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domingo, 31 de maio de 2015

O fim de um porco e da pocilga (os suínos que perdoem comparação tão ofensiva.)

O fim de Carlos Lamarca e da VPR

Uma cuidadosa ação da Inteligência colocou fim à carreira do terrorista Carlos Lamarca (o porco), mas os homens que lutaram contra o terror comunista nunca foram reconhecidos pelos governantes de plantão. No dia 7 de dezembro de 1970, uma segunda-feira, um grupo de militantes da Vanguarda Popular Revolucionária, chefiado por Carlos Lamarca, seqüestrou Giovani Enrico Bucher, embaixador da Suíça no Brasil. 
 
O seqüestro ocorreu na rua Conde de Baependi, Catete, no Rio de Janeiro. O embaixador viajava em seu carro, um Buick, dirigido por seu motorista, Hercílio Geraldo e, como sempre, acompanhado do agente da Polícia Federal Helio Carvalho de Araújo, designado para prover sua segurança. 
 
Após o carro ter sido interceptado, Carlos Lamarca, utilizando o codinome de "Paulista", bateu no vidro da janela do agente de segurança, abriu a porta e desfechou-lhe dois tiros com um revólver calibre 38 à queima-roupa. O agente, conduzido para o Hospital Miguel Couto, faleceu 3 dias depois. 

Desse seqüestro, tomaram parte diretamente seis militantes, além de Carlos Lamarca: Adair Gonçalves Reis, Gerson Theodoro de Oliveira, Alex Polari de Alverga, Inês Etienne Romeu, Maurício Guilherme da Silveira e Herbert Eustáquio de Carvalho. José Roberto Gonçalves de Rezende e Alfredo Helio Sirkis participaram do transporte do embaixador para o "aparelho" da VPR na rua Paracatu, em Rocha Miranda. O militante Paulo Brandi de Barros Cachapuz, nesse mesmo dia - e nos dias seguintes - deu seguidos telefonemas desinformando a polícia sobre o paradeiro do embaixador. [a tal de Inês acima citada, no final de abril passado foi acertar contas com o diabo, pagando por crimes bárbaros tipo o acima citado e muitos outros.
Foi a terrorista Inês que sustentou por muito tempo a versão da existência da 'casa da morte' em Petrópolis, onde teria sido barbaramente torturada.
A intensidade das torturas de terrorista falecida no dia 27 de abril combina com as que a atual presidente Dilma diz ter sofrido quando esteve presa. Segundo a presimente foi torturada por 22 dias e fotos realizadas poucos dias após a torturada mostram uma  jovem gozando de ótima saúde e aparência física - não podemos dizer que mostre uma jovem bonita, já que neste aspecto Dilma foi (é e sempre será) geneticamente desfavorecida.]

Essa data – 7 de dezembro de 1970 – marcou o início do fim da VPR (a pocilga).
Naquele mesmo dia a VPR distribuiu aos meios de comunicação o "Comunicado nº 1", um "Manifesto ao Povo Brasileiro" e uma "Carta Aberta à embaixada suíça", bem como uma carta de próprio punho do embaixador. 

No dia 9 de dezembro, o Ministério da Justiça, através de uma nota oficial, afirmava que "o governo brasileiro, no empenho de preservar a vida e a liberdade do embaixador", aguardava a relação nominal dos terroristas a serem liberados. Nesse mesmo dia, a VPR expediu o "Comunicado nº 2", dizendo que somente divulgaria a lista dos 70 presos a serem liberados depois de cumpridas as exigências de divulgação do "Manifesto ao Povo Brasileiro" por dois dias consecutivos na primeira página dos jornais e em todas as rádios e TVs do país, às 6, 12, 18 e 20:30 horas, o que não foi feito. 

Quatro dias depois, a VPR cobrou do governo o cumprimento dessa exigência através do "Comunicado nº 3" e, no dia 16 de dezembro com o "Comunicado nº 4". 

No dia 17, o governo deu garantia de que libertaria os 70 presos e, no dia seguinte, a VPR enviou o "Comunicado nº 5", com a lista dos 70. 
Na segunda-feira, 21 de dezembro, o governo respondeu que aceitava libertar apenas 51 presos constantes da relação. Não concordava com os outros 19 por vários motivos: 6 haviam participado de seqüestros, 4 estavam condenados à prisão perpétua ou a penas elevadas, 3 haviam cometido homicídios, 1 não estava identificado, 1 não queria ser banido do país e 4 já estavam em liberdade. 

A partir desse documento teve início uma discussão dentro da VPR para ver se o embaixador seria morto ou não, sendo realizada uma votação a respeito com o resultado de 15 a 3 a favor do "justiçamento" do embaixador. Os 3 que votaram contra foram Carlos Lamarca, Alfredo Hélio Sirkis e José Roberto Gonçalves de Rezende que não vislumbravam dividendos políticos na morte do embaixador. Lamarca, como comandante-em-chefe da VPR, exerceu seu direito de veto e sustou o "justiçamento" enviando ao governo outra lista dos presos a serem liberados. 

No dia 28 de dezembro, o governo divulgou que, da nova lista, alguns não poderiam ser também libertados. No dia 30, a VPR enviou uma outra relação e, no dia 4 de janeiro, o governo divulgou a preterição de mais 9 presos, substituídos no dia seguinte, por uma nova lista enviada pela VPR. No dia 6 de janeiro, nova preterição de 4 nomes e, no dia seguinte, nova lista substituindo esses 4. 

Finalmente, no dia 11 de janeiro, uma nota oficial do Ministério da Justiça condicionou a liberação e embarque para o Chile dos 70 presos a um Comunicado da VPR comprometendo-se a liberar o embaixador. No dia seguinte, a VPR cumpriu essa exigência e, às 24 horas do dia 13 de janeiro de 1971, os 70 presos, escoltados por três agentes da Polícia Federal embarcaram no Galeão, em um Boeing da Varig e, às 4:15 horas de 14 de janeiro desembarcaram no aeroporto Puhaduel, em Santiago, sendo fotografados ao lado do avião com os punhos cerrados e saudados por dezenas de militantes, brasileiros e chilenos, postados nas varandas do aeroporto, entoando a Internacional Socialista. 

Dos 70 presos banidos do Brasil, 24 eram militantes da VPR e os demais 46 pertenciam a outras organizações. No dia 15 de janeiro de 1971, Lamarca abandonou o "aparelho" em que se encontrava e, no alvorecer do dia 16, o embaixador foi deixado próximo ao penhasco da igreja da Penha, em um Volks, por Alfredo Helio Sirkis e Gerson Teodoro de Oliveira. Pouco tempo depois, Gerson Teodoro de Oliveira, a bordo desse Volks, que estava registrado no nome frio por ele utilizado, foi morto pela polícia.
Após esse tremendo desgaste de ter que manter o embaixador confinado por 39 dias, de fazer e refazer relações de presos e de impedir o "justiçamento" do embaixador, conforme desejava a maioria da VPR, a liderança de Carlos Lamarca estava irremediavelmente desgastada. Acolhido em um "aparelho" do MR8, na região dos Lagos, juntamente com sua amante Iara Iavelberg, Lamarca, em 22 de março de 1971, enviou um Comunicado à VPR escrito de próprio punho. Abaixo, uma cópia literal desse documento: 

"Ao Comando da VPR. Assunto: Pedido de Desligamento. Caráter: Irrevogável.

Apresento, conforme normas internas da Org, o meu pedido de desligamento para apreciação no meu órgão de militância. Considero essa apreciação como necessária para a formalização de crítica e auto-crítica.

Dou caráter de irrevogabilidade à este pedido em virtude de:

1) divergir da linha política da VPR, conforme coloquei em diversos documentos internos;

2) ter constatado desvios ideológicos da VPR e a deformação que acarreta em muitos dos seus quadros;

3) não ter conseguido levar a luta interna que iniciei há um ano com a devida serenidade;

4) não conseguir romper com o culto ao sectarismo existente na VPR;

5) discordar do método de direção (apesar de ser Cmt-em-Chefe); a Org impede a liberação de potencial, não forma quadros, aliena militantes, deforma dirigentes, elimina a criatividade, impede a prática leninista – tudo como já coloquei em documentos internos.

Considero-me também deformado – na Org em que vou militar farei auto-crítica na prática. Coloco-me como deformado porque constatei, na prática, essa deformação. Na VPR não há lugar para uma auto-crítica revolucionária, em todas as vezes que fiz, foi politicamente capitalizada para a defesa de posições – persistir é aceitar a deformação.

Estarei sempre atento para responder questionamento da VPR sobre qualquer acontecimento na organização – de 24 de janeiro de 1969 até esta data 22 de março de 1971 – se me chegar por escrito. Aguardarei a análise crítica da VPR, solicitando o direito de resposta, assim como apuração de responsabilidade pessoal, em qualquer época, e no nível desejado pela VPR. Condicionarei a minha entrada em outra Organização a isto, para que fique clara a minha predisposição de assumir a responsabilidade dos meus atos na militância individual ou coletiva na VPR.

Sempre travei a luta interna e procurei a coesão sem conciliar – saio sem travar uma luta desagregadora – apesar de ter cometido uma violência ao escrever o documento CONTRA O CUPULISMO. Uma violência, mas uma deformação. A deformação é uma necessidade da VPR. Sem a violência as posições políticas não afloram – e, de deformação em deformação à degradação política.

À VPR só resta um caminho, o CONGRESSO – um longo processo de discussões e um profundo imobilismo – se tentar andar quebra.

Tenho contribuições a dar para a Revolução no Brasil, e aqui ficarei e, na Organização em que for militar farei um comunicado à esquerda apresentando os motivos do desligamento e do ingresso em outra Organização Revolucionária.

O que sei, e que possa afetar a segurança da VPR morre comigo.

OUSAR LUTAR
OUSAR VENCER
Claudio – 22 MAR 71"


O original do documento acima foi apreendido pelo CISA no "aparelho" de Alex Polari de Alverga, pertencente ao Comando Nacional da VPR, quando de sua prisão, em maio de 1971. Em 22 de junho de 1971, Carlos Lamarca e Iara Iavelberg, em frente a uma loja do Bob’s, na Avenida Brasil, Rio de Janeiro, embarcaram em uma Kombi que, precedida por um Volks, os levou a Salvador/BA. Nas proximidades de Salvador, ambos passaram para o Volks e a Kombi retornou ao Rio com seu motorista.

Investigações posteriores indicaram que a Kombi tinha placa de Belém/PA e pertencia a um paraense, estudante de Economia na Universidade Gama Filho, no Rio; e que o Volks, de cor branca, tinha placa de Petrópolis/RJ. O levantamento do proprietário do Volks foi fácil, pois, na época, só existiam  dois Volks de cor branca registrados no Detran de Petrópolis.
Com base nesses dois informes foram levantadas as identidades dos proprietários, dois colaboradores do MR-8. O Volks pertencia ao filho de um ex-Ministro do STF, cassado, e a Kombi pertencia, realmente, a um estudante paraense. Seus nomes serão preservados. Eles nunca foram presos. Passaram a ser monitorados, pois poderiam, no futuro, passar a colaborar e eram uma forma da Inteligência não perder contato com a Organização. 

Menos de três meses depois, em 17 de setembro de 1971, Carlos Lamarca era morto no sertão da Bahia e o MR-8, no Rio de Janeiro e na Bahia, desmantelado. Lamarca foi o último dos chamados grandes comandantes da guerrilha a ser eliminado. Os dois outros, Carlos Marighela, e seu sucessor, Joaquim Câmara Ferreira (“Toledo”), morreram em novembro de 1969 e dezembro de 1970.
Em 1971, o balanço geral dos militantes da VPR era de que as organizações da esquerda armada haviam sido derrotadas em razão da ação da chamada repressão que levou ao seu isolamento social e político. Os remanescentes da VPR no Brasil já haviam jogado a toalha com a divulgação, no dia 7 de agosto de 1971, de três documentos históricos:
O Comunicado nº 1 (Novo Comando) afirmava que em vista dos últimos acontecimentos, fica estabelecido um novo comando na organização”; que esse novo comando “assume a organização praticamente extinta e vai tentar salvar o que sobrou”;

O Comunicado nº 2 (Medidas Imediatas) assinalava que “atualmente o que existe é o final da derrota, alguns elementos que devem ser preservados para que se possa tirar do fracasso desta experiência as lições necessárias (...) e, para isto, determina de forma imediata: a) a organização está desmobilizada; b) está convocado o II Congresso Nacional (...) por desmobilização entendemos a suspensão das ações armadas (...)”;

O Comunicado nº 3 (Aos Companheiros no Exterior):A organização chegou agora ao esgotamento total. Estamos sem as mínimas condições de atuação e sem possibilidades por mais remotas de tirar uma definição conseqüente, que sirva de guia para uma prática revolucionária (...) A crise política da organização que se seguiu à ação do embaixador suíço levou a uma aguda crise no Comando em abril/maio deste ano, tendo como conseqüência o desligamento inusitado de dois dos companheiros do Comando Nacional. Um desses companheiros caiu a 3 de maio, outro pediu ingresso em outra organização (...) O companheiro do Comando, restante, estabeleceu uma assim chamada ‘Coordenação Provisória’ que teve vida curta. Sua finalidade era coordenar discussões na organização, mas já a 12 de maio caíam dois companheiros da Coordenação, restando dela um único. Na realidade, porém, a situação era muito pior: a Unidade de Combate da Guanabara perdeu de março até maio quase todos os seus quadros. Restaram alguns poucos, dos quais caíram dois entre maio e agosto. Em São Paulo já não existe Unidade de Combate, sendo alguns quadros recém recrutados, que não têm condições de, sozinhos, montar uma UC (...) Entre 1 e 5 de agosto caíram dois companheiros fundamentais no NE (...) A organização está desmobilizada (o que significa apenas reconhecer com palavras uma situação de fato que se estendia desde maio deste ano e buscar salvar o que sobrou). Convocamos o Congresso, mas para realizá-lo precisamos que os companheiros nos enviem dinheiro (...) Sem dinheiro certamente não sobrará um único remanescente no Brasil. Esperamos, com urgência, a colaboração dos companheiros”.

O ato final da VPR foi realizado no Chile, em julho de 1973, às vésperas da deposição do governo Allende: uma reunião de avaliação, da qual participaram os militantes que se encontravam foragidos ou banidos naquele país. Essa reunião formalizou a extinção da Vanguarda Popular Revolucionária e sua desmobilização por completo, pois voltar ao Brasil naquele momento para prosseguir na luta armada não fazia parte da agenda pessoal da quase totalidade dos militantes.

A VPR, constituída em março de 1968, por um grupo partidário da teoria do foco guerrilheiro” que havia deixado a organização Política Operária, mais conhecida como POLOP, e por diversos sargentos e marinheiros expulsos das Forças Armadas, muitos com treinamento em Cuba, remanescentes do falido Movimento Nacional Revolucionário de Brizola, durante os cinco anos em que atuou, seqüestrou embaixadores, matou, “justiçou”, assaltou bancos e carros-fortes, estabelecimentos comerciais. Os que sobraram, no entanto, foram anistiados e a maioria recompensada financeiramente por não terem conseguido transformar o Brasil em uma república popular democrática

Na realidade, apesar da audácia, da lenda e do mito, Lamarca foi um desertor e um traidor do Exército Brasileiro.

E é assim que deverá passar à História.
Entretanto, aquele pequeno grupo de militares e civis – alguns dos quais não mais estão entre nós - que erradicaram o terrorismo, os seqüestros, os assaltos, os justiçamentos e os assassinatos de cunho político, que sacrificaram suas vidas e a de seus familiares, não receberam o reconhecimento da Pátria ou de seus governantes.

Por: Carlos I.S. Azambuja é Historiador.

Publicado originalmente no Blog Alerta Total

General Nilton Cerqueira, quando era secretário de Segurança do Rio, em 1995
Atualmente está com 85 anos e ainda vive 

[O comandante da operação que matou o porco Lamarca foi o general Nilton Cerqueira, que além da honra de participar do abate de uma hiena tipo o traidor Lamarca, ocupou, após o término do Governo Militar o cargo de secretário da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio, durante o governo Marcelo Alencar, 1995 a 1998.]

 

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

As Raízes do AI-5



“A geração que chegou ao poder com o presidente Lula deve muito a Cuba. Nos anos do regime militar a esquerda teve a solidariedade de Cuba com sua mão amiga e seu braço forte. A geração que chegou ao poder com Lula é devedora de Cuba. E me considero um brasileiro cubano e um cubano brasileiro”. (José Dirceu, abril de 2003)


Em 1998 a editora Garamond editou o livro “Abaixo a Ditadura – O Movimento de 1968 contado por seus líderes”, escrito por José Dirceu de Oliveira e Silva (o “capitão do time”, segundo o kamarada Lula) e Wladimir Palmeira.

É altamente instrutivo recordar algumas passagens desse livro, uma vez que o Movimento de 1968, como foram denominados os distúrbios de rua que o então governador do então Estado da Guanabara, Negrão de Lima, declarou em rede de TV, que o Estado não possuía condições de conter, foram uma das origens do Ato Institucional nº 5 de 13 de dezembro de 1968, instrumento idealizado pelo governo para impor a Lei e a Ordem.

Também é interessante assinalar o ambiente carregado em toda a América Latina, uma vez que no ano anterior, em Havana, havia sido constituída a Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS), em uma reunião à qual esteve presente Carlos Marighela. Mas, solidariedade a quem?  A Che Guevara, que já se encontrava na Bolívia, com o objetivo de criar vários Vietnã na América Latina.

Vamos ao livro.
Escreveu Wladimir, liderança dos distúrbios no Rio de Janeiro “Nós sempre tínhamos uns mensageiros ou batedores, em geral secundaristas, observando constantemente onde estava a polícia. De repente eles chegavam e diziam: ‘Wladimir, carro da polícia entre a Alfândega e tal. Queima?’ Eu respondia: ‘Queima!’, e os meninos queimavam. A gente estava preparado para isso (...) Quando fui preso, o Franklin (observação: Franklin Martins, que foi militante do MR-8, comentarista político da TV Globo e membro do governo do PT) e o Carlos Alberto Muniz (observação: Carlos Alberto Vieira Muniz, posteriormente um dos dirigentes do MR-8) assumiram a liderança sem problemas (...) No enterro do Edson Luiz, por exemplo, a Light cortou as luzes da rua quando estávamos passando pela praia de Botafogo. Logo em seguida, o Luiz Antonio, da Dissidência Secundarista, chegou correndo: ‘Como é Vladimir? Vamos fazer alguma coisa? Podemos quebrar as lâmpadas?’ ‘Quebra essa porra toda!’, respondi. E ele foi e quebrou. Quando o pessoal do PCB começou a denunciar que havia policiais infiltrados fazendo provocações, imediatamente vinha a réplica: Não, foi o Vladimir que mandou”.

Escreveu José Dirceu: “Na manifestação de 1º de Maio (1968), o Movimento Estudantil e o Agrupamento Revolucionário de São Paulo destruíram o palanque do Abreu Sodré na Praça da Sé e botaram o governador para correr. Ali ocorria o primeiro laço mais forte entre o Movimento Estudantil, a classe operária e os revolucionários; esse Agrupamento era o grupo que saiu do PCB com o Marighela e depois se transformou na ALN; já possuíam um esquema militar e estavam iniciando as ações armadas. Mais tarde eles também nos deram cobertura em outros momentos, principalmente durante a ocupação da Maria Antonia. Nesse dia o governador levou uma pedrada (...). Fomos para a praça dispostos a denunciar aquela palhaçada e dissolver o ato público. Avançamos, destruímos e queimamos o palanque, e depois saímos em passeata pela cidade. A polícia ainda tentou reprimir, mas se não tivessem se escondido na igreja nós teríamos ido atrás deles (...). Não podíamos aceitar passivamente que aqueles agentes da ditadura viessem posar de políticos ligados às causas populares (...). Mais tarde também apoiamos integralmente a greve de Osasco. Fizemos panfletagens e comícios em todo o Estado (...). Nossa concepção era de que o Movimento Estudantil tinha um papel bem delimitado, ao contrário da Ação Popular, que o considerava como vanguarda da sociedade para derrubar a ditadura (...). No PT, no fundo, ainda sou muito do que fui no Movimento Estudantil (...)”. [Zé Dirceu afirma que no movimento estudantil era ladrão, já que no PT foi e quando tiver oportunidade voltará a ser.]

Prossegue José Dirceu: Fizemos um Congresso da UEE (União Estadual de Estudantes) no conjunto residencial da USP (CRUSP) em agosto (1968), que foi manchete em todos os jornais (...). O Congresso do CRUSP reuniu cinco mil pessoas; a repressão havia anunciado que iria impedir o encontro, mas nós fizemos na marra e conquistamos uma grande vitória política (...). e aqueles milhares de delegados me consagraram como presidente da UEE. No dia seguinte, a Última Hora publicou uma manchete em duas páginas: ‘José Dirceu venceu’, com uma grande foto minha e uma longa matéria sobre o Congresso”.

Wladimir Palmeira: “Não havia diferença entre o estudante do (restaurante) Calabouço e o estudante universitário. O pessoal do ‘Calaba’ não era apenas mais pobre, era também mais radicalizado. Quando ia para as ruas, gostava de depredar carros na av Rio Branco; muitas vezes queriam quebrar o fusca de um sujeito de classe média que eventualmente estava até simpatizando com a nossa luta: para eles, era ‘tudo rico’ (...) Eles eram muito combativos e levavam para as passeatas uns cacetes enormes com uma minúscula bandeirinha do Brasil na ponta, só para dar o visual. Eram os que mais brigavam com a polícia (...). O problema é que já não controlávamos mais a maioria do DCE da Federal; a maior parte dos diretores havia ido para o PCBR no racha de 1967.

Era necessário ganhar politicamente, e fomos para a Praia Vermelha dialogar com os estudantes. Fizemos uma aliança com o Jean Marc (observação: Jean Marc Van der Weiss, dirigente da Ação Popular, posteriormente um dos trocados pela liberdade de um embaixador seqüestrado), nosso tradicional adversário; o PCBR, uma força que tentava se colocar mais à esquerda, também terminou aceitando nossa proposta. A partir daí, começamos a organizar uma manifestação que ficou conhecida como ‘a quarta-freira sangrenta’. Nossa preparação, entre o fim de maio e começo de junho (1968), incluiu coquetéis molotov, cacetes, pedras, principalmente, e um forte trabalho político em todas as universidades. Seria uma passeata para inverter tudo o que se fizera até então”.

Prossegue Vladimir: “No dia 19 de junho todos estavam a postos. Tínhamos organizado três colunas para entrar ao mesmo tempo no pátio do MEC, chegando de três direções diferentes. Uma burrice, mas também não éramos nenhum Von Klausevitz para saber que se devem concentrar as forças. Ao meu lado, na mesma coluna, creio que marchava o Brito e, com certeza, o Cid Benjamim (observação: respectivamente, Elinor Mendes Brito e Cid Queiroz Benjamim, dirigentes do PCBR e do MR8, posteriormente banidos do país, trocados pela liberdade de um embaixador seqüestrado). Quando eles se aproximam, começamos a jogar pedras e a porrada começou; uma verdadeira batalha campal (...) Os estudantes caíam, esfarrapados, machucados, sangrando, era uma loucura. E afinal não conseguimos ocupar o MEC (...) Nos deslocamos individualmente ou em pequenos grupos para a Av Rio Branco.

Dessa vez montamos uma barricada na avenida, uma alteração radical na nossa tática de luta. Desde 1966, costumávamos avançar pela contramão no meio do trânsito. Assim o deslocamento da polícia ficava impedido pelo engarrafamento total do centro do Rio. Essa tática tornou-se uma marca registrada em todo o Brasil (...) Naquela quarta-feira nos plantamos ali, no meio da avenida mais importante do centro do Rio de Janeiro, defendendo com paus e pedras nossas posições atrás das barricadas. A certa altura aconteceu uma cena inesquecível. De repente estacionou por perto um caminhão cheio de PMs, pelo menos uns vinte, armados até os dentes (...) Fui lá, fiz um discurso, fui embora e os PMs não levantaram um dedo. Depois, uma turma cercou o caminhão, mas os soldados continuaram na deles, impassíveis. Uma coisa impressionante (...) Fiz mais um comício por ali mesmo e fomos encontrar o Marquinhos (observação: Marcos Medeiros, do PCBR) e o pessoal que estava com ele em frente ao antigo Jornal do Brasil, perto da Presidente Vargas. Montamos outra barricada e, como dessa vez não havia trânsito, a polícia chegou logo, disposta a dar porrada. Era aquela polícia terrível, que marchava em passo de ganso exibindo bombas, cassetetes e uns escudos enormes.

Quando chegaram a uns 50 metros, o Marquinhos se levantou e disse: ‘E agora, Vladimir, o que é que a gente faz?’ Eu respondi: ‘Pau neles!’ E pela primeira vez partimos para cima da polícia. Os soldados saíram correndo com os estudantes atrás. Quando tomamos conta da Uruguaiana eles decidiram mandar os cavalos. Continuamos com as pedras e conseguimos derrubar muitos animais com as nossas rolhas e bolas de gude espalhadas pelo chão. Há uma foto muito significativa desse momento: um menino – secundarista, imagino – sorrindo em cima de um cavalo, com um capacete da PM na cabeça. Logo depois tocaram fogo em um caminhão do Exército. Ninguém sabe quem foi, mas o acusado foi o Jean Marc (...) Quando vimos a PE chegando, achamos prudente bater em retirada (...) O Jean Marc pegou um ônibus e foi preso. Um cabo o reconheceu e disse que ele tinha incendiado o tal caminhão (...). Entrei formalmente na clandestinidade nessa noite; ao voltar para casa, vi que a polícia já estava lá. Em geral só ficavam atrás de mim, observando, mas naquela quarta-feira queriam mesmo me prender (...).A partir de 2 de agosto eu já estava preso”.

José Dirceu: “Nessa época eu já estava começando a ter problemas. Já era semi-clandestino, andava armado, com segurança, e dormia em vários locais, isso porque estava sendo processado com uma acusação ridícula, tipo ‘organizar entidade ilegal’ (a UEE), e desde 1967 já havia ordem de prisão contra mim; obviamente não tinha me apresentado para prestar depoimento, eu não sou ingênuo. Passei a ser um elemento procurado. Mas a clandestinidade não me assustava (...) A tragédia da esquerda nas faculdades foi que as organizações político-militares estimulavam os dirigentes estudantis a entrarem para a clandestinidade (...) Muita gente foi trabalhar em outros lugares, mudou de cidade, de faculdade e, às vezes, de nome (...)Quando os integrantes da Dissidência de São Paulo acabaram aderindo à ALN, outros à VPR, decidi não entrar para nenhuma das duas organizações porque nunca fui foquista. Participei da luta armada, apoiei, achava que era necessária, mas na verdade nunca acreditei nela como forma de luta; eu me inclinava mais para uma resistência armada. Porém nunca questionei isso, nunca debati; quer dizer, me acovardei nessa discussão”.

Prossegue José Dirceu“No dia 24 de junho fizemos uma grande manifestação no centro. Saíamos da Praça da República e seguimos para o Largo do Arouche. Lá, usando coquetéis molotov, pedras e paus, o pessoal quebrou a porta de vidro e várias janelas da Secretaria de Educação e da Academia Paulista de Letras. Na esquina da Av. Ipiranga com S. João, arrancaram um poste para, com ele, tentar arrombar as portas do First National City Bank of New York (...). Um grupo começou a gritar ‘Estadão, Estadão’, e imediatamente nos dirigimos pela Av. S. Luiz rumo ao jornal, onde fomos recebidos a tiros por franco-atiradores postados dentro do prédio (...). Gritando e correndo, vários manifestantes responderam com tiros e coquetéis molotov contra a fachada do jornal, quebraram vários vidros e puseram fogo no andaime que estava na portaria. Eu dei início à passeata fazendo um discurso pelo megafone (...). Na esquina seguinte vimos um Aero-Willys chapa branca preso no engarrafamento. Aos gritos de ‘quebra, põe fogo’, o carro foi cercado por um grupo e seu motorista expulso. Os estudantes quebraram os vidros e depois viraram o carro e o incendiaram, enquanto a polícia ficava observando de longe (...). Não foi por acaso que, mais tarde, a ditadura destruiu e pôs fogo na Faculdade de Filosofia da rua Maria Antonia, fechou o prédio da FAU e transformou a Faculdade de Economia numa dependência da justiça militar.

Aqueles lugares representavam o espírito libertário e criativo (...). O que era o CRUSP? Era a zona livre, a guerrilha, a luta armada. Por isso foi ocupado por nós e se tornou um bastião (...). As escolas tinham virado repúblicas livres, onde se fazia política, arte e cultura – e até se estudava. Lá comíamos e bebíamos, fazíamos reuniões, eventos, conferências; lá dormíamos e namorávamos. Milhares de estudantes circulavam pelos pátios e corredores, era uma verdadeira feira, em ebulição permanente. Festivais, aulas paralelas, seminários, exposições, música, cineclube... Imagine o que era a universidade ocupada em 1968. Parecia que estávamos diante do embrião de uma sociedade diferente. Aquilo era uma festa (...). Tive uma grande paixão no Movimento Estudantil: a Iara Iavelberg, que mais tarde foi companheira do Lamarca (...) Iara era presidente de um Diretório Acadêmico e militante da POLOP (observação: Política Operária, uma das organizações que deu origem à VPR), que nessa época estava em pé de guerra com a Dissidência”.

Vladimir: “O confronto da sexta-feira no Rio foi o primeiro em que morreu um policial: alguém jogou do alto de um edifício uma máquina de escrever em cima dele (observação: sargento da PM Nelson de Barros, em 21 de junho de 1968). Os jornais da época disseram que 55 PMs foram hospitalizados (...). Entre os civis morreu muita gente; não sei precisar quantos, mas na época dizíamos que tinham sido no mínimo dez. Depois calcularam 17, enquanto a polícia só reconhecia um (...). Dizem que a ditadura comprou o silêncio das famílias, pagou os enterros e ainda deu algum dinheiro a eles (...). Quem restabeleceu a ordem, já de noite, foi a Polícia do Exército (...). No intervalo entre a sexta-feira e a quarta seguinte, dia da passeata dos Cem Mil, entrei numa clandestinidade rigorosa e não pus o nariz na rua durante vários dias (...). Não sou a pessoa mais indicada para descrever o ambiente da cidade do Rio de Janeiro naqueles dias que antecederam a passeata, mas sei que reinava uma tensão enorme. De repente, na segunda-feira à noite o Negrão de Lima surpreendeu todo mundo anunciando na televisão que iria permitir a passeata e disse mais ou menos o seguinte: ‘Por favor, pelo amor de Deus, não toquem fogo no Rio de Janeiro. Eu decidi permitir a passeata para evitar o confronto, mas não depredem nossa cidade’ (...). A passeata reuniu muitos padres e freiras (...).

Desta vez muito mais artistas e intelectuais, não faltava ninguém das figuras mais conhecidas (...). A passeata virou um passeio (...). Não houve a menor confusão. Mais tarde a Polícia do Exército se gabou de ter feito a minha segurança; quando eu estava na cadeia os caras passaram um vídeo mostrando quantos deles havia em torno de mim. Cansei de ver o tal vídeo (...). Durante a passeata eu já sabia que ali estava cheio de policiais; aliás, quase todos naquela minha segurança eram desconhecidos...eu ia fazer o que? (...). Na hora de ir embora, pegamos o fusca do Luiz Tenório, que hoje é presidente do Sindicato dos Médicos, e seguimos direto para Botafogo e o Tenório me deixou ali, numa esquina qualquer – para não saber onde eu iria dormir – e continuou a viagem. Duas horas depois ele estava em cana”.

José Dirceu: “Resolvemos desocupar a Maria Antonia e ir para o CRUSP. Não podíamos travar uma guerra ali, pois isso seria o pretexto que precisavam para invadir todas as outras faculdades e liquidar o Movimento Estudantil. Os tempos já eram outros. Assim que saímos, a polícia ocupou as duas escolas, prendeu vários estudantes e logo depois o prédio da Filosofia foi incendiado pelo CCC (Comando de Caça aos Comunistas). Anos depois, a “filósofa” Marilena Chauí, professora universitária (!) recorda esse dia, em texto publicado na Folha de São Paulo:

3 de outubro de 1968. Ruído de carros pesados, cães a latir, estrépito de botas pelo calçamento, sirenes, gritos, palavras de ordem, comandos.

- Estão vindo! O Exército e a polícia estão chegando!

- Atenção! Cada qual procure um lugar para defender a Faculdade. Rápido, rápido.

- Olhem, olhem! Estão subindo na torre e nos telhados do Mackenzie! O CCC os chamou para lá! Vão metralhar, gente, vão metralhar!

- Estão jogando bombas. Depressa, coquetel molotov aqui, depressa!

- Mas temos poucos. Ninguém pensou que iriam ser necessários.

- Pedras, pessoal, jogar pedras.

- Estão metralhando! Tem um morto! Tem um morto!

- Mataram um estudante!

- Mataram...Fogo! A Maria Antonia está pegando fogo. Água, pessoal, água, pelo amor de Deus!

- Fogo, fogo! A Faculdade pegou fogo! Todo mundo tem que sair . Não pode haver mais mortos.

Sob gritos furiosos e fogo cerradoincêndio de um lado, metralhadoras e bombas, de outro – a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras é esvaziada. Seus ocupantes, submetidos ao corredor polonês, são lançados em camburões rumo ao DOI-CODI ao DOPS e à OBAN’”.

Nesse texto, a dona Marilena, que mais tarde iria se converter na musa do PT, mentiu: o DOI-CODI foi constituído somente em 1971! Hoje, depois do mar de lama que envolve o seu partido e o seu governo, ela não escreve e não fala. Prefere manter-se em silêncio.... “O silêncio dos intelectuais”.

A bomba no Aeroporto dos Guararapes, em 15 de julho de 1966, que causou a morte de duas pessoas e ferimentos em outras; o atentado ao Quartel-General do II Exército, em 26 de junho de 1968, em São Paulo, que causou a morte do soldado Mario Kosel Filho; e o assassinato do capitão do Exército dos EUA Charles Rodney Chandler, em São Paulo, em 12 de outubro de 1968, na frente de seus filhos sob a acusação de ser um agente da CIA, bem como os fatos acima narrados por duas lideranças estudantis da época, podem ser considerados as sementes do Ato Institucional nº 5 de 13 de dezembro de 1968.

Embora todos esses fatos possam ser encontrados em livros, jornais e revistas da época – os próprios autores consultaram O Estado de São Paulo, O Globo, Correio da Manhã, Jornal do Brasil, Jornal dos Sports, Jornal da Tarde, Folha de São Paulo, revista Realidade, Revistas da Civilização BrasileiralivrosO Poder Jovem, de Artur José Poerner, A Paixão de uma Utopia,de Daniel Aarão Reis Filho e Pedro Moraes, O Ano que não Terminou, de Zuenir Ventura ainda hoje, 50 anos depois, aparecem aqueles que insistem em reescrever a História do Brasil, como o jornalista Hélio Contreras.

Segundo a coluna do jornalista Joaquim Ferreira dos Santos - O Globo de 27 de agosto de 2005 -, seria lançado, proximamente, o livro “AI-5-Repressão no Brasil”, no qual o jornalista Hélio Contreras atribui ao brigadeiro João Paulo Moreira Burnier, um ilustre militar, já falecido, “a culpa do AI-5”. Uma irresponsabilidade sem tamanho desse jornalista, uma vez que todos sabem que o AI-5 foi discutido e aprovado, por unanimidade, em uma reunião do presidente Costa e Silva com todos os seus ministros.

Dessa reunião, como é óbvio, o brigadeiro Burnier não participou e nem poderia ter participado e, tampouco, exercia influência sobre qualquer ministro de então. Daí, a se considerar que essa publicação não passou de mais uma excrescência oportunista, como tantas outras que vêm sendo impingidas ao povo brasileiro e, principalmente, às pessoas que não vivenciaram aqueles anos de chumbo.

Por: Carlos I. S. Azambuja é Historiador – publicado no Blog Alerta Total