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sexta-feira, 2 de junho de 2017

Os ex-leões vão rugir

Palocci e Mantega inovaram: operavam para Lula, Dilma e o PT dentro da Fazenda

Além do tucano Aécio Neves e de Rocha Loures, assessor de Temer, as duas bolas da vez são Antonio Palocci e Guido Mantega, que agregam grande dose de suspeição sobre os governos do PT. Não bastassem os ex-presidentes da República enrolados e os ex-presidentes e ex-tesoureiros do partido condenados e presos, agora são os ex-ministros da Fazenda (da Fazenda!) que têm muito o que explicar – e contar.

Pela delação de Marcelo Odebrecht, Palocci era o único com poderes para definir quando, de quanto e para quem eram os saques na conta “Amigo” que a empreiteira mantinha para Lula. Pela de Joesley Batista, Mantega era o administrador das contas de US$ 150 milhões da JBS para Lula e Dilma Rousseff no exterior. Eram US$ 70 milhões para ele e US$ 80 milhões para ela, ou o contrário? Joesley não lembra. Afinal, o que são “só” US$ 10 milhões?

Os ministros da Fazenda eram ocupadíssimos. Tinham de traçar a política econômica, cuidar dos cofres e contas públicas, definir projetos de lei, emendas constitucionais e medidas provisórias da economia, negociar financiamento de empresas para o PT, achacar os “campeões nacionais” do BNDES e ainda servir de gerentes para as contas dos chefes. Dureza... Além disso, e de calibrar o fluxo entre o BNDES, empresas aliadas, campanhas e bolsos alheios, cabia aos ministros da Fazenda alimentar o guloso Leão da Receita Federal, que devora nacos importantes da renda de quem produz, vende, compra e trabalha. Mas, tão ocupado com Lula, Dilma, PT e JBS, Mantega se esqueceu de declarar US$ 600 mil.

Se o senhor e a senhora deixarem de declarar uma renda qualquer, ou errarem em R$ 400 o valor de um aluguel, vão ter uma dor de cabeça infernal, mas o domador do Leão pôde se dar ao luxo de esquecer uma bolada dessas. Segundo ele, a origem foi a venda de um imóvel herdado do pai, provavelmente italiano. O dinheiro, porém, não está em bancos da Itália nem do Brasil, mas sim da Suíça, paraíso de recursos duvidosos. Escândalos com deputados, senadores, prefeitos e governadores já fazem parte do cotidiano no Brasil, mas com ministros da Fazenda?! Soa como se estivessem fazendo negociatas não só com estatais e fundos de pensão, mas com o próprio País, com a economia nacional. Em nome do quê? De uma ideologia, de um projeto de poder? Ou de interesses bem mais comezinhos?

O certo é que Palocci e Mantega sabem das coisas, de muitas coisas do submundo dos governos Lula e Dilma. Sabem, principalmente, como Lula agia e se salvava algum bônus para ele próprio. Daqui e dali, lê-se e ouve-se que Palocci quer entregar o sistema financeiro e duas dezenas de empresas. Tudo bem. E o chefe?  José Dirceu é um quadro político, com uma biografia pujante, e engoliu calado o título de “chefe de quadrilha”, o mensalão, o petrolão e a cadeia. Mas Palocci não é Dirceu, e Mantega não chega a ser nem mesmo um Palocci. Palocci vai falar, Mantega está recobrando a memória e ambos vão rugir. O PT acha que já chegou ao fundo do poço, mas a força-tarefa da Lava Jato tem certeza de que não.

Afogados
. É constrangedor Aécio forçar reuniões para dar a impressão de que tudo continua como antes e ele ainda manda no PSDB e nas bancadas depois de ser gravado, aos palavrões, pedindo R$ 2 milhões para a JBS.  E o que dizer de Lula, que comanda o PT, define Gleisi Hoffmann para presidir o partido e se prepara para disputar a Presidência da República mesmo depois de virar réu cinco vezes por pedir, não dois, mas muitos milhões para contas, triplex, apartamento, reformas e terreno do seu instituto, além de ajeitar a vida dos filhos? Ninguém se constrange?


Fonte: Eliane Cantanhêde - O Estado de S. Paulo


 

terça-feira, 18 de abril de 2017

A lista anestésica de Fachin


Só o PT, a sigla da alma mais honesta do planeta, sistematizou a corrupção nessa escala 

Os anjos da guarda que protegem os picaretas no Brasil trabalham duro. Veja o caso de Luiz Inácio da Silva. Trata-se sem dúvida de um brasileiro lambido pela sorte. As evidências criminais chovem sobre ele, mas sempre aparece alguém dizendo que a próxima será a gota d’água. Já há um oceano de gotas d’água no prontuário desse cidadão, e ele continua flanando à solta. Quando enfim surge a gota das gotas, aparece também o anjo dos anjos – Edson Fachin, o companheiro providencial.

Marcelo Odebrecht confirmou a Sergio Moro que a designação “amigo” nas planilhas de corrupção da empreiteira se referia ao tal Luiz Inácio, o “Lula”. Conforme se especulava há tempos, esse Lula, que inclusive presidiu o Brasil por um tempão, recebeu dezenas de milhões de reais em dinheiro vivo a título de propina pelo assalto ao Estado brasileiro, especialmente à Petrobras – R$ 40 milhões até onde a vista alcança, por enquanto. A Lava Jato já tem os detalhes de todo o organograma do assalto governamental – vamos repetir: governamental – da quadrilha petista, inclusive com as delinquências subsidiárias de Dilma, Palocci e Mantega, os afilhados do Brasil. Aí se deu o milagre.

Diretamente do reino das togas esvoaçanteso mesmo de onde vinham os raios paralisantes contra o impeachment – desaba sobre o país a mística lista de Fachin. Contendo políticos de todos os principais partidos do país, devidamente premiados com autorizações de inquéritos, a lista consegue de imediato o efeito pretendido: a opinião pública (que Deus a tenha) conclui que todo mundo roubou, não só o PT. Alívio instantâneo para os autores do maior assalto da história da República. O sistema de influências sobre as disputas eleitorais é gigantesco e cheio de distorções – e é claro que já apareceram os paladinos de um sistema puro, em que as diversas forças da sociedade não influenciariam o voto de ninguém. É a eleição do mundo da Lua. Na Terra, quem é influente pode e deve influenciar – seja uma empresa, seja um rostinho bonito da TV, seja o pipoqueiro da esquina.

Uma empreiteira gulosa pode apostar num candidato pilantra achando que vai ganhar dinheiro no mandato dele, assim como um cantor ignorante pode afiançar um candidato demagogo achando que vai ficar bem na foto. Duas formas de influência igualmente doentes e legítimas. O que se passou no Brasil foi que, no âmbito das empresas, disseminou-se a cultura da doação generalizada – contribuir com tudo quanto é campanha virou uma espécie de seguro de vida empresarial na gangorra da política. Houve até empresário (muitos) fazendo doação clandestina só porque não queria aparecer – e parecer estar num jogo de cartas marcadas. O caixa dois se espalhou de forma fútil. E hoje serve aos que querem misturar futilidade com criminalidade.

Qualquer desses candidatos apontados pela delação da Odebrecht como beneficiários de doações por fora deve ser investigado e punido. Mas aí se impõe a pergunta: quantos na lista de Fachin eram governantes vendendo o governo para empresas privadas? Políticos usando sua condição de mandatários para formar um fabuloso caixa partidário e pessoal a partir de propina – vamos repetir: propina – institucionalizada nas relações com o governo, muitas vezes fantasiada de doação legal ao partido?

Vamos responder a essas perguntas pela enésima vez, porque brasileiro não desiste nunca: só o PT, o Partido dos Trabalhadores, a sigla imaculada da alma mais honesta do planeta, sistematizou a corrupção dessa forma e nessa escala – construindo um duto dos cofres públicos para o caixa do partido e, sabe-se agora, também com ramal para os bolsos dos guerreiros do povo.

Uma pesquisa mostrou Cunha à frente de Dirceu como vilão da Lava Jato. Outra pergunta: qual dos dois ferrou mais a sua vida, caro leitor? Respondemos por você: com toda a gincana de corrupção atribuída a Cunha, quem arrebentou suas finanças foi o projeto de Dirceu e meliantes associados. A gangue de Lula (e mais ninguém) prostituiu a União. A lista de Fachin, coincidentemente divulgada em cima da revelação crucial de Marcelo Odebrecht sobre o esquema, prova que anjo da guarda existe. Mas logo terá de passar o bastão ao santo padroeiro dos presidiários.

 Fonte: Guilherme Fiuza - Época

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Semelhanças e diferenças entre Palocci e Mantega


Os atos suspeitos de Antonio Palocci não são os mesmos que levaram Guido Mantega a ser preso, na semana passada, embora os dois tenham ocupado a Fazenda e sejam acusados de intermediar propina. Eles aparecem em pontos distintos da investigação. Até a política econômica que eles adotaram era diferente, mas a forma como atuaram teve uma semelhança. Eles negociavam a arrecadação para o partido em troca de favores do governo.

A operação Lava-Jato é complexa, extensa. Nessa massa de informações, é importante entender as nuances. No caso de Palocci, um dos elementos probatórios é a negociação entre ele e a Odebrecht sobre a compra de um terreno para a construção do Instituto Lula. Não é errado uma companhia fazer uma doação para um projeto destinado a abrigar a memória de um período presidencial. O problema é fazer isso de forma oculta em troca de favores que o governo prestaria a essa mesma empresa.

É grande a correlação entre a atuação de Palocci em favor da Odebrecht e os pagamentos feitos a ele, ao PT e a pessoas ligadas ao ex-ministro. Em alguns casos, a empreiteira de fato auferiu os benefícios dessa relação.  A série de suspeitas sobre Palocci é longa. Ele saiu do ministério de Lula em 2006, no episódio da quebra de sigilo do caseiro Francenildo; o caso depois foi arquivado. Já fora do governo, continuou a defender interesses privados, de acordo com a investigação. Em 2011, com Dilma, ele voltou à Esplanada, como ministro-chefe da Casa Civil. Poucos meses depois, deixou o cargo, com as suspeitas provocadas pela evolução de seu patrimônio nos anos anteriores. [o grande problkema da 
Casa Civil de Lula e Dilma é que se tornou um COVIL DE LADRÕES por ação de todos e todas que a comandaram.]

Há outras sombras ameaçando Palocci. Vários delatores na Lava-Jato o citam. Mônica Moura contou que ele intermediava caixa 2 para a campanha. Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez, relaciona o ex-ministro com a propina de Belo Monte, que não é sequer tratada na operação. O STF ainda vai decidir se a apuração dos desvios na obra da hidrelétrica ficará no âmbito da Lava-Jato ou será dividida.

Na atuação na economia, Palocci foi bem, ajudou a estabilizá-la após a crise de confiança com a chegada de Lula ao poder. Ele afastou as ideias defendidas por economistas do PT, que poderiam levar à inflação e desorganizar a economia, e o país passou a crescer. Já Mantega aplicou, com o aval dos presidentes, as medidas que desequilibraram a economia e levaram o país à crise. Na relação com a Justiça, no entanto, Palocci e Mantega têm muito a explicar.

Fonte: Blog da Míriam Leitão