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domingo, 7 de maio de 2023

A história se repete - Ana Paula Henkel

Revista Oeste

Entra dia, sai dia, os brasileiros assistem atônitos às inconstitucionalidades perpetradas por homens e mulheres da (in)justiça no Brasil

 

Jair Bolsonaro e Daniel Silveira | Foto: Montagem Revista Oeste/PR/Câmara dos Deputados

No filme Groundhog Day, de 1993 (no Brasil lançado com o nome de Feitiço do Tempo), o meteorologista Phil Connors, interpretado por Bill Murray, viaja até Punxsutawney, na Pensilvânia, para cobrir as celebrações da data que marca a metade do período entre o solstício de inverno e o equinócio da primavera no Hemisfério Norte. O Groundhog Day, ou Dia da Marmota, deriva-se da superstição de imigrantes holandeses e alemães do Estado da Pensilvânia de que, se uma marmota sair de sua toca neste dia e vir sua sombra, ela voltará para sua toca, e o inverno continuará por mais seis semanas. Se o roedor não conseguir ver sua sombra, a primavera chegará mais cedo. 
Filme Feitiço do Tempo | Foto: Divulgação

O filme é considerado um clássico e uma das maiores comédias românticas de todos os tempos, mas poderia ser a realidade dos brasileiros demonstrada principalmente na cena em que Connor está em um bar local e diz a um homem: “Eu acordo todos os dias, bem aqui em Punxsutawney, e é sempre 2 de fevereiro. E não há nada que eu possa fazer sobre isso. O que você faria se estivesse preso em um lugar e todos os dias fossem exatamente iguais, e nada do que você fizesse importasse?”

Uma parte importante do DNA da história comunista é como usam o Estado para transformá-lo de acordo com os ideais marxistas

Há pelo menos três anos, quando vamos comentar as principais notícias do dia de segunda a sexta-feira, antes no programa Os Pingos nos Is e agora no Oeste Sem Filtro, falamos do Supremo Tribunal Federal e quase sempre de Alexandre de Moraes.  
Depois de inúmeros atos ilegais cometidos pela Corte e por ministros que deveriam apenas salvaguardar e aplicar a Constituição Federal, mantendo assim o equilíbrio e a sanidade jurídica no país, o que mudou no Brasil? Para eles, nada. Para nós, tudo. Não temos mais ordenamento jurídico, as leis são diariamente vilipendiadas por pessoas que deveriam honrar a confiança da sociedade.  
Mas não é essa a realidade no Brasil. Entra dia, sai dia, os brasileiros assistem atônitos às inconstitucionalidades perpetradas por homens e mulheres da (in)justiça no Brasil. Estamos vivendo um eterno dia da marmota? Onde vamos chegar?

Abro minhas anotações das notícias e dos comentários que fizemos no Oeste Sem Filtro nas últimas semanas e parece que sou o próprio jornalista Connors no filme de 1993. Pacheco, STF, TSE, Alexandre de Moraes, Daniel Silveira preso, livre, preso, julgado, livre, preso… Bolsonaro, Bolsonaro, Bolsonaro… Um ministro do STF interferiu na prerrogativa do Executivo, outro ministro ignorou tal premissa do Congresso, ministro do TSE — que também é ministro do STF — decreta censura e é seguido por outra ministra do tribunal constitucional no Brasil… Prisões sem a devida investigação e o devido processo legal, perseguições políticas, criminalização de opiniões… O que está acontecendo? 
O Brasil saiu do caminho do progresso, mesmo aos trancos e barrancos, saiu do despertar político e saudável dos últimos anos para entrar nas páginas ruins dos livros de história quando Estados totalitários e policialescos viraram o cotidiano de populações inteiras. Medo, insegurança, instabilidade econômica e social que se instalam pelos devaneios cometidos por narcisistas autoritários.Sessão plenária do STF, 26/4/2023 | Foto: Nelson Jr./SCO/STF

Projetos de lei que visam a censurar e amordaçar qualquer um que cometa o “crime hediondo” de abrir a boca contra o novo sistema no Brasil são tocados a toque de caixa e com a pressa de quem precisa silenciar dissidentes e opiniões contrárias ao sistema.                Apenas ditaduras e regimes de exceção agem dessa maneira.                   O famigerado PL 2630 saiu do caráter de votação urgente nesta semana, os comunistas não tinham os votos necessários para calar a boca de meio mundo, mas vai entrar em campo agora o STF para matar essa no peito e marcar o gol de placa para os fãs de Karl Marx.

A sanha de calar a imprensa livre é antiga, bem antiga.
O que precisamos sempre fazer é o exercício da volta às páginas da história para entender como os totalitários agem. Eles mudam de roupa, mas não mudam de estratégias. Não é só no filme Feitiço do Tempo que o Brasil parece acordar todos os dias. Ao tomarem o poder, em 1917, os bolcheviques agiram imediatamente contra o que consideravam “jornais hostis que disseminam desinformação”. Um decreto aprovado em 27 de outubro de 1917 declarava com todas as letras as medidas extraordinárias que seriam adotadas com o objetivo de cortar a corrente de “calúnias” em que a imprensa teria o prazer de afogar a nova vitória do povo. Os sanguinários revolucionários, ídolos dos comunistas tupiniquins, avisaram que, quando “a nova ordem fosse consolidada”, ou seja, todos estivessem tomados pelo medo de abrir a boca, todas as medidas administrativas contra a imprensa seriam suspensas — o que nunca aconteceu.

O decreto sobre a imprensa dos bolcheviques em 1917 deu ao governo o poder de emergência para fechar quaisquer jornais que apoiassem a contrarrevolução, criando um monopólio estatal de publicidade. A data, 1917, parece estar num passado bem distante de todos nós, mas as linhas do decreto soviético nem tanto. O documento deu ao governo o controle dos meios eletrônicos de comunicação e estabeleceu um “Tribunal Revolucionário de Imprensa”, além do poder de censurar a mídia. Jornalistas e editores que cometessem crimes de desinformação” seriam punidos pela Cheka, a primeira polícia secreta da Rússia, que, segundo algumas estimativas em comum de vários historiadores, pode ter executado até 100 mil pessoas consideradas “inimigas de classe” durante o Terror Vermelho. A Cheka também estava autorizada a impor multas ou penas de prisão. Você ainda tem alguma dúvida de que falta pouco para chegarmos a este Estado policialesco? Você ainda tem alguma dúvida de que é este cenário que os comunistas no Brasil querem para todos nós?Membros do conselho da Cheka, em 1918 | Foto: Wikimedia Commons

Uma parte importante do DNA da história comunista é como usam o Estado para transformá-lo de acordo com os ideais marxistas. Uma vez no poder, os comunistas reorganizam completamente o aparato do Estado para melhor perseguir seus objetivos de engenharia social e poder absoluto. Nada pela metade. Historicamente, os governos comunistas, por definição, criaram Estados de partido único (mesmo que outros partidos existam, eles não desempenham nenhuma função política), impedindo que indivíduos não alinhados com o partido e seus objetivos chegassem ao poder, cerceando suas liberdades, suas ideias e sua voz. E, para isso, sequestram ou alinham-se a um corrupto Poder Judiciário, que desfigura as leis para benefício do novo sistema.

No filme de 1993, depois de perceber que não consegue mais sair do mesmo dia, o personagem de Bill Murray encontra um mendigo todos os dias e, em um gesto de desprezo, faz questão de bater nos bolsos da calça como se nunca tivesse dinheiro. Mais tarde, preso naquele feitiço do tempo e com a mente adormecida, o jornalista tenta ajudar repetidamente o mendigo, mas acaba descobrindo que não importa o que faça, o homem sempre morre. Mas há uma lição até mesmo em uma comédia romântica que, claustrofobicamente, eu diria, pode mostrar o que estamos vivendo no Brasil. Mesmo em uma já consolidada ditadura do Judiciário alinhada a comunistas, a lição da Oração da Serenidade, escrita pelo teólogo Reinhold Niebuhr e posteriormente usada pelos Alcoólicos Anônimos pelo mundo, precisa ser lembrada: “Deus, conceda-me a serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar, coragem de mudar as coisas que posso, e sabedoria para saber a diferença”.

Uma das ideias centrais de Friedrich Nietzsche, filósofo alemão cuja obra exerceu uma influência profunda na história intelectual moderna, é imaginar a vida como uma repetição sem fim dos mesmos eventos que repetimos. Como isso moldaria suas ações? O que você escolheria para viver por toda a eternidade? O que podemos mudar hoje no Brasil? Por incrível que pareça, muito. Não sei se veremos a mudança necessária de imediato, mas o que estamos deixando para nossos filhos e netos?

Não dá mais para procrastinar o encontro com a realidade que vai requerer um esforço igualmente histórico de todos nós. Cada dia que vivemos não é tão diferente do anterior. No entanto, as mudanças existem, precisam acontecer e estão nos detalhes e nas ações que pedem a nossa coragem para ser exaltados para poderem seguir seu caminho de transformação.  As páginas ruins da história estão diante de nós. Em preto e branco e em todas as cores. Precisamos mergulhar no legado de coragem de homens e mulheres que quebraram o feitiço do mal, dedicando suas vidas à entrega de um futuro melhor às futuras gerações.

Johann Goethe (1749-1832), filósofo, cientista e escritor alemão, resume em seu célebre pensamento que não podemos deixar que a inércia nos contagie: “No momento em que nos comprometemos, a providência divina também se põe em movimento. Todo um fluir de acontecimentos surge ao nosso favor. Como resultado da atitude, seguem todas as formas imprevistas de coincidências, encontros e ajuda, que nenhum ser humano jamais poderia ter sonhado encontrar. Qualquer coisa que você possa fazer ou sonhar, você pode começar. A coragem contém em si mesma o poder, o gênio e a magia”.Johann Wolfgang von Goethe, pintura a óleo de Joseph Karl Stieler, 1828 | Foto: Wikimedia Commons

O escritor britânico G. K. Chesterton, quando fala da grande geração que salvou o mundo do eixo nazifascista, sempre enaltece que ali havia heróis na essência do termo — em pensamento e ação, em força e capacidade de sacrificar tudo por todos, ressaltando de maneira emocionante que eram jovens que não foram movidos pelo ódio do que estava na frente, mas por amor ao que deixavam para trás.

O Brasil precisa do nosso amor e coragem.


A coragem contém em si mesma o poder, o gênio e a magia. Se a história se repete para o mal, ela também pode se repetir para o bem.

Leia também “Boa noite, Cinderela”
 
 
 

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

É chegada a hora de despertar - Ana Paula Henkel

Protesto de caminhoneiros no Canadá contra a obrigatoriedade de vacinação | Foto: Darryl Barton
Protesto de caminhoneiros no Canadá contra a obrigatoriedade de vacinação -  Foto: Darryl Barton 

O evento ficou mundialmente famoso devido ao filme Groundhog Day, de 1993, lançado no Brasil com o nome de Feitiço do Tempo. O roteiro apresenta o meteorologista Phil Connors, interpretado por Bill Murray, que reluta em viajar para Punxsutawney, na Pensilvânia, para cobrir as celebrações do Dia da Marmota da pequena cidade, por considerar a cobertura do tradicional evento uma perda de tempo. Já hospedado em um hotel local, ele acorda no dia seguinte e se vê preso em um looping temporal, sendo forçado a viver o feriado repetidamente. Todas as manhãs, em sua cama no Cherry Tree Inn, ele desperta com a música I Got You, Babe, de Sonny e Cher, tocando no rádio-relógio:

“They say we’re young and we don’t know / We won’t find out until we grow / Well I don’t know if all that’s true / ‘Cause you got me, and baby, I got you…”

“Dizem que somos jovens e não sabemos / Não vamos descobrir até crescermos / Bem, eu não sei se tudo isso é verdade / Porque você me tem, e baby, eu tenho você…”

Mas o filme de 1993, considerado uma das maiores comédias de todos os tempos, dirigido por Harold Ramis e produzido por Ramis e Trevor Albert, pode, no entanto, ser em alguns aspectos um ensaio sobre uma perspectiva mais atual que nunca. Em um bar local, Connor desabafa com um homem: “Eu acordo todos os dias, bem aqui em Punxsutawney, e é sempre 2 de fevereiro. E não há nada que eu possa fazer sobre isso. O que você faria se estivesse preso em um lugar, e todos os dias fossem exatamente iguais, e nada do que você fizesse importasse?”

Os dias continuam a se repetir e, sem esperança, Connors decide se comportar da pior maneira possível, já que “nada muda”. E este é o dispositivo quase escondido no filme, que acaba se tornando atemporal, como um perfeito atalho para os dias atuais, no melhor sentido de “a mesma coisa de sempre em um dia diferente”. Connors passa um número desconhecido de dias repetindo exatamente o mesmo dia várias vezes. Todas as outras pessoas vivenciam aquele dia pela “primeira” vez, enquanto Connors tem de encarar sua rotina como Sísifo, personagem da mitologia grega condenado a empurrar eternamente uma enorme pedra morro acima que, ao atingir o seu topo, cai novamente, fazendo esse processo ser repetido por toda a eternidade.

Há exatos dois anos, escrevemos sobre liberdade, sobre autonomia, sobre direitos, sobre a verdade, sobre uma pandemia que devorou o intelecto humano

O que poderia ser apenas um filme de comédia, muitas vezes tachado de tolo, na verdade mostra algumas pistas de um possível mistério central que nos aproxima de um arco moralmente mais denso e poderoso para o personagem principal. 
Quando Connors percebe que não é louco e que pode, na verdade, viver para sempre sem consequências (se não há amanhã, como ser punido?), ele se entrega ao seu “eu adolescente”. Fuma dezenas de cigarros sem medo de julgamentos ou doenças, dirige embriagado, usa um leque de mentiras para levar muitas mulheres para a cama, rouba dinheiro e se perverte de uma maneira descontrolada. Depois de mais uma noite de orgias e bebedeira, ele declara: “Não vou mais jogar pelas regras deles!”.

Algum tempo depois de abusar de uma liberdade que acreditava ter, Connors é tomado por um vazio inexplicável e se torna suicida, percebendo que toda a gratificação material e sexual do mundo não se sustenta espiritualmente. De qualquer forma, ele culpa a marmota e, em um pacto de assassinato-suicídio, mata o roedor. Mas nem isso faz com que Connors acorde de seu pesadelo. Depois de inúmeras tentativas de tirar sua própria vida, ele continua acordando no dia seguinte, sem ser o dia seguinte. No fim, exausto e sem expectativas de sair daquela maldição, resolve dar uma guinada. Começa a tocar piano, ler poesia, decide ajudar os moradores locais em assuntos grandes e pequenos, incluindo pegar um menino que cai de uma árvore todos os dias, mas que nunca lhe agradece, apaixona-se pela pessoa que jamais imaginaria se apaixonar; e começa a prestar atenção no amor em várias camadas e vertentes.

Ele, então, descobre que há algumas coisas que não pode mudar, mesmo repetindo-as todos os dias. E, em sua dedicação pelo seu presente, finalmente acorda em 3 de fevereiro, destravando o ciclo interminável do Dia da Marmota. A maldição é suspensa quando Phil Connors agradece pelo dia em que acabou de viver, deixando o melhor que podia no presente, mesmo sabendo que teria de repetir tudo mais uma vez no dia seguinte. Connors lentamente percebe que o que faz a vida valer a pena não é o que você obtém dela, mas o que você coloca nela.

Uma das ideias centrais de Friedrich Nietzsche, filósofo alemão cuja obra exerceu uma influência profunda na história intelectual moderna, é imaginar a vida como uma repetição sem fim dos mesmos eventos que repetimos. 
Como isso moldaria suas ações? 
O que você escolheria para viver por toda a eternidade? 
Mas esse existencialismo não explica o apelo mais amplo de um filme aparentemente bobo que conversa com nossa atual realidade e sociedade. É na ressonância religiosa, que tanto tentam expurgar de nossa vida cotidiana (vide as eternas ordens de lockdowns para igrejas e templos, a tentativa da diminuição da importância da fé), que o filme chamou minha atenção na última vez a que o assisti. Connors vai para sua própria versão do inferno, do qual ele é libertado ao abandonar seu egoísmo e se comprometer com atos de amor da vida real de quem está à sua volta.

Peças inesperadas no tabuleiro
Desde 2020, quando sento semanalmente para pensar no assunto que abordarei em meu artigo semanal, às vezes tenho a sensação de que estamos vivendo no filme de 1993, no Dia da Marmota
O que você faria se estivesse preso em um lugar, e todos os dias fossem exatamente iguais? 
Há exatos dois anos, escrevemos sobre liberdade, sobre autonomia, sobre direitos, sobre a verdade, sobre uma pandemia que devorou o intelecto humano e sobre personagens que continuam desafiando as novas leis do silêncio impostas ao mundo. Martin Kulldorff, Jonathan Isaac, Robert Malone, Joe Rogan, Eric Clapton, Novak Djokovic, Aaron Rodgers, Nicki Minaj, quantos nomes temos trazido para demonstrar a bravura de homens e mulheres que continuam, com declarações firmes, expondo os covardes. 
Nomes que decidiram não aceitar mais as guilhotinas virtuais e a imposição de que todos nós temos de sentar no sofá quente dos lobbies. Mas, mesmo depois de tantos excepcionais exemplos, o que mudou? Estamos vivendo um eterno Dia da Marmota? Aonde vamos chegar? Estamos, realmente, fazendo tudo o que podemos fazer para estancar essa insanidade? 
O que você fez, aí mesmo, perto de você, para quebrar esse ciclo medonho?

Em toda revolução importante, e acredito que estamos dentro de uma, peças inesperadas podem surgir. A última movimentação nesse tabuleiro, crucial para a sobrevivência da liberdade como a conhecemos no mundo, foi brilhantemente feita pelos canadenses, mais especificamente os caminhoneiros canadenses. O que começou como um protesto local, ignorado pela mídia, agora se transformou em uma manifestação mundial contra o fascismo da covid. Após as medidas do governo canadense de impor vacinas para caminhoneiros que cruzam a fronteira EUA–Canadá, os motoristas lançaram um movimento de protesto apelidado de “Freedom Convoy”, que começou na Província da Colúmbia Britânica, no início da semana passada, e chegou à capital canadense, Ottawa, na última sexta-feira.

(...)

O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, saiu às pressas da capital para um destino não informado e disse essa semana que os manifestantes que estavam em Ottawa eram uma “pequena minoria de marginais” que mantêm “visões inaceitáveis que não representam as opiniões dos canadenses que pensam nos outros”. Tamara Lich, uma das principais organizadoras do grupo Freedom Convoy 2022, disse, em um vídeo postado na conta do Facebook do grupo — perfil que foi derrubado pela plataforma: “Este é um evento familiar, seremos pacíficos e não instigaremos nada. Estamos todos preparados para ficar aqui o tempo que for preciso. Estamos juntos para recuperar nossas liberdades”.

(...) 

Na Holanda, motoristas realizaram seu próprio protesto de comboio, “tudo e todos sobre rodas” são bem-vindos. Aqui nos EUA, caminhoneiros planejam o início de um grande comboio, que deverá sair da Califórnia nas próximas semanas e atravessar o país até a capital, Washington, DC, para protestar contra a tirania do inútil passaporte vacinal, que não bloqueia a transmissão do vírus.
Achatar a curva, lockdown, vacina, tranca tudo e não questiona nada, transmissões em alta, nova cepa, passaporte vacinal, agora vamos achatar a curva, lockdown, vacina, tranca tudo e não questiona nada, transmissões em alta, passaporte vacinal…  
E o rádio-relógio continua tocando a mesma música. E a vida segue imitando a arte. E se o amanhã que deixaremos para os nossos filhos for o mesmo de hoje? 
Um conto draconiano que sufoca qualquer palavra contra os tiranos? 
Uma repetição sem inspiração, sem propósito e sem esperança?
 
(...)

Não dá mais para procrastinarmos o encontro com a realidade, que vai requerer um esforço de todos nós. Cada dia que vivemos não é tão diferente do anterior. No entanto, as mudanças existem e estão nos detalhes que precisam da nossa coragem para ser exaltados e para seguir seu caminho da transformação. Às vezes, só estamos entediados e repetindo nossos maus hábitos porque estamos no piloto automático, dentro no nosso próprio feitiço do tempo. E nos acomodamos, ouvindo a música de Sonny e Cher, esperando que o feitiço se quebre sozinho… “Dizem que somos jovens e não sabemos / Não vamos descobrir até crescermos…”.

Nessa tragicomédia que estamos vivendo, o que fazemos, de fato, como os caminhoneiros canadenses, para quebrar o feitiço que tentam nos impor nos últimos dois anos? 
Os tempos são assustadores, mas a inspiração está por toda parte. Não interessa mais se tudo não passa de um sonho ruim ou um pesadelo. É chegada a hora de despertar.

Leia também “É assim que as coisas mudam”

MATÉRIA COMPLETA - Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste