Ribamar Oliveira
Dados mostram recuperação em todas as regiões do país
As medidas de estímulo econômico adotadas pelo governo conseguiram
reverter a forte queda das vendas ocorrida em abril. Em maio, a média
diária de vendas voltou a crescer e chegou a R$ 21,1 bilhões, resultado
11,1% superior ao de abril, em termos reais, de acordo com as notas
fiscais eletrônicas registradas no Sistema Público de Escrituração
Digital (Sped). “Houve uma recuperação importante no mês passado”, disse o secretário da
Receita Federal, José Barroso Tostes Neto, em conversa com o Valor.
Segundo ele, os dados iniciais deste mês indicam que “o fundo do poço
ficou em abril”. Tostes acredita que as vendas estão em recuperação,
pois “a tendência é continuar essa trajetória”.
Ele observou que alguns Estados adotaram protocolos de abertura
controlada de alguns setores do comércio e que isso vai impulsionar as
vendas em junho, pois “o varejo terá que ser abastecido”. Tostes citou
também dados divulgados recentemente pela Fenabrave (Federação Nacional
de Distribuição de Veículos Automotores), que apontam para uma alta de
11,6% nas vendas de veículos em maio, em relação a abril, embora em
comparação com o mesmo mês do ano passado a queda ainda seja muito
elevada, de 71,98%.
As notas fiscais eletrônicas (NFe) registram as operações de compra e
venda entre as empresas e das empresas com os consumidores finais. Elas
não incluem, no entanto, as vendas no varejo. O movimento agregado das
notas capta, principalmente, as vendas entre empresas de médio e grande
porte, bem como as vendas não presenciais de empresas para pessoas
físicas - o chamado comércio eletrônico. Embora cresçam em relação a abril, mesmo assim as vendas em maio
apresentaram uma queda de 15,2%, em termos reais (descontada a inflação)
na comparação com o mesmo mês do ano passado. Em abril, quando se
intensificou o isolamento social para controlar a contaminação da
população pelo novo coronavírus, a queda real foi de 17,8% na comparação
com março.
Em relação a abril de 2019, a redução real do volume de vendas foi de
14,9%. O que as notas fiscais eletrônicas estão indicando é que, no mês
passado, houve um ponto de inflexão da curva, que voltou a ser
ascendente. Essa tendência terá que ser confirmada pelos dados deste
mês. O gráfico da Receita Federal sobre as vendas semanais (soma das vendas
diárias na semana) mostra uma recuperação gradual nas últimas semanas do
mês passado. Por esse indicador, o ponto mais baixo ocorreu em meados
de abril. “A terceira semana de abril foi o valor mais baixo do ano”,
explicou Tostes. A partir daí, inicia-se um aumento gradual, com o pico
sendo atingido na última semana de maio. “Em maio, já voltamos ao
patamar de março”, disse.
O comércio eletrônico viveu uma situação peculiar. Em vez de cair
durante a pandemia, cresceu. E muito. Em março ele aumentou 20,4%, em
termos reais, na comparação com o mesmo mês de 2019.
Quando tudo estava despencando em abril, as vendas eletrônicas subiram
17,2% na comparação com o mesmo mês do ano passado. Em maio, o
crescimento dessas vendas ainda foi mais explosivo: 40,7%. “Não houve
crise nesta modalidade de comércio”, constatou o secretário.
Ele observou ainda que, em maio, todas as regiões do Brasil mostraram
recuperação no ritmo de vendas. “As quantidades de notas emitidas, que
vinham em declínio em abril, em maio inverteram a tendência e subiram,
em todas as regiões”, observou.
Após as medidas de contenção e quarentena adotadas em todo o Brasil,
todas as regiões apresentaram queda do volume diário de vendas em abril,
na comparação com março. A menor redução foi da região Sul (12,0%) e a
maior foi da região Sudeste (22,6%). Em maio, na comparação com abril,
todas as regiões apresentaram crescimento de vendas. É difícil sustentar que as notas fiscais eletrônicas em maio, por si só,
já mostrem uma recuperação robusta e sustentável da economia. Elas
parecem indicar que as vendas reagiram favoravelmente aos estímulos do
governo. O consumo foi alavancado pelo auxílio emergencial de R$ 600
concedido aos trabalhadores informais e todos os aposentados tiveram
antecipação de seu décimo terceiro salário, para citar apenas duas
medidas adotadas.
Mas os estímulos serão suficientes para garantir uma retomada
consistente? O governo está comemorando, principalmente, o fato de que a
crise não se aprofundou em maio, como alguns acreditavam que iria
acontecer. Houve, na verdade, uma recuperação, que pode ser um alento
para o futuro. Tudo dependerá, e não podia ser diferente, do êxito da abertura da
economia. Alguns especialistas consideram que a abertura do comércio e
da indústria em algumas regiões do país está sendo feita de forma
precipitada, pois a epidemia ainda não teria atingido o seu pico. Se
ocorrer um novo surto de contaminação pelo coronavírus, o país poderá
voltar a uma nova etapa de distanciamento social e a recuperação que se
inicia poderá ser abortada.
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