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terça-feira, 5 de junho de 2018

Boa pergunta !!!



Freud explica

Por que tantos envolvidos em falcatruas mantêm guardados documentos e celulares com informações que poderiam ser destruídas?

A revelação pela repórter da Globonews Andreia Sadi de que a Polícia Federal encontrou na casa de Carlos Alberto Costa, sócio do coronel Lima, documentos que indicam uma relação direta entre o amigo de Temer e empresas que estão sendo investigadas na Operação Skala, como a Rodrimar e grupo Libra, traz de volta uma intrigante questão, evidenciada durante vários momentos da Operação Lava Jato: por que tantos envolvidos em falcatruas mantém guardados documentos e celulares com informações que poderiam ser destruídas para não incriminá-los?

Um dos caixotes com documentos comprometedores foi descoberto no quarto do bebê
, o que demonstra claramente a intenção de escondê-los. É verdade que picotadoras de papel têm funcionado bastante desde 2014. Houve muita destruição de documentos em papel e eletrônicos durante a investigação. O depoimento de Ricardo Pessoa da UTC confirma esse, digamos assim, hábito entre os executivos envolvidos na Lava Jato.  É difícil manter controle de tudo, e às vezes as pessoas são incautas. Outras guardam as provas para negociar uma delação premiada mais tarde, ou para chantagear seus cúmplices, ou para se vingar. O próprio ex-presidente Lula foi vítima dessa síndrome, pois deixou em sua casa um documento rasurado com referências ao triplex de Guarujá.

O fato é que os achados incriminadores foram uma constante. No caso de Marcelo Odebrecht, ex-presidente da empreiteira que leva seu nome, os celulares foram fonte inesgotável de informações mais de um ano depois de as primeiras prisões de executivos serem feitas. O diretor do setor de operações estruturadas da Odebrecht, Hilberto Silva, depôs reclamando do Marcelo, que sempre orientava os executivos a não registrar nada no celular, mas foi incauto com o próprio.   Marcelo Odebrecht se vangloriava de que ninguém entraria na sua casa. Mandava que executivos que estivessem sob a mira de investigações fossem se hospedar em sua casa, como se fosse uma fortaleza inexpugnável.

O sentimento de impunidade certamente é uma explicação razoável para a reiteração de crimes, mas é sintomático que presos no mensalão tenham reincidido no crime. A psicopatia pode ser outra explicação. Estudo realizado pela Universidade Bond, na Austrália, conduzido pelo psicólogo forense Nathan Brooks, revelou que um em cada cinco CEOs ou diretores-executivos apresenta características clínicas de psicopatia. Outro estudo, liderado pelo psicólogo Paul Babiak, de Nova York, mostra que até 4% dos líderes de negócios nos Estados Unidos poderiam ser considerados psicopatas. A explicação para esse fenômeno seria o cenário competitivo do mundo empresarial, executivos que colocam a ambição acima de tudo, e não têm escrúpulos de manipular as pessoas para sua vantagem. Esse seria um perfil vencedor no mundo corporativo.

O psiquiatra Joel Birman usa Freud para explicar essa recorrência de executivos e homens de negócio que se deixam apanhar com provas que poderiam ter sido descartadas. Ele lembra a tese de Freud de que, quando se comete um crime, ou se quer cometer um crime, sempre há rastros deixados pelo criminoso, que seriam uma maneira de permitir ser punido pelo que fez.  Uma tese clássica do Freud, diz Birman, é que você indiretamente entrega provas, o que aparece sob a forma da culpa. São geralmente rastros deixados inconscientemente, para que você seja pego e pague pelo que fez.   Nesse ponto, um exemplo de falta de sentimento de culpa, provavelmente porque se sentia cumprindo uma tarefa em favor de uma suposta causa, é o ex-tesoureiro do PT João Vaccari, que nunca deixou rastros documentais.

Merval Pereira - O Globo

 

terça-feira, 16 de maio de 2017

Atos falhos

Lula se enrolou nos depoimentos e abriu espaço para novos processos

Muito interessante notar que o ex-presidente Lula, por mais treinado que seja, não conseguiu, ou não pode escapar de alguns atos falhos durante seu depoimento ao Juiz Sérgio Moro, o que lhe valerá novos processos. O mais espontâneo deles foi quando admitiu que discutiu com Leo Pinheiro e o engenheiro Paulo Gordilho, em seu apartamento em São Bernardo do Campo, a cozinha do sitio de Atibaia.

Lula disse que nem se lembrava da visita do empreiteiro a seu apartamento, “mas se os dois disseram que foram, devem ter ido”. Para escapar do triplex do Guarujá, Lula enrolou-se com a cozinha: "Eu acho que eles tinham ido discutir a cozinha, que também não é assunto para discutir agora, lá de Atibaia. Eu acho", disse Lula. Como o procurador insistisse em saber o tema do encontro, o ex-presidente foi enfático: "Apenas a questão da cozinha".

O problema de Lula é que a cozinha do sítio é da mesma marca da do triplex, e as duas foram compradas pela OAS, o que indica que as reformas dos dois foram mesmo feitas pela empreiteira, o que por si só já representaria aceitar favores indevidos de uma fornecedora do Estado. Existem provas testemunhais aos montes demonstrando que o triplex estava reservado para o ex-presidente e família, inclusive e principalmente o depoimento do ex-presidente da OAS Leo Pinheiro que afirmou que o triplex foi descontado de uma espécie de conta corrente que a empreiteira mantinha em nome de Lula.

Os diversos emails entregues aos procuradores da Lava-Jato indicam que as reformas foram feitas a pedido de dona Marisa, tanto no sitio de Atibaia quanto no triplex. São funcionários que trabalhavam no assunto e recebiam orientação para acertar com “a madame” as reformas.   O ex-presidente Lula teve que admitir dois encontros com seus delatores, apenas adocicou as versões. Renato Duque, ex-diretor da Petrobras indicado pelo PT, dissera em seu depoimento que foi convocado para um encontro com o ex-presidente em um hangar no aeroporto de Congonhas, ocasião em que Lula o interpelou sobre se teria uma conta na Suíça com o dinheiro desviado das obras da Petrobras.

A então presidente Dilma havia sido informada disso e estaria preocupada. Duque tinha, mas garantiu ao ex-presidente que não, e Lula, a Moro, disse que se satisfez com a negativa. Por essa versão ingênua, Dilma estava preocupada com a corrupção na Petrobras, e Lula convenceu-se de que não havia corrupção, já que Duque não tinha conta na Suíça.  Em outro depoimento, a mulher de João Santana disse que a presidente a alertou que as contas na Suíça eram facilmente rastreáveis, e sugeriu que mudassem o dinheiro para Cingapura. O empreiteiro Marcelo Odebrecht já a havia avisado que o governo brasileiro deveria impedir que a Operação Lava-Jato firmasse acordo com o governo da Suíça para rastrear suas contas, e advertiu que sua campanha seria contaminada. No celular, anotou: “Se eu caio, ela cai”.

Na versão de Renato Duque, Lula no encontro no hangar de Congonhas ainda o advertiu: “Presta atenção no que eu vou te dizer: Se tiver alguma coisa, não pode ter. Não pode ter nada no teu nome, entendeu?”. Outros dois encontros no mesmo dia em horários diferentes, com Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, e Leo Pinheiro, da OAS, estavam na agenda oficial de Lula e ele teve que confirmá-los.  No relato de Pinheiro, nesse encontro em junho, o presidente textualmente fez a seguinte pergunta: 'Léo, o senhor fez algum pagamento a João Vaccari no exterior?' Eu (Léo) disse: ‘Não, presidente, nunca fiz pagamento a essas contas que nós temos com Vaccari no exterior’. (Lula): ‘Como você está procedendo os pagamentos para o PT?’. (Léo) Estou fazendo os pagamentos através de orientações do Vaccari de caixa 2, de doações diversas que nós fizemos a diretórios e tal'. (Lula): 'Você tem algum registro de algum encontro de contas feitas com João Vaccari com vocês? Se tiver, destrua”.

Lula mais uma vez negou que tivesse instruído Leo Pinheiro a destruir provas, mas confirmou o encontro. Por essas contradições e indícios, consideradas “provas indiciárias”, os procuradores querem abrir um novo processo sobre obstrução da Justiça contra Lula. Já existe um com o mesmo objetivo em Brasília, mas em outro caso, o de Nestor Cerveró.  O ex-senador Delcídio do Amaral revelou em delação premiada que foi Lula quem organizou a tentativa de evitar que o ex-diretor da Petrobras fizesse uma delação premiada. As histórias todas se encaixam e formam um quadro fechado sobre a atuação do ex-presidente contra as investigações da Lava-Jato.


Fonte: Blog do Merval Pereira - O Globo

sexta-feira, 21 de abril de 2017

Segredo de Polichinelo

Lula é o verdadeiro dono do triplex do Guarujá e do sítio de Atibaia. E mandou o dirigente da empreiteira OAS Leo Pinheiro destruir qualquer tipo de documento que evidenciasse o pagamento do triplex pelo tesoureiro do PT João Vaccari, que, segundo Pinheiro, foi feito com propina resultante de obras da Petrobras.

O segredo de Polichinelo chegou ao fim com os depoimentos do ex-presidente da empreiteira OAS Léo Pinheiro e as delações dos executivos da Odebrecht. E Cristiano Zanin, o advogado do ex-presidente, ajudou a esclarecer as coisas com suas perguntas pretensamente ardilosas.

A certa altura, perguntou se Lula havia deixado algum objeto pessoal no triplex, querendo provocar uma negativa que demonstraria que não seria o dono. Mas no sítio de Atibaia, há objetos pessoais de sobra para provar a propriedade. No Guarujá, não havia nada por que o triplex estava em obras, esclareceu Leo Pinheiro.

Em outro momento, como o ex-executivo da OAS insistisse que Lula era o proprietário do imóvel, o advogado perguntou: “O sr. entende que deu a propriedade do apartamento para o presidente?”, indagou Cristiano Zanin Martins. Leo Pinheiro foi enfático: “Eu não dei nada. O apartamento era do presidente Lula. Desde o dia que me passaram para estudar os empreendimentos da Bancoop já foi me dito que era do presidente Lula e sua família, e que eu não comercializasse e tratasse aquilo como propriedade do presidente”, afirmou.

Zanin ainda perguntou se Lula havia conversado com ele sobre o pagamento das obras, e Pinheiro foi didático: nunca conversou com Lula sobre o assunto, mas sim com João Vaccari, o tesoureiro do PT. E ele, depois de conversar com Lula, disse que o custo poderia ser descontado da conta do PT: “Usei valores de pagamento de propinas para poder fazer encontro de contas. Em vez de pagar X, paguei X menos despesas que entraram no encontro de contas. Só isso. Houve apenas o não pagamento do que era devido de propina.”

O advogado de Lula tentou uma última cartada, que acabou comprometendo seu cliente mais ainda. Denunciou ao Juiz Sérgio Moro um suposto crime de ação pública cometido pela empreiteira OAS, que relacionou entre seus ativos o triplex do edifício Solaris. Segundo Zanin, se o apartamento é de Lula, a empreiteira cometeu um crime ao dizer-se dona do apartamento.

O Juiz Sérgio Moro retrucou, dizendo que o advogado deveria perguntar a seu cliente (Lula): “Ele diz que o apartamento não é dele...”. No depoimento, Leo Pinheiro disse que tratou diretamente com o ex-presidente Lula de reformas no sitio de Atibaia, e depois somou o dinheiro gasto na reforma do triplex do Guarujá e a reforma no sitio para fazer um “acerto de contas” na propina devida ao PT.

As obras não agradaram dona Marisa, que, como contou em outro depoimento o diretor da Odebrecht Alexandrino Alencar, pediu que ele mandasse seus homens completarem as reformas necessárias. O engenheiro da Odebrecht Emyr Diniz Costa Junior, responsável pelas obras do sítio em Atibaia, revelou ter recebido um valor inicial de R$ 500 mil para custear as despesas da reforma do imóvel, que afinal saíram por quase R$ 1 milhão.

Assim como Leo Pinheiro da OAS teve dificuldades para regularizar a propriedade do triplex do Guarujá, também Alexandrino Alencar, da Odebrecht, não tinha como explicar o gasto de quase R$ 1 milhão no sítio de Atibaia. O amigo de Lula Roberto Teixeira, sogro do advogado Cristiano Zanin, chamou-o a seu escritório e combinou fazerem notas frias para regularizar as despesas.

 Depois desses depoimentos, e com todas as investigações que já foram feitas, ficará muito difícil negar a propriedade dos imóveis, que foi escamoteada através de laranjas, que é o caso do sítio de Atibaia, cujos donos “oficiais” são Bittar e Jonas Suassuna, e o triplex do Guarujá, que acabou sendo realocado entre os bens da construtora OAS depois que Lula e família desistiram de usá-lo devido às denúncias. Mas, segundo o depoimento de Leo Pinheiro, o apartamento foi pago com a propina que o PT obteve por obras da Petrobras.  


Fonte: Merval Pereira - O Globo
 

Destruir provas dá cadeia - prender Lula por destruir provas é arriscado?

Destruir provas dá cadeia. Moro prenderá Lula?... 

Em depoimento devastador, Léo Pinheiro confirmou velhas suspeitas e atravessou no caminho de Lula uma acusação nova. O ex-presidente da OAS disse a Sergio Moro que Lula lhe pediu para destruir provas das propinas que pagou ao PT  por intermédio do então tesoureiro João Vaccari. Pela lei, isso dá cadeia. Que o diga Marcelo Odebrecht. A pergunta do momento é: o juiz da Lava Jato terá disposição para colocar Lula preventivamente atrás das grades antes de uma... condenação confirmada na segunda instância do Judiciário?...  


De toda a turma do canteiro de obras, lugar de movimentos pesados e muita lama, Léo Pinheiro era o que tinha mais intimidade com Lula. Gostavam de jogar conversa fora juntos. Num dos encontros, contou o empreiteiro a Moro,  Lula “textualmente me fez a seguinte pergunta: 'Léo, o senhor fez algum pagamento a João Vaccari no exterior?'. Eu disse: ‘Não, presidente, nunca fiz pagamento a essas contas que nós temos com Vaccari no exterior’.”

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por intermédio do então tesoureiro João Vaccari. Pela lei, isso dá cadeia. Que o diga Marcelo Odebrecht. A pergunta do momento é: o juiz da Lava Jato terá disposição para colocar Lula preventivamente atrás das grades antes de uma... - Veja mais em http://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/2017/04/21/destruir-provas-da-cadeia-moro-prendera-lula/?cmpid=copiaecola
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