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domingo, 24 de abril de 2022

Até quando a Ucrânia vai lutar por Mariupol?

A notícia de que a cidade de Mariupol, um porto importante no sudeste da Ucrânia, está prestes a cair tem aparecido com frequência no noticiário nos últimos dias. A Rússia já clamou vitória diversas vezes e a Ucrânia vem afirmando que a cidade não caiu nas mãos de seus adversários. Mas até quando vai durar esse impasse?

As tropas russas controlam praticamente toda a cidade, exceto pela fábrica de aço de Azovstal, um complexo industrial de 11 quilômetros quadrados localizado próximo à região portuária da cidade. O local foi transformado na principal base das forças ucranianas, pois foi construído para resistir a bombardeios e possui uma rede de túneis subterrâneos que somam cerca de 24 quilômetros. Se deslocando por eles sem serem descobertos, cerca de 2 mil combatentes ucranianos têm resistido a repetidas investidas russas. É também nesse complexo de túneis que estariam abrigados cerca de 2 mil civis - que seriam parentes dos combatentes.
 
Mariupol é um alvo militar de grande importância estratégica por dois motivos: sua conquista garantiria à Rússia um corredor terrestre ligando seu território à Crimeia (anexada por Moscou em 2014) e privaria a Ucrânia de um importante porto - por onde era escoada grande parte de produção de grãos e aço do país.

Na prática, a Rússia já atingiu esses objetivos. Isso porque controla as principais rodovias e ferrovias que passam pela cidade ligando a região com a Crimeia. O porto já estava com as atividades suspensas desde o início da guerra, em 24 de fevereiro. Estima-se que 140 navios estrangeiros e suas tripulações estejam hoje presos em portos ucranianos, porque a Rússia fez um bloqueio naval ao país no Mar Negro - que também está repleto de minas navais.

Não há possibilidade dos defensores de Azovstal romperem o cerco russo. Eles também têm poucas chances de trocar as fardas por roupas civis e escapar em meio à população civil. Até agora, o discurso dos ucranianos é lutar até o fim.

Moscou já ofereceu ao menos três vezes oportunidades para os combatentes ucranianos se renderem. Todas elas foram recusadas até agora. Kiev queria o estabelecimento de um corredor humanitário para que seus combatentes pudessem fugir sem ser presos, mas Moscou não concordou.

O leitor deve estar se questionando: por que os combatentes não se entregam de uma vez e esperam pelas próximas trocas de prisioneiros (que têm sido recorrentes)?

Isso não ocorreu até agora porque a Ucrânia quer manter o maior número de tropas russas pelo maior tempo possível engajadas na Batalha de Mariupol. Enquanto estão na região, essas tropas não podem ser deslocadas para reforçar as fileiras russas mais ao norte, na Batalha de Donbass, segundo afirmou a este colunista o general de divisão ucraniano Andrii Kozhemiakin, comandante do batalhão Mriya, de Kiev.

Na quarta-feira (20), tropas russas bombardearam e lançaram sucessivos ataques contra o complexo industrial - mas não conseguiram tomá-lo. Os bombardeios são pouco efetivos nessa área específica. Acredita-se que o complexo poderia resistir até a um ataque nuclear. Por isso, o combate tem que ser feito homem a homem - o que eleva muito o número de baixas dos dois lados.

O presidente russo, Vladimir Putin, ordenou então que as tropas russas isolassem o complexo, para evitar a entrada de suprimentos e a fuga de combatentes. Não se sabe, porém, a quantidade de água e mantimentos que os ucranianos possuem, nem o número de feridos em suas fileiras.

Em paralelo, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, havia afirmado que não seria possível voltar a negociar com a Rússia caso os combatentes de Mariupol sejam massacrados. Ao oferecer sucessivos acordos de rendição, Putin também parece não querer ser culpado pelo eventual fracasso das negociações de paz.

Esse é o cenário militar e diplomático, mas como ficam os civis nessa conta?

Estive na sexta-feira (22) no centro de recepção de refugiados na cidade de Zaporizhzhnya, a 200 quilômetros de Azovstal, e encontrei pouquíssimos moradores da cidade de Mariupol.  Isso ocorre porque a Rússia não tem autorizado com frequência o estabelecimento de corredores humanitários para a cidade. A última vez que isso aconteceu foi na quinta-feira (21), mas apenas 60 pessoas conseguiram escapar em alguns ônibus providenciados pelas autoridades ucranianas.

Os corredores são necessários porque a frente de batalha no sudeste da Ucrânia não está consolidada. Bombardeios e enfrentamentos entre os exércitos russo e ucraniano têm sido reportados próximo a Zaporizhzhnya - em cidades como Huliaipilske, Kamyanske, Novodanylivka, Orikhiv, Pavlivka, Vremivka, Temyrivka, Preobrazhenka, Charivne, Uspenivka, Mala Tokmachka, Malynivka, Poltavka e Novoandriivka.

Ou seja, é muito perigoso para os cidadãos pegarem seus veículos e dirigirem até o lado ucraniano, pois podem ser atingidos no fogo cruzado. Mas algumas pessoas estão fazendo isso. Elas amarram bandeiras e panos brancos em seus veículos e se arriscam a passar por áreas onde não se sabe se há tropas ou não.

A família de Alex Besmrtni, de 14 anos, tentou a sorte e chegou ilesa. “Nós caímos em um posto de controle, mas não havia russos lá, e sim tropas do Daguestão (que combatem ao lado dos russos). Ficamos oito horas esperando até deixarem a gente passar. Mas antes de irmos, eles disseram: ‘Não adianta vocês irem para Zaporizhzhnya, porque lá vai ser a segunda Mariupol’”, disse.

O jovem era o único membro da família capaz de falar algumas palavras em inglês. Para entender uma parte de sua entrevista, tentei recorrer a um tradutor de ucraniano online no celular, mas me surpreendi com a reação dele: “Coloque tradução de inglês para o russo porque não sei falar muito bem o ucraniano”.

Eu havia notado que em toda a Ucrânia é normal ouvir as pessoas misturando palavras russas ao idioma ucraniano, mas antes de vir a Zaporizhzhnya não havia encontrado ucranianos que não sabem a língua oficial do país. E como trata-se de um adolescente, não se pode atribuir o fato ao período de dominação soviética. Segundo o único censo realizado na Ucrânia no período pós-União Soviética, no começo dos anos 2000, cerca de 85% dos cidadãos falam ucraniano e pouco menos de 15% falam russo. Os falantes de russo estão exatamente no sudeste do país e na região de Donbass.

Na sexta-feira, Zelensky lançou mais um de seus vídeos e dessa vez fez um apelo aos moradores de Zaporizhzhnya e Kherson: não forneçam nenhuma informação para autoridades russas que aleguem estar fazendo um censo na região. Uma grande parte do oblast (estado) de Zaporizhzhnya já é controlado pelos russos. Kherson foi a primeira cidade ucraniana a ser conquistada. “Não é só para fazer um censo (...). Não é para dar ajuda humanitária de qualquer tipo. É para falsificar um suposto referendo em sua terra”, disse Zelensky.

A Rússia diz que a invasão do leste e do sul da Ucrânia tem como objetivo libertar russos étnicos que estariam descontentes e sofrendo supostos abusos de direitos humanos pelo governo de Zelensky. O presidente ucraniano diz temer que Putin faça um referendo falso para dar mais subsídios a esse argumento.

A questão é extremamente complexa e não parece ser possível descartar totalmente nem a visão de Putin nem a de Zelensky. Mas tenho conversado com muitos ucranianos da região e a maioria diz que não está preocupada com política, mas sim com salvar seus familiares e ter uma vida digna após o conflito.  Por um lado, ainda há centenas de milhares de ucranianos em território recentemente ocupado pela Rússia - 100 mil só em Mariupol. Só que muitos já deixaram a região - mais de 300 mil refugiados eram de Mariupol.

Apesar de falarem mais russo que ucraniano,
a maioria desses refugiados procurou abrigo em território ucraniano não ocupado, não na Rússia. Isso pode dar uma pista sobre o que está acontecendo.
Jogos de Guerra - Gazeta do Povo - VOZES
 

domingo, 17 de abril de 2022

Rússia exige rendição em Mariupol; Ucrânia alerta para fim de negociações Folha de S. Paulo

No 53º dia de guerra, a Rússia exigiu a rendição dos soldados ucranianos que resistem em Mariupol e se comprometeu a poupar as vidas daqueles que abaixarem as armas. No sábado (16), o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, alertou que a tomada da cidade encerraria as negociações de paz com Moscou.

O chefe do Centro de Controle de Defesa russo, o coronel general Mikhail Mizintsev, disse que "todos aqueles [ucranianos] que depuserem as armas é garantido que suas vidas serão poupadas". De acordo com Mizintsev, combatentes ucranianos estão "numa situação desesperadora, praticamente sem comida e água".

O Ministério de Defesa da Rússia afirma que as tropas russas já ocuparam toda a área urbana de Mariupol, restando apenas um grupo de combatentes ucranianos numa siderúrgica. A alegação de Moscou, no entanto, não pode ser verificada de maneira independente.

Cenário dos combatentes mais pesados e da pior catástrofe humanitária da guerra, Mariupol pode ser a primeira grande cidade a ser tomada pela Rússia desde o início do conflito. Também neste domingo (17) continua a ofensiva contra a capital. Durante a noite, uma fábrica de munições em Brovary, na região de Kiev, foi destruída. O Ministério da Defesa da Rússia assumiu a autoria e afirmou que o ataque foi feito com mísseis aéreos de alta precisão.

De acordo com o prefeito de Brovary, Ihor Sapozhko, mísseis atingiram a infraestrutura da cidade e houve interrupção de energia. Equipes trabalham pelo restabelecimento. O fornecimento de água e esgoto também foi prejudicado, mas Sapozhko afirma que também trabalha pelo restabelecimento.

Situada no mar de Azov, Mariupol é um dos principais objetivos dos russos no esforço para obter controle total da região de Donbass e formar um corredor terrestre, no leste da Ucrânia, a partir da península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014. A queda da cidade seria a maior vitória da Rússia em mais de 50 dias de guerra.

Descrita com uma fortaleza na cidade, há uma siderúrgica numa região industrial com vista para o Mar de Azov que ocupa uma área de mais de 11 quilômetros quadrados. No local, estariam fuzileiros navais, além de combatentes da guarda nacional e do Batalhão de Azov - uma milícia nacionalista de extrema-direita. Não há informações sobre o número de combatentes que estão no local.

Ainda não houve uma resposta de Kiev ao ultimato russo.Zelensky afirmou sábado (16) que a eliminação de soldados ucranianos em Mariupol "acabaria com qualquer negociação de paz" com Moscou."A eliminação de nossos militares, de nossos homens [em Mariupol] acabará com qualquer negociação de paz entre Rússia e Ucrânia", declarou Zelensky durante entrevista ao site Ukrainska Pravda, em que também advertiu que ambas as partes ficariam em um "beco sem saída".

Num discurso à nação no sábado à noite, Zelensky afirmou que "a situação em Mariupol continua tão grave quanto possível, simplesmente desumana" e culpou a Rússia por "continuar deliberadamente a destruir cidades".

O presidente ucraniano sublinhou que os russos "tentam deliberadamente aniquilar todos aqueles que ficam em Mariupol". Ele afirmou ainda que o governo ucraniano tentou, desde o início da invasão russa, encontrar "uma solução, militar ou diplomática, para salvar" a população, mas "até agora, não tem havido uma opção 100% sólida".

Sitiada há semanas, Mariupol enfrenta uma das maiores catástrofes humanitárias do atual conflito. A cidade foi alvo de intensos bombardeios e está em ruínas. De acordo com autoridades locais, pelo menos 20 mil civis já morreram na região, desde o início da invasão russa, e cerca de 120 mil habitantes ainda estão na cidade sitiada.

Tropas russas anunciaram na sexta-feira que assumiram o controle de uma outra siderúrgica da cidade que era um dos pontos de defesa dos ucranianos. Jornalistas da Reuters estiveram no local e relataram que a siderúrgica foi reduzida a ruínas e também noticiaram a presença de diversos corpos de civis espalhados nas ruas próximas.

Mundo - Folha de S. Paulo - UOL

 

domingo, 6 de março de 2022

Cessar-fogo fracassa pela segunda vez e civis ficam presos em cidade ucraniana sem água, luz e aquecimento

O Globo

Separatistas pró-Rússia e Guarda Nacional da Ucrânia acusam-se mutuamente de não estabelecer corredor humanitário em Mariupol, alvo de frequentes ataques russos

A segunda tentativa de retirar os habitantes de Mariupol, um porto estratégico no Sudeste da Ucrânia cercado pelas tropas russas, foi interrompida neste domingo, informou a Câmara Municipal da cidade. A decisão foi tomada após separatistas pró-Rússia e a Guarda Nacional da Ucrânia acusaram-se mutuamente de não obedecer o cessar-fogo temporário para estabelecimento de um corredor humanitário na região."É extremamente perigoso retirar as pessoas em tais condições", disse o conselho da cidade em um comunicado online.

A televisão Ukraine 24 mostrou um combatente do Regimento Azov da Guarda Nacional que disse que as forças russas e pró-russas que cercaram a cidade portuária de cerca de 400 mil continuaram bombardeando as áreas que deveriam ser seguras.Já a agência de notícias Interfax citou um funcionário do governo separatista de Donetsk que acusou as forças ucranianas de não observar o cessar-fogo limitado. Ainda segundo a autoridade separatista, apenas cerca de 300 pessoas deixaram a cidade. [Fácil perceber que cada lado acusa o outro. Se for considerado que no raciocínio desorientado do Zelenski quanto maior a tragédia, mais chances ele tem ficar presidente do que sobrar da Ucrânia, não é dificil concluir de qual lado está a verdade.]

Mais cedo, a Câmara Municipal de Mariupol anunciou uma operação para retirada das mais de 200 mil pessoas que ainda restavam na cidade às margens do Mar de Azov, que há seis dias convive com bombardeios constantes e falta de água, luz, comida e aquecimento na cidade.

Um plano semelhante teve que ser abandonado neste sábado, depois que o primeiro cessar-fogo temporário anunciado pela Rússia também fracassou. A cidade havia providenciado 50 ônibus para auxiliar na força-tarefa, mas depois de menos de duas horas, autoridades locais acusaram o Exército russo de começar a bombardear áreas residenciais novamente, bloqueando os civis que começavam a fugir. A Rússia disse mais tarde que foram as forças ucranianas que romperam o cessar-fogo.

A trégua temporária era válida para os corredores de acesso às cidades de Mariupol e Volnovakha, na região separatista de Donetsk. Segundo um porta-voz russo, porém, "batalhões nacionalistas" usaram a pausa nos combates para "se reagrupar e reforçar posições". Antes disso, autoridades ucranianas também disseram ter verificado informações de que os soldados russos planejavam usar o cessar-fogo temporário para avançar em direção a Mariupol.

Situação crítica
A situação em Mariupol está ficando “imprópria para a vida humana”, de acordo com os moradores, que têm dormido em abrigos antiaéreos para escapar dos bombardeios quase constantes das forças russas há seis dias. O fornecimento de alimentos, água, energia e aquecimento também foi cortado, segundo as autoridades ucranianas. — Eles [os russos] estão trabalhando metodicamente para garantir que a cidade seja bloqueada — disse o prefeito Vadym Boichenko à Reuters em uma videochamada do porão onde sua equipe está temporariamente sediada. — Eles nem nos dão a oportunidade de contar os feridos e mortos porque o bombardeio não para.

Os ataques russos à cidade litorânea destruíram metade do comboio de ônibus que a equipe de Boichenko havia preparado para a evacuação no sábado, disse ele. — Eles mentiram para nós, além disso, no momento em que as pessoas estavam tentando sair para ir para esses corredores, o bombardeio começou novamente — afirmou, descrevendo o medo e a raiva dos moradores por terem que fugir de volta para os abrigos.
[nosso comentário: o Blog Prontidão Total é um blog pequeno - dois leitores = ninguém e todo mundo - que não propaga fake news; comenta fatos, não versões - que os líderes mundiais que apoiam, COM DISCURSOS, a Ucrânia - gostariam que fossem FATOS.
Após oitiva de nosso time de 'especialistas' - estão sobrando,já que a covid-19, desmoralizou a profissão, ficou fácil contratá-los - entendemos  que os países liderados pelos apoiadores de palanque e/ou de mesas redondas virtuais, vão limitar seu apoio à Ucrânia só aos discursos e sanções econômicas cujo efeito não é rápido.
 
Uma das características da Rússia é a de não desistir dos seus objetivos - Napoleão e Hitler provaram essa linha de conduta e perderam. Assim, só resta a Ucrânia depor o Zelenski - outro bravo combatente, eficiente no uso de palavras e apelos por ajuda que sabe não vai receber = por vários motivos, alguns logísticos e outros mais, um deles por não interessar aos países que apoiam os ucranianos cutucar uma potência nuclear = despachá-lo para um país de sua escolha (por favor, não o remetam  para o Brasil) cessar todas atividades militares,  sentar na mesa de negociações com a Rússia, e procurar obter o máximo de concessões, aceitando o que for oferecido.
Infelizmente, este é o único caminho que resta para a Ucrânia preservar a vida dos seus cidadãos.]

Desde que iniciou a invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro, a Rússia vem negando que tenha civis como alvo. Mas, para Moscou, a captura de Mariupol seria um prêmio — uma ligação estratégica entre os territórios separatistas apoiados pelo governo russo ao norte e a rota terrestre para a Península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014.
A Rússia chama suas ações na Ucrânia de "operação especial" que, segundo ela, não foi projetada para ocupar território, mas para desmilitarizar e "desnazificar o país vizinho..

As Nações Unidas preveem que o número de refugiados pelo conflito suba a 1,5 milhão neste domingo. Ainda segundo a ONU, a guerra já deixou ao menos 351 civis mortos e 707 feridos, fazendo a ressalva de que os números devem ser "consideravelmente mais altos"
 
Mundo - O Globo/agências internacionais