O líder máximo do Executivo ainda pensa como deputado do baixo clero. Sua articulação é débil, repleta de improvisos e de polêmicas vazias. Os sinais de desgaste já são evidentes
[não sejamos tão pessimistas; o nosso presidente começa a dar sinais de que vai seguir os conselhos de milhões de brasileiros e começar a governar sem 'aspones'.
Ainda restam, deste mandato, pouco mais de 7/8 do tempo - muita coisa boa Bolsonaro ainda pode realizar, desde que deixem e ele queira realmente governar.
Bolsonaro esquecendo que não é mais parlamentar e fazendo o certo - governar = campanha só em 2020, seu Governo vai dar certo.]
Jair Bolsonaro precisa assumir a presidência. Quase cinco meses após a posse continua agindo como um deputado do baixo clero. Esqueceu que está no mais alto cargo da República. Que há um protocolo. Que qualquer coisa que fale tem imediata consequência política. Não custa lembrar o episódio sobre o preço do óleo diesel e a queda das ações da Petrobras. Insiste em agir como parlamentar que precisa a todo momento contentar sua base eleitoral. Suas falas agressivas acabam gerando repercussões extremamente negativas. Vai a Dallas — após o vexame de Nova York — receber um título que, após polêmicas, diminuiu de tamanho. E por que Dallas? Há o encontro com George W. Bush. Porém, o ex-presidente americano é opositor de Donald Trump. Assim como seu pai, o também ex-presidente George H. W. Bush (1924-2018), que fez questão de dizer que, em 2016, votou em Hillary Clinton. Qual o ganho diplomático? E o roteiro da viagem? Quais reuniões foram planejadas?
O improviso tomou conta do Palácio do Planalto. Não causará estranheza se em um banquete oficial for oferecido pão com leite condensado. [esse risco não existe; qualquer falta é só atravessar o rua e pedir emprestado do supremo estoque de iguarias que o STF mantém.] Estamos no momento do vale-tudo. Porém, mostras de cansaço são evidentes. O Itamaraty virou sucursal de Steve Bannon. O extremista de direita tomou a Casa de Rio Branco. Hoje, a política externa é determinada por uma organização estrangeira a serviço de uma ideologia exótica e que coloca em risco a segurança nacional. Algo que nunca ocorreu na história da República.
O caos político poderá levar à derrota da reforma da Previdência. A coordenação política é confusa. Os parlamentares indicados para os cargos de liderança são de primeiro mandato. Não conhecem a história do nosso parlamento e são péssimos articuladores. Dão mais atenção às redes sociais do que ao trabalho. Estão deslumbrados com os minutos de fama. Esqueceram que precisam obter, no mínimo, 308 votos em duas votações no plenário da Câmara dos Deputados. Optaram por atacar os próprios colegas, ordenando que suas bases de apoio os desqualifiquem nas redes sociais. Como se isso levasse a construir uma maioria constitucional.
E Jair Bolsonaro nisso tudo? Assiste passivamente. Não age. Não consegue liderar. No fundo, sente saudades dos tempos da Câmara dos Deputados. Era tudo tão fácil. Bastava dar uma entrevista bombástica, de forma bem irresponsável, que virava notícia. O fato não trazia nenhuma consequência. Sumia para reaparecer, meses depois, como alguma nova patacoada.
Marco Antonio Villa - Revista Istoé