O que o partido terá feito para favorecer a eleição do procurador-geral? Será por isso que o único denunciado, dois anos depois, é justamente Eduardo Cunha, um inimigo do governo. E não que seja imerecido!
E sabem quem não se sai nada bem nas conversas desabridas de Lula, recheadas a palavrões, não distinguindo linguagem de botequim ou de mictório de assuntos da República?
Rodrigo Janot, procurador-geral da República. E o que Lula sugere ao telefone não parecer ser coisa muito bonita
O ex-presidente conversa com o advogado Sigmaringa Seixas, ex-deputado
petista e uma fina flor da esquerda chique de Brasília. Pede abertamente
que o outro pressione Janot a abrir investigação contra Aécio Neves.
Diz que o procurador-geral rejeitou quatro pedidos para fazê-lo e que
bastou um para que ele, Lula, passasse a ser um investigado.
Sigmaringa
sugere ao interlocutor que a pressão seja feita de modo formal. O
Poderoso Chefão, como se sabe, quer a informalidade. E então Lula
apela àquela sua retórica sempre encantadora, recheada de delicadezas. E
diz o seguinte: “Esse cara, se fosse formal, não seria procurador-geral
da República. Teria tomado no cu. Teria ficado em terceiro lugar.
Quando eles precisam, não tem formalidade; quando a gente precisa, é
cheio de formalidade”.
É evidente
que Lula está deixando claro que o PT atuou — resta, agora, saber como —
para que Janot fosse o primeiro da lista tríplice e, assim, nomeado
procurador-geral. O partido é bastante influente no Ministério Público
Federal. Minha curiosidade se aguça: a que “informalidade” teria recorrido Janot, então, para ser eleito?
Bem, quando
me lembro de que, até agora, Janot ainda não pediu abertura de inquérito
contra Lula no caso do empréstimo do grupo Schahin; quando me lembro de
que ele conseguiu transformar um político do PMDB — Eduardo Cunha — na
principal personagem do petrolão; quando me lembro que Cunha é, até
agora, o único denunciado por ele, bem, fico com receio de pensar que
essas são formas que Janot tem de pagar uma dívida. Mas Lula é como o
capeta quando conquista uma alma: quer tudo. Em tempo: Cunha tem de ser
cassado.
É claro que o
procurador-geral da República, que está fora do país, tem explicações a
dar. Que diabos significa, afinal de contas, a frase de Lula, segundo o
qual, Janot foi informal para não tomar no cu? É claro que a
isenção do procurador-geral também foi posta em dúvida. Mais: Lula
deixa claro que a interlocução existe. Ele só se mostra inconformado
porque, parece, Janot andava meio arredio.
Para
encerrar, destaque-se o universo mental de Lula. Tudo é feito na base da
troca e do compadrio. Se ele ajudou Janot a se eleger, agora Janot tem
de ajudá-lo não mandando investigar nada que lhe diga respeito e
perseguindo seus adversários políticos.
Não se enganem: Lula deixou claro a Sigmaringa que era para mandar — acho que o verbo é esse — Janot investigar Aécio.
O procurador-geral tem muitas explicações a dar.
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo