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sábado, 14 de dezembro de 2019

O pequeno grande ditador - IstoÉ

Castello Branco consolidou o regime militar, eliminou políticos e abriu caminho para os generais que instaurariam o terror no Brasil

O avião que levava o marechal e ex-presidente Humberto de Alencar Castello Branco (1897-1967)despencou em queda livre nos arredores de sua Fortaleza natal na manhã de 18 de julho de 1967. Ele vinha de uma visita à fazenda Não-Me-Deixes, da amiga Rachel de Queiroz, em Quixadá, a 150 quilômetros da capital. O bimotor foi atingido por um caça pilotado pelo almirante Alfredo Malan D’Angrogne, filho de um amigo de Castello, o general Alfredo Souto Maior. Desde então, paira o mistério em torno do acidente. Especuladores passaram a afirmar que o presidente havia sido vítima de um atentado, e a versão persiste até hoje.
PRESIDENTE O marechal Humberto de Alencar Castello Branco perfila-se diante da tropa ao chegar ao Congresso Nacional: dia da posse, em 6 de abril de 1964 (Crédito: Agência Estado)

Ao lado do corpo de Castello Branco foi encontrado um embrulho de papel pardo com um exemplar da primeira edição de “Iracema”, de José de Alencar, que lhe havia sido entregue por Rachel, com a intenção de que Candinho, como o chamava, entregasse a relíquia a um amigo no Rio de Janeiro, o destino final da viagem. Amava livros, e Rachel chegou a imaginar que o amigo ficaria com o exemplar. Quando deixou a Presidência, em março, queria finalmente ler os clássicos embalado na rede e dormir à beira da lagoa de Messejana, terra dos avós (era descendente de José de Alencar), ao som de peças de Bach.

“Iracema” serve como símbolo de um homem que não realizou seus sonhos — e nenhum deles tinha a ver com o poder. Apaixonado pela mulher, Argentina, amargou a viuvez nos últimos anos. Amante da cultura, reprimiu-a por causa dos protestos de estudantes ao longo dos 1.065 dias de governo, manchado pela repressão, a caça a políticos e supressão dos direitos civis. Católico e anticomunista, acreditava na redenção da moral e na pujança econômica, mas arrastou o Brasil à inflação e à milhares de falências. Não conseguiu nem mesmo cumprir a promessa de que devolveria o governo aos civis ao final do mandato. Seu rival, o ministro da Guerra e membro da linha dura, Arthur da Costa e Silva, subiu ao Planalto presidência e aprofundou a ditadura de 1964, sob o pretexto de humanizá-la.

A biografia “Castello — a marcha para a ditadura”, do jornalista cearense Lira Neto, lançada em 2004 e reeditada pela Companhia das Letras, ganha alarmante relevância ao desenhar o perfil do ditador impotente para negociar com as forças políticas, empresariais e militares com o objetivo de salvar o País. Ao contrário, sua morte representou o réquiem de uma geração de líderes que poderiam ter resgatado a democracia. “Infelizmente, a reedição do livro, 15 anos depois, reveste-se de incômoda atualidade”, diz Lira Neto. “Menos pelos eventuais méritos que a obra possa vir a ter; muito mais pela permanência do pensamento autoritário entre nós — e pela ascensão ao poder de um grupo político antidemocrático, cujos expoentes por diversas vezes já fizeram o elogio da ditadura e da tortura.”

Sem pescoço
O retrato apresenta o baixinho (1,67 metro) cabeçudo inferiorizado pelos musculosos colegas gaúchos do Colégio Militar de Porto Alegre, onde recebeu o apelido de Quasímodo, por exibir uma corcunda e ter problemas de locomoção, o que compensou com a inteligência e o talento do estrategista que venceu os alemães em Monte Castelo. Segundo Lira Neto, a ausência de porte atlético lhe deu uma atitude “escorregadia e calculista”. Pode mesmo ter fingido contrariedade quando passou o poder ao corpulento e gaúcho Costa e Silva, conhecido como inculto e brutal. Quando anunciaram o sucessor de Castello, Rachel de Queiroz teria dito: “Vão substituir um presidente sem pescoço por outro sem cabeça”. [nunca estão satisfeitos - o presidente Bolsonaro se destacou no atletismo mas o taxam de inculto;
Castello Branco, limitado no atletismo e no porte físico, mas brilhantes na inteligência, incluindo estratégia militar é também criticado.]

O espírito de corpo dos dois pode afastar a tese do atentado aéreo. “As teorias conspiratórias buscam explicações mirabolantes para episódios que escapam à nossa compreensão”, diz Lira Neto. “Mas não resistem à análise das fontes documentais disponíveis.”  De acordo com ele, o melancólico legado de Castello pode ser resumido na seguinte lição: “Não há qualquer possibilidade de negociação com os herdeiros da linha dura. Eles não negociam. Usam a força em vez de argumentos”.

IstoÉ - Cultura




domingo, 11 de novembro de 2018

11° mandamento: Não te omitirás

11° mandamento: Não te omitirás

Sabe que se vos há de pedir estreita conta do que fizestes, mas muito mais estreita do que deixastes de fazer


“Pelo que fizeram se hão de condenar muitos; pelo que não fizeram, todos”, disse o Padre Antônio Vieira, cara a cara com as autoridades que ouviam o famoso Sermão da Primeira Dominga do Advento, pregado na Capela Real, em Lisboa, no ano de 1650, no qual pronunciou quinze vezes a palavra omissão.
Disse também: Por culpa de uma omissão, o príncipe está cometendo maiores danos, maiores estragos, maiores destruições, que todos os malfeitores do mundo em muitos anos”.

A Universidade Estadual Paulista (UNESP), que tem cerca de 50.000 alunos e 3.000 professores, cujos campus estão espalhados por todo o Estado de São Paulo, tem usado textos de autores clássicos em seus vestibulares, entre os quais um excerto deste Sermão, utilizado no vestibular de 2016, sobre o qual fez três questões muito pertinentes e bem escritas, isto é, claras, concisas, objetivas e didáticas, destoantes de certos textos do Enem de 2018.

Na primeira, tomando por base o excerto transcrito, de mais ou menos 500 palavras ou 2.642 caracteres, os examinadores perguntaram qual foi o alvo principal da crítica feita por Vieira no conhecido Sermão. Sim, se o aluno cursar um bom ensino médio, ele deverá conhecer alguns sermões referenciais do Padre Vieira, e o Sermão da Primeira Dominga do Advento, pregado em Lisboa, na Capela Real, em 1650, é um deles.

Para orientar os vestibulandos a interpretar o texto tomado como referência, foi-lhes perguntado qual tinha sido o alvo principal da crítica de Vieira. Foram apresentadas cinco alternativas, sendo apenas uma delas a correta:
a) a falta de religiosidade dos governantes;
 b) a falta de escrúpulos dos religiosos;
c) a preguiça da população;
d) a negligência dos governantes;
e) a luxúria dos religiosos.
 
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