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quinta-feira, 14 de março de 2019

Frieza e ira de advogado: os detalhes do depoimento do pai de Bernardo

Sem esboçar emoção, Leandro Boldrini nega participação na execução do filho


O terceiro dia do júri popular sobre a morte de Bernardo, de 11 anos, executado no dia 4 de abril de 2014 por uma superdosagem do sedativo Midazolam, contou com o depoimento de seu pai, o médico cirurgião Leandro Boldrini. Ele é acusado por ser o mentor do assassinato do filho. Sem esboçar emoção, a maior parte do tempo com olhar fixo, ele falou ao longo de três horas. Não se negou em responder nenhuma pergunta elaborada pelos promotores, mas seu advogado, Ezequiel Vetoretti, pediu ao cliente deixar de falar em determinado momento por considerar que a promotoria estava sendo sádica e objetivava tirá-lo do sério. Mesmo assim, os promotores seguiram com as perguntas – sabendo que não seriam respondidas. Uma delas: “O que é ser pai?”

Encerradas as perguntas, Vettoreti se levantou e leu um parecer do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, segundo o qual juízes não podem autorizar que promotores façam perguntas quando o réu anuncia o desejo em não responder sob o risco de causar nulidade do julgamento. A estratégia do advogado de defesa é bastante clara: se Boldrini for inocentado, acatará a sentença a ser proferida, espera-se, nesta sexta; se pegar cadeia, entrará com pedido para anular todo o júri.

Quando falou, e falou bastante, Boldrini não conseguiu ser claro em pontos fundamentais. Ele afirma ter ido dormir depois do almoço (tilápia, arroz e salada), portanto, não teria visto a mulher, Graciele Ugulini, deixar a residência com Bernardo. Boldrini se enrolou com a precisão do horário neste dia 4 de abril de 2014, sem conseguir precisar ao certo quando chegou à residência para almoçar e quanto tempo levou para fazer a refeição.

Uma imagem de câmera mostra madrasta e garoto dentro de uma caminhonete às 12h23, quando ela dirigia o menino rumo à morte na cidade de Frederico Westphalen. O pai diz ter sido informado pela mulher que, quando retornaram da cidade vizinha, Bernardo teria ido dormir na casa de um amigo chamado Lucas. O menino morreu e foi colocado em uma cova vertical às 15h.

Boldrini e a mulher, na noite de sábado, pouco mais de 24 horas após a execução, foram para uma boate na cidade Três de Maio. Boldrini só foi procurar o filho no fim da tarde de domingo, quando foi até o comércio do pai de Lucas saber se a criança estava lá. Depois de contatar amigos e pais de amigos do filho, e de fazer um Boletim de Ocorrência, o pai desligou o celular às 23h58 e o ligou de volta no dia seguinte, às 7h. Acordou e foi fazer uma cirurgia no hospital.
Alguns trechos do depoimento de Leandro Boldrini:

Rumo à morte
“Ela (Graciele) me disse que o Bernardo tinha ido pousar na casa do Lucas, quando voltei do hospital por volta das 20h30, e que teria o levado para Frederico (Westphalen) durante a tarde, onde foi comprar uma TV e um aquário para o Bernardo. Não vi meu filho saindo de casa com ela.”

O “sumiço do filho”
“No fim da tarde de domingo, eu fui ao hospital ver os pacientes recém-operados. Como o restaurante do pai do Lucas fica ao lado do hospital, passei para pegar o meu filho. Ele não estava lá. Fui até a casa dele (Lucas), onde me contaram que o Bernardo não tinha ido lá desde sexta. Comecei a maratona de ligações e procura. Liguei para outros colegas, pais… fui passando em toda a minha agenda. Fui então até a praça da cidade, onde havia uma festa. A Graciele só dizia: ‘vamos continuar ligando’, ela estava normal como a água é cristalina.”

Estorvo familiar
“O Bernardo estava começando a ficar mais autônomo, definia o que queria fazer, onde queria ir. Ele não era um estorvo, caso contrário eu poderia ter mandado ele (ir morar) para a Tia Juçara, para as avós, um internato…”

“Quero rezar no túmulo do meu filho”
“Eu não mandei matar o meu filho. Podem me decapitar, jurados, mas estarão cometendo um erro. Quem matou foi a Graciele com a Edelvânia. Se eu fui um pai ausente? Fui. Mas só mata quem tem patologia, eu não tenho. Quando sair e tirar as algemas, quero ir direto ao túmulo do meu filho em Santa Rosa, para rezar. Quero retomar a minha vida aqui em Três Passos. Hoje, com certeza, faria as coisas diferentes, trabalharia menos e passaria mais tempo com a família.”

Infância
“Meu pai teve três filhos, eu fui o único a fazer faculdade. Ele era rude, simples. Eu nunca recebi um beijo, ele nunca me pegou no colo.”


Revista Veja



quarta-feira, 13 de março de 2019

Barraco entre advogado e testemunha interrompe júri do caso Bernardo

Caso Bernardo Bate-boca entre advogado e testemunha interrompe júri

Grito, dedo em riste e cenas típicas do programa 'Casos de Família'

Uma briga entre o advogado de Edelvânia Wirganovicz e a testemunha de defesa Luiz Omar fez a juíza Sucilene Engler interromper o júri popular do caso do menino Bernardo nesta quarta-feira, 13, no começo do terceiro dia de julgamento, em Três Passos. Quando Omar, ex-funcionário de uma chácara de Leandro Boldrini, foi perguntado por Jean Severo, advogado de Edelvânia, se Graciele Ugulini tinha uma amante, Omar pediu ao advogado para falar mais baixo. “Eu não tenho problema”, disse ele, apontando para os ouvidos.

O advogado, que já falava alto, subiu ainda mais o tom de voz. “O senhor está mentindo aqui”, disse gritando e apontando o dedo para a testemunha. Parecia cena do programa Casos de Família. Severo foi além: “O senhor não vai falar assim comigo, esse é o meu jeito de trabalhar.”
A juíza, em repreensão ao advogado, interrompeu a audiência e o chamou para uma sala reservada para explicar sobre as normas do júri. Na volta, Jean Severo retomou o bate boca com a testemunha: “Por que está me encarando?”

A juíza, mais uma vez, repreendeu o advogado e disse que o mesmo não poderia fazer mais perguntas à testemunha Luiz Omar.  Minutos depois, uma nova interrupção. Oficiais de justiça chamaram a juíza para ir falar com outras testemunhas, algumas delas com problemas de pressão alta. Como se vê, o terceiro dia do júri começou bem tumultuado.

Veja