estratégia do poder público, diante das famílias enlutadas pelo horror, no fundo do poço. 

Fonte: Ruth de Aquino - ÉPOCA

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terça-feira, 7 de março de 2017

“Ninguém deve ser obrigado a fazer nada”



Ao se ausentar do Carnaval, Crivella sinalizou que a prefeitura está longe de ser laica. Isso é perigoso 

Essa foi a justificativa do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, para sua ausência total da principal festa da cidade, o Carnaval. A frase sintetiza alguns dos piores defeitos num político: omissão e arrogância. Ele deixou todos em suspenso, inclusive sua equipe, e, quando a primeira escola de samba entrou na Avenida, Crivella assistia a uma partida de tênis na Gávea, Zona Sul do Rio. Na véspera, não cumpriu o ritual simbólico de entregar as chaves da cidade ao Rei Momo. Deixou Guarda Municipal, músicos, todo mundo esperando, sem saber se o prefeito daria o ar da graça. [Ruth com todo o respeito a você e a sua competência profissional, defendemos que nada obriga um prefeito, governador ou presidente da República a comparecer a um evento festivo - exceto os que forem de cunho patriótico e que envolva PATRIOTISMO, tipo o 7 de Setembro.
O governante, de qualquer um dos três entes federativos, tem o direito de comparecer em eventos festivos SE e QUANDO lhe convier.
Não estamos defendendo a Igreja Universal, que inclusive não tem a nossa simpatia, mas, defendemos o direito de qualquer autoridade, ateu ou praticante de alguma religião, não frequentar um evento.
Por Carnaval ser considerado uma forma de 'cultura' a presença do secretário municipal de Cultura já  é mais que suficiente.]

Não apareceu na abertura nem no fechamento da folia. Disse que a mulher “estava com uma gripe forte”. Mas ela também estava no torneio de tênis. Sylvia Crivella reza pelo credo do marido. Em livro recente de sua autoria, ela compara a homossexualidade a uma tragédia como os tsunamis e os suicídios. [mesmo partindo de uma 'fiel' da IURD é uma comparação extremamente oportuna e adequada.] O prefeito ignorou o manual de boas maneiras e deu uma de Trump tupiniquim ao dizer que o Carnaval pode ser “agenda da imprensa”, mas não dele, prefeito. A Igreja Universal é contra a participação de seus fiéis no Carnaval. A prefeitura carioca está longe de ser laica. Isso é só o começo. E é perigoso.

O vice de Crivella e secretário de Transportes do Rio, Fernando MacDowell, não é obrigado a pagar impostos. Ele deve R$ 215 mil de IPTU desde 2001. Deve quase R$ 235 mil de ISS. MacDowell não é obrigado a fazer nada. Crivella também não é obrigado a substituir seu vice para dar exemplo. Não é obrigado a desistir de nomear seu filho para o mais alto cargo de confiança na prefeitura. Não é obrigado a saber que nepotismo às claras se tornou muito impopular. 

Crivella não está nem aí. E não está mesmo em lugar nenhum. Não revela sua agenda nem para seus assessores, que ficam boiando, constrangidos. No Carnaval, divulgou um vídeo dizendo que “a gente não sabe sambar, mas sabe trabalhar”. Até agora, o Rio não viu nem uma coisa nem outra. Mais fácil Crivella aprender a sambar.  “Me perguntaram por que não fui ao Sambódromo. Não fui porque no meu caso seria demagogia. E os malefícios da demagogia na vida pública são extensos. A demagogia é a máscara da democracia. E o povo do Rio rejeita um prefeito com máscara ainda que seja no Carnaval.” O povo do Rio votou em Crivella, elegeu-o prefeito. Mas seu discurso na campanha eleitoral era claro: prometia não misturar religião com política. O prefeito deve ser obrigado a cumprir sua promessa. Na verdade, Crivella nem queria estar no Rio durante o Carnaval.

Estudiosos de comunicação religiosa, como Eduardo Refkalefsky, professor da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO-UFRJ), acreditam que, ao abrir mão do papel tradicional de porta-voz e anfitrião no Carnaval do Rio, Crivella perdeu muito mais do que ganhou, num momento em que ainda precisa conquistar a boa vontade do eleitorado.  “Até quando a religião pode afetar o trabalho de um gestor? De um lado, ele deveria promover a cidade”, disse o professor. Mas, ao mesmo tempo, “ele tem a questão do conflito com o Carnaval: ou ele faria uma transição de sacerdote para a postura de gestor, que tem de representar toda a população, correndo o risco de perder eleitores, ou mantinha as atitudes de quando estava na igreja, com um discurso excludente”, afirmou Refkalefsky. Crivella preferiu a exclusão, a arrogância. Esse é um pecado capital. [exceto para os ateus e os 'a toa' a religião deve ser prioridade na vida de qualquer ser humano; no caso do prefeito do Rio apenas é lamentável que sua opção tenha sido por uma religião que não foi fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo, SUPREMA HONRA que só cabe à Igreja Católica Apostólica Romana.]

Seria menos nocivo para o Brasil se somente Crivella, o pastor e bispo licenciado da Igreja Universal, agisse assim. Sua afirmação em tom de desafio remete a uma anarquia tropical que tem desmoralizado governantes, congressistas, juízes – e muitos cidadãos. Se ninguém deve ser obrigado a fazer nada que não queira, homens públicos e privados não devem assumir compromissos.

Policial não é obrigado a proteger, médico não é obrigado a atender, professor não é obrigado a ensinar, aluno não é obrigado a estudar, motorista não é obrigado a saber dirigir, pais e mães não são obrigados a educar, filhos não são obrigados a respeitar. Escolas de samba não são obrigadas a ter carros alegóricos seguros que não saiam desabando e atropelando foliões na Avenida. No fim, ninguém é punido mesmo. [não foi feliz comparar o DEVER de um médico, de um policial, de um professor, com o suposto DEVER do prefeito ir assistir a atropelamentos em massa no Sambódromo.]

A Câmara e o Senado não devem ser obrigados a descontar o dia dos congressistas que passam por lá só para bater o ponto. Os empresários não são obrigados a agir com lisura quando políticos de todos os partidos passam o chapéu pedindo dinheiro. A chapa Dilma Rousseff-Michel Temer não era obrigada a se comportar com ética e evitar o caixa dois em plena Operação Lava Jato. Somos bobos da corte, nós que nos sentimos na obrigação de protestar.


Fonte: Ruth de Aquino - Época

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