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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Em pleno 2022, adoradores de Getúlio Vargas acusam bêbado de apologia ao nazismo - Gazeta do Povo

Paulo Polzonoff Jr.

Purê de hipocrisia 

Tabata Amaral foi eleita deputada pelo PDT. O partido do “grande democrata” Leonel Brizola estava até outro dia exibindo faixas com o rostinho feio de Getúlio Vargas em manifestações “antifascistas”. Não bastasse isso, o PDT da deputada proponente da goebbeliana bolsa-absorvente tem como pré-candidato à Presidência ninguém menos do que Ciro Gomes, cujo projeto político se baseia em três pilares: a retórica “incisiva”, o nacionalismo e (olha só quem veio para jantar!) o socialismo.

O podcaster e ébrio ocasional Monark é vítima de linchamento virtual por parte de quem até outro dia ostentava Getúlio Vargas em manifestações antifascistas.

O podcaster e ébrio ocasional Monark é vítima de linchamento virtual por parte de quem até outro dia ostentava Getúlio Vargas em manifestações antifascistas. - Foto: Reprodução/ Twitter

Pois foram os olhos esbugalhados no rostinho harmonioso de Tabata Amaral que deram origem ao linchamento virtual de Monark, apresentador do podcast Flow. Confessadamente bêbado, o aspirante a comunicador teve seu sonho precocemente interrompido depois de propor uma discussão sobre a liberdade de associação, expressão e manifestação reservada às pessoas mais abjetas da nossa sociedade: os nazistas. Ele ainda tentou pedir desculpas e (absurdo!) compreensão. Mas não foi ouvido pela turba que se sentiu ultrajada.

E, assim, instaurou-se a histeria. “Apologia ao nazismo!”, gritam as vítimas do paulofreirismo que, afogadas em slogans, frases prontas e no pensamento superficialíssimo típico dos que têm alergia a pensar, não estão preparadas para se olhar no espelho e reconhecer o caráter criminoso (por mais que não haja lei) da defesa diária de ideias comunistas. E se regozijam com a possibilidade de mais um linchamento virtual que pode até não ter o cheiro de morte dos campos de concentração, mas cujo efeito – a redução do outro a uma coisa – é o mesmo do pretendido pelos construtores de Auschwitz e do Gulag.

LEIA TAMBÉM:  O stalinista, o vereador e você, no futuro, ao se dar conta de como foi perdendo a liberdade

A situação é de um absurdo tamanho que teve até ministro do Supremo Tribunal Federal que reinstituiu o crime de opinião no Brasil se manifestando. Sim, Alexandre de Moraes, ele próprio, lustrou a calva sempre muito vaidosa para se pronunciar sobre o assunto. “A Constituição consagra o binômio: liberdade e responsabilidade. O direito fundamental à liberdade de expressão não autoriza a abominável e criminosa apologia ao nazismo”, escreveu ele, quero crer em tom de piada. Mas não foi só. Lembram daquela milícia digital que age como soldadinhos da Gestapo cancelando virtualmente seus inimigos ideológicos? 
Pois até esses pulhas que não perdem a oportunidade para defender o fim do Estado de Israel correram para sinalizar virtude e se dizerem contra o nazismo. Oh!

 O que me traz àquele que era para ser o parágrafo inicial deste texto. Isto é, se Tabata Amaral não tivesse se intrometido, com a hipocrisia típica dos esquerdistas. Nele, apelaria para a bobagem de dizer que fui visitado recentemente pelo meu eu-velho, que empreendeu uma viagem no tempo só para me avisar que, em breve (isto é, hoje), eu escreveria sobre um podcaster bêbado com nome de marca de bicicleta. E que cometeu a temeridade de dizer, ou melhor, tentar dizer que prefere que os canalhas possam usar suásticas e foices-e-martelos à vontade, a fim de que sejam reconhecidos pelo que são: canalhas, canalhas, canalhas.

 Agora estão todos tentando tirar uma casquinha da desgraça de Monark. Que, por embriaguez, imaturidade, burrice ou uma combinação de todos esses ingredientes acreditou que a multidão seria capaz de compreender e refletir sobre uma questão muito cara aos defensores da liberdade: pessoas que odeiam uma etnia (nazistas) e pessoas que odeiam uma classe (comunistas) deveriam ter o direito de se associarem em partidos, a fim de terem representação política?

Mais do que legítima, diria que é uma questão fundamental para o nosso tempo, contaminado por ideias claramente nazistas e comunistas, mas que não ousam se revelar assim. Do passaporte vacinal aos muitos privilégios dos funcionários públicos, da ciência se sobrepondo à liberdade de ir até a esquina tomar um Chicabon à defesa dos “campeões nacionais”, das prisões de dissidentes políticos em nome da “defesa da democracia” à já mencionada exaltação de líderes como Getúlio Vargas e Brizola, vivemos permeados pelo nacional-socialismo enrustido, defendido sobriamente por pessoas cheias de boas intenções que vestem camisetas do Che e que despudoradamente prestam homenagem ao homenzinho de bigode ridículo que controla a Venezuela, por exemplo.

 Aliás, e num adendo que é quase um PS a este texto, a controvérsia toda me surpreendeu no meio da leitura do ótimo “March Violets”, de Philip Kerr. É um livro policial que se passa depois da ascensão de Hitler e antes da invasão da Polônia. E, por se tratar de ficção, o livro tem a capacidade de nos colocar no meio das discussões cotidianas sobre o que acontecia na Alemanha daquele tempo. 
Um país que, a rigor, não estava nem aí para os crimes cometidos contra os judeus e outras minorias. Para o alemão não-judeu, não-cigano, não-homossexual e não-deficiente, o que importava era a prosperidade econômica e os avanços da ciência
E não, neste caso qualquer semelhança com os dias atuais infelizmente não é mera coincidência.
Paulo Polzonoff Jr., colunista - Gazeta do Povo - VOZES

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

A tropa de choque de Dilma



Poucos fatos representarão tão significativamente os episódios deste ano no julgamento do impeachment quanto a sofreguidão com que sua tropa de choque tratava de ganhar tempo. Como se o tempo fosse dinheiro. Era um apetite insaciável, que se empanturrava de cada segundo para somar meses, fechar o ano. Tempo, tempo, tempo! Uma voragem. Ele foi caçado assim, como grande tesouro, porque, paradoxalmente, viam-no como se fosse tudo, ainda que a nada mais servisse. A melhor expressão do que descrevo era proporcionada pelo senador Lindbergh Farias, qual menino birrento, quase choroso, gritando ao microfone, sem parar: "Eu quero o meu tempo! Eu quero o meu tempo! Eu quero o meu tempo!".

Por vezes tive certeza de que um Chicabon amainaria aquele surto. O pacientíssimo senador Raimundo Lira entregaria o picolé ao garoto e o afagaria dizendo: "Pronto, pronto, passou...".  Importa menos, no caso, o direito de peticionar o tempo regimental e mais a conduta própria de quem atravessou a infância e a  adolescência longe dos limites adequados ao convívio social. Ele não estava só nisso. A tropa de choque que defendia a presidente Dilma na Câmara e no Senado aprendeu a fazer política nos baixios onde a mistificação se exibe como sabedoria, e a mentira, cobrando reverências que a verdade dispensa, é repetida de modo incessante porque não há verdade alguma a ser dita sem imensa desdita.

Foram meses disso! Agora, por fim, prenunciam-se os últimos atos de um processo tão volteado e circunvagado no andar quanto retilíneo no objetivo. Tão demorado quanto urgente. Foram meses durante os quais o bem nacional foi desprezado pela defesa de um governo insanável e pela atuação de um grupo político que deixou o constrangimento nos jatinhos das empreiteiras e nas lavanderias do dinheiro mal havido. O povo, o povo simples e humilde, vítima preferencial do desemprego, da inflação e da recessão que o governo petista semeou, plantou e colheu, foi o grande esquecido nas longas e procrastinatórias sessões que a tropa de choque petista transformou em trincheiras contra o Brasil. 

Por mais que os próprios senadores favoráveis ao impeachment esqueçam de mencionar, ele nasceu, cresceu e se tornou inevitável na voz das ruas. Por isso, a tropa de choque petista no Senado conseguiu a proeza de falar durante meses a fio sem jamais referir o povo, mencionar a nação ou dirigir uma palavra aos desempregados, às empresas cujas portas se fecharam, aos desatendidos do SUS, às vítimas da violência, nem aos saqueados pela organização criminosa que governou o país. 

O Brasil que produz, que quer trabalhar e empreender, que deseja estudar, tem pressa. O cotidiano impõe urgências às famílias! Mas que se danem os brasileiros! A estes jamais foi sensível a arrogante tropa de choque do governo Dilma. Falando por seus representantes no Senado, a Orcrim furtou-nos, segundo a segundo, meses a fio, um tempo tão essencial à nação quanto inútil para quem dele se apropriava. Quando nada mais havia a arrebatar, saquearam-nos um precioso tempo.