Poucos ali se mostram preocupados com a existência de 13 milhões de desempregados
Humanos seguem para Marte no final da próxima década, anuncia a Nasa.
Nessa época, a Universidade de Durham, no Reino Unido, começa a usar
moléculas motorizadas, dirigidas pela luz, para perfurar individualmente
células cancerosas, e destruí-las em 60 segundos. Esses experimentos poderão ser acelerados pela novidade da IBM: um chip
capaz de guardar um bit de informações num único átomo — do tamanho da
moeda de um centavo — vai reter dados em volume similar ao da biblioteca
musical da Apple.
Visto de Brasília, esse panorama global pautado pela fusão de
tecnologias, bem como suas consequências sobre a produção, o emprego e
as políticas públicas, parece distante da vida real, muito além da Via
Láctea. No Palácio do Planalto prevalece a crença de que só o atraso leva ao
futuro. São raras as exceções, entre elas a equipe empenhada em retirar o
Estado dos escombros fiscais.
O Judiciário se desnorteou, com um Supremo visto como adversário ou
parceiro de frações políticas, como define o pesquisador Conrado Hübner. Já o Congresso dá prioridade à vingança contra a Operação Lava-Jato. O futuro sumiu da Praça dos Três Poderes. Poucos ali se mostram
preocupados com a existência de 13 milhões de desempregados quando há
milhares de vagas não preenchidas em grupos como Cyberlabs. Não se vê
aflição com a dependência tecnológica, nem para facilitar a inovação em
empresas como a Raízen, que extrai energia da biomassa suficiente para
abastecer o Rio por um ano, ou a Embraer, que projeta, com a Uber, um
carro voador elétrico.
Na asfixia política produzida em Brasília, não sobra lugar no futuro
imediato para gente como Gabriel Liguori desenvolver um gel a partir de
células de um paciente para criação de um coração artificial, impresso
em 3-D e aplicável em transplantes. Ou ainda, para uma empresa de cartão
de crédito eletrônico como a de Henrique Dubugras, 23 anos, e Pedro
Franceschi, 24, que já disputa mercado com a Amex. Ambos celebram o
primeiro US$ 1 bilhão da Brex, uma década antes da viagem humana a
Marte.