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terça-feira, 18 de abril de 2023

O aparelhamento da Educação e a criminalidade - Percival Puggina

         O fenômeno aqui descrito é gravíssima causa de múltiplas tragédias humanas e sociais. Não me refiro apenas aos educadores, embora o que digo inclua muitos deles. Refiro-me ao que acontece no sistema como um todo.  
São nefastas a cultura pedagógica, a visão de Economia e a interpretação da História, a posição ideológica, filosófica, sociológica e pedagógica dominantes. Geram miséria. O livro “Pedagogia do Oprimido” cria oprimidos por opção e sua ideologia, hoje oficialmente conduzindo a nação, estimula a tolerância e as causas dos crimes contra o patrimônio e a vida. Basta ouvi-los.

Dezenas de milhões de brasileiros não percebem isso porque é um tipo de informação que não recebem. No entanto, o fenômeno vai se tornando crescente e as consequências se ampliam quando entramos no mundo acadêmico e nos espaços do poder. Nesses ambientes, ouvimos ao longo de tantas décadas que “prender não resolve”, que o “criminoso é a vítima e a sociedade é a culpada”, que “o sistema penal é vingativo”, que “é preciso legalizar as drogas”, que “família já era”, que “é proibido proibir” e blá blá blá.  Inevitavelmente a criminalidade ganha extensão quando a má lição vem de baixo e o mau exemplo vem de cima.[afinal temos um ex-presidiário na presidência da República - prova incontestável que no Brasil o crime compensa.]

De modo simultâneo, poderosa máquina publicitária trabalha para deslegitimar a função orientadora da Igreja e das famílias, transferindo a formação de crianças e jovens para si mesma e para o aparelho do Estado, já infiltrado, capturado e manipulado pelos agentes da guerra cultural. Grosseiro caldo em que se multiplicam a criminalidade e o número de seus dependentes. 

Há os dependentes químicos. Por vezes, é dito que são um fato novo na cena social, agravando a criminalidade. Errado. As drogas sempre existiram. Seus dependentes cresceram em número quando a sociedade perdeu suas referências. Eles são o numeroso grupo daqueles de quem tudo foi tomado ou que de tudo se extraviaram: conhecimento, família, limites, possibilidade de trabalho honrado, futuro e esperança.

Há os dependentes econômicos do grande criminal business. Quando a atividade criminosa é de baixíssimo risco, conta com simpatia social, chega a ser glamourizada, desfila nas passarelas, ganha manchetes e proporciona mandatos eletivos, é evidente que mais e mais atores se instalem nessa nova e multiforme “Hollywood” de celebridades.

Há, os dependentes ideológicos. Compraram a utopia pelo preço de capa e apostaram nela o futuro de uma nação. Onde depositam suas apostas políticas, criam em vida um inferno de Dante, sem porta de saída e sem poesia
A estes eu interrogo, perguntando como percebem sua cumplicidade com as consequências de suas ações e omissões, do que ensinam e do que deixam de ensinar, do que protegem e do que deixam à própria sorte?

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

O pecado da omissão - Rodrigo Constantino

Gazeta do Povo

O Brasil vive numa encruzilhada hoje. A bifurcação que se apresenta como escolha é clara: ou o país vai dar uma guinada à esquerda novamente, mirando nos exemplos da Argentina e da Venezuela, ou vai insistir com um governo de direita, com agenda reformista liberal.

O típico "isentão" tenta criar uma falsa equivalência entre os dois polos da polarização. No quesito ética, criam a narrativa patética de que tanto Lula quanto Bolsonaro são corruptos, ignorando que o petista comandou o maior escândalo de corrupção do planeta, enquanto o atual governo segue sem qualquer caso comprovado de corrupção. Até Ciro Gomes admitiu: "O PT, se você deixar, bate a sua carteira". [até celulares já são roubados nos comícios do ladrão petista - com um detalhe: com algumas  dezenas de pessoas, na maior parte das vezes reuniões fechadas, com entrada  restrita aos devotos; 
- nos do presidente Bolsonaro, nas ruas e praças, acesso livre, e com milhares de pessoas, nada é furtado, quanto mais roubado. 
Oportuno lembrar que o criminoso petista criticou 'meninos' serem presos por roubarem celulares.]

Alguns pseudo-liberais chegam ao ridículo de fingir que ambos são igualmente antagônicos ao discurso liberal, sendo que Lula prega mais estado para tudo, enquanto Bolsonaro defende as privatizações e abertura comercial. Ser indiferente entre Mantega e Paulo Guedes é piada. Ignorar que os ministérios bolsonaristas possuem configuração técnica, enquanto Lula rateava cada posto como feudo político, é bizarro.

Não obstante, os "liberais" insistem nesse teatro patético. Alguns chegam a esconder muito mal seu esquerdismo patológico. É o caso de Carlos Góes, do Livres, que escreveu: "Você, centrista como eu, pediu para Lula mover-se ao centro. Ele chamou Alckmin para ser seu vice-presidente. Colocou Marina, Cristovam e, finalmente, Meirelles o seu palanque. Construiu a frente ampla que tanto queríamos. Agora, sejamos coerentes. É Lula, lá". [o descondenado chamou 'reforços' ao perceber que apesar das pesquisas que lhe dão mais de 100%, não vai ganhar.]

O liberal clássico João Luiz Mauad ironizou: "Esses 'liberais' do Livres nunca nos surpreendem". Guilherme Fiuza brincou também com a situação geral: "Segundo analistas, a frente ampla de Lula já conta com 8 ex-presidenciáveis, 9 ex-BBBs, 10 ex-mensaleiros e 11 ex-jornalistas, além do Ipec, do Datafolha, do Twitter Moments e do William Bonner. Se continuar crescendo assim, a frente ampla vai precisar alugar um auditório maior".

Tem até "conservador" pregando voto nulo, como se o ideal fosse se omitir diante das alternativas que se apresentam. Os "conservadores isentões" se colocam indiferentes entre Mensalão e governo sem escândalo, entre Mantega e Paulo Guedes, entre roubalheira nas estatais e privatização e lucros recordes das estatais.  

Sentem-se limpinhos com essa omissão pecaminosa, ignorando que no Inferno de Dante o espaço reservado a tais pecadores não é nada confortável. Se o Brasil virar a nova Argentina, vão chorar, e ainda vão culpar Bolsonaro!

Rodrigo Constantino, colunista - VOZES - Gazeta do Povo

domingo, 10 de novembro de 2019

O inferno II - VEJA - Gustavo Krause

Blog do Noblat

O que nós temos a dizer dos que duvidam da solidez da nossa democracia?

A democracia não é o paraíso.  O notável pensador político, Norberto Bobbio, em O Futuro da Democracia, apontava pelo menos seis promessas (ou ilusões) não cumpridas pela democracia. Por sua vez Rousseau, afirmava: “Se houvesse um povo de deuses, seria governado democraticamente, mas aos homens não convém tão perfeito governo”  Em contrapartida, a ausência da democracia é o inferno sob formas de tirania, entres as quais, a mais perversa: sistema totalitário.

Neste sentido, a nossa experiência histórica tem muito a dizer pelas agruras sofridas: uma democracia jovem, submetida a uma transição arriscada, mais lenta e menos segura do que prometia a estratégia da transição do governo militar para o governo civil.  Com evidentes sinais de consolidação (integração da sociedade civil, estado de direito, sociedade econômica, gestão pública e sociedade política), eis que a direita e a esquerda populistas ameaçam, globalmente, as democracias liberais, desta vez, chegando ao poder, não pela força, mas pelos instrumentos da democracia representativa. Uma vez instaladas no governo, as lideranças “legitimadas” pelo voto, enfraquecem à exaustão a teia protetora das instituições democráticas a ela sobrepondo o poder despótico.

O que nós temos a dizer dos que duvidam da solidez da nossa democracia? É provável que nenhuma democracia nascente tenha sido tão testada: a enfermidade letal do Presidente Tancredo Neves, o governo fraco de Sarney, mas ao qual se deve a capacidade de superar crises; cooperar decisivamente com o processo constituinte; suportar uma oposição virulenta; sobreviver à recessão e à superinflação.

O que veio depois? A maior crise, até então, do presidencialismo: o impeachment de Collor e mais uma vez um governo provisório de Itamar Franco, objeto de todos os preconceitos, que eliminou a inflação graças ao engenhoso plano de estabilização sob à lúcida liderança do Ministro da Fazenda e sucessor, Fernando Henrique Cardoso. Seguem-se o fenômeno e a tragédia: o operário e retirante nordestino chega ao Palácio do Planalto nos braços do povo com um projeto de poder a ser viabilizado por uma corrupção sistêmica. As instituições e os ritos democráticas prevaleceram: colocaram Lula na cadeia, destituíram a Presidente, empossaram Temer.

Dito isto, os esbirros juvenis e insensatos ao contrário de ameaçar, fortalecem a democracia. O STF vai dar a palavra final sobre a prisão de condenados em segunda instância. A decisão será acatada e respeitada. Resta a última instância: o oitavo fosso do quinto círculo do inferno de Dante onde os corruptos vão arder para sempre.

Blog do Noblat - Ricardo Noblat, jornalista - VEJA

Gustavo Krause foi ministro da Fazenda de Itamar Franco 



 

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Parente perigoso - Sai o de reputação ilibada, fica o que tem ordem de prisão

Está na cara que temos de estatizar tudo o que passar pela frente, do trióxido de molibdênio à cachaça 51, pregam os arquiduques do “Brasil forte”


Todas as vezes que ouvir falar em “recurso estratégico”, ponha a mão no bolso e segure a carteira: alguém, com certeza, está querendo roubar você. Pode ser gente do governo — tanto faz que seja da situação ou da oposição. Podem ser sindicatos e CUTs. Podem ser, certamente, empreiteiros de obras públicas loucos para construir refinarias, “complexos industriais” e “plantas” disto ou daquilo. Podem ser todos os economistas do “campo progressista”, sem exceção. Podem ser intelectuais, professores de universidade, artistas de novela. Existe à vista alguma coisa que possa ter um valor qualquer? Então, dizem todos os nomeados acima, é “estratégico”. Se é estratégico ninguém pode mexer: a coisa tem de ser “do Estado”, ou do governo. Como tanto o “Estado” quanto o “governo” são uma ideia e não um ser humano, a exemplo do ex-presidente Lula, isso quer dizer, obrigatoriamente, que gente de muita carne e muito osso vai mandar nela. Também obrigatoriamente, essa gente vai criar empresas imensas para cuidar da riqueza da “população”, lotar cada uma delas com funcionários amigos e roubar o pobre do “recurso estratégico” até não sobrar um único osso.

A esquerda nacional, historicamente, é a mãe desnaturada dos gêmeos “bem estratégico” e “empresa estatal”, mas os beneficiários materiais de sua doutrina não são apenas os esquerdistas. Como acontece com tanta frequência na aplicação das ideias “progressistas”, entra na festa todo o tipo de safado que a elite brasileira tem a oferecer — com o tempo, na verdade, vai se descobrindo que é justamente esse bonde do capitalismo terceiro-mundista, tão selvagem quanto a selva no inferno de Dante, quem mais ganha dinheiro com a história de que “o Brasil tem de defender as suas riquezas da cobiça internacional” etc, etc,. Vale qualquer coisa, aí. Está na cara que temos de estatizar tudo o que passar pela frente, do trióxido de molibdênio à cachaça 51, pregam os arquiduques do “Brasil forte” — assim fica tudo só para nós. Simples demais? Pode ser simples, mas não é demais: é apenas a verdade estabelecida pela observação dos fatos, diante da roubalheira que chegou ao ponto de fissão nuclear a partir dos governos Lula-Dilma e que tanta gente está hoje desesperada para colocar de novo em operação.

Em nenhum espaço da vida brasileira a ação dos saqueadores se mostra tão desesperada quanto no petróleo e na Petrobras. Trata-se, possivelmente, da área em que o brasileiro é roubado há mais tempo — espantosamente, desde 1953. Depois da implosão do PT, a Petrobras tem passado com excelentes resultados por um processo de reconstrução. O governo Michel Temer desistiu de encher a empresa de políticos-bandidos, o que deixa absolutamente transtornados os presidentes do Senado, da Câmara e as gangues do Congresso, e permitiu que um executivo de talento, Pedro Parente, tocasse a máquina como ela deve ser tocada. Deu certo. Parente salvou a estatal da falência e criou ali uma cultura de competência, responsabilidade e resultados. É claro que os políticos, de Lula ao extremo anti-Lula, querem matar esse Parente.

O pano de fundo da greve dos caminhoneiros, que tanto barulho levantou, é a guerra entre a liberdade econômica e as forças que querem continuar controlando o petróleo e os combustíveis no Brasil. Na superfície é uma disputa por preços, eliminação de impostos dementes e questões financeiras imediatas — por sinal esses caminhoneiros, onde Lula e a esquerda são detestados, mostraram uma capacidade de juntar gente e mostrar força infinitamente maiores que a “mobilização social” em favor do “Lula Livre”. (A multidão que iria cercar a prisão “até Lula ser solto” nunca passou de 500 pessoas, e hoje está reduzida a nada. Virou uma palhaçada de artistas que agora usam Lula para promover seus shows.) Para além da greve, porém, está a discussão verdadeira: o fim da Petrobras e similares, o estabelecimento da livre concorrência e a construção de um Brasil com chances de progredir.

Publicado na edição impressa da EXAME - J R Guzzo - Veja

Sai o de reputação ilibada, fica o que tem ordem de prisão

Chamado por Deus, Temer troca presidente da Petrobras mas mantém ministérios na mão de ex e futuros presidiários 

BRF, frigorífico problemático, agradece ajoelhado: Pedro Parente se livra da Petrobras. Assim funciona o desgoverno Temer: troca o sujeito de reputação ilibada mas mantém no Trabalho o que vai a Londres e tem ordem de prisão. E nas rodovias o ex-presidiário que manda lá há + de década

Lillian Witte Fibe - Veja
 

segunda-feira, 7 de maio de 2018

O inferno de Temer [será que as acusações, baseadas em suspeitas, resistirão quando forem investigadas com isenção?]

Como o presidente da República tenta enfrentar a maior crise de seu governo, ao mesmo tempo em que se dedica a preservar o próprio mandato e a defender a reputação de sua família, em meio à perda de sustentação política

[Temer lembra o caso do ministro Alceni Guerra - ministro da Saúde no governo Collor e acusado no escândalo das bicicletas; tudo conspirava contra ele, quando foi apeado do poder, praticamente preso (só não foi devido naquele tempo só se prendia após condenação, ainda que na primeira instância); com a renúncia de Collor, Alceni foi investigado e declarado inocente.

As suspeitas, os indícios e as ilações, tudo apresentado como provas sólidas, se esfarelaram quando objeto de uma investigação imparcial e que buscava apenas Justiça.

Outro que sofreu todo tipo de acusações e foi inocentando - quando investigado com isenção - foi o deputado Ibsen Pinheiro.] 

O inferno de Dante Alighieri consiste em nove círculos concêntricos que se afunilam conforme mais profundos ficam, até encontrarem o centro da Terra. Para qual deles você é enviado, depende do pecado cometido. Sobre o inferno de Temer não se sabe ainda a duração nem o alcance. O certo é que o presidente da República enfrenta hoje o terceiro círculo, ou terceira onda, como ele mesmo define, pela qual corre o risco de ser irremediavelmente tragado caso não consiga se desvencilhar da enrascada em que entrou. Nos primeiros meses de gestão, o presidente exibiu musculatura política invejável. 


Aprovou o teto dos gastos, a reforma trabalhista, controlou a inflação e os juros e, mesmo paulatinamente, parecia colocar o País na trilha do desenvolvimento. Desde o avanço da Operação Lava Jato sobre ele, porém, Temer deslocou o eixo de sua atuação: abandonou as reformas e passou a se dedicar à preservação do próprio mandato. 

Não tem sido fácil dissipar as labaredas. Enquanto vê seus parentes investigados por lavagem de dinheiro, numa trama capaz de enredá-lo, Temer não consegue conter o desemprego, perde sustentação política, bate recorde de vetos derrubados e assiste à paralisia de projetos de interesse do governo no Congresso, arena que ele demonstrava dominar como poucos.


Sua candidatura à reeleição, antes dada como certa, patina em meio ao esfacelamento das alianças. “Se a história não me reconhecer, nome em ala de hospital terá reconhecido”, contentou-se Temer na última semana. “É…se alguém insiste para que eu pule de um prédio, precisa me garantir primeiro que há água lá embaixo”, afirmou a senadora ruralista Kátia Abreu (MDB-GO). Kátia é hoje uma clara opositora ao presidente e ao seu governo. Mas, ainda assim, provocou profundo silêncio ao se manifestar numa reunião da bancada de seu partido quanto às chances de apoiar a reeleição.

Traições
Explicitava-se ali um sentimento que vai ganhando força no MDB e em outros partidos aliados do governo. Sem conseguir se livrar das denúncias da Polícia Federal e do Ministério Público, Temer vai-se tornando uma opção difícil de ser carregada nos palanques das eleições estaduais. Nos bastidores, emedebistas já falam claramente na hipótese de trair Temer em julho na convenção partidária, quando a escolha de candidaturas ou a opção por não ter candidato à Presidência será decidida por voto secreto. “Desde o ano passado, o presidente vem enfrentando os ataques vindos do Ministério Público e da Polícia Federal e não consegue conter isso”, admite um assessor do presidente.[ataques feitos sem provas, com flagrante armado, são de dificil contenção, além do mais há a clara disposição de aceitação por parte de quem recebe as denúncias.
Mas, a partir de janeiro - considerando que Temer desista da candidatura e possa ser investigado - há grandes chances das acusações desmoronarem.]

Na sua última manifestação sobre as denúncias que enfrenta, o presidente subiu o tom. Declarou-se indignado com o fato de terem vazado informações das investigações contra ele que apontavam para possível lavagem de dinheiro a partir da aquisição e da reforma de imóveis por sua família. Uma das apurações envolve uma casa da filha de Temer, Maristela. E um personagem habitual nas acusações contra o presidente, o ex-coronel da Polícia Militar João Baptista Lima. As investigações contra Temer apontam para a hipótese de Lima ser um operador de propina. Na quinta-feira 3, Maristela Temer depôs em São Paulo por quase quatro horas sobre a reforma da sua casa no Alto de Pinheiros. 

No caso, investiga-se um repasse de R$ 2 milhões que teria sido feito por Lima para a reforma, que teve como arquiteta a própria mulher de Lima, Maria Rita Fratezi. Em seu depoimento, Maristela disse que Lima deu uma “ajuda de camaradagem, amizade, quase familiar”, por meio de orçamentos com empresas, mas que não recebeu dinheiro do coronel. Valeu-se da contribuição da mãe e de um empréstimo bancário contraído entre 2013 e 2014. “Sabia até onde podia caminhar com as próprias pernas para bancar o empreendimento”, disse. O objetivo, segundo ela, era “dar um tapa” na casa para alugar. Ao fim, se disse aliviada por emitir sua versão. Mas não apresentou comprovantes do que disse. [até recentemente - e continua valendo nos países sérios - quem apresenta comprovantes do que diz, do que acusa, é a acusação.
O ônus da prova cabe ao acusador.
O defensor ter que provar o que não ocorreu, o não fato é praticamente impossível.]

Temer insiste em voltar-se contra o vazamento das informações do inquérito. Parece o caso clássico de alguém que, ao não gostar da mensagem, resolve punir o mensageiro. Em seu partido e entre seus aliados cresce o sentimento de que o presidente não consegue explicações suficientes para conter as denúncias contra ele. Com isso, isola-se. Não se mostra capaz de ver avançar as pautas de seu interesse no Congresso. Abandonou a agenda prioritária do governo. Trocou-a por salvar a própria pele.

Os problemas vividos por Temer dificultam seus planos políticos e os de seu governo. No Senado, o ex-líder do MDB no início do governo Temer, Renan Calheiros (AL), assume claramente o papel de articulador do processo que pode levar à traição do presidente na convenção partidária em julho. [Renan reforça as acusações contra Temer; fica a pergunta: nos próximos meses o Renan vai ser julgado de verdade, será que ele resiste? será que as acusações contra ele serão sem suporte probatório igual as feitas contra Temer?]  Renan esmera-se em provocar seus colegas de partido, perguntando a eles se levariam o presidente a seus palanques nos estados. “Quero ver você sair de mãos dadas com o Temer na 25 de Março”, disse, por exemplo, na semana passada à senadora Marta Suplicy (SP), referindo-se à famosa rua paulistana de comércio popular.

Reunião com FHC
As provocações de Renan fazem algum efeito. Ele tem promovido reuniões com representantes dos diretórios de Santa Catarina, Pará, Sergipe, Minas Gerais, Paraná e Ceará, além de Alagoas, onde o MDB tem maior peso e maiores chances eleitorais, para sugerir que abandonem Temer. Nomes até então mais próximos do presidente já começam a admitir a deserção. Caso, por exemplo, do presidente do Senado, Eunício Oliveira, que tenta a reeleição no Ceará. “Temer tem se precipitado”, disse Eunício, em conversa recente com aliados. “Ele não tem combinado com o partido antes. A candidatura, por exemplo, não foi discutida previamente”, reclamou.

No Congresso, o resultado de tal situação é a paralisia. Temas da pauta do governo, ou que o governo encampou, como a privatização da Eletrobrás, o cadastro positivo de devedores e a criação do Sistema Único de Segurança, vacilam na Câmara e no Senado. Entre março e abril, o plenário passou 22 dias sem votar nenhum projeto. Este ano, apenas quatro medidas provisórias e 17 projetos de lei foram aprovados. Desde que lançou sua pretensão de ser candidato à Presidência, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ) não faz avançar a pauta entre os deputados. Diante da situação, Michel Temer iniciará a próxima semana com uma reunião com os principais líderes do Congresso. O encontro é uma admissão do presidente de que os temas mais importantes para o governo de fato não avançam.
Nos bastidores, o presidente já tem se movimentado. No início da semana passada, ele esteve com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Temer quer a todo custo se reaproximar do PSDB. Por isso, passou a admitir a hipótese de o MDB indicar um nome para vice na chapa do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin. Esse cenário também foi tema de conversa no fim de semana com o governador de São Paulo, Márcio França, do PSB, que também apoia Alckmin. “Há um consenso de que o centro precisa se unir. O problema é que não há clareza quanto a como se unir ou com quem”, comenta um assessor do presidente. Existe outro entrave. Embora precisem reforçar o palanque tucano, Alckmin e seus aliados relutam em celebrar uma aliança com o impopular Temer. Receiam que a parceria vire um abraço de afogados, como se já não bastassem as dificuldades do PSDB em decolar nas pesquisas.

Esse é o drama de Michel Temer. Emparedado por investigações e sem respaldo da população, o presidente reúne dificuldades para conter à debandada de seus aliados, mais preocupados com suas próprias eleições. Caso Temer não consiga reagir, esse tende a ser um caminho sem volta. No Inferno, Dante, guiado pelo poeta Virgílio, percorre locais onde os pecadores enfrentam punições pelo que fizeram em vida. No seu inferno particular, Temer arde em fogo alto e enfrenta desventuras no exercício do mandato, não pelo que fez, mas principalmente pelo que deixou de fazer.

Rudolfo Lago, Ary Filgueira e Tábata Viapiana  - IstoÉ


segunda-feira, 9 de novembro de 2015

A DITADURA DO ÓBVIO



A vantagem da mudança seria o descarte da incompetência, má gestão e corrupção."
General Antonio Mourão (na ativa), ao comentar a possibilidade de impeachment de Dilma Rousseff

"Ganhamos a eleição com um discurso e depois das eleições fizemos aquilo que a gente dizia que não ia fazer."
Luiz Inácio Lula da Silva
Waldo Luís Viana*

Temos que convir: está tudo aí, na cara do povo brasileiro, de maneira escarada e escarrada. Vemos a corrupção das propinas, a luta insana da aristocracia que tem cabeça no século 19, enquanto a sociedade vive a globalização dos celulares, computadores, tablets e andróides.

É óbvio que querem se manter no poder, utilizando o voto obrigatório (um dever, jamais um direito) e o foro privilegiado (afinal há cidadãos “melhores” que outros). Nesse sentido, Lula acertou, quando disse um dia sobre José Sarney: “obviamente ele não é uma pessoa comum”. 

Pessoas comuns estão, em verdade, à disposição da polícia e do Judiciário, naquele velho princípio dos quatro pês: “prendemos pretos, pobres e prostitutas”. Por isso, muito cuidado com os esfomeados, furtadores de latas de goiabada nos supermercados. É óbvio que serão apanhados pela gola e conduzidos à cadeia. Os ricos, porém, estes têm advogados caros para encontrar brechas nas leis e através de chicanas e de infindáveis recursos protelar a prestação de contas em relação às leis.

Nossos políticos federais que as fazem, cerca de seiscentos, que custam cada um dois milhões de reais por ano, querem que tudo permaneça como está, ou seja, não são pessoas comuns e obedecem àquele velho princípio eleitoral: roubar pra se eleger e se eleger para roubar. É claro que existem honrosas exceções, mas infelizmente existe a regra. Não é o melhor dos mundos?

É óbvio que o PT, que chegou ao poder com promessas éticas e de salvação do país, transformou-se numa máquina de corrupção jamais vista, inclusive ameaçando os que não concordam com o castigo de exércitos alternativos, movimentos sociais e ONGs de discutível procedência.  Vemos tudo transcorrer embaixo de nosso nariz e não conseguimos fazer nada, demonstrando aquele espírito típico do vestíbulo do inferno de Dante: “deixai aqui toda a esperança”.

Nossa aristocracia não quer largar o osso e manterá tudo como está, o que se comprova com os resultados hilariantes da CPI da Petrobras. É óbvio que eles não querem condenar qualquer político e o baixo clero no Congresso irá assegurar o futuro auspicioso do presidente da Câmara. Afinal, ele interpreta exatamente o espírito da maioria dos deputados e sua sanha por cargos e sinecuras. Além do que pode barganhar sua sobrevivência, porque porta sem timidez a caneta do impeachment.

Nada de planos estratégicos para o futuro do país, que isso não interessa. Nada de desinchar o Estado, que deve ser pesadão, caríssimo e ineficiente, enquanto o caos permanece na saúde, educação e segurança.  É óbvio que utilizaram o BNDES para financiar projetos no exterior, à revelia do povo brasileiro e do próprio Congresso. Mas nada disso importa, porque não haverá qualquer retaliação e os poucos protestos de alguns cairão no vazio.

Na verdade, o país ainda não saiu do regime das capitanias hereditárias, em que fatias de poder são distribuídas sem qualquer pudor entre as mesmas caras carimbadas, que sempre dizem que não têm dinheiro secreto no exterior. E todo mundo sabe quem são e eles caminham livres, sorridentes e sem medo, porque nosso Judiciário não passa de um puxadinho mal ajambrado de tais poderes ocultos.

Mas hora direis: e as operações da Polícia Federal e do Ministério Público? Sim, são pobres esperanças do povo brasileiro que está no fundo do poço. Existem realmente alguns quixotes audazes, procurando deter a sangria da corrupção generalizada, dos golpes continuados de um partido para se manter no poder a qualquer preço (“faremos o diabo pra reeleger a Dilma” – lembram-se) e da gulodice continuada de outro partido aliado, que se cala convenientemente em troca de ministérios e de abonos colonizadores no segundo escalão federal.

Podemos nos orgulhar de assistirmos à descoberta de que somos uma nação que pratica os maiores atos de corrupção da história humana, desde os tempos da Suméria e Babilônia. Ninguém ousou a tanto em nenhum lugar, só no Brasil, porque aqui tudo é permitido. É óbvio que aqui também existe o braço da Justiça, mas existem cidadãos mais iguais que outros e eles conseguem protelar as penas, com intermináveis recursos que arquivam processos ou os tornam preclusos com o tempo. Esse é o tal “foro privilegiado” na prática...

É óbvio que a aristocracia argumenta que as eleições são caras e que, para manter o poder, precisa recorrer a financiamentos escusos e fraudulentos, extraídos a fórceps de empreiteiras e estatais. E haverá alguém que acredite que não será mais assim? Óbvio que não...  Somos escravos, nós, o povo em geral, das obviedades e das pizzas. Pão (talvez a falta dele), circo, futebol, novelas e Big Brothers. A maioria nem quer saber de política e se o voto não fosse obrigatório ausentar-se-ia de qualquer pronunciamento. A maioria, no fundo, está exausta e completamente descrente.

É óbvio que se percebe uma insana luta pelo tal ajuste fiscal, mas sabemos que isso não irá resolver o desespero do povo endividado pelos juros mais escorchantes do mundo. E sabemos que isso não vai mudar, apenas surgirão paliativos, obviamente em anos eleitorais.  Sendo assim, navegando entre rombos e dívidas, o país vai entrando em colapso e o povo, assustado e desiludido, sente-se realmente adentrando o inferno de Dante, deixando para trás toda esperança. Afinal, somos um povo vivendo no século 21 dirigido por uma aristocracia cuja cabeça continua no século 19 e com saudades eternas do tempo em que éramos apenas colônia de Portugal e da Inglaterra.

E tal aristocracia, inclusive, está agastada com alguns gatos pingados que a desafia, prometendo punição aos criminosos obviamente descobertos, e tenta por todos os poros deter essa onda de delações premiadas, contrárias a seus planos de permanência. Que ousadia contrariar o velho poder que se propõe ser eterno?

Sobra apenas para nós o gosto amargo de ver esse embate distante, entre aristocracia e povo, uma luta surda e intestina que obviamente não fomos convidados a participar. Resta-nos esperar, ansiosos, a próxima atração...

Por: *Waldo Luís Viana é escritor, economista, poeta e não pertence à aristocracia que nos sufoca...
Teresópolis, 30 de outubro de 2015.

Fonte: A Verdade Sufocada