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quinta-feira, 4 de junho de 2020

Vendas reagem com estímulos econômicos - Valor Econômico

Ribamar Oliveira 


Dados mostram recuperação em todas as regiões do país

As medidas de estímulo econômico adotadas pelo governo conseguiram reverter a forte queda das vendas ocorrida em abril. Em maio, a média diária de vendas voltou a crescer e chegou a R$ 21,1 bilhões, resultado 11,1% superior ao de abril, em termos reais, de acordo com as notas fiscais eletrônicas registradas no Sistema Público de Escrituração Digital (Sped). “Houve uma recuperação importante no mês passado”, disse o secretário da Receita Federal, José Barroso Tostes Neto, em conversa com o Valor. Segundo ele, os dados iniciais deste mês indicam que “o fundo do poço ficou em abril”. Tostes acredita que as vendas estão em recuperação, pois “a tendência é continuar essa trajetória”.

Ele observou que alguns Estados adotaram protocolos de abertura controlada de alguns setores do comércio e que isso vai impulsionar as vendas em junho, pois “o varejo terá que ser abastecido”. Tostes citou também dados divulgados recentemente pela Fenabrave (Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores), que apontam para uma alta de 11,6% nas vendas de veículos em maio, em relação a abril, embora em comparação com o mesmo mês do ano passado a queda ainda seja muito elevada, de 71,98%.

As notas fiscais eletrônicas (NFe) registram as operações de compra e venda entre as empresas e das empresas com os consumidores finais. Elas não incluem, no entanto, as vendas no varejo. O movimento agregado das notas capta, principalmente, as vendas entre empresas de médio e grande porte, bem como as vendas não presenciais de empresas para pessoas físicas - o chamado comércio eletrônico. Embora cresçam em relação a abril, mesmo assim as vendas em maio apresentaram uma queda de 15,2%, em termos reais (descontada a inflação) na comparação com o mesmo mês do ano passado. Em abril, quando se intensificou o isolamento social para controlar a contaminação da população pelo novo coronavírus, a queda real foi de 17,8% na comparação com março.

Em relação a abril de 2019, a redução real do volume de vendas foi de 14,9%. O que as notas fiscais eletrônicas estão indicando é que, no mês passado, houve um ponto de inflexão da curva, que voltou a ser ascendente. Essa tendência terá que ser confirmada pelos dados deste mês. O gráfico da Receita Federal sobre as vendas semanais (soma das vendas diárias na semana) mostra uma recuperação gradual nas últimas semanas do mês passado. Por esse indicador, o ponto mais baixo ocorreu em meados de abril. “A terceira semana de abril foi o valor mais baixo do ano”, explicou Tostes. A partir daí, inicia-se um aumento gradual, com o pico sendo atingido na última semana de maio. “Em maio, já voltamos ao patamar de março”, disse.

O comércio eletrônico viveu uma situação peculiar. Em vez de cair durante a pandemia, cresceu. E muito. Em março ele aumentou 20,4%, em termos reais, na comparação com o mesmo mês de 2019. 
Quando tudo estava despencando em abril, as vendas eletrônicas subiram 17,2% na comparação com o mesmo mês do ano passado. Em maio, o crescimento dessas vendas ainda foi mais explosivo: 40,7%. “Não houve crise nesta modalidade de comércio”, constatou o secretário.
Ele observou ainda que, em maio, todas as regiões do Brasil mostraram recuperação no ritmo de vendas. “As quantidades de notas emitidas, que vinham em declínio em abril, em maio inverteram a tendência e subiram, em todas as regiões”, observou.

Após as medidas de contenção e quarentena adotadas em todo o Brasil, todas as regiões apresentaram queda do volume diário de vendas em abril, na comparação com março. A menor redução foi da região Sul (12,0%) e a maior foi da região Sudeste (22,6%). Em maio, na comparação com abril, todas as regiões apresentaram crescimento de vendas.  É difícil sustentar que as notas fiscais eletrônicas em maio, por si só, já mostrem uma recuperação robusta e sustentável da economia. Elas parecem indicar que as vendas reagiram favoravelmente aos estímulos do governo. O consumo foi alavancado pelo auxílio emergencial de R$ 600 concedido aos trabalhadores informais e todos os aposentados tiveram antecipação de seu décimo terceiro salário, para citar apenas duas medidas adotadas.

Mas os estímulos serão suficientes para garantir uma retomada consistente? O governo está comemorando, principalmente, o fato de que a crise não se aprofundou em maio, como alguns acreditavam que iria acontecer. Houve, na verdade, uma recuperação, que pode ser um alento para o futuro.  Tudo dependerá, e não podia ser diferente, do êxito da abertura da economia. Alguns especialistas consideram que a abertura do comércio e da indústria em algumas regiões do país está sendo feita de forma precipitada, pois a epidemia ainda não teria atingido o seu pico. Se ocorrer um novo surto de contaminação pelo coronavírus, o país poderá voltar a uma nova etapa de distanciamento social e a recuperação que se inicia poderá ser abortada.

Ribamar Oliveira, assessor de imprensa e ganhador prêmio Esso - Valor Econômico 



sábado, 20 de julho de 2019

Intercept na banguela: em cima da Lava Jato sem foco, sem rumo, sem freios - Veja

Condutor deste enredo, Greenwald segue afirmando que o calhamaço obtido será divulgado “por completo” 

[será que quando quando a divulgação deste 'lixo' estiver próxima do final, alguém ainda vai perder tempo, lendo?]


Suspense e fofocas: na terça-feira, 16, do quente e frio deste inconstante mês de julho, o site Intercept, do jornalista norte-americano Glenn Greenwald, com ajuda de expressivos aliados locais, parece ter decidido apostar suas fichas nos dois elementos tradicionais de apelo jornalístico, nos enfoques para segurar o interesse informativo e político, na divulgação de dados de mensagens hackeadas escritas e áudios vazados de conversas pessoais de procuradores da força-tarefa da Lava Jato, e do juiz Sérgio Moro. Pelos indicativos, a finalidade é manter de pé o escândalo que dá sinais, cada dia mais explícitos, de perder o foco, o rumo e freios, como o caminhão – tanque de Encurralado, o filme Cult de Spielberg nos Anos 70.

Condutor deste enredo, Greenwald segue afirmando que o calhamaço obtido será divulgado “por completo”. Sem fixar dead-line, para usar a clássica expressão, corriqueira nas redações do Jornal do Brasil e da Veja, por onde passei. Portanto, sem ano, sem mês, nem dia, nem hora para o ponto final. Neste descompromisso com o tempo e hierarquia das informações (como ensinava em seus livros e no dia-a-dia no JB, o jornalista Juarez Bahia, seis vezes premiado com o Esso) provavelmente está a raiz do vale-tudo desta semana, principalmente em notícias supérfluas, como da viagem de Dallagnol à Fortaleza, para dar palestra sobre combate à corrupção. O foco desta notícia, no entulho do Intercep, foi a passagem da esposa do procurador e seus filhos pequenos (que o acompanharam na viagem) pelo Beach Park. Tudo somado a suposições e suspeitas sobre o caráter e a idoneidade moral e profissional do chefe da força-tarefa da maior e mais efetiva ação de combate a corruptos e corruptores no País.

Neste noticiário (entre maledicências e ataques ofensivos) Dallagnol foi classificado como pouco menos que um reles interesseiro, visando obter lucros com a Lava Jato. A ponto de causar protestos indignados e reações duras, entre entidades e personalidades da vida pública, relacionadas a este triste episódio. O ministro da Justiça e da Segurança, Sérgio Moro, mesmo em gozo de licença, nos Estados Unidos, disparou severo recado, em postagem no twitter: “Sou grande defensor da liberdade de imprensa, mas essa campanha contra a Lava Jato e a favor da corrupção está beirando o ridículo. Continuem, mas convém um pouco de reflexão para não se desmoralizarem. Se houver algo sério e autêntico, publiquem por gentileza”. Precisa desenhar?

Diante do que li, vi e ouvi, esta semana, (a corrupção em si e seus responsáveis deixados de lado) fica a alarmante impressão de que o carro do Intercept começa a trafegar “na banguela”. Parece o caminhão-tanque de “Encurralado” (Duel, 71), o filme de Spielberg, que virou uma das mais cultuadas realizações da história do cinema.Relembro: Em uma estrada quase deserta, com muitas retas e margeada por altas montanhas, um homem (Dennis Weawer) dirige tranquilo seu Plymouth vermelho, até dar de cara com o caminhão-tanque enferrujado, cujo rosto do motorista nunca aparece. Ele ultrapassa o veículo, e aí começa o pesadelo.
O público espera que “algo fora do comum aconteça, mas nada acontece”, até o terrivelmente dramático fim do filme. Que não conto, mas recomendo, até como entretenimento infinitamente mais interessante que o calhau do Intercept, até aqui.

Blog do Noblat - Veja 
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta.