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sábado, 3 de fevereiro de 2018

Mortes suspeitas ligadas ao edificio triplex de Lula no Guarujá

As mortes que rondam o edifício do tríplex de Lula

Depois do nebuloso acidente que matou o ex-presidente da Bancoop Luiz Malheiro e mais dois diretores da cooperativa, o ex-segurança de Lula, Freud Godoy, virou dono do apartamento que o dirigente possuía no Edifico Solaris

[sempre bom destacar que existem mais dois cadáveres insepultos dos petistas Toninho do PT e Celso Daniel - ambos ex-prefeitos; a petralhada teme que tudo volte a tona.]

Um novo mistério cerca o Edifício Solaris, no Guarujá, onde o ex-presidente Lula é proprietário de um tríplex: a morte mal explicada de três ex-diretores da Bancoop, a Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo. Os dirigentes foram vítimas fatais de um estranho acidente de carro ocorrido em novembro de 2004, em Petrolina (PE), quando voltavam de um encontro com Lula na cidade pernambucana. Os integrantes da cooperativa tinham ido ao petista dizer que ele precisava ajudar o partido a ressarcir a Bancoop de um dinheiro desviado para a campanha presidencial de 2002. A falta dos recursos havia paralisado as obras tocadas pela cooperativa e milhares de cooperados reclamavam da demora para a entrega de seus imóveis. Mas o retorno para casa foi trágico. Entre os diretores mortos estava o então presidente da Bancoop, Luiz Eduardo Saeger Malheiro.

“É tudo muito suspeito” José Carlos Blat, promotor do Ministério Público Estadual
Coube ao seu irmão, Helio Malheiro, em depoimento ao promotor José Carlos Blat, do Ministério Público Estadual de São Paulo, em 2008, levantar a suspeita de queima de arquivo. Segundo ele, os corpos vieram para São Paulo de avião acondicionados em urnas lacradas sem passar pela perícia do IML. Além disso, a circunstância do acidente envolvendo um caminhão e o Corsa, onde estava seu irmão e os dois dirigentes da Bancoop, lhe pareceu inusitada. Uma testemunha ligada ao PT teria afirmado aos investigadores do caso que o motorista e os dois passageiros, entre os quais Luiz Eduardo, que estava no banco traseiro, haviam dormido simultaneamente no trânsito, o que provocou a perda do controle do veículo e o choque frontal com o caminhão. Mas a família sequer teve acesso às investigações. “Meu irmão era uma pessoa muito desconfiada quando não estava ao volante de um veículo e não dormia em hipótese alguma”, afirmou Hélio Malheiro.


 O ''HERDEIRO'' O ex-segurança Freud Godoy estava com Lula no dia do acidente de Luiz Malheiro (Crédito: Joel Silva)

O que torna a história ainda mais nebulosa é que o beneficiário direto da morte de Malheiro foi Freud Godoy, ex-segurança de Lula. Godoy herdou o apartamento do dirigente no Edifício Solaris, o 133-A, dois pavimentos abaixo do tríplex de Lula. Há evidências de fraude. “Durante a investigação do caso tríplex, em março de 2016, na Operação Aletheia, a Polícia Federal recolheu documentos na Bancoop e na OAS e entre eles estavam os documentos de que o apartamento do Malheiro acabou passando para as mãos de Freud Godoy após a morte do ex-presidente da entidade. É tudo muito suspeito”, disse o promotor José Carlos Blat à ISTOÉ.
Vizinho de Lula
 
O apartamento 133-A de Freud Godoy fica dois pavimentos abaixo do tríplex de Lula, o 164-A. O imóvel levou Lula a ser condenado a 12 anos de prisão. Já Freud é apenas investigado

As provas
A escritura da unidade 133-A do Solaris está registrada no Cartório de Registro de Imóveis do Guarujá em nome de Freud Godoy e de sua esposa Simone Messeguer Pereira Godoy, casados em comunhão de bens. O valor venal do imóvel foi declarado por R$ 396.524,45. Inicialmente, Malheiro ficaria com o apartamento 143, vizinho do 141 em nome originalmente de dona Marisa Letícia Lula da Silva. Depois que a OAS assumiu as obras do Solaris, em 2009, a família Lula da Silva foi brindada com o tríplex 164-A, e o que seria de Malheiros passou a ser o 133. O 141 acabou vendido pela OAS. O 133 ficou com Freud Godoy.

De acordo com depoimento de Hélio Malheiro ao Ministério Público, ao qual ISTOÉ teve acesso, o então diretor financeiro da Bancoop, João Vaccari Neto, fez de tudo para que a família não soubesse das minúcias do acidente. Detalhe: Vaccari foi quem assumiu a presidência da cooperativa no lugar de Luiz Eduardo Malheiro. Segundo fontes da Bancoop, Vaccari teria até comemorado o acidente com um brinde de champanhe na sede do Sindicato dos Bancários. O ex-tesoureiro petista, preso na Lava Jato, estaria de olho nos R$ 43 milhões depositados na conta da entidade dias antes do acidente. 


O recurso havia sido arrecadado por Ricardo Berzoini, então ministro da Previdência de Lula, junto a fundos de pensão. A conta da cooperativa também era alimentada por contribuições de mais de cinco mil associados. O Ministério Público de São Paulo já tem provas de que ao menos R$ 100 milhões foram desviados da Bancoop para campanhas petistas.

“Circunstâncias estranhas” Em depoimento ao MP de São Paulo, Hélio Malheiro disse que a morte de seu irmão, num misterioso acidente automobilístico em Pernambuco, o deixou “bastante desconfiado”

Freud Godoy e outros 12 petistas já eram alvo de investigação por serem beneficiários de imóveis da Bancoop cujas obras foram concluídas pela OAS como contrapartida a negócios obtidos pela empreiteira na Petrobras. Em 24 de outubro de 2017, o juiz Sergio Moro determinou que as apurações contra eles tivessem prosseguimento na Justiça Estadual de São Paulo, mas o caso ainda anda a passos de cágado. Agora, o ex-segurança de Lula que, além do apartamento, ganhou R$ 1,5 milhão da Bancoop por ter feito a segurança armada de obras da cooperativa, corre o risco de responder por outra suspeita ainda mais grave.

Por determinação do juiz Sergio Moro, o MPF e a PF investigam o brutal assassinato do ex-vice-prefeito de Ourolândia (BA), José Roberto Soares Vieira, o Roberto do PT, desde do último dia 26. Ele foi morto com nove tiros a queima-roupa no dia 17 de janeiro quando chegava à Green Transportes, uma concessionária de veículos da qual era sócio, às margens da BA-522, em Candeias, região metropolitana de Salvador (BA). O pistoleiro chegou numa moto vermelha, com capacete, por volta das 11h à revenda e ficou esperando Roberto chegar, disparando toda a munição de sua arma no petista por volta das 11h30. Roberto foi à revenda para blindar a sua Land Rover Discovery 4, porque desconfiava que poderia sofrer um atentado. 

Em novembro, ele denunciou à Moro seu sócio na empresa JRA Transportes, José Antonio de Jesus, ex-gerente da Transpetro (subsidiária da Petrobras) na Bahia. Os dois foram denunciados por terem desviado R$ 7,5 milhões da Petrobras no período de 30 de setembro de 2009 a 13 de setembro de 2015. Pego, Roberto delatou José Antonio, dizendo que o sócio usava a JRA para lavar dinheiro e fazer repasses ao PT da Bahia (na época, o Estado era governado por Jaques Wagner, do PT, e atualmente o governador Rui Costa também é petista). Desde que delatou o sócio, Roberto do PT temia ser morto e chegou a vender uma casa de luxo que tinha em Camaçari, contratou motorista como segurança e não atendia mais ligações de números desconhecidos. A cautela não foi suficiente. Moro quer saber agora se o crime tem ligações com a delação que ele faz do sócio.


MATÉRIA COMPLETA em Isto É
 



segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Bancoop, O drama por não ser Lula

O drama de quem não é Lula

Seis anos depois de a OAS começar a assumir as obras da falida Bancoop, compradores de quase 400 apartamentos continuam sem ver a cor de suas chaves

Passados quase dez anos desde que a Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop) quebrou, e seis desde que a OAS começou a assumir alguns de seus empreendimentos, compradores de 376 imóveis até hoje não ouviram o tilintar das chaves do apartamento. Quando a cooperativa quebrou, em 2006, deixou quinze obras inacabadas. Oito foram repassadas para a OAS. Outras duas foram transferidas para construtoras menores - a MSM e a Tarjab, que concluíram os empreendimentos no prazo. 

Já no lote da OAS, três empreendimentos nunca ficaram prontos. Localizados em diferentes bairros de São Paulo, eles hoje se encontram abandonados. No Residencial Casa Verde, na Zona Norte da capital, há apenas um grande bloco de concreto onde deveria estar a garagem, e mais nada. A vegetação tomou conta do lugar. Os únicos funcionários que aparecem de tempos em tempos são faxineiros encarregados de dar fim a tudo o que possa se transformar em foco de criação do Aedes aegypti. No Liberty, no centro de São Paulo, a obra avançou um pouco mais antes de também parar. O esqueleto da construção foi erguido, mas ainda não tem nem elevador. A situação não é melhor no Villas da Penha II, na Zona Leste: embora algumas poucas casas projetadas tenham saído do papel, continuam sem portas nem janelas.
Sem carro, sem FGTS, sem casa - Para comprar um apartamento da Bancoop, o vendedor Rogério Navarro e a mulher, a professora Silvana, rasparam o saldo do FGTS e venderam o carro. A ideia era parar de pagar aluguel e atender ao pedido da filha, que sempre quis um quarto só para ela. Só que a Bancoop quebrou, a OAS assumiu a obra e o prédio nunca saiu do chão. Hoje, Navarro e a família vivem de aluguel em um apartamento na Zona Leste. Ele diz não ter mais esperança de receber a casa. “Nunca mais tivemos notícias da OAS.”(Paulo Vitale/VEJA)
 
A OAS, em recuperação judicial desde que foi tragada pelo escândalo de corrupção na Petrobras, simplesmente diz que não tem dinheiro para terminar o que começou. Ainda há um quarto prédio inacabado, porque quem não quer que a empresa siga com a obra são os próprios ex-cooperados da Bancoop. Eles brigam na Justiça para que a OAS perca o direito sobre o prédio, por discordarem das condições estabelecidas para a retomada da construção. Ao todo, chega perto de 500 o número de ex-cooperados da Bancoop que, nas mãos da OAS, nunca receberam seu apartamento ou brigam na Justiça para não perdê-lo. É uma situação bem diferente da do ex-presidente Lula e seu hoje famoso tríplex do Guarujá, caprichosamente reformado e mobiliado pela empreiteira investigada na Lava-Jato.

A Bancoop foi criada em 1996 com a promessa de oferecer a seus associados imóveis a um custo 40% menor que o do mercado. Em sua maior parte, os cooperados eram filiados ou parentes de filiados ao Sindicato dos Bancários, por sua vez, ligado ao PT. Em 2006, a Bancoop fechou, deixando um rastro de prédios inacabados e centenas de famílias na ruína

 Em 2010, ao varrer os subterrâneos da entidade, o Ministério Público descobriu o que a levara a quebrar. As investigações da contabilidade da cooperativa revelaram práticas estarrecedoras. Extratos bancários indicavam volumes milionários de saques em dinheiro feitos por meio de cheques emitidos pela Bancoop a si mesma ou ao seu banco. Outros cheques mostravam de forma mais clara os seus destinatários: dirigentes da cooperativa, os cofres do diretório nacional do PT e até um ex-segurança do então presidente Lula, Freud Godoy, já conhecido por seu envolvimento no "escândalo dos aloprados". A conclusão do MP à época foi que dirigentes da entidade, além de encher os próprios bolsos, haviam usado o dinheiro dos cooperados para financiar campanhas eleitorais de candidatos do PT, repassando valores para empresas de fachada que faziam "doações oficiais" aos seus comitês eleitorais.

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Entre os diretores da Bancoop denunciados pelo MP à Justiça estava João Vaccari Neto. O ex-tesoureiro do PT, agora réu no processo do petrolão e preso desde abril, responde no caso da cooperativa por estelionato, formação de quadrilha, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. Afirma o promotor José Carlos Blat, responsável pela investigação: "A Bancoop foi o embrião dos grandes esquemas criminosos que vieram em seguida, como o mensalão e o petrolão".

Agora, uma nova apuração do MP, também conduzida por Blat, verifica se houve ilegalidade no repasse das obras da Bancoop para a OAS e se isso acarretou prejuízo para os mutuários. Na semana passada, VEJA ouviu os relatos de cooperados que afirmam ter sido coagidos pela empreiteira a aceitar termos duríssimos em troca da manutenção de seus contratos. Alguns perderam com eles as economias de toda uma vida. Outros ainda lutam para um dia ao menos poder colocar os pés naquilo que foi um sonho. Nenhum deles relata ter sido convidado a vistoriar seu imóvel na companhia do presidente da OAS.

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sábado, 30 de janeiro de 2016

Prédio de tríplex reformado pela OAS para Lula teve uso irregular de FGTS, diz auditoria

Operação Lava Jato investiga apartamento – e ÉPOCA descobre que empreiteira obteve indevidamente R$ 300 milhões, dos quais R$ 14 milhões foram gastos para encerrar obras do condomínio Solaris 

Gerente da empresa panamenha Mossack Fonseca no Brasil, Renata Pereira foi acordada pela Polícia Federal na última quarta-feira na Operação Triplo X, o nome da 22ª fase da Operação Lava Jato. Havia um mandado de prisão temporária contra ela. De casa, na Zona Sul de São Paulo, Renata foi levada para a sede da empresa, na Avenida Paulista, onde foi obrigada a destravar quatro computadores e liberar o acesso dos policiais a documentos de uma das mais famosas criadoras de offshores do mundo. Arrumar os papéis para a criação de empresas em paraísos fiscais, o trabalho da Mossack, facilita a vida de terroristas, políticos corruptos e empresários interessados em ocultar bens e lavar dinheiro. No escritório, os policiais coletaram milhares de dados sobre muitos desses filhotes, alguns usados para corrupção, paridos pela Mossack nos últimos anos.


 Entretanto, a 90 quilômetros dali, estava o alvo mais poderoso da Triplo X. A força-tarefa da Lava Jato investiga se os apartamentos do Condomínio Solaris, na Praia das Astúrias, em Guarujá, foram utilizados pela OAS como moeda para pagamento de propina no esquema de corrupção da Petrobras. O conjunto de 112 unidades é o prédio da companheirada. Abriga um tríplex destinado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e apartamentos do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, hoje preso em São José dos Pinhais por coletar propina de contratos da Petrobras, e de Freud Godoy, um ex-segurança de Lula que, entre outras coisas, teve uma empresa que recebeu dinheiro de Marcos Valério, operador do mensalão. No despacho que autorizou a operação, o juiz Sergio Moro disse que a OAS “teria utilizado o empreendimento imobiliário em Guarujá para repasse disfarçado de propina a agentes envolvidos no esquema criminoso da Petrobras”. Até a semana passada, Vaccari era um desses agentes. Lula, ainda não.

A Lava Jato chega, assim, a um ponto fundamental. É o mais próximo que Lula já esteve de ser investigado como beneficiado por uma empresa que desviou recursos da Petrobras. Na campanha eleitoral de 2006, Lula declarou possuir uma “participação” na Bancoop em um “apartamento em construção em Guarujá”. Declarou que tinha pagado, até aquele momento, R$ 47.700. Lula se tornaria dono de um tríplex de 297 metros quadrados no Solaris. Uma investigação aponta que a OAS bancou uma reforma de cerca de R$ 700 mil no imóvel, com a instalação até de um elevador interno. Duas testemunhas ouvidas pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, que também investiga o caso, afirmam que a ex-primeira-dama Marisa Letícia esteve algumas vezes no imóvel para inspecionar as obras. Em uma dessas ocasiões, ela estava acompanhada de Léo Pinheiro, presidente da OAS – aquele que, no ano passado, passou uma temporada preso em Curitiba pelos malfeitos praticados no petrolão. Duas testemunhas relataram que Lula também esteve no prédio. No ano passado, com o petrolão na rua, ele desistiu do imóvel.

Ler a máteria na íntegra................ 

 http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2016/01/predio-de-triplex-de-lula-teve-uso-irregular-de-fgts-diz-auditoria.html

 

O castelo de areia de Lula

Desmorona o castelo de Lula

Documentos obtidos por ISTOÉ colocam em xeque versões apresentadas pelo ex-presidente sobre o tríplex no Guarujá, que entrou na mira da Lava Jato por suspeitas de camuflar pagamento de propina

Na sexta-feira 29, o Ministério Público de São Paulo intimou para prestar depoimento o ex-presidente Lula, sua mulher Marisa Letícia e o ex-presidente da OAS, Leo Pinheiro. Lula será ouvido em 17 de fevereiro como investigado, sob a suspeita de ter praticado crimes de ocultação de patrimônio e lavagem de dinheiro. Frente a frente com os promotores, a família do ex-presidente e o empreiteiro terão de apresentar justificativas mais plausíveis do que aquelas já expostas até agora a respeito do tríplex localizado no condomínio Solaris, no Guarujá, e reformado pela OAS, que na semana passada transformou-se em alvo da mais recente fase da Operação Lava Jato. As suspeitas, segundo os procuradores, recaem sobre o uso dos apartamentos do Solaris, entre eles o de Lula, para “repasse disfarçado de propina a agentes envolvidos no esquema criminoso da Petrobras.” Em outras palavras, pagamento de suborno do Petrolão.

ISTOÉ teve acesso a três documentos que comprometem as versões exibidas por Lula, desde que o caso veio à tona. No ano passado, quando surgiram as primeiras denúncias de que a empreiteira OAS, envolvida nas falcatruas da Petrobras, desembolsou mais de R$ 700 mil na reforma do apartamento no litoral paulista, o Instituto Lula se esmera em negar com veemência que o ex-presidente ou a ex-primeira-dama Marisa Letícia sejam donos do imóvel. Eles seriam, segundo insistem em afirmar, apenas cooperados de uma cota da quebrada Bancoop, a Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo, comandada por dirigentes petistas, como João Vaccari Neto e Ricardo Berzoini, hoje ministro de Dilma, que deixou mais de três mil famílias sem ver a cor de seus imóveis e do dinheiro aplicado por eles movidos pelo sonho da casa própria. 

O discurso do principal líder petista persistiu até semana passada, apesar de toda a sorte de depoimentos que confirmaram a presença rotineira de integrantes da família Lula durante as obras responsáveis por mudar (para melhor) a configuração do tríplex. Os documentos que ISTOÉ apresenta agora revelam que Lula jamais abriu mão do imóvel. Há sete anos, a família Lula deveria ter exercido o direito, caso tivesse interesse, de se desfazer da cobertura de frente para a praia e receber a restituição em dinheiro do que havia desembolsado até ali. Mas não o fez. Na época, um acordo foi selado, transferindo o empreendimento atrasado e inacabado da Bancoop para a OAS.  

 Ratificado na assembleia dos proprietários em 27 de outubro de 2009 e subscrito pelo ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, o “Termo de Acordo para Finalização do Residencial”, de 14 páginas, é taxativo. Diz que os investidores do inacabado Residencial Mar Cantábrico, renomeado tempos depois para Solaris, tinham dez dias a contar daquela reunião para se desligarem da Bancoop. Precisavam, afirma a cláusula 8.1 do capítulo VIII, também optar entre duas opções em até 30 dias. A primeira, afirma o capítulo X, receber os valores em espécie com multa. A outra consistia em manifestar o desejo de ficar com o imóvel e custear novas despesas para sua finalização. Os valores já pagos, então, iriam ser transformados em uma carta de crédito pela OAS que deveria ser “usada com exclusividade como parte de pagamento para a aquisição de unidade do empreendimento”. Evidente que aquela era uma oportunidade para que os até então aspirantes a adquirir o imóvel desistissem dele, caso tivessem vontade

Mais do que  isso. As cláusulas 8.2, 8.3 e 8.4 afirmam que “os cooperados que não atenderem ao disposto item 8.1 infringirão deliberação da Assembleia” e “serão penalizados” com a “sua eliminação da Bancoop”.  Não foi uma mera ameaça. Segundo apurou ISTOÉ junto a cooperados da empresa, quem descumpriu esses itens acabou acionado na Justiça. Por isso torna-se completamente inverossímil a nota divulgada pelo Instituto que leva o nome do ex-presidente, quando sugere que a família Lula poderia decidir, em 2015, entre ficar ou não com o apartamento. Se porventura isso acontecer, sobretudo depois da eclosão do escândalo, ficará configurado mais um favorecimento da empreiteira OAS, implicada no Petrolão, ao petista e seus familiares. 


Outro documento ao qual ISTOÉ teve acesso revela que a OAS nunca colocou à venda o tríplex destinado à família Lula, o 164 A, ao contrário da atitude tomada em relação a outros imóveis descartados por cooperados em 2009. Os apartamentos dos que não demonstraram interesse em migrar da cooperativa para a empreiteira, logo, foram repassados ao mercado. É lícito supor que se Lula tivesse manifestado a intenção de se desfazer da cobertura, seu apartamento receberia o mesmo tratamento dos demais. 

Definitivamente não foi o que aconteceu. A tabela de vendas com 12 páginas, de uma empresa associada à OAS e responsável pela comercialização das unidades restantes do Solaris, no Guarujá, é bem clara. O documento datado de fevereiro de 2012 mostra que 33 unidades do condomínio Solaris estavam disponíveis naquela ocasião.  Em uma das colunas, a tarja preta sobre o tríplex 164 A de Lula indica que, sim, o imóvel já tinha dono e não poderia ser comercializado. Naquele ano, havia até um tríplex esperando por compradores, mas o da torre vizinha ao prédio de Lula.


 Autoridades familiarizadas com o esquema da Bancoop também estranham outra afirmação do Instituto Lula: a de que Marisa teria adquirido cotas do empreendimento. “Genericamente, este negócio de cotas é coisa de consórcio. Cooperativa, como a Bancoop, é algo diferente. Ali, o que a pessoa adquire é um apartamento X ou Y”, diz o promotor paulista José Carlos Blat. Num outro documento obtido por ISTOÉ, um dos cooperados - que preferiu ter o nome preservado - assina o termo de adesão da Bancoop em março de 2004. O acordo já previa o número do apartamento. Outros ex-proprietários confirmaram que já sabiam previamente dos apartamentos que caberiam a eles, antes mesmo de realizarem qualquer pagamento à cooperativa. “Para mim e para muitos, o apartamento já vinha definido na hora da compra”, diz a advogada e ex-cooperada Tânia de Oliveira “Até porque havia variações de preço de acordo com o tamanho, o andar, a vista e a localização”, afirma.

 Os documentos lançam luz sobre as inconsistências das versões apresentadas por Lula. Os trâmites, por assim dizer, burocráticos desde a incorporação pela OAS dos apartamentos da falida Bancoop são fundamentais para atestar documentalmente que, sim, a família do ex-presidente sempre teve a intenção de permanecer com o tríplex de frente para a praia. Desmoronam o castelo de areia em que se transformou o imóvel do petista. O escândalo, no entanto, vai além de uma questão de formalização. Uma série de depoimentos revela que Lula e Dona Marisa agiram com impressionante desassombro, até serem confrontados com os fatos – como verdadeiros donos do imóvel. A ex-primeira-dama acompanhou de perto a reforma do tríplex, paga pela OAS. Não foram poucas as alterações, como uma simples troca de azulejos do banheiro, por exemplo. 

As mudanças conferiram uma roupagem nova e mais sofisticada ao imóvel, com cerca de trezentos metros quadros e vista para o mar. Segundo o engenheiro Armando Dagre, um dos donos da Talento Construtora, empresa responsável pela reforma, as obras foram típicas de quem pretende se instalar no imóvel deixando-o à sua feição. Por isso foram empreendidas mudanças significativas na área da piscina, com a instalação de um espaço gourmet, no acabamento do piso, que passou a ter revestimento de porcelanato, e na escada, que deixou de ser o único elo entre os três pisos do apartamento: para que Lula e seus familiares pudessem vencer os três andares do imóvel com mais conforto foi determinada a instalação de um elevador privativo. As despesas somaram cerca de R$ 750 mil, pagas pela empreiteira envolvida no Petrolão. O engenheiro foi além em seu relato. Afirmou ter testemunhado uma das visitas da ex-primeira-dama no imóvel em 2014. 

Em sua companhia, estavam o filho Fábio Luiz e nada menos do que Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS e réu no Petrolão. As idas de Marisa ao prédio foram atestadas por outros dois funcionários do condomínio, em depoimento ao MP-SP. De acordo com eles, de tão interessada, ela chegou a perguntar sobre o uso das áreas comuns – seguindo à risca a liturgia que todo proprietário de um imóvel adquirido na planta cumpre. Depois da vistoria, a mulher de Lula participou do processo tradicional de recebimento das chaves do imóvel. “Pegamos as chaves do apartamento no dia 5 de junho, inclusive dona Marisa — disse Lenir de Almeida Marques, casada com Heitor Gushiken, primo do ex-ministro Luiz Gushiken, morto em 2013 e que foi também presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo. O Solaris abriga outros moradores bem próximos do petista, como João Vaccari Neto e Freud Godoy, uma espécie de faz-tudo do ex-presidente, que, depois de atuar por vinte anos como seu guarda-costas, virou assessor especial do Planalto durante sua gestão. 

Esses fatos por si só já colocariam Lula numa enrascada, uma vez que poderiam ensejar uma denúncia por ocultação de patrimônio, como defende um integrante do MP-SP. As investigações acerca da relação de Lula com o imóvel, no entanto, ganharam nova dimensão na semana passada com a entrada do edifício Solaris no radar da força-tarefa da Lava Jato. A “Triplo X”, nome alusivo a tríplex, mira segundo os procuradores “todos os apartamentos” do edifício Solaris, no Guarujá, que estariam sendo usados “para repasse disfarçado de propina (pela OAS) a agentes envolvidos no esquema criminoso da Petrobras.” Questionado durante entrevista coletiva,  se Lula seria o foco da operação, o representante do MPF respondeu: “Se houver um apartamento lá que esteja em seu nome [de Lula] ou que ele tenha negociado, vai ser investigado como todos os outros.”

Durante a Operação, da qual participaram 80 agentes, foram recolhidos documentos na OAS, Bancoop e na Mossack Fonseca, empresa responsável por viabilizar a constituição da offshore Murray, sediada no Panamá. Ela foi usada para registrar 14 apartamentos, entre eles um tríplex no Solaris, e ocultar seus verdadeiros donos. A Mossack Fonseca já havia aparecido anteriormente na Lava Jato por auxiliar outros réus a esconderem dinheiro da corrupção da Petrobras em paraísos fiscais. Além da companhia - apontada como uma facilitadora de lavanderias de dinheiro por procuradores -, as investigações centram em imóveis que pertenceriam a familiares de João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT e preso na Lava Jato. Um apartamento situado no condomínio e declarado à Receita pela esposa de Vaccari tem sua escritura em nome de uma funcionária da OAS. Chamou atenção também o fato de Marice Correa, cunhada do ex-tesoureiro do PT e que chegou a ser detida no Petrolão, ter comprado e revendido um imóvel para a própria empreiteira por quase o triplo do valor em apenas um ano. A chave para elucidar esta lavanderia, para as autoridades, é Nelci Warken, ex-prestadora de serviços de marketing à Bancoop. Presa na quarta-feira, ela é tida como laranja do esquema.

O novo escândalo abala Lula como nunca antes. Pelo simples fato de que, agora, a denúncia envolve suspeitas de favorecimento no campo estritamente pessoal. No imaginário popular, sai do abstrato e já quase banalizado “desvio de verbas para campanhas” para o concreto e tangível benefício próprio materializado num confortável tríplex com vista para o mar. Diante do exposto, fica complicado persistir na retórica de vítima das elites, enquanto os meros mortais de carne e osso o imaginam refestelado na espreguiçadeira da piscina reformada por uma empreiteira contemplando a vista para o mar da praia do Guarujá. A história política brasileira recomenda alerta. Uma outra reforma potencializou a queda de outro ex-presidente do Planalto. 

Em 1992, Collor viu sua popularidade se deteriorar com a divulgação das cachoeiras motorizadas, do lago artificial e das fontes luminosas da Casa da Dinda, cujo suntuoso jardim de marajá foi reformado por um paisagista renomado com dinheiro proveniente de contas do tesoureiro, Paulo César Farias. Único nome com musculatura eleitoral para dar prosseguimento ao projeto de poder petista em 2018, Lula corre o risco de ver seu castelo de areia desabar, e junto com ele todo o capital político que acumulou em quarenta anos de vida pública.


Fotos: Fernando Donasci e Marcos Alves/ Ag. O Globo , GLAUCO TULIO/FUTURA PRESS; Geraldo Bubniak/AGB 

Fonte: IstoÉ  On Line
Pedro Marcondes de Moura (pedro.marcondes@istoe.com.br)