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quarta-feira, 20 de abril de 2022

Putin: Nacionalista ou Imperialista? - Jorge Hernández Fonseca

Com a derrota do marxismo comunista, o atual campo político internacional passa a configurar duas áreas antagônicas: os nacionalistas e os globalistas. Os primeiros priorizam os valores nacionais sobre os laços externos, a exemplo do Reino Unido, que acaba de se separar da União Europeia, consciente de que seus valores nacionais não deveriam estar subordinados aos poderes centralizados por uma representação da "União", muitas vezes contrária aos seus interesses como Nação. Os globalistas (nada a ver com globalização) defendem a "unidade política" de vários países, buscando em última análise um "Governo Mundial".

Claro, existem nuances nesta classificação. A globalização comercial, por exemplo, é um fenômeno defendido e aceito por ambos os lados. A chave é a subordinação política implícita dos globalistas, que os nacionalistas rejeitam. Dito isto, vamos à guerra que Putin declarou contra a Ucrânia sob pretextos duvidosos, senão confusos.

Putin fez da Rússia um país nacionalista que preservou suas raízes históricas, culturais e religiosas e que proclama cultivar seus valores mais tradicionais, mas se posicionando como o centro político de toda a Eurásia, dentro de uma filosofia messiânica russa. Por esta razão, e apesar de ser reconhecido como um país nacionalista, acaba de declarar guerra a um vizinho por nenhum motivo maior do que a preservação de sua “segurança nacional”entendida como garantia de que seu vizinho atacado não a colocasse em perigo – escondendo seu verdadeiro objetivo: conquistar para a Rússia o país vizinho. Nada a ver com o nacionalismo do século XXI e sim com uma perspectiva "imperialista" de despojar de seu território um país independente, por várias razões falaciosas.

Vejamos. A Rússia de Putin argumenta que grande parte do território da Ucrânia "sempre pertenceu" à Rússia czarista, mostrando sua pretensão imperialista hegemônica, que nada tem a ver com o nacionalismo do século 21 de que falamos antes. Se a Ucrânia existe como país independente, é porque a antiga União Soviética, num primeiro momento, exibiu ao mundo como novas “repúblicas”, partes da antiga União das Repúblicas Soviéticas; mais tarde, quando as diferentes repúblicas antes unidas na URSS se separaram, a Rússia teve participação ativa nas definições então feitas

Se a península da Crimeia era russa e não ucraniana, por que a própria Rússia a tornou parte da Ucrânia quando todas as repúblicas se separaram desde o início? 
O Mundo sabe de uma Ucrânia independente, com territórios que a Rússia nunca reivindicou: é a Ucrânia que foi membro da antiga URSS e a Ucrânia que se separou da URSS quando esta se desmantelou, que incluiu sempre a região de Donbass (agora reivindicada pela Rússia ) e a península da Criméia, anexada em uma guerra predatória há alguns anos. A Ucrânia é o que a Rússia decidiu que era quando a URSS foi desmantelada e agora, como país nacionalista, não pode reivindicar o que não é seu.

Putin, com esta guerra imperialista, coloca um obstáculo gigante para o nacionalismo como ideologia aceitável do século XXI. A única salvação para os nacionalistas do nosso século é acrescentar uma categorização adicional para impor à Rússia: "país imperialista", independentemente de ter ideias nacionalistas ou globalistas. Impõe guerra a seus vizinhos por objetivos territoriais ou de "segurança nacional" para esconder intenções hegemônicas. Se um Governo Mundial é questionável, pior é um Governo Mundial comandado pela Rússia, assim como proclamam os ideólogos russos que Putin segue.

*         Os artigos deste autor podem ser consultados em http://www.cubalibredigital.com

**        O autor é cubano, engenheiro mecânico, professor em várias instituições universitárias em Cuba e no Brasil, onde vive há 23 anos.

 

segunda-feira, 4 de abril de 2022

Orbán derrota oposição unida e conquista quarto mandato consecutivo na Hungria [ = Brasil a partir de outubro/22]

[Substituam Orbán por Bolsonaro, quarto por segundo e Hungria por Brasil]

O Globo

Partido do primeiro-ministro que mudou Constituição para concentrar poder deve manter maioria absoluta no Parlamento, segundo projeções 
 
O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, venceu as eleições legislativas deste domingo, com os resultados preliminares mostrando uma grande vantagem de seu partido, o Fidesz, apesar de a oposição ter se unido e lançado um candidato único pela primeira vez nos 12 anos em que o expoente da ultradireita nacionalista europeia está no poder. Os opositores reconheceram a derrota logo depois de o premier declarar uma "vitória excepcional", que lhe garante o quarto mandato consecutivo.

Primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, vota em seção eleitoral de Budapeste Foto: FERENC ISZA / AFP
Primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, vota em seção eleitoral de Budapeste Foto: FERENC ISZA / AFP

BUDAPESTE — Segundo projeções parciais, o Fidesz e seu parceiro de coalizão, o Partido Popular Democrata Cristão, devem conquistar 135 cadeiras no Parlamento, duas a mais do que as atuais 133, mantendo a maioria absoluta, enquanto a oposição deve ficar com apenas 56. Um partido de extrema direita, Nossa Pátria, conseguiu superar a cláusula de barreira de 5% dos votos e terá sete assentos no Legislativo. Pelos números parciais, o Fidesz obteve 53,1% dos votos em listas partidárias, e lidera em 88 das 106 disputas distritais.

— Caros amigos, obtivemos uma vitória excepcional, uma vitória tão grande que provavelmente pode ser vista da Lua, e certamente de Bruxelas — declarou Orbán, referindo-se à sede da Comissão Europeia, que abriu processos contra o seu governo por violações do Estado de direito.

Bolsonaro com o premier Orbán em Budapeste; brasileiro disse que ambos defendem 'Deus, pátria, família e liberdade' Foto: BERNADETT SZABO / REUTERS
Bolsonaro com o premier Orbán em Budapeste; brasileiro disse que ambos defendem 'Deus, pátria, família e liberdade' Foto: BERNADETT SZABO / REUTERS

O direitista Orbán é admirado por Jair Bolsinaro e aliado do presidente brasileiro, que chamou o líder húngaro de "irmão"  em recente visita ao país.  

A participação na eleição ficou em torno de 67%, na média das eleições anteriores. Segundo o atual sistema eleitoral húngaro —  definido pelo Fidesz ao mudar a Constituição do país em 2012 e que favorece o partido governista   das 199 cadeiras do Legislativo, 106 são decididas por maioria simples em distritos eleitorais e as demais 93 são definidas de forma proporcional pelo voto em listas nacionais.

Ao contrário das votações anteriores, quando Orbán enfrentou uma oposição dividida, este ano os principais partidos opositores se uniram em torno do nome de Peter Marki-Zay, um político que, em 2018, surpreendeu ao se eleger prefeito da cidade de Hódmezovásárhely, considerada um bastião do Fidesz.

Ali, concorrendo como independente, Marki-Zay recebeu o apoio de todas as forças de oposição, uma estratégia replicada nas atuais eleições, mas sem obter o resultado esperado. A aliança incluiu siglas como a Coalizão Democrática, de esquerda, o Momento, liberal, e o Jobbik, um partido de extrema direita que moderou suas posições nos últimos anos.

'São pessoas educadas': Europa vive outra onda de refugiados. Desta vez, a recepção é diferente

Para Marki-Zay, essa era uma escolha entre "o Ocidente e o Oriente", e as políticas do atual governo minaram a democracia no país. Ao votar, ele apontou o controle do governo sobre os meios de comunicação e o sistema eleitoral desenhado pelo Fidesz como obstáculos à oposição.

Segundo os resultados preliminares, o oposicionista foi derrotado até em seu distrito eleitoral. No discurso em que admitiu a derrota, ele se disse chocado com os resultados,afirmou que as pessoas "sofreram lavagem cerebral" e que recebem apenas propaganda pelos meios oficiais. Marki-Zay também não poupou adjetivos negativos ao se referir a Órban e ao modelo eleitoral.

Não quero esconder minha decepção e minha tristeza. Sabíamos que essa seria uma disputa desigual — disse o oposicionista. — Admitimos que o Fidesz obteve a ampla maioria dos votos. Mas ainda questionamos se essa disputa foi democrática ou livre.

Orbán, por sua vez, votou em Budapeste, e declarou que a eleição era uma escolha entre "a paz ou a guerra", apontando para o apoio de seu adversário a uma posição mais dura em relação a Moscou no conflito na Ucrânia. O premier, que tem laços próximos com o presidente russo, Vladimir Putin, é hoje a principal voz dentro da União Europeia contra a adoção de sanções mais duras ao petróleo e ao gás vindos da Rússia. 

Visita de Bolsonaro: Na Hungria, presidente nega destruição da Amazônia e chama país de Orbán de 'pequeno grande irmão'

Recentemente, o premier húngaro foi alvo de críticas do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e respondeu dizendo que os interesses da Hungria "vêm em primeiro lugar". Ao ser questionado sobre sua relação com o governo russo, repetiu esse argumento. — Vladimir Putin não está concorrendo nas eleições húngaras, então não preciso lidar com essa questão hoje, felizmente — disse Orbán. — Eu sigo os interesses nacionais húngaros, sou pró-Hungria.

Durante seus discursos, o premier afirmou que um voto na oposição seria o mesmo que arrastar a Hungria para a guerra.

Outra preocupação dos eleitores neste domingo foi o estado da economia, com a inflação acima de 8%, mesmo com um sistema de controle de preços dos combustíveis e itens básicos de alimentação. O aumento de gastos sociais e limites a aumentos nas hipotecas também ajudou a impulsionar os números do partido de Orbán na reta final da disputa.

Referendo

Apesar de não ter sido um dos grandes temas da campanha, a chamada "pauta conservadora", uma das marcas dos 12 anos de Orbán à frente do governo, esteve presente no dia da eleição: os eleitores também participaram neste domingo de um referendo sobre uma nova lei que proíbe a divulgação de conteúdos que incluam qualquer orientação sexual com exceção da heterossexual, bem como informações sobre redesignação de gênero, nas escolas ou em filmes e publicidade dirigidos a menores de 18 anos.

'Contra os ataques da esquerda ocidental':   Orbán reúne direita nacionalista em cúpula na Hungria para defender os 'valores da família' e a 'nação'



Neste domingo, as cédulas traziam quatro perguntas aos eleitores:
- "você apoia o ensino de orientação sexual para crianças menores de idade em instituições de educação pública sem o consentimento dos pais?"; [NÃO]
 
- "você apoia a promoção de terapia de redesignação de gênero para crianças menores de idade?"; [NÃO]
 
- "você apoia a exposição irrestrita de crianças menores de idade a conteúdo sexual explícito que possa afetar seu desenvolvimento?"; [NÃO] - "você apoia mostrar conteúdo sobre mudança de sexo para menores de idade?".[NÃO]
 
 
O resultado do referendo ainda não foi divulgado.
[Quando for será uma  sequência de QUATRO 'NÃOs' é a única resposta natural e que engrandece a Família.]

O mundo - O Globo


domingo, 6 de março de 2022

Putin, a Mãe Rússia e o Ocidente - Revista Oeste

Rodrigo Constantino

Os russos permitiram a concentração de poder num só homem, que se despiu de ideologias e adotou um pragmatismo nacionalista cuja meta era tornar a Rússia um país temido novamente 

Vladimir Putin, presidente da Rússia | Foto: Asatur Yesayants/Shutterstock
Vladimir Putin, presidente da Rússia -  Foto: Asatur Yesayants/Shutterstock 
 
Com a invasão da Ucrânia pela Rússia, o mundo se voltou para Vladimir Putin, aquele que comanda com mão de ferro o país desde 1999. Todos querem entender a cabeça daquele que ameaça levar o mundo a uma guerra nuclear. 
Será que ele está blefando? 
Seria Putin capaz de apertar o botão vermelho? 
Como as sanções econômicas impostas pelo Ocidente podem frear as pretensões imperialistas da Rússia? 
Putin é comunista ou nacionalista? E por aí vai.

Naturalmente, a psicologia de alguém como Putin é algo complexo. Sabemos de seu passado, do fato de que seu avô foi cozinheiro de Lenin e também de Stalin, que seu pai, um operário, foi ferido na Segunda Guerra Mundial, que ele foi agente secreto na KGB, e que considerou o debacle da União Soviética uma “catástrofe geopolítica”. Ou seja, seus laços com o imperialismo soviético são evidentes. Mas Putin também é um nacionalista, e em muitos aspectos se parece com um novo czar, lutando para resgatar a grandeza da “Mãe Rússia”. É aqui que atrai, além de comunistas, reacionários.

O Ocidente está em crise de identidade, submetido ao globalismo de elites “progressistas”, materialistas e cosmopolitas
Os conservadores estão absolutamente certos quando apontam para a doença. 
Erra na receita, porém, quem acha que alguém como Putin pode ser parte da resposta. 
Basta conhecer um pouco do perfil do autocrata russo para compreender que ele está longe de ser a solução para as mazelas ocidentais. 
Ao contrário: a civilização ocidental precisa ser defendida justamente por representar valores que alguém como Putin, no fundo, repudia com veemência.

Putin nunca demonstrou qualquer apreço pelas instituições democráticas. Se o império das leis é um dos pilares mais importantes no Ocidente, ainda que em crise pelo abuso de poder arbitrário de hoje sob o pretexto da ciência, Putin simboliza seu oposto, a concentração de poder num só indivíduo, que tudo pode. Ele assumiu o poder quando havia um vácuo deixado pela crise de 1998 e a liderança frágil do bêbado Yeltsin. Oligarcas sem escrúpulos que conquistaram muito dinheiro e poder após a queda do regime soviético ajudaram a criar Putin como político, e logo em seguida o ex-espião destruiu um a um de seus “criadores”.

No livro The Oligarchs, de David Hoffman, essa história é contada em detalhes. É preciso entender que Yeltsin colocou alguns liberais no comando da economia, mas faltavam à Rússia instituições básicas para o funcionamento do livre mercado. O que tivemos em seu lugar foi uma “lei da selva”, um “vale-tudo” em que os tais oligarcas exploraram com maestria à custa do povo. Quando veio a crise, ela foi associada de maneira equivocada ao capitalismo. E foi nesse contexto que Putin chegou ao poder. Sim, ele foi pragmático para não matar a galinha dos ovos de ouro. Mas ele jamais depositou esperança no mecanismo de mercado para levar prosperidade aos russos.

Não se tratava, portanto, de um modelo de meritocracia, e sim um de conexões. Após utilizar os oligarcas para sua ascensão, Putin percebeu que era arriscado demais depender deles, e por isso passou a perseguir cada um deles. O dono da Yukos, Khodorkowsky, então o homem mais rico do mundo emergente, foi preso e esmagado como uma barata em poucas semanas. Os dois barões da mídia tiveram de fugir. O recado era claro: ou se submetia ao conceito de tirania de um homem só ou seria destruído. Putin não se importava com a riqueza desses oligarcas, desde que isso não significasse poder político. Esse seria todo dele, apenas dele.

O capitalismo russo floresceu sem qualquer transparência, por meio de propinas, tudo feito às sombras, com conexões e influência, com golpes escancarados, sem qualquer instituição sólida para proteger a propriedade privada. O liberal Yegor Gaidar, reformista convocado por Yeltsin, temia justamente isso: que os russos fossem se sentir traídos pelo capitalismo. Eu estive num jantar com Gaidar, um admirador de Hayek, e ele parecia alguém sem interesses materiais. Era alguém que realmente acreditava num caminho alternativo para a Rússia, similar ao traçado pelo Ocidente. Na era Putin, figuras como Gaidar não tinham qualquer espaço no governo.

Putin claramente desprezava os oligarcas que só pensavam em enriquecer por meio de esquemas fraudulentos e, eventualmente, mandar o dinheiro para fora do país. Os reformistas liberais tentaram oferecer o máximo de liberdade antes de criar regras claras do jogo, e no vácuo dessas regras vieram forças caóticas do mal, como charlatães, brutamontes, gangues criminosas, políticos corruptos, burocratas espertos, mafiosos etc. Foi nesse ambiente que o ex-espião da KGB concentrou boa parte do poder político. A Rússia nunca desenvolveu qualquer respeito pelo império das leis, pelo estado de direito.

Vale notar que Putin foi catapultado ao papel de líder logo no começo de sua gestão como primeiro-ministro, quando uma série de bombas aterrorizaram Moscou. Os supostos terroristas nunca foram encontrados, o que alimentava a suspeita de se tratar de um trabalho interno do serviço secreto russo, ligado a Putin. O prefeito Luzhkov, seu adversário político, teve sua imagem muito desgastada, enquanto Putin culpou os chechenos e lançou uma ofensiva militar em larga escala, fazendo sua taxa de aprovação disparar.

Ninguém conhecia direito o pensamento político de Putin, ou o que ele fizera na KGB. Os próprios oligarcas ainda o encaravam como uma marionete em suas mãos. Mas, após os anos de fraqueza de Yeltsin, os russos pareciam apreciar o estilo firme de Putin, e muitos compartilhavam de seu ódio pelos chechenos. Mesmo os “liberais”, cansados do caos econômico, pediam que Putin fosse o “Pinochet russo”, acreditando que apenas uma ditadura política poderia viabilizar as reformas econômicas de mercado. Putin soube usar isso a seu favor.

Os russos, sem tradição de liberdade, parecem ter chegado à conclusão de que uma “democracia” controlada de cima é a única alternativa viável no país

Fechado, discreto, sisudo, Putin nunca participara de competições políticas reais, apenas de jogos de bastidores. Ele era extremamente disciplinado, inclusive a ponto de não demonstrar muita ambição no começo e sinalizar lealdade àqueles que o alçaram ao poder. Ele temia a imprensa, em especial a televisão, e por isso seus primeiros alvos foram os oligarcas da mídia. A censura foi imposta durante a guerra, e nunca mais abandonou a Rússia. Putin não queria destruir o sistema, apenas controlá-lo. Ao destruir Gusinsky e Berezovsky, os dois barões da mídia, o caminho ficou livre para o restante do trabalho.

O caso envolvendo Berezovsky, seu principal “criador”, merece maior atenção. Berezovsky passou a discordar de Putin sobre a guerra na Chechênia, e cometeu o erro de externar sua opinião em público. Putin não tolera isso. Berezovsky chegou a enviar uma carta a Putin alertando para seus erros ao escalar o conflito, impor sua vontade aos governadores e tentar controlar a mídia. Mas o magnata não tinha chance nessa batalha, e acabou vendendo seu canal de TV para Roman Abramovich, aliado de Putin, e fugiu do país.

Como coloca Lilia Shevtsova em Putin’s Russia, o desejo avassalador entre a classe política e os russos em geral era que Putin se mostrasse um líder que poderia trazer ordem ao caos de Yeltsin e acabar com a imprevisibilidade do Kremlin. Ao apostar nisso, porém, os russos permitiram a quase absoluta concentração de poder num só homem, que se despiu de ideologias e adotou um pragmatismo nacionalista cuja meta era tornar a Mãe Rússia um país respeitado e temido novamente.

Enquanto o preço do petróleo continuar alto, Putin tem pouco a temer. Não é possível negar que ele conta com apoio popular. Os russos, sem tradição de liberdade, parecem ter chegado à conclusão de que uma “democracia” controlada de cima é a única alternativa viável no país. Muitos são inclusive nostálgicos dos tempos soviéticos, apesar de tudo, apenas por conta do papel geopolítico exercido pela Rússia. Não é uma nova dacha para as férias ou trocar de iPhone todo ano que os move, e sim um sentimento coletivista de pertencer a algo maior.

A economia russa é pequena, quase do tamanho do Estado da Flórida. Mas os russos que apoiam Putin estão preocupados com outras coisas. É um grave equívoco medir Putin pela régua “progressista” ocidental. Trata-se de um autocrata nacionalista obstinado, capaz de tudo para atingir seus fins, e que não vai descansar enquanto a Rússia não for, novamente, um adversário à altura do decadente Ocidente. Aqueles que acreditam que ele pode ser um bom substituto do Ocidente, porém, estão redondamente enganados. Putin é a antítese de tudo que a civilização ocidental representa.

Leia também “A fraqueza ocidental”

Rodrigo Constantino, colunista - Revista Oeste


sexta-feira, 15 de maio de 2020

Mourão em evidência - Caminho do entendimento - Merval Pereira

“Todos cobram do PR (presidente da República), mas ninguém busca um caminho para o entendimento”, me disse o vice-presidente da República, General Hamilton Mourão ao definir o que o levou a escrever o artigo que publicou ontem no jornal Estado de S. Paulo. Em resumo, não seria uma crítica, mas um convite à reflexão e ao entendimento, para todos, como resumiu um de seus assessores mais próximos.

O artigo provocou diversas interpretações, desde a de que se tratava de uma necessidade de demonstrar apoio público ao presidente Bolsonaro neste momento de crise, até mesmo que estaria enviando um recado a seus companheiros de tropa, garantindo que, mesmo em caso de impeachment do presidente Jair Bolsonaro, ele continuaria uma linha de governo ao gosto dos militares, nacionalista e desenvolvimentista, na definição do cientista político Christian Edward Lynch, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ.

O convite para que o presidente da Câmara Rodrigo Maia fosse ontem ao Palácio do Planalto para conhecer o gabinete de crise montado para o combate à Covid-19 foi um primeiro passo importante para distender o ambiente político. Dele saiu o encontro do presidente com Maia, momentos depois de Bolsonaro ter dito para empresários, em uma live, que ele parecia estar querendo liquidar com a economia do país. E uma combinação entre os dois de que a decisão sobre vetos de artigos da lei de socorro dos Estados sairá de uma videoconferência com os governadores.

Conversei com o próprio General Mourão para saber suas reais intenções, e ele me disse que “o artigo é auto-explicativo, pois aponto os problemas que tornam o ambiente em que vivemos, com discussões que não levam a nada. Se cada um assumir suas responsabilidades dentro dos seus limites poderemos baixar as tensões e buscar o entendimento. Minha intenção foi alertar que está na hora de pensar mais no conjunto e não nas partes individuais e interesses menores”.
Perguntado se não achava que faltou um mea culpa do próprio governo, se não quisesse personalizar no presidente da República, ele respondeu: “Considero que os erros do governo já estão sobejamente demonstrados pela critica”.

Depois de conversar com o vice-presidente, fiquei convencido mais ainda de que o artigo reflete um ambiente conturbado no Palácio do Planalto, e nasceu da necessidade de prestar apoio público ao presidente Bolsonaro, ainda mais agora que ele se vê acuado por processos no Superior Tribunal Federal (STF). No inicio do governo, Mourão surgiu como uma alternativa mais sensata aos arroubos de Bolsonaro, a ponto de ser vítima de intrigas palacianas. Carlos Bolsonaro, o vereador filho 02, chegou a publicar no Twitter indiretas sobre o suposto interesse de Mourão pelo cargo de seu pai.

Anteriormente, outro dos filhos presidenciais explicara a escolha de Mourão com a necessidade de “ter um cara cascudo lá” para mostrar que o impeachment não é uma alternativa para a oposição. O próprio Bolsonaro, certa vez, referindo-se aos que supostamente querem derrubá-lo, disse que Mourão é “muito mais tosco” que ele. Em qualquer dos casos, ou apoio a Bolsonaro ou aceno aos militares de que garantirá a continuidade com menos turbulência, o artigo colocou o General Hamilton Mourão novamente em evidência. Devido a declarações pregressas, a intenção implícita de Mourão dá margens a muitas especulações , sobretudo se não seria uma abertura a um “autogolpe”, que aliás ele foi o primeiro a citar como uma possibilidade real na famosa entrevista na Globonews durante a campanha presidencial.

Quando ainda estava na ativa, certa vez numa palestra traçou uma hipotética situação em que a ação das Forças Armadas seria imperiosa, na sua opinião. "Pois é, mas quando a gente vê que pode ocorrer uma anomia. Nós estamos falando aqui de uma situação hipotética, né, isso é hipotético. Quando você vê que o país está indo para uma anomia, na anarquia generalizada, que não há mais respeito pela autoridade, grupos armados andando pela rua...". O General Hamilton Mourão foi advertido naquela ocasião, e transferido de posto. Hoje, com a responsabilidade de vice-presidente da República, garante que o objetivo de seu pronunciamento é a busca da união politica. Uma maneira mais democrática de ver as coisas.

Merval Pereira, jornalista - O Globo


sábado, 4 de abril de 2020

As mentiras nos EUA luzem sob o sol, enquanto na China seguem escondidas abaixo da superfície - Folha de S. Paulo

 Demétrio Magnoli 

Trump mente ininterruptamente; já o regime de Xi Jinping fabrica 'verdade' paralela da pandemia

“Na guerra, a primeira vítima é a verdade.” Essa verdade célebre, cuja autoria atribui-se tanto ao senador americano isolacionista Hiram Johnson (1918) quanto ao grego Ésquilo, o pai da tragédia, no século 5º a.C., vale também para a Peste Negra em curso. Mas as mentiras são diferentes: nos EUA, luzem sob o sol; na China, seguem escondidas abaixo da superfície.

Donald Trump mentiu ininterruptamente, retardando a preparação dos EUA para enfrentar a pandemia.  No fim de janeiro, disse à rede CNN“Temos isso sob controle total. É uma pessoa vinda da China, e a temos sob absoluto controle”. No início de fevereiro, gabou-se na Fox News: Nós basicamente desligamos isso, que vinha da China”.  No final de fevereiro, garantiu que “isso é mais ou menos como a gripe; logo teremos uma vacina” e, referindo-se ao número de infecções, acrescentou: “Vamos substancialmente para baixo, não para cima”. Os EUA tinham, então, 68 casos; hoje, são 240 mil.

[Finalmente um artigo em que o Presidente Bolsonaro não é mencionado.
Afinal, nosso presidente falando sem pensar o que pensa pensar, fornece vasto arsenal aos inimigos. 
Que a  China mente - regra em qualquer país comunista = mentir é a primeira regra do comunismo - não há dúvidas. Só que criar uma "verdade" paralela da pandemia, ocultando e minimizando a verdade, impediu que a situação se tornasse conhecida ainda em dezembro, quando começou.
Só que agora ocultar números da epidemia e mesmo sua eventual continuidade em solo chinês é impossível. 
Ainda que se feche mais do que em dezembro/janeiro, não conseguiria ocultar a verdade e há indícios que a epidemia cessou ou pelo menos sofreu importante redução - indícios que a China não conseguir criar. Ou conseguiria?

Já no Brasil, se o presidente Bolsonaro se convencer, aceitar, que aqui no Brasil ele é o responsável e detentor do poder de liberar o alívio para milhões de brasileiros, ele dá a volta por cima e seus inimigos terão lhe dado uma boa munição.
A PEC do orçamento de guerra foi aprovada em dois turnos na Câmara, falta o Senado - o que pode significar muito ou nada.

Excelente na matéria é ser uma das raras que fala a verdade sobre o 'santo' da OMS.]

No meio de março, quando finalmente admitiu que o vírus “é muito contagioso”, ainda adicionou: “Mas temos tremendo controle sobre isso”.
A mentira trumpiana é uma narrativa política em constante mutação. Apoia-se nas muletas dos “jornalistas” chapa-branca e do aparato de difusão de fake news da direita nacionalista nas redes sociais. Acredita quem quer — e não são poucos. Contudo, ela concorre com as vozes discordantes, que não são caladas pela força, e sobretudo com a verdade (factual), que emana tanto de órgãos oficiais quanto da imprensa independente. A hora da verdade (política) chega nas eleições, ocasião em que a maioria decidirá se prefere a mentira.

A China também mente sem parar, mas de modo diferente, fabricando uma “verdade” paralela. A mentira chinesa tem raízes fincadas no chão do controle social totalitário. Ela se espraia por toda a vida cotidiana, propiciando a manipulação centralizada das estatísticas hospitalares —isto é, da fonte primária de informações sobre a natureza da crise. Há indícios alarmantes de que os números fornecidos pelo governo chinês miniaturizaram a epidemia. Nos EUA, estima-se que a Covid produzirá entre 1 e 3 milhões de casos positivos e algo entre 100 mil e 240 mil mortes.

Já na China, situada em latitude semelhante e com mais de quatro vezes a população americana, a Covid teria praticamente estancado, com menos de 83 mil casos acumulados e cerca de 3.200 mortes. O contraste intriga os mais respeitados epidemiologistas —inclusive Deborah Birx, coordenadora da força-tarefa dos EUA para o coronavírus.
No centro do mistério está a contabilidade de óbitos. Os casos pioneiros da Covid em Wuhan ocorreram em dezembro, mas a notícia foi interditada e os médicos que os relataram, silenciados. A quarentena começou em 23 de janeiro. O vírus teve mais de três semanas para se disseminar, enquanto comemorava-se o Ano-Novo chinês.

Testemunhos anônimos de agentes de saúde chineses dão conta de incontáveis internações sem testagens e centenas de óbitos atribuídos a influenza ou pneumonia. No final de março, veículos online chineses publicaram fotos, tomadas por cidadãos comuns, de milhares de urnas funerárias ainda alinhadas em crematórios de Wuhan.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) nada viu de estranho nos números chineses — e celebra a “eficiência” totalitária de Xi Jinping. Tedros Adhanom, seu diretor-presidente, eleito com decisivo apoio chinês, um ex-integrante do núcleo duro do governo autoritário etíope, não parece alimentar dúvidas entre as alternativas de assegurar a bilionária parceria da China com a OMS ou proteger a verdade (estatística).

Mas, de acordo com relatórios sigilosos da inteligência americana que começam a vazar, a China engajou-se na fabricação de uma mentira monumental, iludindo o mundo. Mentiras são diferentes. Todas elas, porém, cobram vidas.

Demétrio Magnoli, sociólogo -  Folha de S. Paulo

terça-feira, 31 de março de 2020

56 anos - Cristianismo, Nacionalismo e Patriotismo - Homenagem à Revolução de 31 de março de 1964

Neste 31 de março celebramos mais um aniversário do Movimento Redentor, do Levante Libertador, do Alçamento Nacional, enfim, da augusta Revolução – e Revolução tanto no sentido de resistência a um governo ilegítimo, contrário ao Bem Comum, quanto nos sentidos de Renovação e de Restauração da Ordem, ou, como diria Plínio Salgado, de retorno ao “equilíbrio perdido” , e, claro, jamais no sentido moderno de antiTradição – que, por Deus, pela Pátria e pela Família, unindo o Povo Brasileiro e as Forças Armadas num só ideal e como um só homem, salvou a Terra de Santa Cruz e, com ela, todas as Américas, e, por conseguinte, todo o Mundo, da praga comunista, do câncer vermelho que tantos males espalhou pelo Orbe Terrestre. Isto porque o triunfo daquela Revolução – comparável, em relevância, às vitórias da Polônia sobre o Exército Vermelho da Rússia Soviética, em 1920, na Batalha de Varsóvia, e da Espanha tradicional e autêntica contra as hordas da anti Espanha, ao final da Cruzada, ou segunda Reconquista, de 1936-39, iniciada pelo Alzamiento de 18 de Julho de 1936 – impediu que os sicários de Moscou, Pequim e Havana controlassem o nosso Brasil, País que, por sua importância e posição geopolítica, era, assim com ainda é, a chave para o controle das Américas, cujo domínio faria dos comunistas os vencedores da denominada “Guerra Fria”.

Estão livres para discordar de nós aqueles que afirmam que em 31 de Março de 1964 não tivemos uma Revolução, mas sim uma Contrarrevolução, mas tais indivíduos não podem nos acusar de revolucionários no sentido moderno e antitradicional do termo e devem ter em conta que a absoluta maioria daqueles que fizeram o Movimento de 64 o consideraram uma Revolução e que este termo não significa apenas o processo de desconstrução da Ordem Tradicional ou um movimento no sentido de substituir tal ordem por outra fundada em quimeras, em mitos de natureza ideológica, podendo significar também um movimento de resistência a um governo injusto, isto é, contrário ao Bem Comum, e podendo, ainda, ser compreendido nos sentidos de Renovação e de Restauração, de retorno à Tradição, à Ordem Tradicional, donde observar José Pedro Galvão de Sousa que “o revolucionário nem sempre se opõe ao tradicional”.É este último sentido, aliás, o mais rigoroso do termo, pois, como ressalta Plínio Salgado, a palavra Revolução, como sua etimologia indica, tem o significado de retorno, querendo o prefixo “re” dizer voltar, volver a algo. 

Daí observar João Ameal que, ao sair da conferência A aliança do sim e do não, de Plínio Salgado, se respirava “uma atmosfera que se poderia chamar, de fato, revolucionária, no sentido mais exato do termo revolução, que significava volta ao ponto de partida”, posto que nela o autor da Vida de Jesus exortara todos “a voltar ao ponto de partida, ao Senhor e Criador que está na origem de tudo e a quem devemos regressar com humilde e incondicional adesão se queremos merecer que nos ensine o Caminho, a Verdade e a Vida”.

Adiante, transcrevemos o texto oficial do Preâmbulo do primeiro Ato Institucional.
O texto estabelece entre outros pontos que o Movimento Revolucionário de 31 março de 1964, representou uma REVOLUÇÃO e também mostra o caráter de legitimação da Revolução.

PREÂMBULO do Ato Institucional nº 1, de 9 de abril de 1964

"À NAÇÃO

        É indispensável fixar o conceito do movimento civil e militar que acaba de abrir ao Brasil uma nova perspectiva sobre o seu futuro. O que houve e continuará a haver neste momento, não só no espírito e no comportamento das classes armadas, como na opinião pública nacional, é uma autêntica revolução.
        A revolução se distingue de outros movimentos armados pelo fato de que nela se traduz, não o interesse e a vontade de um grupo, mas o interesse e a vontade da Nação.
        A revolução vitoriosa se investe no exercício do Poder Constituinte. Este se manifesta pela eleição popular ou pela revolução. Esta é a forma mais expressiva e mais radical do Poder Constituinte. Assim, a revolução vitoriosa, como Poder Constituinte, se legitima por si mesma. Ela destitui o governo anterior e tem a capacidade de constituir o novo governo. Nela se contém a força normativa, inerente ao Poder Constituinte. Ela edita normas jurídicas sem que nisto seja limitada pela normatividade anterior à sua vitória. Os Chefes da revolução vitoriosa, graças à ação das Forças Armadas e ao apoio inequívoco da Nação, representam o Povo e em seu nome exercem o Poder Constituinte, de que o Povo é o único titular. O Ato Institucional que é hoje editado pelos Comandantes-em-Chefe do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, em nome da revolução que se tornou vitoriosa com o apoio da Nação na sua quase totalidade, se destina a assegurar ao novo governo a ser instituído, os meios indispensáveis à obra de reconstrução econômica, financeira, política e moral do Brasil, de maneira a poder enfrentar, de modo direto e imediato, os graves e urgentes problemas de que depende a restauração da ordem interna e do prestígio internacional da nossa Pátria. A revolução vitoriosa necessita de se institucionalizar e se apressa pela sua institucionalização a limitar os plenos poderes de que efetivamente dispõe.
        O presente Ato institucional só poderia ser editado pela revolução vitoriosa, representada pelos Comandos em Chefe das três Armas que respondem, no momento, pela realização dos objetivos revolucionários, cuja frustração estão decididas a impedir. Os processos constitucionais não funcionaram para destituir o governo, que deliberadamente se dispunha a bolchevizar o País. Destituído pela revolução, só a esta cabe ditar as normas e os processos de constituição do novo governo e atribuir-lhe os poderes ou os instrumentos jurídicos que lhe assegurem o exercício do Poder no exclusivo interesse do Pais. Para demonstrar que não pretendemos radicalizar o processo revolucionário, decidimos manter a Constituição de 1946, limitando-nos a modificá-la, apenas, na parte relativa aos poderes do Presidente da República, a fim de que este possa cumprir a missão de restaurar no Brasil a ordem econômica e financeira e tomar as urgentes medidas destinadas a drenar o bolsão comunista, cuja purulência já se havia infiltrado não só na cúpula do governo como nas suas dependências administrativas. Para reduzir ainda mais os plenos poderes de que se acha investida a revolução vitoriosa, resolvemos, igualmente, manter o Congresso Nacional, com as reservas relativas aos seus poderes, constantes do presente Ato Institucional.
        Fica, assim, bem claro que a revolução não procura legitimar-se através do Congresso. Este é que recebe deste Ato Institucional, resultante do exercício do Poder Constituinte, inerente a todas as revoluções, a sua legitimação.
        Em nome da revolução vitoriosa, e no intuito de consolidar a sua vitória, de maneira a assegurar a realização dos seus objetivos e garantir ao País um governo capaz de atender aos anseios do povo brasileiro, o Comando Supremo da Revolução, representado pelos Comandantes-em-Chefe do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, resolve editar ..."

Quanto à data da Revolução é ela mesmo o 31 de Março de 1964quando partiu de Minas Gerais, com suas tropas, em direção ao Rio de Janeiro, o General Olímpio Mourão Filho, patriota e nacionalista exemplar, Herói Nacional na plena acepção do termo, que, na década de 1930, fora Chefe do Estado-Maior da Milícia Integralista e escrevera o livro Do liberalismo ao Integralismo. Com efeito, aqueles que alegam que a Revolução deveria ser chamada de Revolução de 1º de Abril por haver triunfado em tal dia deveriam se dedicar mais ao estudo da História, uma vez que todos os movimentos revolucionários são conhecidos pela data de seu início e não por aquela de seu término ou vitória.

No dia 19 de Março de 1964, foi realizada, nas ruas de São Paulo, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, que reuniu meio milhão de pessoas de todas as categorias sociais, unidas contra um desgoverno demagógico, corrupto e irresponsável que arrastava o nosso Brasil para rumos contrários à sua Tradição e à sua Vocação e que estava plenamente comprometido com os elementos que desejavam, na expressão de Plínio Salgado, “extinguir em nossa Nação as liberdades públicas e privadas, abalar as instituições democráticas e nossas tradições cristãs” . Tal manifestação, a maior até então realizada na Capital Bandeirante, expressou, conforme sublinha a Revista Hora Presente, o clamor popular contra o desgoverno que infelicitava a Nação, enquanto a arrancada das tropas do General Mourão Filho, aos trinta e um dias daquele mês, não foi senão “o despertar das Forças Armadas, vindicando o seu pundonor, atendendo ao apelo da vox populi e desembainhando a espada” no intuito de dar um definitivo “basta” às tropelias que vinham sendo praticadas por aqueles que detinham o poder civil e iam conduzindo o País rumo ao caos.

Assim, como salienta o Professor Alfredo Buzaid, Ministro da Justiça no Governo do General Emílio Garrastazu Médici, em alocução proferida no dia 1º de abril de 1970, na Semana Comemorativa do Sexto Aniversário da Revolução de 31 de Março de 1964, intitulada Rumos políticos da Revolução Brasileira e transmitida por toda a rede de televisão e rádio, “a Revolução não nasceu de uma quartelada”, havendo sido “um brado de independência do povo e das Forças Armadas, que se identificaram num ideal comum”. “O povo”, prossegue o ilustre jurista e pensador patrício, “saiu à rua em marchas eloquentes por Deus, pela Pátria e pela Família”, e “as Forças Armadas, cuja política de segurança fora preparada pela Escola Superior de Guerra, puseram abaixo um Governo sem moral, sem dignidade e sem decoro”, anunciando “a vitória da Revolução” uma autêntica “aurora de paz e de confiança” .

Concordamos plenamente com o Professor Alfredo Buzaid, quando este observa que “a Revolução de 31 de Março é uma revolução no sentido verdadeiro da palavra, porque traz uma mensagem de renovação” , e salientamos que, no sentir do Povo e de muitos dos militares que a fizeram, cansados da farsa liberal-democrática que, aliás, a tornara necessária para sanear a vida política nacional, a Revolução Redentora de 31 de Março de 1964 foi uma Revolução Democrática no sentido Integral e Orgânico do termo, constituindo, no dizer do Professor Buzaid, “uma nova atitude do homem em face dos problemas fundamentais da Pátria” e preconizando uma “Democracia Real” que contivesse o “Estado de Direito” mas o superasse por tender a se constituir em “Estado de Justiçaque organizará a produção, manterá a ordem, realizará o equilíbrio dos interesses e assegurará a liberdade” . Infelizmente, porém, sobretudo depois do final do Governo Médici, maior estadista do Brasil republicano, a Revolução foi desviada deste sentido em direção ao sentido da velha e mofada liberal-democracia, inautêntica e inorgânica, alicerçada, conforme demonstra Goffredo Telles Junior, em “frases feitas”, “‘chavões’”, “slogans”, “ficções” constituídas em “tabus”, não sendo nada além de um conjunto de “mitos”, “quimeras” [9], que, como faz ver Gerardo Dantas Barreto, mata a Democracia Autêntica [10].

Neste sentido, podemos fazer nossas as palavras do Manifesto à Nação, lançado a 25 de agosto de 1968, na tradicional cidade paulista de Jaú, pela Confederação de Centros Culturais da Juventude, quando este, havendo salientado a importância da Revolução de 1964, a que denomina “revolução da família brasileira”, pondera que esta trazia “um desejo de renovação, para que não se repetisse uma situação idêntica àquela propiciada pela insuficiência do próprio regime”, lamentando o fato de esta renovação não ter sido operada senão superficialmente pelos governos revolucionários, havendo, assim, se autolimitado a Revolução. Os governos revolucionários, até aquele momento, assim como nos anos posteriores, salvo, parcialmente, no Governo Médici, não realizaram uma transformação do Estado Nacional Brasileiro capaz de consolidar plenamente a segurança do País e de conformar os textos constitucionais às novas exigências impostas pela realidade nacional e internacional, bem como às tradições nacionais, de que nos afastamos a partir da Constituição de 1824, profundamente liberal e apriorística, e, sobretudo, da Constituição de 1891, ainda mais liberal e apriorística, se constituindo, em nosso sentir, em uma verdadeira cartilha ideológica.

Assim, a Revolução de 1964, a “Revolução Vitoriosa” saudada por Goffredo Telles Junior, na Nota preliminar de sua obra A Democracia e o Brasil, cujo subtítulo é Uma doutrina para a Revolução de Março, como “a sublevação do Brasil autêntico, em consonância com os mais profundos anseios da Nação”, lamentavelmente, não deu ouvidos à advertência do jurista e pensador patrício, quando este afirma que, “no Brasil Novo, o que cumpre é não retornar às obsoletas, enganosas e nefastas fórmulas constitucionais, que iam levando o nosso País à desgraça” e que “se tais fórmulas forem mantidas, voltaremos, inevitavelmente, à sinistra situação em que nos achávamos, antes da Revolução” [12].

Isto, porém, não nos impede de reconhecer os méritos dos governos revolucionários, os quais, por exemplo, deram ao Brasil uma Constituição jurídico-política que se, por um lado, estava longe de ser a Constituição realista e plenamente de acordo com a Tradição Histórica Brasileira de que necessitamos, foi, por outro, bem menos utópica e contrária a esta Tradição do que a Constituição que a precedeu e do que aquela que a ela se seguiu. Isto para não mencionar diplomas legais da importância do Estatuto da Terra, de 1964, do Código Tributário Nacional, de 1966, e do Código de Processo Civil, de 1973, também denominado Código Buzaid, e que, já bastante mutilado pelos “nossos” congressistas, deve ser em breve substituído por um Código muitíssimo inferior em todos os sentidos. 

Já no campo econômico, os governos revolucionários, de acordo com o artigo 160 da Constituição de 1967, na redação dada pela Emenda Constitucional nº 1, de 1969, segundo o qual a ordem sócio-econômica tem por fim realizar o Desenvolvimento Nacional e a Justiça Social, tendo como base os princípios da Liberdade de Iniciativa, da valorização do Trabalho como condição da Dignidade da Pessoa Humana, da Função Social da Propriedade, da Harmonia e Solidariedade entre as categorias sociais de produção, da repressão aos abusos do poder econômico e da expansão das oportunidades de emprego produtivo, em nítida contraposição ao liberalismo econômico e graças à colaboração entre o Estado e a iniciativa privada, transformaram o Brasil, em pouco tempo, na oitava economia do Mundo, e criaram praticamente toda a infraestrutura de que o País dispõe hoje.

Poderíamos fazer referência a muitas outras realizações dos governos revolucionários, mas, como o tempo e o espaço nos são escassos, apenas lembraremos a grande derrota por eles infligida ao terrorismo e a guerrilha, cujo objetivo era transformar o Brasil numa ditadura comunista, embora lamentemos o fato de terem eles deixado os marxistas e os inocentes úteis a serviço destes dominarem a imprensa, as escolas e as universidades do País, realizando a nefasta “revolução cultural”, de inspiração gramsciana, cujos nefastos frutos colhemos hoje.
Fechemos este artigo. Louvemos a Revolução de 31 de Março de 1964, merecedora de nosso incondicional apoio, e reconheçamos os méritos dos governos que se proclamaram seus continuadores, embora reconhecendo igualmente os não poucos erros destes. 

E lutemos por uma Revolução muito maior, que efetivamente transforme o Estado Nacional Brasileiro, consolide a segurança do País, conforme toda a Ordem Jurídica Positiva às novas exigências impostas pela realidade nacional e internacional, bem como, é claro, às tradições nacionais e aos princípios do Direito Natural, e que implante, no Brasil, um regime em que o Povo seja efetivamente representado, isto é, uma Democracia Orgânica, ou Democracia Integral, que realize um autêntico Estado Ético de Justiça, ético não por ser a própria encarnação da Ética, mas sim por ser inspirado na Ética, que lhe é anterior e superior, e movido por um ideal ético, e de Justiça não por ser o criador da Justiça, que igualmente lhe é precedente e superior, mas por se pautar nas regras da Justiça e se mover por um ideal de Justiça.

Pelo Bem do Brasil!

            Victor Emanuel Vilela Barbuy, Presidente Nacional da Frente Integralista Brasileira.
            São Paulo do Campo de Piratininga - LXXIX.
            Transcrito do Blog Cristianismo, Patriotismo e Nacionalismo
Transcrito [com algumas modificações) do Blog Prontidão - Março de 2013

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Como ser ao mesmo tempo cosmopolita, identitário, ambientalista, nacionalista, protecionista e desenvolvimentista?

Segue um resumo das urnas no Reino Unido. Os conservadores mantiveram a fatia dos votos da eleição anterior. Os trabalhistas perderam uns sete pontos percentuais. A diferença final foi cerca de dez pontos. O sistema de voto distrital permitiu aos conservadores formar uma maioria confortável no parlamento. Os trabalhistas perderam votos pró-Brexit para os conservadores e votos anti-Brexit para os Liberais-Democratas. Esse é o resumo.

Os votos operários pró-Brexit que os trabalhistas do RU perderam para a direita são parecidos com os do Rust Belt (cinturão da ferrugem, zonas de desindustrialização) que os 
democratas de Hillary Clinton perderam para Donald Trump. E esse movimento expõe o desafio fundamental enfrentado pelo discurso da esquerda nos países desenvolvidos. Como ser ao mesmo tempo cosmopolita, identitário, ambientalista, nacionalista, protecionista e desenvolvimentista?

Os três primeiros vetores costumam atrair os jovens,
 mas os três últimos falam ao coração dos nem tanto. E mesmo entre os jovens a bandeira do emprego tem forte potencial mobilizador. Daí verifica-se o desafio demográfico de uma esquerda cosmopolita e antenada, especialmente em países com crescimento populacional desacelerado ou negativo. O sujeito pode lacrar à vontade nas redes mas isso não garante uma coalizão social majoritária, e sem ela não se ganha eleição.

As pesquisas mais recentes mostram qualquer candidato democrata derrotando Trump no voto nacional, mas o presidente americano bateria qualquer candidato democrata no colégio eleitoral, 
se a eleição fosse hoje. O pedaço da classe trabalhadora perdido pelos liberais (esquerda nos Estados Unidos) para os republicanos nos estados volúveis continua vulnerável a Trump. Inclusive porque os empregos estão bombando. Protecionismo traz resultados ali.

Desemprego alto e/ou desconforto social são combustível para turbulências políticas e alternâncias de poder. Aqui, o governo Jair Bolsonaro aposta na retomada da economia, e em programas como a carteira verde-amarela. Iniciativas parecidas, como o Primeiro Emprego no mandato inicial de Luiz Inácio Lula da Silva, falharam. Na Argentina, Alberto Fernandez tenta medidas agressivas pró-emprego na largada. Não quer dar mole.

No fim a economia decide, na maioria das vezes. Mas é preciso uma leitura mais cuidadosa do que vem a ser
 “a economia”. As manchetes bonitas da imprensa especializada nem sempre se traduzem como satisfação social. Um exemplo? aumento da produtividade das empresas na saída da crise, notícia positivana outra ponta são menos empregos e mais produção pela mesma remuneração. Pois é, tudo tem dois lados.
Talvez esteja na hora de fazer a leitura político-eleitoral da economia levando mais em conta o bem-estar social, objetivo e subjetivo. O Chile ensina isso. O Reino Unido também. Mas os números frios continuarão tendo sua força, como mostra Donald Trump. 
Ele só consegue resistir ao cerco do impeachment porque a economia americana e os empregos ali estão bombando.
A única certeza? Só se ganha eleição falando ao povão. Isso nunca muda.

AnálisePolítica - Alon Feuerwerker, jornalista e analista político



quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Itaipu, uma usina de encrencas - Elio Gaspari

A  hidrelétrica de Itaipu, símbolo do "Brasil Grande", virou cenário de um lance de corrupção vulgar

O repórter José Casado disse tudo: “Sob Bolsonaro, (Itaipu) virou fonte de convulsão na outra margem do Rio Paraná.” A maior hidrelétrica do continente nasceu de um litígio e, graças a meio século de costuras diplomáticas, virou uma proeza binacional. Em poucos meses de conversas impróprias, voluntarismos e tráfico de influência, o Brasil viu-se metido num escândalo. Logo em Itaipu, usina construída por um ex-oficial do Exército que passou pela vida pública sem nódoa. José Costa Cavalcanti foi ministro de Minas e Energia e do Interior, assinou o Ato Institucional nº5 e dirigiu a construção de Itaipu. Tinha pouca graça, talvez nenhuma. Morreu pobre, em 1991. 

Logo na usina de Costa Cavalcanti estourou o escândalo de um acordo matreiro firmado entre os governos de Bolsonaro e de seu amigo Mário Abdo, “Marito”, como ele o chama. Quando o caso estava no escurinho de Assunção, o ministro Sergio Moro revogou o status de refugiado que havia sido concedido em 2003 a três paraguaios que vivem no Brasil. Espremendo-se uma história onde entram picaretas paraguaios, o empresário suplente do senador Major Olímpio (PSL-SP) e diplomatas invertebrados, tudo poderia vir a se resumir ao seguinte: retirando-se um item do acordo, como foi feito, uma empresa brasileira, a Leros, compraria energia paraguaia para vendê-la no mercado brasileiro. Graças a algumas tecnicalidades, seria possível que ela pagasse 6 dólares por um Megawatt, vendendo-o, numa boa, por 30. 

Na sua picaretagem, um jovem advogado paraguaio dizia falar em nome do vice-presidente Hugo Velázquez e apresentava seu pleito como um ricochete do desejo da “família presidencial do país vizinho”. Apanhado com a divulgação de mensagens trocadas com o presidente da estatal de energia de seu país, o moço informou que perdeu seu celular. (Ele é filho da ministra encarregada de combater a lavagem de dinheiro) O presidente da estatal paraguaia de energia demitiu-se e botou a boca no mundo. Caíram a mãe do moço, o chanceler e o embaixador em Brasília. 
Arriscavam cair também o presidente Mário Abdo e o vice. Salvaram-se rasgando o acordo, no que foram acompanhados por Bolsonaro no dia seguinte. A costura pode ter levado meses, o desmanche deu-se em menos de uma semana. Hoje todo mundo garante que nunca ouviu falar dessa história. 

Itaipu existe graças ao trabalho silencioso de presidentes e diplomatas que sempre evitaram acordar o sentimento nacionalista do Paraguai. Com a trapalhada do acordo, desmanchou-se um trabalho de meio século. Em 2023, o tratado que permitiu a construção da usina deverá ser renegociado e lançou-se a semente da discórdia, com o Brasil sendo acusado de ter jogado bruto pelo presidente da estatal paraguaia que se demitiu. 

Faz tempo, o engenheiro Octávio Marcondes Ferraz, construtor da usina de Paulo Afonso e um dos patriarcas da Eletrobras, batia de porta em porta dizendo que não se deveria fazer Itaipu com o Paraguai. Seria melhor construir três hidrelétricas na Bacia do Paraná, mas em território brasileiro. Tinha o apoio do senador gaúcho Paulo Brossard. Não foram ouvidos, mas nenhum dos dois seria capaz de pensar que o Brasil se meteria numa encrenca tão vulgar.

Elio Gaspari, jornalista - O Globo - O Estado de S. Paulo