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sábado, 16 de setembro de 2023

Comunistas farejam fraqueza e avançam - Rodrigo Constantino

VOZES - Gazeta do Povo

Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.

Que Joe Biden está senil é algo que nem a CNN consegue mais esconder. O presidente mal sabe onde está, que dia é ou o que está falando.  
Em visita ao Vietnã, para demonstrar força e conter uma China mais e mais agressiva, Biden precisou ser interrompido por sua equipe no meio de uma fala sem sentido, e colocaram uma música lounge para encerrar a entrevista. Constrangedor.
 
Isso tem acontecido com mais frequência. Para quem quer controlar o presidente feito uma marionete, esse estado mental é útil. 
Mas qual a mensagem que isso transmite para Xi Jiping?
Biden ainda disse com todas as letras que não pretende conter a China, e que a maior ameaça ao mundo não é guerra, mas o "aquecimento global", um discurso feito para consumo interno contra seus adversários "negacionistas", já que a China é o maior emissor de CO2 e Biden não fala grosso com o ditador comunista.
 
Os comunistas temem líderes como Ronald Reagan, o cowboy "imbecil" e "beligerante" que definia com clareza moral sua missão: lutar contra o mal e vencer. 
Não eram só palavras vazias e retórica, mas sim ações: o maior investimento bélico no programa Guerra nas Estrelas. Resultado: queda do muro de Berlim e do Império Soviético.
 
Hoje a China comunista, com dívida crescente, bomba demográfica e desemprego de jovens, adota uma diplomacia hostil ao mundo livre, e observa a reação americana. 
Sentindo fraqueza, avança. Comunistas são como tubarões: ao farejar sangue na água, partem para cima, com uma fome incontrolável. 
A única coisa capaz de frear o comunismo é a ameaça crível de uso da força, de uma retaliação devastadora. Biden oferece isso, por acaso?
 
Descemos para o Brasil e vemos que a ousadia dos nossos comunistas só cresce com a covardia dos militares.  
Agora a Polícia Federal cumpre mandados contra ex-integrantes do Gabinete de Intervenção Federal no Rio, e Braga Netto tem seu sigilo telefônico quebrado.
Vai sobrar algum militar próximo de Bolsonaro sem o sigilo quebrado por algum pretexto qualquer? 
Temos de admitir: são ousados os comunas e conseguem farejar fraqueza do outro lado.
Quem vai parar nossos comunistas, bancados pela China? [e apoiados pelo atual governo que conta com a cumplicidade de todo establishment notoriamente de esquerda.]


Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 


quarta-feira, 5 de julho de 2023

Gente, é sério: novo filme da Barbie endossou o imperialismo chinês

Um mapa não é apenas um mapa e versão mostrada no cinema foi proibida no Vietnã por causa de grave disputa por águas territoriais com a China 

Margot Robbie na première de 'Barbie', em Seul

Loira brilhante: a Barbie de Margot Robbie é feminista e pode entender de geoestratégia (Han Myung-Gu/WireImage/Getty Images)

Leia mais em: https://veja.abril.com.br/coluna/mundialista/gente-e-serio-novo-filme-da-barbie-endossou-o-imperialismo-chines/
 A loira e linda Barbie já foi acusada de tudo: promover padrões corporais inalcançáveis (teria 50 centímetros de cintura e 71 de quadris se fosse transposta para um corpo humano real), dar um mau exemplo para as meninas de mulher cabeça de vento, ser uma “boneca judia” (por causa da sua criadora e fundadora da Mattel, Ruth Mosko Handler), instaurar uma insuportável ditadura do cor-de-rosa e, claro, disseminar o imperialismo americano.

Isso apenas torna mais irônico o motivo que o Vietnã alegou para proibir o novo filme da Barbie: mostra um mapa que endossa as pretensões imperialistas da China.

E é verdade. O mapa “dos nove pontos” mostra uma linha pontilhada que faz uma espécie de letra U no Mar do Sul da China, uma das zonas estratégicas onde mais se espera um futuro conflito por causa das pretensões expansionistas chinesas que avançam sobre águas territoriais de países como Vietnã, Filipinas, Malásia e Taiwan.

A linha dos nove pontos revela uma intenção, não uma realidade, embora navios de guerra dos países envolvidos enfrentem episódios regulares de situações agressivas com a China e até ilhas artificiais, com pistas de pouso e depósitos de armamentos, tenham sido construídas para bancar a expansão de caráter imperialista.
 A China também rejeitou uma arbitragem internacional que favorecia os países cujas águas territoriais aparecem na linha dos nove pontos.
 
A pretensão ao controle total do Mar do Sul da China, que só não acontece por causa da presença da Marinha americana, cuja expulsão é o objetivo estratégico número 1 da China, é antiga e precede a vitória do comunismo.  
Quando as forças maoistas venceram a guerra civil e tomaram o poder, em 1948, endossaram o mapa imperialista.
 
A transformação extraordinária da China num gigante econômico, depois que aceitou liberar o poder das forças do mercado, e potência militar que aspira a hegemonia faz com que todos os especialistas prognostiquem algum tipo de confronto com os Estados Unidos no Mar do Sul da China em um futuro não muito distante
Varrer os americanos da Ásia seria uma vitória tectônica para os chineses.

Curiosamente, o país que mais se opõe ao imperialismo chinês é o Vietnã, uma espécie de versão em escala menor do gigantesco vizinho: manteve o regime comunista quando em todos os outros países o sistema desmoronava e promoveu a abertura para uma economia mista “socialista-mercado” — que permitiu um enorme crescimento econômico. Recorrer à censura de um filme anódino também é outra característica em comum com o adversário trinta vezes maior.

Em vários sentidos, o Vietnã funciona como uma “nova China”, atraindo empresas de todo o mundo com mão de obra ainda competitiva e se firmando como uma alternativa mais confiável para o fornecimento de eletrônicos, vestuário e tênis, principalmente depois que a pandemia expôs o estado extremo de sinodependência do mundo inteiro. Na pós-pandemia, o país teve um crescimento econômico de padrão chinês: 8% no ano passado e meta de 6% este ano.

China e Vietnã são rivais tradicionais e travaram guerras e conflitos menores desde 1979 até perto dos anos noventa. 
A China chegou a invadir o país para segurar o próprio expansionismo vietnamita, que havia entrado no Camboja e derrubado o mais terrível regime comunista da história, o Khmer Vermelho.

O regime chinês temia o fortalecimento, em sua fronteira sul, de países apoiados pela União Soviética, com quem havia rompido desde os anos cinquenta. O Khmer Vermelho de Pol Pot tinha o apoio da China e o Vietnã comunista era um aliado soviético, recebendo grande quantidade de armamentos para bancar, primeiro, a guerra que levou à retirada americana e à queda da parte sul do país, e depois a intervenção no Camboja e a rápida conflagração com a China.

Nesse xadrez geoestratégico, os Estados Unidos penderam para o lado da China – ou pelo menos assim concluiu Deng Xiaoping na visita que fez ao país, na qual teria dito a Jimmy Carter: “A criancinha está ficando levada, está na hora de apanhar”. Em seguida, mandou invadir o Vietnã.

Apesar da surpresa e da concentração de tropas no Camboja, os vietnamitas deram uma tremenda canseira nos chineses. Um mês depois, a China decretou que os objetivos haviam sido alcançados e retirou as tropas. Detalhe fundamental: o Vietnã continuou no Camboja até a derrota total do Khmer Vermelho, um regime tão radical que levou os princípios maoístas a absurdos como expulsar toda a população das cidades. Entre 1,5 e 2 milhões de pessoas morreram de bala, machadada, fome ou exaustão no trabalho agrícola escravo.  Outros filmes e séries já foram censurados no Vietnã por mostrar a ilegal linha pontilhada, inclusive o que se chamou, no Brasil, curiosamente, de Unchartered: Fora do Mapa.

É claro que não existe um propósito sinistro de apoiar a China. Ocorre que os mapas são produzidos adivinhem onde. Até os passaportes chineses têm a linha dos nove traços. A nova Barbie, protagonizada por Margot Robbie um papel ideal, considerando-se que ela é um dos seres mais belos que já andaram pela Terra, mas não ganha prêmios de expressividade —, caiu de paraquedas cor-de-rosa nesse emaranhado geoestratégico.

Mas a tensão com a China não é tão desconhecida assim em Hollywood. 
O Pentágono anunciou na semana passada que não vai mais “colaborar com produções que tenham seguido ou provavelmente venham a seguir demandas do governo da República Popular da China para censurar o conteúdo de um projeto de maneira a promover o interesse nacional” chinês.

Porta-aviões e jatos moderníssimos que aparecem em produções de Hollywood promovem a imagem das Forças Armadas americanas, mas agora os produtores precisam provar que não estão, pelas costas, cultivando o mercado chinês com concessões à censura.   

O caso mais conhecido foi o da bandeira de Taiwan, entre outros pavilhões asiáticos, que aparecia nas costas da jaqueta de couro usada por Tom Cruise na sua volta como Maverick, em Top Gun. O escudo chegou a ser apagado, mas voltou depois que ficou claro que um heróico piloto americano não poderia ceder a exigências da censura chinesa.

Tadinha da Barbie, com tantas coisas para se preocupar em suas novas aventuras que a levam, com Ken, ao mundo real, agora precisa administrar esse outro tanto de problemas. E ainda passar pelo obrigatório “tratamento feminista” dado pela diretora Greta Gerwig.

Será que a Barbie feminista resolve o problema do Mar do Sul da China?

Vilma Gryzinski, Mundialista - Blog em VEJA


sábado, 4 de junho de 2022

Brasil no lugar da China? - Carlos Alberto Sardenberg

Brasil poderia ocupar o lugar da China?

Aqui vai só um exemplo de que como foi uma tortura o tipo de confinamento imposto aos moradores de Xangai. Ou, de como a política de covid zero faz com que muita gente grande reveja a disposição de investir na China.

História contada de fonte segura: numa fábrica de mais de 5 mil funcionários aparece um caso de Covid. No mesmo dia, todos os empregados são convocados a comparecer na empresa. E todos ficam ali confinados por sete dias. Isso mesmo, todo mundo na fábrica, de chefões a operários. Passados os sete dias, e não se verificando nenhum outro caso de Covid, todos são dispensados, mas com a ordem de permanecer em casa por sete semanas.

O lockdown de sete semanas foi imposto a toda a população de Xangai. Imposto não é modo de expressão. 
Repararam nas imagens, da semana passada, de moradores festejando a suspensão do confinamento? 
Viram como se animavam no trabalho de levantar as barricadas?

Isso mesmo – para obrigar as pessoas a permanecer em casa, foram erguidas barricadas em boa parte da cidade, bloqueando residências e prédios comerciais. Mesmo quem se dispusesse a enfrentar os policiais, não conseguiria sair. A política de Covid zero tem sido debatida em um duplo viés. De um lado, trata-se de saber sua eficiência em combater a transmissão do vírus. Na maioria dos outros países, o lockdown, mais ou menos restrito, foi uma prática auxiliar. Funcionou como um modo de ganhar tempo na busca de medicamentos e vacinas. Encontradas as vacinas, o lockdown foi relaxado na medida em que se avançava na imunização.

Isso deu certo. Tanto que agora, com o surgimento de novas variantes, menos graves, não foi necessário impor confinamentos. As populações estão vacinadas – em boa parte.

Daí, pergunta-se: e por que a China continua fazendo lockdown tão rigoroso? Caiu em Xangai, mas partes dessa cidade e outras menores continuam sob restrição. Em Xangai, essa medida se aplica em áreas residenciais ainda sob “médio ou alto risco” de contaminação.

A China criou vacinas, mas não parece que a maioria da população esteja imunizada. E dizemos “não parece” porque os dados do governo não são confiáveis. É certo, de todo modo, que milhões de idosos não foram vacinados.  
É certo também que a China não recorreu às vacinas “ocidentais”, mais modernas, e que poderiam oferecer uma eficiente combinação de imunização.

O que leva ao segundo ponto: essa política só é possível numa baita ditadura. E, de fato, o presidente Xi Jin Ping comanda pessoalmente o combate ao que ele chama de “vírus do diabo”. Para um materialista oficial colocar a culpa no demônio – é curioso.

Xi Jin Ping está no seu segundo mandato de cinco anos e se preparando para, neste ano, emplacar o terceiro. Isso rompe com a tradição de limitar a presidência a dois mandatos. Ele conseguirá fazer isso? É quase certo, pois o líder assumiu o comando do Partido Comunista e das Forças Armadas, e promoveu um expurgo nos quadros políticos e administrativos.

Manda e desmanda. Muito mais que os últimos presidentes. E manda também na economia que, convém registrar, é movida a capitais privados, nacionais e estrangeiros. Fazia tempo que as empresas, locais e internacionais, não sofriam tantas restrições como as aplicadas por Xi Jin Ping.

Resultado da falta de segurança, um exemplo de peso: a Apple está se preparando para retirar da China boa parte de sua produção. Pode levar iPad para o Vietnã e iPhones para a India.

É um sinal de que pouco a pouco a China vai perdendo sua condição de fábrica do mundo, paraíso das multinacionais. E para onde podem ir esses investimentos? Não para a Rússia, que era outro mercado emergente muito atraente, [será que para o capitalismo uma operação militar visando recuperar territórios é uma inconveniência??? desde que garanta a provisoriedade privada.] até a invasão da Ucrânia. Com a facilidade, agora perdida, de estar na Europa.

Os investidores precisam de um país grande, de economia medianamente desenvolvida, com organização administrativa e política. De preferência, uma democracia à ocidental, com regras seguras, garantidas em lei.

Pensaram no Brasil? Pois é. Pode, pode ser. Depende só daqui. [em nossa opinião um dos complicadores é a leniência da legislação brasileira, que não garante direitos nem Segurança Jurídica, por permitir interferências indevidas, especialmente do Poder Judiciário - certas situações surgidas na China e que estão espantando investidores, podem ocorrer no Brasil, bastando para tanto uma decisão monocrática de um ministro do Supremo. 
Outra agravante é que as condenações no Brasil, ainda que confirmadas em três instâncias e por vários juízes podem ser revistas em decisões monocráticas - quem garante ao investidor estrangeiro que um individuo condenado a uma pena severa, não pode, transcorrido alguns  alguns meses,  ser candidato ao cargo mais elevado do Brasil? 
Como bem diz o Sardenberg, depende só do Brasil - o que entendemos mudar sua legislação e propiciando SEGURANÇA JURÍDICA.]

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista  

 

 Coluna publicada em O Globo - Economia 4 de junho de 2022

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Falar em garimpo é falar em descoberta de riquezas

Falar em garimpo, tão hostilizado por certos intelectuais da cidade, é falar em descoberta de riqueza, em soberania, em economia, em questão social

Antes de embarcar para Moscou, o presidente assinou decreto que instituiu um programa de apoio ao garimpo. No mesmo dia, recebi da região do Cripuri, que é um afluente do Tapajós, imagens de um helicóptero atacando com foguetes incendiários as instalações de um garimpo. Eram imagens que fazem lembrar napalm no Vietnã.

Isso no mesmo dia do anúncio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Mineração Artesanal e em Pequena Escala. Um nome comprido para não confundir com atividade mineradora industrial. O objetivo do programa é tirar o garimpo da ilegalidade e, com isso, controlar as áreas, fiscalizar de forma transparente o meio ambiente, legalizar o comércio do ouro, prestar assistência de saúde e educação às famílias de garimpeiros. O decreto regulamenta o que ficou fora da lei de 1989, que tratou do assunto.

Já andei em garimpo, onde só se chega de avião em pista improvisada. A vida por lá é duríssima, e arriscados os resultados. Os ambientalistas e as forças policiais vêm batendo nos garimpeiros. [a maior parte dos ambientalistas e suas ONGs defendem,servem a interesses estrangeiros - são uns vendidos.] 
No entanto, a História mostra que devemos a eles a expansão do nosso território. A eles, aos bandeirantes e às patas do boi. 
Os Estados Unidos se tornaram potência por chegarem à costa do Pacífico por causa da corrida do ouro, a ponto de tirar a Califórnia dos mexicanos. E ficaram com poder no Atlântico e no Pacífico
No Brasil, além do boi, foi o ouro das Minas Gerais, as esmeraldas de Goiás, os bandeirantes que entraram por São Paulo e para o Sul, até as Missões jesuíticas espanholas
Os garimpeiros brasileiros, há séculos, marcam a nossa soberania na Amazônia.
 
Falar em garimpo, tão hostilizado por certos intelectuais da cidade, é falar em descoberta de riqueza, em soberania, em economia, em questão social. Em geral, são nordestinos, para realizar sonhos. Gente boa, trabalhadora, cumpridora de palavra
Enquanto fechamos os olhos para uma realidade como alerta o vice -presidente Mourão —, índios vendem diamantes via Bolívia, por exemplo. O ex-ministro Aldo Rebelo, que já foi do PCdoB, afirma que algumas das maiores jazidas do mundo em diamantes estão nas margens do rio Roosevelt, reserva dos Cintas-Largas, em Rondônia
E o Brasil nada ganha com isso. Todo mundo sabe que os garimpeiros que estão em reservas já fizeram sociedade com os indígenas, mas legalizar depende de lei. Enquanto isso, as pedras brasileiras são lapidadas nos Países Baixos.

Ironicamente, enquanto era anunciado o decreto, no mesmo dia garimpeiros eram atacados pelo fogo vindo do céu, destruindo suas casas, máquinas e sonhos, como se o Brasil oficial estivesse em guerra contra eles. O ataque não foi sequer em área indígena, mas na região conhecida como Galdeano. Uma reedição do que aconteceu com 61 balsas queimadas no Rio Madeira, onde os garimpeiros moravam com suas famílias. Isso no dia do anúncio do programa de apoio ao garimpo, confirmando a Constituição, que no art. 174, §3º e 4º, determina favorecer a organização da atividade garimpeira em cooperativas. Ficou estranha a violenta ofensiva no mesmo dia do anúncio do programa. Seria para queimá-lo?

Alexandre Garcia, colunista - Correio Braziliense


quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Um dos piores sintomas do antibolsonarismo psicótico: a ignorância arrogante - Gazeta do Povo

Paulo Polzonoff Jr.

Em mais um episódio dessa tragicomédia chamada “antibolsonarismo psicótico”, o Correio Braziliense anunciou com estrondo que o presidente foi a um concerto da FAB cujo repertório incluía uma peça de Richard Wagner – o compositor preferido de Hitler. A jornalista que escreveu essa pérola não hesitou em sugerir que Bolsonaro teria uma quedinha pelas ideias do Terceiro Reich só porque estava escutando Wagner.

Não quero ser cínico e, aqui, partir do pressuposto de que a jornalista e seu editor (supondo que a matéria tenha passado por uma cadeia hierárquica dentro jornal) tenham produzido e divulgado essa notícia com o intuito apenas de chamar a atenção para o veículo e, assim, gerar engajamento e publicidade. Tampouco apostaria na hipótese da maldade pura e simples.

O antibolsonarismo psicótico é, em grande medida, fruto de uma ignorância que se traveste de esperteza e, dependendo das conjunções usadas, se fantasia até de inteligência porque precisa desfilar na passarela da virtude. Isto é, nas redes sociais. Por trás dessas vestes, contudo, o que há é apenas ignorância, uma ignorância tão profunda que não se enxerga e, em não se enxergando, não sente que precisa ser superada.

Wagner era um pulha. Um ser humano abjeto. Repulsivo mesmo. Os problemas de caráter de Wagner, a julgar pelo que nos dizem os biógrafos, eram tantos e tamanhos que o antissemitismo, pecado dos pecados no mundo pós-Holocausto, era apenas mais um. No entanto, e causando uma confusão profunda em quem tem fé, Wagner era dotado de um talento musical extraordinário. Quem não se perguntar como pôde Deus dotar um homem tão vil de um talento tão nobre não é humano.

Se, pois, Wagner entrou para a história e é simbolicamente imortal, não foi por causa de seu antissemitismo. Foi por causa de sua música. Uma música intensa, sedimentada na ideia de heroísmo e que bebeu muito da mitologia germânica e escandinava. Daí, aliás, o interesse de Hitler pelo compositor. Hitler, uma mente igualmente degenerada, provavelmente era incapaz de ligar dó com si. O que o fascinava em Wagner era o apelo psicopolítico da megalomania. Hitler usou Wagner para seduzir as massas e fazer com que elas acreditassem no destino grandioso do Reich. Não que a música de Wagner tenha sido composta com essa intenção, claro.

De acordo com Alex Ross, crítico da New Yorker e autor de “Wagnerism: Art and Politics in the Shadow of Music” (Wagnerismo: arte e política à sombra da música), antes de virar trilha sonora do nazismo Wagner foi extremamente influente entre os representantes daquela que, ironia das ironias, Hitler chamava de “arte degenerada”. Cézanne, Buñuel e Thomas Mann (cujos livros queimavam nas fogueiras nazistas) eram fascinados pela obra de Wagner. Artistas contemporâneos como o escritor Philip K. Dick e o diretor Francis Ford Coppola (quem não se emociona com os helicópteros norte-americanos atacando um vilarejo no Vietnã ao som de “A Cavalgada das Valquírias”?) também foram influenciados pelo poder do wagnerismo.

A genialidade de Wagner é tamanha que muitos judeus, não sem algum tipo de conflito interno, optam por ignorar o antissemitismo do compositor, atendo-se ao que ele tem de divino. Isto é, sua música. O ator inglês Stephen Fry, ele próprio um gênio, em minha humilde opinião, tem um documentário em que fala sobre sua conturbada relação com Wagner. Fry é judeu e, ao longo de “Wagner & Me”, não esconde seu incômodo com o antissemitismo de Wagner. Mas o que fazer se a música é irresistivelmente boa?

O mais deprimente dessa história é que, por uma ignorância arrogante, ao associar Bolsonaro ao nazismo por meio de Richard Wagner a repórter acaba por usar do mesmo expediente que Hitler usou para desumanizar e, posteriormente, tentar exterminar os judeus. Ela cria um “inimigo nacional”o bolsonarismo – que ameaça os “valores puros brasileiros” e que, por isso, precisa de alguma forma ser extirpado. Mas sabe o que é pior? O pior é fazer isso sabendo que, por mais absurda que seja a ideia, ela encontrará aplausos.

Paulo Polzonoff Jr, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


sexta-feira, 31 de julho de 2020

Julgamento - STF precisa decidir se mantém santuário para bandidos ou aplica a lei

Há um tempo, o ministro Edson Fachin atendeu ao pedido do PSB e concedeu uma liminar proibindo a polícia de entrar nas comunidades do Rio de Janeiro durante a pandemia da Covid-19. Agora, o Supremo Tribunal Federal está votando se mantém essa liminar ou não. Os três primeiros votos foram a favor: Fachin, Ricardo Lewandowski e Rosa Weber.

Policia do Rio de Janeiro está impedida de entrar em comunidades dominadas por bandidos por liminar do STF enquanto durar a pandemia.
Policia do Rio de Janeiro está impedida de entrar em comunidades dominadas por bandidos por liminar do STF enquanto durar a pandemia.| Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

O primeiro voto contra aconteceu na terça-feira (28) e foi do ministro Alexandre de Moraes, que foi ministro da Justiça. Para ele, se a liminar continuar em vigor, a segurança da população das comunidades será retirada. E completou afirmando que isso não é atribuição do STF.
Com essa liminar, a Corte estabelece que o fator de segurança é quem comete crimes e não a polícia, ou seja, que se a polícia entrar é um fator de insegurança, um absurdo. E que essas favelas são territórios soberanos de bandidos, fora da lei nacional. Em tempos de guerra do Vietnã, a gente costumava chamar isso de santuário.

Crime não compensa
Está sendo leiloado o lote de 15 diamantes e cinco barras de ouro 24 quilates do Ali Babá carioca, o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral. O dinheiro arrecadado vai para o Ministério da Justiça e o Fundo Antidrogas.
Essa era a riqueza que o ex-governador podia guardar em casa. Cabral foi condenado, pela Lava Jato, a 281 anos de prisão por corrupção. Há muitos casos em que o crime não compensa.

Hidroxicloroquina
A médica nigeriana Stella Immanuel, que mora e trabalha em Houston (EUA), fez um desabafo recentemente sobre o uso da hidroxicloroquina. Muitos de vocês já devem ter visto o vídeo. Stella disse que já salvou 350 pacientes que tinham coronavírus, inclusive pessoas com diabetes, pressão alta, asma e idosos. Afirmou que é um absurdo pessoas morrerem de Covid-19.
Para ela, o tratamento com hidroxicloroquina, zinco e azitromicina deve ser usado. Stella afirma que os médicos que falam que ainda não há provas consistentes de que o uso desses medicamentos é eficaz não trataram ninguém com o vírus.

A médica diz que essa é a prova. Lá na Suíça também há uma prova: quando o tratamento com a hidroxicloroquina foi suspenso, a quantidade de mortes por milhão aumentou e quando o uso foi retomado, as mortes caíram novamente.

Regime de terror
Novamente um decreto municipal passou por cima dos direitos constitucionais. Dessa vez aconteceu em Balneário Camboriú (SC). Decretos municipais estão permitindo que a polícia entre na casa de pessoas sem mandado judicial.
Isso é um regime de terror. Digo isso porque nesta terça-feira (28) completou 236 anos que Maximilien de Robespierre, o líder do regime do terror, foi guilhotinado em Paris durante a Revolução Francesa.

Sem foro privilegiado
A Câmara está reclamando ao STF que a polícia não pode fazer busca e  apreensão nos gabinetes dos deputados. Só que algumas operações não são referentes ao período de mandato do parlamentar.
Quando uma investigação se refere a um fato anterior ao mandato, um juiz de primeira instância pode determinar a busca e apreensão porque o caso não tem mais foro privilegiado. O próprio Supremo decidiu isso.

Alexandre Garcia, jornalista - Gazeta do Povo - Vozes




domingo, 19 de julho de 2020

Estado de choque - Nas entrelinhas

Correio Braziliense


“Guedes propõe solução simples para um problema complexo: mais um imposto. Como sabe que é isso, pode ser para criar um cavalo de batalha, justificar seu fracasso e deixar o cargo”

A ideologia de livre mercado do vienense Friedrich August Von Hayek, paradigma da política liberal conservadora do pós-guerra, foi historicamente associada às doutrinas de choque. Embora originárias das décadas de 1920/1930, suas ideias somente ganhariam força após a II Guerra Mundial. Esse caráter de “choque” foi resultado do envolvimento de Hayke com regime ditatoriais da América Latina, entre os quais a ditadura sanguinária do general Augusto Pinochet, no Chile. A doutrina de choque funciona como uma chantagem, porque as pessoas são persuadidas de que a única opção é aceitar o “mal menor” diante das crises, o que se traduz em soluções selvagens para a desregulamentação da economia e alienação patrimonial, assim como a naturalização do desemprego em massa e da chamada “destruição criativa”.

[Presidente Bolsonaro, Guedes já fracassou - além de ser indeciso é azarado = a pandemia acabou com alguma chance dele acertar.
Agora, fracassado quer levar ao fracasso a sua necessária, para o Brasil e milhões de brasileiros, reeleição.]

Obviamente, Hayke foi um crítico das teorias de John Maynard Keynes, o que dificultou muito sua vida no imediato pós-guerra, por causa do sucesso das políticas keynesianas nos Estados Unidos, depois da Grande Depressão de 1929, e na reconstrução da Europa Ocidental, com o Plano Marshall, no imediato pós-guerra. Entretanto, Hayke ganhou o prêmio Nobel de 1970 e conquistou corações e mentes dos dois principais líderes ocidentais da década seguinte, Ronald Reagan, presidente republicano dos Estados Unidos, e Margareth Thatcher, primeira-ministra conservadora do Reino Unido. Com isso, sua figura controversa deixou de ser associada aos ditadores latino-americanos e passou ser identificada com a bem-sucedida política “neoliberal” desses dois líderes.

Com o colapso da antiga União Soviética e do comunismo no Leste Europeu, o mundo ingressou num período de aparente unipolaridade, até a Rússia de Putin se reerguer como potência energética, a aliança franco-alemã se consolidar na Europa e a China, emergir como novo player da economia mundial, cujo eixo comercial se deslocou do Atlântico para o Pacífico. Simultaneamente, um filósofo norte-americano, John Rawls, que cresceu em Baltimore e havia servido no Pacífico — Nova Guiné, Filipinas e Japão —, durante a II Guerra Mundial, começou a ser muito discutido nos Estados Unidos, por causa de suas teses sobre a justiça, o direito dos povos e a equidade. Formado em Princeton, no começo dos anos 1950, estudou na Universidade de Oxford, no Reino Unido, onde conviveu com outro gigante do liberalismo, Isaiah Berlin.


Equidade
Justiça, equidade e desigualdades eram as principais preocupações de Rawls, que questionava a forma como os princípios de justiça se baseavam. Ele estava preocupado com a relação entre a política e as desigualdades, que ultrapassa os julgamentos morais individuais. Por essa razão, estabeleceu uma correlação entre os princípios da justiça e a forma como os sistemas educacional, sanitário, tributário e eleitoral funcionam. Crítico da guerra do Vietnã e simpático aos movimentos de direitos civis das minorias, concluiu que todos têm as mesmas demandas para as liberdades básicas e que as desigualdades sociais e econômicas deveriam ter um limite razoável, que fossem associados a cargos e posições acessíveis a qualquer um, de forma a que todos pudessem sobreviver com dignidade. Nesse aspecto, o Estado deveria ser garantidor da justiça com equidade. Suas palestras sobre o tema foram reunidas num livro por ele revisado em 2001: Justiça como equidade: uma reformulação (Martins Fontes), muito adotado nas escolas de direito no Brasil. Sua Teoria da Justiça era o livro de cabeceira do presidente Bill Clinton, do Partido Democrata.


O ministro da Economia, Paulo Guedes, é um discípulo da Escola de Chicago, liderada por Milton Friedman, outro prêmio Nobel de Economia, de quem foi aluno e apadrinhado na ida para a equipe econômica do general Pinochet. A essência do seu pensamento se baseia na formação de preços, livre mercado e expectativas racionais dos agentes econômicos. Há um ano, o ministro anuncia uma reforma tributária, sem apresentá-la, enquanto o Congresso discute dois projetos, um no Senado, de autoria do ex-deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), e outro na Câmara, do deputado Baleia Rossi (MDB-SP), com base em estudos do economista Bernard Appy.

Como já vimos, é preciso compatibilizar nosso liberalismo com a justiça social. O que a pandemia escancarou foi o sucateamento da saúde e da educação e a brutal violência e iniquidade social nas favelas, periferias e grotões do país. Entretanto, agora, Guedes anuncia uma proposta de reforma tributária cujo eixo é a criação de imposto com tributação automática de operações digitais, para arrecadar mais de R$ 100 bilhões. Na prática, é uma exumação da antiga CPMF, que foi criada originalmente para viabilizar recursos para a Saúde.

O problema de Guedes é o crescimento da dívida pública por causa da pandemia, que deve elevar o deficit fiscal de R$ 134 bilhões para, aproximadamente, R$ 700 bilhões, o que inviabiliza as políticas de transferência de renda e pode provocar o colapso financeiro do governo federal, se não houver uma reforma administrativa e nova reforma previdenciária no próximo ano. Guedes propõe uma solução simples para um problema complexo: mais um imposto. Política de choque. Como sabe que é isso mesmo, pode ser, também, para criar um cavalo de batalha, justificar seu fracasso e deixar o cargo.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo,jornalista - Correio Braziliense





sábado, 30 de maio de 2020

O dragão chinês mostra as garras – Editorial - O Estado de S. Paulo

Agressão do PC chinês a Hong Kong pede uma resposta enérgica da comunidade internacional 


Enquanto o resto do mundo combate a pandemia, a China realizou sua manobra mais truculenta contra a autonomia de Hong Kong e Taiwan. No dia 20, o Congresso do Povo anunciou planos navais de assalto a uma ilha controlada por Taiwan e aprovou uma moção para uma nova lei de segurança em Hong Kong que, na prática, desmantelará o modelo “um país, dois sistemas”.

Em 1997, quando o Reino Unido passou o controle de Hong Kong à China, um tratado forjado nas Nações Unidas garantiu as liberdades políticas e o estilo de vida da população até 2047. O artigo 23 da “lei básica” de Hong Kong efetivamente previu que o seu Parlamento elaboraria uma legislação proibindo atos de “traição, secessão, sedição ou subversão” contra o governo chinês. Em 2003, as tentativas das autoridades pró-comunistas de impor uma legislação draconiana levaram 500 mil cidadãos de Hong Kong às ruas, no maior protesto em décadas. A ideia foi abandonada, mas desde que Xi Jinping assumiu o comando da China em 2013, ele tem reafirmado a hegemonia do Partido Comunista (PC), reprimindo qualquer tentativa de dissidência na sociedade chinesa, e, agora, o Partido está flexionando seus músculos além das fronteiras.

No ano passado, milhões em Hong Kong protestaram contra um decreto de extradição que iria borrar a linha que separa os dois sistemas. Nas eleições distritais de novembro, a maioria votou a favor dos que apoiaram os protestos. Agora, prevendo a eleição de uma nova maioria democrática para o Conselho Legislativo em setembro, o Congresso chinês, usurpando as prerrogativas do Parlamento de Hong Kong, anunciou uma nova legislação que garantirá ao Ministério de Segurança chinês reprimir direitos de reunião e expressão com a mesma brutalidade com que opera no território chinês. Como disse o Secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, isso equivale a uma “sentença de morte” à autonomia de Hong Kong. Mal saídos da quarentena, milhares de cidadãos de Hong Kong foram às ruas, e as apreensões dos investidores sobre o futuro financeiro de Hong Kong levaram à pior queda em seu mercado de capitais em cinco anos.

Não se trata de uma manobra isolada. Desde abril, a China já abalroou um navio vietnamita em águas sob disputa no Mar do Sul chinês e estabeleceu duas unidades administrativas em ilhas reclamadas pelo Vietnã. Além disso, realizou manobras navais ostensivas próximas a uma sonda petrolífera no litoral da Malásia e reagiu com ameaças à possibilidade de Taiwan ser incluída na Assembleia-Geral da OMS, declarando que a reunificação é “inevitável”. Além da Ásia, o Partido está investindo pesadamente em campanhas de propaganda e desinformação para desmoralizar a resposta dos países ocidentais à pandemia e consolidar uma narrativa triunfalista da atuação chinesa, enquanto seus diplomatas ameaçam retaliar qualquer proposta de investigar a origem do vírus. A Austrália já sofreu sanções comerciais.

Essas agressões pedem uma resposta enérgica da comunidade global, em especial do Reino Unido – que costurou o tratado de autonomia de Hong Kong –, dos EUA e dos investidores internacionais. No ano passado, uma comissão bipartidária do Congresso norte-americano propôs uma legislação para implementar sanções oficiais a qualquer tentativa de impor uma lei de segurança sobre Hong Kong. Os avanços de Pequim devem esquentar a guerra fria que vem sendo buscada com empenho tanto por Xi Jinping como por Donald Trump para agradar às hostes nacionalistas de seus respectivos países.



 O fato é que o mundo precisa se adaptar a esta ameaça crescente. Como disse o cientista político Nick Timothy em artigo no Telegraph, as manobras de Pequim “mostram que a China não é apenas mais um parceiro comercial, um país que se abrirá e se tornará mais liberal quanto mais se expuser aos costumes ocidentais”. Conforme advertiu Chris Patten, o último governante britânico de Hong Kong, “podemos confiar no povo da China, como os valentes médicos que tentaram soar o alarme sobre a camuflagem dos primeiros estágios da pandemia. Mas não podemos confiar no regime de Xi Jinping”.

Editorial -  O Estado de S. Paulo





segunda-feira, 30 de março de 2020

O MISTÉRIO CHINÊS - Percival Puggina



 Durante muitos séculos, embrenhar-se na direção do Oriente era, para os europeus, uma aventura cercada de tantos temores quanto lançar-se ao Oceano Atlântico no prelúdio das Grandes Navegações. Fantasias, lendas, superstições. Caberia a Marco Polo, no último quarto do século XIII promover, meio a contragosto das autoridades venezianas, a aproximação com o gigantesco país asiático.


 Imensa maioria dos leitores destas linhas ainda não era nascida quando a China, em 1949, após longa guerra civil, mergulhou na escuridão, tomada pelas mãos tirânicas de Mao Tsé-Tung (ou Zedong) e do Partido Comunista Chinês. A partir de 1976, com a morte de Mao, o regime girou para uma economia capitalista, sem que o partido abrisse mão da condução totalitária do país. Isso permite, a qualquer juízo prudente, identificar a China como um Estado nacional perigoso. Dele não se esperam virtudes, nem valores de nosso apreço. É bom vender para eles, é bom comprar deles, mas evitem-se as más companhias. O comunismo chinês, embora “podre de rico”, não é menos apaixonado pelo poder, nem menos genocida do que os demais experimentos análogos. Apenas é mais esperto e errou menos, dentro do grande erro que é o comunismo. Hoje transmite sua experiência para o Vietnã e para Cuba: Partido Comunista como partido único, capitalismo e ditadura.

 Por isso, não é demasiado lembrar os séculos durante os quais o Oriente, envolto em mistério, suscitava temores. Nada a ver com os muitos povos que compõem a população chinesa, mas tudo a ver com o poder político local e o poder financeiro internacionalmente exercido pelo regime que controla o país. Se o capitalismo fez bem à economia e vai tirando da pobreza centenas de milhões de chineses, a ditadura do PCC ainda não ouviu falar em liberdade de opinião e transparência das instituições. Ao contrário, divulgar o surgimento do coronavírus transformou num inferno a vida do Dr. Li Wenliang.

Não têm a menor credibilidade os números que o governo chinês divulga sobre os efeitos do novo vírus em sua população. O que há algumas semanas era identificado como teoria da conspiração hoje quase dá para autenticar em cartório. Enquanto os disparates estatísticos chineses berram aos nossos ouvidos e sob nossos olhos, a imprensa brasileira não lhes dedica uma notinha de três linhas e só falam no “grande parceiro comercial do Brasil”. Ou seja, é tudo business? Mas quando Bolsonaro expressa sua angústia com a paralisia das atividades é acusado de estar preocupado com a economia e não com as vidas humanas. E eu devo dormir com um barulho desses?

Ontem (27/03), aqui em Porto Alegre, numa imensa carreata com mais de cinco quilômetros, empresários, autônomos, comerciantes e prestadores de serviços clamavam pela reabertura de seus negócios. Eram pessoas responsáveis, chefes de família, com idosos de sua afeição, unidas para a defesa do direito de proverem seu sustento.

Também ontem, João Dória, “o rebelde” almofadinha, a mais estampada antítese de Bolsonaro, novo queridinho da mídia nacional, após armar um circo contra o presidente da República, conclamou a poderosa indústria paulista a se manter ativa. Business!  A grande imprensa brasileira assumiu-se com partido político de oposição. Dedica-se exclusivamente a criticar o governo, exigindo que ele faça tudo para todos. E que faça já. É a coisa mais parecida com o PT que já se criou no Brasil.


Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Com voto do relator em defesa da repressão dos militares durante a Guerrilha do Araguaia, comissão rejeita 307 pedidos de anistia - O Globo

Leandro Prazeres

Processos rejeitados se referiam a camponeses que viviam na região

Com um voto do relator em defesa da repressão dos militares durante o episódio conhecido como Guerrilha do Araguaia, a Comissão da Anistia rejeitou 307 pedidos de anistia feitos por camponeses que alegavam ter sido alvo de perseguição política durante o período em que o Exército combateu militantes do PCdoB no interior do Pará. Os casos foram julgados em bloco nesta terça-feira. Em seu voto, o relator do caso, Henrique Araújo, defendeu a ação dos militares que resultou na morte de pelo menos 67 guerrilheiros e 31 camponeses.  - A guerrilha do Araguaia não foi movimento legal e nem legítimo de oposição ao regime de 64, mas sim uma luta armada cuja repressão não configura perseguição política, mas defesa do Estado e da sociedade - disse Araújo.
[o PCdo B, sob inspiração e patrocínio de Cuba e China decidiraminstalar na região do Araguaia um foco de guerrilha, que pretendia se espalhar por toda a região criando um enclave comunista na área e que futuramente desenvolveria ações mais intensas em sincronismo com os terroristas instalados na demais regiões do Brasil.
O governo reagiu com a energia necessário e o Exército Brasileiro, cumprindo seu dever, aniquilou o movimento.
Criaram então uma comissão para cuidas de indenizações e pensões para os terroristas. Nos governo FHC de Lula e Dilma foi uma festa - que agora acabou.]

Suspeitos. Moradores do Araguaia são abordados por uma blitz do Exército durante a guerrilha Foto: Guilherme Xavier Neto / Divulgação
Suspeitos. Moradores do Araguaia são abordados por uma blitz do Exército durante a guerrilha Foto: Guilherme Xavier Neto / Divulgação

De acordo com a Comissão Nacional da Verdade (CNV), a Guerrilha do Araguaia foi um movimento de resistência à Ditadura Militar entre os anos de 1967 e 1974. Inspirados na Revolução Cubana e na experiência chinesa, militantes do PCdoB decidiram instalar um foco de guerrilha na selva amazônica. Após alguns anos resistindo a ações do Exército, o grupo foi dizimado pelos militares em 1974.

Os processos rejeitados pela Comissão da Anistia, no entanto, se referiam a camponeses que viviam na região do Araguaia durante o episódio. Segundo os processos, eles foram alvo de perseguição, maus-tratos e tortura durante o período. Muitos alegam que foram presos ilegalmente e utilizados como guias pelos militares na caça aos guerrilheiros.  Além de defender a atuação dos militares durante o episódio e negar que a repressão à guerrilha deva ser encarada como perseguição política, Henrique Araújo alegou falta de provas para  concessão da indenização do Estado. - Desconsiderar qualquer elemento de prova para atestar a condição de anistiado seria o mesmo que reconhecer que toda e qualquer que vivia na região naquela época faria jus à condição de anistiado - argumentou.

Especialistas que atuam na defesa dos direitos humanos argumentam, no entanto, que a produção de provas sobre o episódio é muito difícil porque muitas das prisões foram feitas ilegalmente e porque os militares não teriam deixado registros sobre as torturas praticadas contra os camponeses. [argumento esdrúxulo e até criminoso o dessa turma dos DIREITOS DOS MANOS - por fazer apologia a condenação sem provas = ao argumentar ser a produção de provas muito difícil e não haver registros = na dúvida, se condena os cofres públicos, os cidadãos contribuintes e premia-se os bandidos - por terem ajudado a guerrilha ou por tentativa de objter indenização usando meios fraudulentos.]

Durante a votação, o general Luis Eduardo Rocha Paiva, que é membro da comissão, chegou a negar a existência da Guerrilha do Araguaia e disse que o governo acertou ao reprimir o que classificou como "foco" de guerrilha. Segundo ele, "foco de guerrilha tem que ser eliminado na raiz". - Não houve guerrilha. O que houve foi um foco de guerrilha. Uma guerrilha teria de ser reconhecida pelo governo, o que não foi, como ocorreu na Colômbia e no Vietnã. O governo não iria reconhecer essa guerrilha como uma contestação do governo brasileiro. E um foco de guerrilha tem que ser eliminado na raiz.  - disse o general.

Para a advogada de um grupo de camponeses que pleiteava indenização, Irene Gomes, a decisão da comissão cria um "caos histórico".  Essa cisão cria um caos histórico. Há centenas de pessoas que foram afetadas pelas ações dos militares na região e que não tiveram e não terão seus direitos reconhecidos. Os camponeses são tão simples que, muitos, não entendem o impacto disso para a história. Mas é uma situação triste - afirmou a advogada. [calma advogada, além de maior rigor na análise dos processos, vai haver uma revisão em todos os processo analisados pela Comissão de Anistia, desde sua criação. Processos com fraudes e inconsistências serão anulados e os beneficiários responderão a processo criminal por fraude processo, estelionato e, dependendo,  formação de quadrilha e terão que devolver tudo o que receberam.]

A decisão da comissão de rejeitar os pedidos de anistia dos camponeses do Araguaia acontece dez meses após a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, mudar a configuração da comissão, órgão que ficou sob a responsabilidade do seu ministério.  Desde que assumiu o ministério, Damares promoveu uma mudança no regimento da comissão, aumentando de 20 para 27 o número de conselheiros. Na nova configuração, veio o general Luiz Eduardo Rocha, um dos principais opositores aos trabalhos da CNV e que, frequentemente, leva às sessões um exemplar do livro A verdade sufocada, do coronel do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, apontado como um dos principais torturadores do regime militar.
Além dele estão dois ex-assessores do vice-presidente Hamilton Mourão e um policial militar.  Damares tem prometido um "pente fino" nos pedidos e disse que iria abrir o que classificou como "caixa preta" da Comissão de Anistia, insinuando que a existência de irregularidades no funcionamento do órgão.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

UM PODER PARALELO QUE NÃO PERDE ELEIÇÃO: NOSSOS MUITOS SOVIETES - Percival Puggina

Durante décadas fui participante ativo de debates políticos nas emissoras de rádio e TV de Porto Alegre. Eram anos de ostracismo para o pensamento conservador e para as ideias liberais de que o país era tão carente. Contavam-se nos dedos os que se dispunham a enfrentar o esquerdismo que ia dominando a política nestas bandas. Na Rádio Guaíba, um estúdio instalado na esquina da Caldas Júnior com a Rua da Praia proporcionava som e ampla visibilidade ao público que se acotovelava para assistir as discussões do programa Espaço Aberto. Durante a Feira do Livro, o “Estúdio de cristal”, como era chamado, mudava-se para a Praça, e a multidão, literalmente, cercava aquele ringue retórico para ver quem iria às cordas.

À medida que nos aproximávamos do fim do milênio, os partidos de centro-direita e de direita foram virando apoiadores de quaisquer governos, espécie de contrapeso nas disputas eleitorais, deixando sem trincheira ou expressão o ideário conservador e liberal. Fechavam-se, no Rio Grande do Sul, as últimas portas ao debate político que fosse além do bate-boca pelo poder. Ou, com palavras melhores, em que essa disputa não fosse a única finalidade de todo argumento.  Lembro-me de ter ouvido do governador Alceu Collares, num desses debates, pela primeira vez, referindo-se ele aos partidos do espectro esquerdista: “Nós, do campo democrático e popular”. A expressão disseminou-se.

Socialistas, marxistas e a esquerda em geral agarraram-se com braços e pernas ao binômio democrático-popular. Posavam como donos desse “campo”. Nele jogavam futebol e golfe, criavam gado e faziam seus melhores discursos. E criavam conselhos populares... Então, como ainda hoje, eram avessos à propriedade privada, mas o tal “campo” foi cercado, escriturado em seu nome e passou a lhes pertencer o inço que ali crescia.

Não falo, apenas, de uma pretensão local, mas de uma obstinação mundial. É bom lembrar que Albânia, Bulgária, China, Cuba, Camboja, Coréia do Norte, Mongólia, Vietnã, Iêmen, e todas as demais republiquetas africanas, asiáticas e europeias, que em décadas anteriores adotaram o socialismo, se apresentavam ao mundo como “democracias populares”. Enchiam a boca e estatutos constitucionais com sua condição de people’s republic. E o leitor está perfeitamente informado sobre seus principais produtos: totalitarismo, supressão das liberdades, genocídio e miséria. Aqui no Brasil, o dito campo esquerdista encontrou na criação e povoamento de conselhos uma forma de se institucionalizar e atuar politicamente. Na administração pública estão em toda parte. Com exceções, formam pequenos sovietes, determinando e impondo políticas. São detentores de um poder paralelo que somente na órbita federal se manifesta através de 2.593 colegiados, segundo matéria de O Globo publicada em 29 de junho de 2019. Na véspera, Bolsonaro havia anunciado a intenção de reduzi-los a 32.

No entanto, esses aparelhos políticos resistem. Os 996 conselhos ligados a instituições federais de ensino operam em ambientes blindados pela autonomia universitária. Outros foram instituídos por lei e só poderão ser cancelados por outra lei. Assim, no curto prazo, apenas 734 criados por decretos federais ou por portarias dos próprios órgãos federais estão liberados para encerramento de atividades. [mesmo assim, se um magistrado federal entender conveniente, concede uma liminar e o presidente da República é desautorizado e impedido de cumprir uma atribuição constitucional.]
Note-se: a criação e operação de grande parte desses conselhos, muitos dos quais altamente onerosos ao pagador de impostos, é apenas uma das formas de aparelhamento da administração pública, que deveria ser apartidária, técnica e comprometida com a redução do peso do Estado sobre a sociedade.

Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, arquiteto, empresário e escritor e titular do site , colunista de dezenas de jornais e sites no país. 



 

domingo, 10 de novembro de 2019

Lula livre - Elio Gaspari


Folha de S.Paulo - O Globo

Há uma pergunta no ar: o que ele fará? Isso só ele sabe

Ideia de vida política sem ex-presidente foi eterna enquanto durou


Desde o dia do seu encarceramento e da derrota do candidato petista à Presidência, seus adversários tiveram uma oportunidade para demonstrar seu anacronismo. Jogaram o tempo fora.  Jair Bolsonaro, o cavaleiro do antipetismo, governa o Brasil há quase um ano testando uma agenda desnecessariamente radical. Sergio Moro, o Justiceiro de Curitiba, tornou-se um ministro subserviente e inócuo. Os procuradores da Lava-Jato enredaram-se nas próprias armações, reveladas pelo The Intercept Brasil. [os que ainda acreditam nas lorotas do intercePTação, deveriam se ater a um pequeno trecho do voto do ministro Celso de Mello - decano do STF e  o mais radical antibolsonarista da Corte Suprema  - na sessão de quinta passada = chamado de voto estilo discurso do falecido Fidel Castro;

em um trecho ele diz 'Constituição que não aceita provas ilícitas' . Ou o ministro Celso de Mello só tem suas opiniões levadas em conta quando são contra o presidente JAIR BOLSONARO?]

Disso resultou que Lula saiu de Curitiba maior do que entrou. [o cara estava preso; uma prisão estilo resort - desperdiçando os já parcos recursos da PF - mas, de qualquer forma preso. 
Tentou radicalizar - só que faltou seguidores.
Aliás, os devotos de Lula minguam desde aquela caravana que ele tentou realizar, faltou audiência, tentaram simular um atentado e faltou credibilidade e desistiram.] Desde que ele foi para a cadeia, muitas foram as radicalizações surgidas na política nacional. Nenhuma partiu dele. 

Há uma pergunta no ar: o que ele fará? Isso só ele sabe. Recuando-se no tempo, sabe-seue a última cadeia de Lula deu-se em 1980, quando ele era visto pelo governo como um líder sindical incendiário. O barbudo entrou na cela do Dops paulista no dia 18 de abril. 

(...)  

O feitiço de Trump Donald Trump é um craque da desinformação. Em abril, com jeito de quem não queria nada, ele disse que o procurador-geral da Ucrânia precisava ir fundo nas investigações sobre corrupção em seu país. Em junho, numa entrevista à rede ABC, revelou que aceitaria informações de outros países contra seus rivais, Não disse quais países.
Teatro, do bom. Rudolph Giuliani, seu advogado pessoal, conversava com os ucranianos desde janeiro, pedindo-lhes que investigassem as atividades do ex-vice-presidente Joe Biden e de seu filho. Em maio assessores de Giuliani estiveram na Ucrânia e em junho a embaixadora americana em Kiev foi demitida, porque estava atrapalhando. 

Para mostrar que falava sério, Trump congelou o projeto de ajuda militar à Ucrânia e em julho deu o fatídico telefonema apertando seu colega Volodymyr Zelensky.Em setembro conheceu-se o teor da conversa e deu no que deu. 

Para quem acompanha esse filme, na quarta-feira o embaixador William Taylor, que substituiu a colega demitida, fará seu depoimento público na Câmara.Taylor tem biografia. Serviu no Exército, combateu no Vietnã e ocupou a embaixada em Kiev durante o governo de George Bush. Ele já denunciou o toma lá dá cá.

Bloomberg

Para alegria da banca e tristeza de Trump, Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova York, sinalizou que disputará a indicação pelo partido Democrata. Ele tem uma fortuna de US$ 53 bilhões e não herdou um só centavo do pai. Trump é filho de milionário.
Bloomberg construiu um império e nunca faliu. Seis empresas de Trump faliram. 

Depois de governar Nova York durante 12 anos, de 2002 a 2013, saiu limpo e aplaudido. Durante a convenção democrata de 2016, quando se sabia que Trump seria o candidato republicano, ele avisou:
“Como novaiorquino, quando eu vejo um vigarista, reconheço-o.” 

Matéria completa Folha de S. Paulo e em  O Globo- Elio Gaspari, jornalista



quarta-feira, 6 de novembro de 2019

De J.Portela@edu para Heleno@mil - Folha de S. Paulo - O Globo

Elio Gaspari

Sei como se fez o AI-5, não há receita, mas passo-lhe ingredientes de 1968

Caro general,
Outro dia o senhor falou das dificuldades para se baixar um Ato Institucional nº 5 no Brasil de hoje. Nas vossas palavras: “Essas coisas, hoje, num regime democrático... é complicado. Tem de passar em um monte de lugares. Não é assim. (...) Tem de estudar como vai fazer, como vai conduzir”. Para se fazer o AI-5 era preciso destruir a ordem constitucional da Carta de 1967, e posso dizer que vi a arquitetura desse desmanche. Eu, Jaime Portela de Melo, general, paraibano, chefe do Gabinete Militar do presidente Costa e Silva, estive em todas as encrencas militares do meu tempo. 

 General Heleno -Folha de S. Paulo

Acho que o senhor, ou qualquer outra pessoa disposta a estudar como se pode conduzir o Brasil para um AI-5, deve entender que faltam diversas condições. Hoje não há uma esquerda assaltando bancos, sequestrando aviões, matando militares e planejando guerrilhas rurais. [lembrando o óbvio: Eduardo Bolsonaro foi bem claro em destacar SE a esquerda radicalizar = a esquerda radicalizando,   tudo destacado neste parágrafo passará a ser rotina, exigindo ações enérgicas, remédios enérgicos, podendo, entre eles estar incluído legislação nos moldes do AI-5.] 2019 não é 1968, a Venezuela não é Cuba e a China não é o Vietnã. Tínhamos também um ministro do Exército vaidoso, vazio e vacilante. De qualquer forma, quero mostrar os ingredientes que foram adicionados à crise. 
Primeiro, precisa-se de alguém que fique falando na necessidade de um ato institucional. Já em janeiro de 1968, o senador Dinarte Mariz, meu amigo, defendia essa ideia.
Havia uma tensão vinda da esquerda e ela foi exacerbada. Antes do primeiro assalto a banco de Carlos Marighella, houve um roubo de armas num quartel da Força Pública de São Paulo. Isso era coisa de um maluco que estudava discos voadores, um místico dado a profecias anunciando a chegada do Anticristo. Usava muitos nomes, inclusive o de Aladino Félix. Ele disse que recebia ordens minhas, mas, sendo maluco, quem há de crer? Esse doido explodiu 14 bombas em São Paulo e assaltou pelo menos um banco. Não matou ninguém. Já o terrorismo da esquerda, só em 1968, matou seis militares (dois estrangeiros).
A estratégia da tensão foi ajudada por esquadrões que tumultuavam espetáculos e espancavam artistas. No Rio um grupo de terroristas punha bombas em teatros vazios e livrarias fechadas. Nele militavam oficiais da reserva e da ativa, lotados no Centro de Informações do Exército. Eles explodiram 18 bombas. Fez-se nada. Dois cidadãos foram sequestrados e levados para um quartel, onde os torturaram. Não sei como, mas os americanos desvendaram esse caso.
O Alceu Amoroso Lima, católico, porém comunista, me chamava de “sanguinário”. Em julho mostrei ao Conselho de Segurança Nacional que havia um plano internacional de tomada do poder pela esquerda. Denunciei a cumplicidade da imprensa. Exagerava? Em setembro, o Jornal do Brasil publicou um extenso artigo intitulado “Algumas Questões sobre as Guerrilhas”. Seu autor era Carlos Marighella. [terrorista cruel, covarde, sanguinário, traiçoeiro - pra ele o importante era o cadãver, ainda que de um inocente - autor do mini manual do guerrilheiro urbano. Clique para saber mais.]

Dias depois da minha fala, Aladino explodiu três bombas em São Paulo, alguém pôs uma bomba numa reunião de estudantes em Porto Alegre e os esquerdistas assaltaram mais um banco em Belo Horizonte. Quando nós pedimos à Câmara a cassação do Márcio Moreira Alves muita gente achou que o AI-5 seria um plano B. Na reunião do dia 13 de dezembro, quando o presidente baixou o ato, eu disse apenas 14 palavras.
Tensão, general, sem ela não se consegue AI-5.
Atenciosamente,
General Jaime Portela de Melo
Folha de S. Paulo e O Globo - Coluna de Elio Gaspari, jornalista


terça-feira, 24 de setembro de 2019

Fala de Guedes sobre atuação da Receita causa dúvidas e Bolsonaro desperdiça momento e o perdedor é o agronegócio - Míriam Leitão

O Globo

O ministro Paulo Guedes passou uma mensagem ruim sobre a Receita Federal. “Não queremos uma Receita abusiva e envolvida em tumultos político”, disse ele, em entrevista à rádio “Jovem Pan”. Guedes comentava que a atuação do órgão foi criticada por membros do STF, do Congresso e pelo próprio presidente da República, que acusou a Receita de perseguir sua família. O comando do órgão trocou de mãos semana passada, quando José Tostes assumiu a Secretaria.  

A fala é preocupante. A mensagem é que os auditores não podem investigar contas de contribuintes se eles forem do Supremo, do Congresso ou da família do presidente. Diante do estado, somos todos iguais. A Receita tem o dever de questionar os contribuintes, em caso de dúvida. Guedes também elogiou a instituição e seus 30 mil dedicados funcionários. Lembrou que Tostes tem experiência, ele é auditor aposentado.

Era avisado, desde a queda do ex-secretário Marcos Cintra, que a mudança no comando poderia ser o pretexto para outras intervenções na atuação da Receita. O trabalho do órgão tem que ser republicano. Todos os contribuintes precisam explicar caso haja alguma dúvida de auditores, de funcionários da Receita. Não cabe uma regra de que não se pode investigar determinadas pessoas porque haverá “tumulto político”.  

Se não foi isso o que o ministro quis dizer, foi essa a impressão que ele deixou. O país está assustado com as outras intervenções feitas por esse governo nas instituições de comando e controle. Aconteceu na área ambiental. O Coaf também foi alvo. O Conselho, que fazia inteligência financeira, praticamente deixou de existir. Uma decisão liminar do STF, que irá a plenário em novembro, vai decidir que dados o Coaf pode ou não compartilhar.

A Receita Federal tem os limites da lei. Ela é a detentora do sigilo fiscal e não pode usar isso de forma equivocada. É algo que ela sempre soube fazer. Em caso de prova de perseguição a alguém, o responsável responderá. Mas não se pode impor a um órgão de governo tão importante a ideia de que não se pode envolver em “tumulto político”.


Bolsonaro desperdiça momento e o perdedor é o agronegócio

O presidente Jair Bolsonaro perdeu uma grande oportunidade. Mirou o público interno, seus eleitores, fez um discurso agressivo tomado pelo sentimento da guerra fria, totalmente fora de época, e usou o plenário mais privilegiado que poderia ter para fazer um acerto de contas com uma lista de supostos inimigos.

Aquele ambiente não é para isso. Bolsonaro deveria ter aproveitado para romper o isolamento em que o país está numa questão diplomática central no mundo, que é o combate à emergência climática. Aquele era o fórum para convencer, por exemplo, os membros da União Europeia. O acordo de livre comércio não está garantido, precisa ser ratificado pelos parlamentos de cada país do bloco. Essa era a hora de dar mais garantias, de tranquilizar os parceiros. Era preciso apresentar dados e reforçar o compromisso do Brasil com o meio ambiente. O tom adotado não ajuda na aprovação do acordo lá fora. [já passa da hora do Brasil declinar de discursar na ONU;
a fundamentação do discurso nunca foi importante e agoirar o próprio palco perde valor.
Já que foi, Bolsonaro optou, corretamente, por usar o tempo e o espaço para deixar clara a posição do Brasil - SOBERANIA TOTAL sobre a Amazônia brasileira (invadir e manter ocupação da Amazônia, não é tarefa fácil, visto que lá não podem queimar as matas como fizeram no Vietnã... estarão queimando a galinha dos ovos de ouro.....-   que sabe o real interesse de alguns países sobre a Amazônia e que o líder Raoni não lidera nada.

Aliás, nessa sua viagem ele vende sua concordância com os planos colonialistas  dos que o recebem.]

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Bolsonaro dedicou um tempo enorme atacando o “socialismo”, guerra que não existe no mundo há pelo menos 30 anos, desde a queda do muro de Berlim. Em seguida, um longo tempo foi dedicado a criticar Cuba, uma pequena ilha que não há de ser um adversário de um país continental como o Brasil. Em seguida, críticas à Venezuela. Houve também ataques indiretos à França e acusações frontais às ONGs e à imprensa. Ou seja, o presidente do Brasil se apresentou no principal palco do mundo com uma pessoa cheia de inimigos, ressentimentos, raiva. Na questão indígena Bolsonaro investe contra Raoni, um líder de 89 anos.

Aquele é um ambiente onde a serenidade é bem-vinda e o tempo é usado para lançar pontes nas quais passarão os diplomatas para fazer acordos e parcerias. E apontar princípios que defenderá nas negociações bilaterais.

Seu discurso sobre a Amazônia não ajudou a derrubar a impressão de que está havendo falta de controle no desmatamento. Bolsonaro apenas repetiu o que vem dizendo, sem qualquer evidência e dados. O grande prejudicado com isso é o setor do agronegócio exportador, que precisa que seus clientes internacionais possam ampliar os negócios com o Brasil sem a pressão dos seus mercados consumidores.

Míriam Leitão, jornalista - O Globo