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quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Mentiras tóxicas sobre o agronegócio - Revista Oeste

 Edilson Salgueiro

 Apesar dos sabotadores, os produtores rurais brasileiros alimentam quase 1 bilhão de pessoas em todo o mundo e alavancam a economia do país

O agronegócio brasileiro é alvo constante dos sabotadores, dos militantes e dos ideólogos. Embora produza alimentos para 800 milhões de pessoas em todo o mundo e alavanque a economia do país todos os anos, o setor é frequentemente difamado pelas organizações não governamentais (ONGs), pelas redações da velha mídia e pelas agências de publicidade. Uma das mentiras mais difundidas por esses grupos é que os defensivos agrícolas utilizados no Brasil são proibidos em países desenvolvidos. Mas a realidade prova o contrário.

Trator pulveriza pesticidas em uma plantação de milho | Foto: Reprodução/Shutterstock

Trator pulveriza pesticidas em uma plantação de milho | Foto: Reprodução/Shutterstock

Antes de desmentir as falácias sobre o tema, é necessário entender o atual sistema regulatório da União Europeia (UE). Na Diretiva nº 414, de 15 de julho de 1991, os integrantes do bloco determinaram que todos os ingredientes ativos (IAs) — a principal substância química dos pesticidas — deveriam ser avaliados pela Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA). Esse processo poderia durar até 12 anos.

A partir dessa medida, criou-se uma lista com aproximadamente 900 IAs a serem examinados. Os produtos seriam aprovados somente depois das avaliações. No entanto, mais de 500 moléculas não foram analisadas pela EFSA no prazo estipulado. Por isso, foram consideradas “não aprovadas” — ou, no linguajar de quem gosta de contestar os fatos, banidas”. Mas a aprovação não está necessariamente relacionada com os riscos de toxicidade ou com as exigências regulatórias. Na verdade, a “não aprovaçãose refere a substâncias que nunca foram avaliadas pelas autoridades governamentais de um país; que nunca tiveram pedidos de renovação ou de registro; e que foram canceladas por ausência de pagamentos de taxas para manutenção de registro.

Portanto, os ingredientes ativos retirados do mercado europeu não foram banidos. Apenas ainda não foram avaliados.

Brasil versus mundo
De acordo com o estudo “Aprovações e Proibições de Agrotóxicos em Diferentes Países”, divulgado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), há 279 IAs registrados no Brasil. O relatório mostra que várias dessas moléculas estão sendo utilizadas em outras nações, incluindo Estados Unidos, Canadá, Austrália, Japão e UE. Uma única dessas substâncias não está registrada em nenhum dos países citados: a sulfluramida, usada para o controle de formigas. Segundo a CropLife Brasil, associação de empresas de defensivos agrícolas, o uso desse produto é seguro no país.

É comum haver a “aprovação” de determinados defensivos em alguns países e a “não aprovação” dos mesmos produtos em outros. Isso porque as condições agrícolas das regiões, em relação à flora, à fauna e ao clima, apresentam cenários distintos. Em ambientes diversos, surge uma variedade de insetos, pragas e ervas daninhas nas lavouras. Assim, o controle eficaz é possível apenas com substâncias específicas.

Dos 279 ingredientes ativos registrados no Brasil, 228 podem ser usados na Austrália, 218 nos EUA e no Canadá, 205 no Japão e 136 na UE.

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Em contrapartida, há 90 ingredientes ativos registrados na UE que não podem ser utilizados no Brasil. Ao todo, 77 substâncias nunca tiveram o pedido de registro solicitado, nove não foram aprovadas por não apresentar seus fabricantes e quatro ainda precisam ser analisadas pelas autoridades responsáveis.

Na prática, isso significa que os defensivos estão sendo avaliados individualmente, conforme a necessidade dos países e as legislações nacionais. As culturas agrícolas e a quantidade de aplicações das substâncias, que variam de acordo com o clima, com o tipo de solo e com o tamanho da área, levam a diferentes conclusões nas análises.

A necessidade de modernizar as leis

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“Um cidadão com 85 quilos, por exemplo, precisaria consumir 20 quilos de pimentões contaminados, em apenas 24 horas, para sofrer algum tipo de intoxicação crônica”

A fim de agilizar os processos de análise, a Câmara dos Deputados aprovou, no início de fevereiro, o Projeto de Lei (PL) 6.299/2002. O texto estabelece que, se os pesticidas não forem aprovados em dois anos, a empresa dona de uma molécula nova poderá solicitar a autorização temporária de registro. A concessão será feita apenas se o produto tiver sido aprovado em pelo menos três países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Caso obtenham a autorização temporária, os agricultores poderão utilizar o novo defensivo agrícola. Durante esse período, os órgãos federais continuarão a analisar o pesticida. Se indeferirem o pedido ao fim do processo de avaliação, o produto será proibido.

Atualmente, os países da UE demoram entre dois e quatro anos para validar um defensivo agrícola, o que permite o registro contínuo de novas moléculas — mais eficientes e menos tóxicas. Na contramão, o Brasil submete os produtores a oito anos de espera.

Comida boa, barata e de qualidade
Como mostra reportagem publicada na Edição 100 da Revista Oeste, os alimentos que chegam à mesa dos brasileiros são avaliados pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
 
(...)

O mundo precisa dos defensivos agrícolas
A população mundial deve chegar a 10 bilhões de pessoas até 2050, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Nesse cenário, serão necessários mais carnes, frutas, legumes, verduras e cereais. E o Brasil, com sua vocação natural para a agropecuária, deverá assumir as rédeas e alimentar boa parte do planeta.

Para que o agronegócio brasileiro cumpra sua missão, o uso dos pesticidas é indispensável. Isso porque aproximadamente 40% da produção agrícola mundial é perdida todos os anos, em virtude dos ataques das pragas. Estima-se que as perdas mundiais causadas por doenças das plantas atinjam US$ 220 bilhões, enquanto as pragas fazem os produtores rurais perderem US$ 70 bilhões.

Embora seja apontado como um dos maiores utilizadores de pesticidas do mundo, o Brasil não encabeça (proporcionalmente) o ranking de países que mais gastam com defensivos agrícolas por quantidade de alimentos produzidos. O Japão lidera a lista, com apenas 8 quilos colhidos para cada dólar investido. Na Europa, a média é de 58 quilos (na França, por exemplo, são 50 quilos), e, nos Estados Unidos, de 94 quilos/dólar. O Brasil produz mais de 140 quilos de alimentos para cada dólar investido em pesticidas, graças à eficiência tecnológica de sua produção.

No ranking de países que mais usam defensivos por hectare, o Brasil está em sexto lugar (menos de 5 quilos por hectare/ano). A Holanda ganha a medalha de ouro, com cerca de 20 quilos por hectare/ano. Seguem-se Japão (17,5), Bélgica (12), França (6) e Inglaterra (5,5).

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Mesmo assim, os produtores rurais brasileiros reduzem anualmente a dose média de pesticidas utilizados por hectare. A dose média dos produtos lançados a partir do ano 2000 corresponde a 12% da dos produtos anteriores à década de 1970. Em linhas gerais, há mais eficiência e menos riscos.

Ideologia, a pior praga
Conforme diz Lohbauer, o boicote à agricultura convencional e aos pesticidas é impulsionado pela agenda da “sustentabilidade”. “Isso se transformou numa agenda corporativa”, disse o presidente da CropLife Brasil. “Centenas de milhares de organizações não governamentais, think tanks e grandes corporações trabalham para promover as pautas verdes. Há muito dinheiro envolvido. Essas mesmas ideias destruíram o Sri Lanka.”

Reportagem publicada na Edição 121 da Revista Oeste mostrou que o colapso do país asiático é resultado de décadas de incompetência de governos socialistas e do lobby ecologicamente correto de multinacionais, universidades e ONGs. O Sri Lanka aderiu à agricultura orgânica, sob o argumento de não causar danos ambientais ao planeta, e seguiu à risca as práticas sustentáveis de Environmental, Social and Governance (ESG). De acordo com um relatório da consultoria World Economics, que avalia o índice de emissão de gases do efeito estufa em todos os países, a ilha asiática ultrapassa a marca de 98 pontos — considerando que 100 é a melhor nota, e zero é a pior. Suécia (96), França (92), Alemanha (90), Brasil (84), Rússia (54), EUA (51) e China (43), por exemplo, ficaram para trás.


Na prática, as políticas “sustentáveis” resultaram em escassez de energia, inflação e pobreza. Aproximadamente 30% das terras agrícolas de Sri Lanka foram inativadas no ano passado, em virtude da proibição de pesticidas e fertilizantes. Como resultado, 85% dos agricultores sofreram perdas nas safras. A produção de arroz caiu 20%, enquanto os preços subiram 50% em apenas seis meses. Mas não é só isso. O governo precisou importar US$ 450 milhões em arroz, apesar de o país ser autossuficiente na produção do cereal. Há apenas 2 milhões de agricultores na ilha asiática, mas 15 milhões de habitantes dependem direta ou indiretamente das frutas, dos legumes e das verduras produzidos pelos trabalhadores rurais.


De lá para cá, o país desceu ladeira abaixo. Segundo a ONU, 30% dos 22 milhões de cingaleses correm o risco de não ter acesso a alimentos, remédios nem combustíveis. A economia está em frangalhos, e o governo suspendeu o pagamento de empréstimos estrangeiros.

Os brasileiros não podem deixar os sabotadores, os militantes e os ideólogos transformarem este país em um grande Sri Lanka.

Leia também “Uma revolução verde”

Edilson Salgueiro, colunista - Revista Oeste


quarta-feira, 5 de maio de 2021

Cientistas identificam proteínas ligadas aos casos graves de covid-19

Cientistas dos EUA identificam mais de 250 moléculas associadas à piora da infecção pelo Sars-CoV-2. Algumas têm concentrações distintas no corpo em caso de morte do paciente ou de cura da doença. Descoberta pode ajudar a melhorar as opções terapêuticas

Idade e comorbidades são fatores de risco conhecidos da covid grave. Porém, o que intriga médicos é por que pessoas com as mesmas condições de saúde têm desfechos tão diferentes. Ao buscar essa resposta, pesquisadores do Hospital Geral de Massachusetts (HGM), nos EUA, descobriram um grupo de 250 proteínas circulando no organismo de pacientes com a forma severa da doença. Em um estudo publicado na revista Cell Reports Medicine, a equipe, liderada pela especialista em doenças infecciosas Marcia Goldberg, defende que esses marcadores podem ser alvo de terapias que evitem os danos a órgãos vitais que levam à morte por Sars-CoV-2.

“Nosso interesse era saber se poderíamos identificar os mecanismos que podem estar contribuindo para a morte em covid-19”, diz Goldberg, autora sênior do estudo. Para tanto, a equipe do HGM usou a abordagem da proteômica, a análise de toda a composição da proteína de uma célula, um tecido ou um organismo. Os pesquisadores aplicaram a técnica em amostras de sangue de pacientes que deram entrada no pronto-socorro do hospital com sintomas respiratórios compatíveis com os da covid-19. No total, foram 306 coletas de pacientes com teste positivo para a doença e de 78 com sintomas semelhantes, mas resultado negativo para a infecção pelo novo coronavírus.

Em seguida, Arnav Mehta, pesquisador de pós-doutorado no Broad Institute da Universidade de Harvard, fez a interpretação dos dados produzidos pela análise proteômica. O estudo demonstrou que a maioria dos pacientes com covid-19 tem uma assinatura consistente de proteína, independentemente da gravidade da doença — como seria de se esperar, seus organismos deflagram uma resposta imunológica ao produzir proteínas que atacam o vírus. “Mas também encontramos um pequeno subconjunto de pacientes com a doença que não demonstraram a resposta proinflamatória típica de outras pessoas com covid-19”, diz Goldberg. Esses pacientes, porém, tinham a mesma probabilidade de sofrer a condição grave da doença. Ele observa que as pessoas nesse subconjunto tendiam a ser mais velhas e com doenças crônicas, indícios de que, provavelmente, tinham o sistema imunológico enfraquecido.

Trajetória
A próxima etapa foi comparar as assinaturas de proteínas de pacientes com doença grave (definida como aqueles que necessitaram de intubação ou que morreram dentro de 28 dias de admissão hospitalar) com casos menos graves. A comparação permitiu aos pesquisadores identificar mais de 250 proteínas associadas à severidade da doença, com amostras coletadas dos pacientes em três momentos (quando foram internados, três e sete dias depois). “Isso nos permitiu olhar a trajetória da doença”, afirma Mehta, em nota. Entre outras descobertas, a análise mostrou que a proteína associada à gravidade mais prevalente, uma proteína proinflamatória chamada interleucina-6, ou IL-6, aumentou de forma constante em pacientes que morreram, enquanto aumentou e, depois, diminuiu naqueles com doença grave que sobreviveram.

As primeiras tentativas de cientistas para tratar pacientes com covid-19 que desenvolveram dificuldade respiratória aguda com medicamentos que bloqueiam a IL-6 foram decepcionantes, lembra Goldberg. Porém, estudos mais recentes se mostraram promissores na combinação desses medicamentos com o esteroide dexametasona.

Os pesquisadores observam que muitas das outras proteínas associadas à gravidade que a análise identificou são, provavelmente, importantes para entender por que apenas uma parte de pacientes de covid-19 evolui para casos graves. Aprender como a doença afeta os pulmões, o coração e outros órgãos é essencial, afirmam, e a análise proteômica do sangue é um método relativamente fácil para obter essa informação. Goldberg acredita que as assinaturas proteômicas identificadas no estudo conseguirão explicar os diferentes prognósticos dos pacientes. “Elas serão úteis para descobrirmos alguns dos mecanismos subjacentes que levam à doença grave e morte na covid-19”, diz.

Melhor compreensão

Precisamos entender as diferenças entre as pessoas que morrem de covid-19 e as que têm apenas um caso leve da doença. Temos de saber como as proteínas do vírus estão interagindo com as células humanas e o que podemos fazer a respeito. Não faltam terapêuticas possíveis, o que precisamos é obter uma melhor compreensão de como os genes do vírus se comportam e como essa atuação afeta as células humanas.”

Jack Chen, pesquisador de bioinformática da Universidade do Alabama, que está desenvolvendo um banco de dados genéticos do Sars-CoV-2 e da interação do coronavírus com amostras de sangue de pacientes graves

Ciencia-e-saude - Correio Braziliense

 

terça-feira, 18 de junho de 2019

A batalha do século: mulheres contra trans nos esportes

Esportistas estão revoltadas com competidoras que nasceram homens e mudaram de identidade, mas conservam as vantagens biológicas

Por Vilma Gryzinski
 
Esportes profissionais são provavelmente a mais competitiva atividade humana, incluindo aí a guerra e a luta por espaço nas filas de embarque. Ver os que correm mais rápido, saltam mais alto e arremessam os discos com mais força, disputando em igualdade de condições, é justamente o que nos mantém grudados diante da televisão nos grandes eventos esportivos (embora seja difícil imaginar uma palavra em latim para incluir o curling no mote olímpico Citius, Altius, Fortius). Glória, medalhas e contratos publicitários ajudam a insuflar o espírito competitivo e, eventualmente, induzem atletas a ir para o lado negro da força, tentando mascarar o uso de substâncias proibidonas.

Num ramo onde alguns milhõezinhos de moléculas a mais podem fazer a diferença, a tentação é enorme. Mas o que acontece quando os atletas ou, mais apropriadamente, as atletas, já trazem vantagens biológicas desde a concepção?  O que acontece é o que está ocorrendo atualmente nos Estados Unidos e em outros países loucos para imitar os americanos: em lugar de combater a discriminação, a mudança de normas e regulamentos esportivos favorecendo a participação de mulheres trans em esportes femininos incentiva a desigualdade. A prova está nos resultados das competições onde mulheres nascidas, biologicamente, homens que tinham transexualismo e mudaram de gênero, competem com mulheres que não têm nada disso.

Aliás, também têm menos massa muscular, menos volume sanguíneo, pulmões menores e portanto, menos capacidade respiratória – embora, num passado distante, muitos concordassem que tudo isso as torna o sexo superior (falar em “sexo” em lugar de “gênero” praticamente dá pelotão de fuzilamento virtual).  Nenhuma dessas características está diretamente relacionada ao nível de testosterona, artificialmente diminuído nas mulheres trans e contrabalançado por hormônios femininos. Constatar isso não implica, de maneira alguma, em manifestar preconceito ou discriminação em relação aos transexuais, antes, durante ou depois da transição. Muito menos em deixar de reconhecer o sofrimento emocional e social que tão frequentemente os acomete. Ter medo de fazer esta constatação, como vários dirigentes esportivos, é resultado do receio de parecer, erradamente, preconceituoso. Ou querer pegar uma caronazinha na onda do momento.

A “PROVA” DO HISTORIOGRAMA
Dizer que mulheres trans desfrutam de vantagens que contrariam o princípio esportivo da igualdade de condições não tem nada a ver com as ameaças e ofensas feitas contra Rachel McKinnon.
A canadense de 1,82 metro de altura e 90 quilos tornou-se campeã logo de cara, ao mudar de identidade, numa modalidade de ciclismo na faixa de 35 a 39 anos do Campeonato Mundial de Ciclismo da UCI no ano passado.  Rachel McKinnon é um bom exemplo porque, como professora de filosofia, tem uma excepcional capacidade de argumentação e a usa amplamente para defender a tese de que disputa em igualdade de condições com mulheres biológicas. Usa termos como historiograma de peso e altura para argumentar que homens e mulheres têm  grandes zonas de confluência. “A base da pirâmide de qualquer característica física masculina é tão baixa quanto a base feminina”, diz ela. Qualquer discordância é descartada como manifestação de profunda ignorância sobre biologia, além, claro, de “ódio transfóbico”.

A discussão aumentou nos Estados Unidos por causa do projeto de lei de igualdade de transgêneros, apresentado pelo deputado democrata David Ciciliine e já aprovado na Câmara – atualmente, está parado no Senado.  Até Taylor Swift já se manifestou sobre o assunto, o que praticamente encerra a discussão. Esta, no entanto, continua, pelo menos entre os poucos que não aceitam “verdade” movidas por propósitos alheios à racionalidade.  O projeto de lei criminaliza diferenciar entre meninas e mulheres com base na identidade sexual para qualquer propósito, inclusive em modalidades esportivas. Os defensores do projeto estão dispostos a tirar mulheres do pódio com base no seguinte raciocínio: “Está na hora de apoiar mulheres e meninas transgênero que precisam mais de nossa ajuda”. Em outras palavras, é um sistema de cotas para trans.

Quem disse isso foram a tenista Martina Navratilova, a professora de direito Doriane Coleman e outras duas ex-atletas, num artigo para o Washington Post. Navratilova, que assumiu publicamente o lesbianismo quando ainda não era moda, em 1981, já tinha criticado a inclusão de mulheres trans na categoria feminina, pediu desculpas pelos termos  usados e voltou a entrar na briga com o artigo no Post.
“As pessoas podem se identificar como quiserem. Mas não numa competição esportiva onde podem tirar uma mulher de ganhar uma vaga”, reclamou Paula Radcliffe, recordista mundial de maratona, depois que mulheres trans conseguiram se classificar para a Maratona de Boston, notoriamente disputada.

Se concorressem como homens, não teriam alcançado uma vaga. “Homens biológicos correm mais rápido do que mulheres biológicas”, disse Paula. A obviedade ganhou ares de revelação. “Não entendo como alguém pode dizer que existe igualdade de condições e espírito esportivo. Aumento recente de 1000% de mulheres trans no esporte”, disse a ex-nadadora olímpica britânica e hoje apresentadora Sharron Davies. “É um assunto sério que precisa ser tratado com honestidade.”
Honestidade não é um artigo popular quando entram em jogo opções ideológicas. Em quantidade muito menor, também acontece o movimento oposto: homens trans que disputam competições esportivas com homens biológicos.

ESTUPRADOR NO POÇO
Quando Patricio Manuel venceu Hugo Aguilar numa luta de boxe no fim do ano passado, absolutamente todos os comentaristas esportivos disseram que era um acontecimento histórico. Em 2012, como mulher, Miguel tentou uma vaga nas Olimpíadas.  Pode ser histórico para quem não gosta das histórias de mulheres guerreiras, fortes e combativas. Uma das melhores é a de Timocleia de Tebas. Quando o imbatível Alexandre, o Grande conquistou Tebas, um de seus comandantes, da Trácia, estuprou Timocleia e ainda perguntou se ela sabia de tesouros escondidos. Timocleia levou o elemento até um poço, empurrou-o e jogou pedras bem pesadas por cima.

Alexandre perdoou Timocleia diante de seu comportamento altivo – e do fato de que seu irmão, tombado em combate, era do Batalhão Sagrado de Tebas, a tropa de elite formada por 150 casais de homens homossexuais que combatiam lado a lado. Alexandre gostava de meninas e meninos, embora fosse muito controlado no quesito “prazeres do  corpo”. 

Palavra de Plutarco.
Não que Alexandre fosse suficientemente grande para viver acima de intrigas e fofocas. A mãe dele, por exemplo, mandava cartas falando mal de Heféstio, seu amigo predileto. E Diógenes , o filósofo da lanterna, reclamou que o maior conquistador de todos os tempos só tinha uma fraqueza: as coxas de Heféstio.
 

Até hoje historiadores debatem se os dois foram realmente amantes ou tiveram a amizade profunda entre homens que só pode ser compreendida pelos padrões culturais da Grécia Antiga. Mas dificilmente dá para imaginar Alexandre incentivando trans a competir fora da biologia.

terça-feira, 14 de maio de 2019

Em Brasília, esqueceram do futuro

Poucos ali se mostram preocupados com a existência de 13 milhões de desempregados

 

Humanos seguem para Marte no final da próxima década, anuncia a Nasa. Nessa época, a Universidade de Durham, no Reino Unido, começa a usar moléculas motorizadas, dirigidas pela luz, para perfurar individualmente células cancerosas, e destruí-las em 60 segundos.  Esses experimentos poderão ser acelerados pela novidade da IBM: um chip capaz de guardar um bit de informações num único átomo — do tamanho da moeda de um centavo — vai reter dados em volume similar ao da biblioteca musical da Apple.

Visto de Brasília, esse panorama global pautado pela fusão de tecnologias, bem como suas consequências sobre a produção, o emprego e as políticas públicas, parece distante da vida real, muito além da Via Láctea. No Palácio do Planalto prevalece a crença de que só o atraso leva ao futuro. São raras as exceções, entre elas a equipe empenhada em retirar o Estado dos escombros fiscais.

O Judiciário se desnorteou, com um Supremo visto como adversário ou parceiro de frações políticas, como define o pesquisador Conrado Hübner. Já o Congresso dá prioridade à vingança contra a Operação Lava-Jato. O futuro sumiu da Praça dos Três Poderes. Poucos ali se mostram preocupados com a existência de 13 milhões de desempregados quando há milhares de vagas não preenchidas em grupos como Cyberlabs. Não se vê aflição com a dependência tecnológica, nem para facilitar a inovação em empresas como a Raízen, que extrai energia da biomassa suficiente para abastecer o Rio por um ano, ou a Embraer, que projeta, com a Uber, um carro voador elétrico.


Na asfixia política produzida em Brasília, não sobra lugar no futuro imediato para gente como Gabriel Liguori desenvolver um gel a partir de células de um paciente para criação de um coração artificial, impresso em 3-D e aplicável em transplantes. Ou ainda, para uma empresa de cartão de crédito eletrônico como a de Henrique Dubugras, 23 anos, e Pedro Franceschi, 24, que já disputa mercado com a Amex. Ambos celebram o primeiro US$ 1 bilhão da Brex, uma década antes da viagem humana a Marte.