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quinta-feira, 22 de julho de 2021

O PORTUGUÊS NÃO É O IDIOMA DE GRUPINHO ALGUM! - Percival Puggina

Copia, traduz e cola. Se você olhar de perto, verá que todos os exotismos das pautas identitárias da esquerda brasileira chegam até nós por esse mecanismo. Copia o que outros países estão fazendo, passa no Google Translator, copia a versão em português e cola na cartilha.Não ria, leitor. É assim mesmo e isso torna tudo mais grave, mostrando haver uma orquestração internacional, uma regência, uma estratégia e um grito de ordem: “Os fundamentos da cultura ocidental precisam ser destruídos!”.  

A linguagem neutra de gênero, ou linguagem não binária, é das mais agressivas e arrogantes dentre essas bandeiras. Muitas delas visam a domar a linguagem porque quem controla a linguagem controla o pensamento e sua expressão. A língua portuguesa, quinta mais falada no mundo, é patrimônio cultural de 260 milhões de pessoas, em nove países (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.), sem pertencer às conveniências de grupinho algum. Foi o idioma que aprendemos da voz de nossos pais. Com ele nos comunicamos, fazemos negócios, estabelecemos relações, amamos, consolamos. É em português que pensamos, falamos com Deus, nos alegramos e sofremos. Em português multiplicamos nossos bens culturais, e fazemos piadas, e criamos trocadilhos.

Respeitem esse riquíssimo patrimônio que herdamos de nossos antepassados! E se ele chega até nós modificado por idiossincrasias regionais e pela própria ação do tempo, essas mudanças são naturais, independem do querer de quem quer que seja. Menos ainda são pautas políticas com intuitos destrutivos e inspiração exógena! Idiomas sofrem variações, sim; jamais dessa natureza. Há sotaques diversificados, mudanças  na  ortografia, mas a pressão no sentido de acabar com os gêneros gramaticais comuns a todas as línguas latinas é dos atos mais prepotentes que já pude observar. Tal percepção decorre de saber que esse empenho é apenas outra cunha lançada para empurrar, contra a vontade nacional, a ideologia de gênero para dentro de nossas escolas. Também nisso não é iniciativa de gente daqui. Nasceu e se mantém na base do copia, passa no Google Translator, e cola.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


domingo, 20 de janeiro de 2019

“Tenho medo é do que vem de cima”, diz advogado de esfaqueador de Bolsonaro

Investigado desde o final do ano passado no caso Adélio Bispo, que apura as circunstâncias da facada que o presidente Jair Bolsonaro levou durante a campanha eleitoral, o advogado Zanone Júnior diz temer "maldades" por parte do "andar de cima" da Polícia Federal (PF), que apura a origem do dinheiro que bancou seus honorários. Desde que assumiu o caso, o criminalista tem tentado explicar como foi remunerado, mas não revela quem fez o pagamento, apesar da investigação da PF e da pressão da opinião pública em busca de eventuais mandantes do crime.

Em entrevista ao Congresso em Foco, o criminalista reclamou de "teorias da conspiração" e disse ter sofrido prejuízos profissionais com a perda de seu celular, apreendido pela PF em dezembro de 2018. Apesar de temer represálias do governo, Zanone elogiou o delegado que conduz a investigação, a quem chamou de "gente boa" e "educado".  O advogado repetiu a versão já conhecida de que recebeu apenas R$ 5 mil pelo trabalho, [insuficiente para pagar o jatinho que o levou de BH à prisão.
estranho um advogado que se diz  experiente, ter receio da cúpula da PF.] mas garante que não vai abandonar o cliente "para ver onde isso vai dar". Confira a entrevista:

Afinal, não saberemos quem paga pela defesa do Adélio?
[O financiador] não queria aparecer. Mas de qualquer forma eu expliquei: eu não tenho os dados da pessoa. Tenho o primeiro nome, que eu não dei. Porque a pessoa fez o contrato do primeiro serviço, que foi o inquérito, que eu fechei por R$ 25 mil [este inquérito foi encerrado três semanas após o atentado]. E como foi no dia da audiência de custódia, eu saí muito correndo, a pessoa ficou de voltar para trazer [o restante do pagamento]. Ela me deu R$ 5 mil em dinheiro e ela traria para mim quatro cheques de R$ 5 mil. Eu só dei o recibo para ela dos R$ 5 mil. E a pessoa não voltou. Eu tenho o nome. Não dei o nome, mas eu falei o valor, falei tudo.

O contrato, então, era só para o primeiro inquérito?
Só o inquérito. Eu só tinha falado para ele quanto é que ficaria até a sentença e quanto ficaria até esgotar os recursos, até chegar no Supremo.

Se o senhor só recebeu uma parte do pagamento, por que continua defendendo o Adélio?
[Depois de receber] aquela primeira parte, eu pensei que a pessoa ia voltar. Conversei com os colegas. A gente estava discutindo se ia continuar, se não ia continuar... agora eles abriram esse inquérito aí contra a gente, tentando ouvir. Trouxe esse monte de teoria da conspiração, falando que a gente estava recebendo do PT, do Psol, do PCC, do Estado Islâmico! Como é que é o nome do outro também? Dinheiro da Guiné Equatorial... aí o pessoal [o grupo de advogados que o auxilia] falou: "Ô, velho, vamos ficar nesse troço pelo menos até ver onde isso vai dar. Ainda mais agora que já tem inquérito contra a gente". [uma certeza existe = esse dinehiro não é honesto e está sujo do sangue de inocentes, desde os que morreram na fila do SUS, por falta de atendimento, em acidentes em rodovias mal conservadas, em assaltos em ruas sem segurança = tudo lembra os assassinatos dos petistas Celso Daniel e Toninho do PT = eles opor queima de arquivo.]

Como vocês veem o inquérito contra o Adélio, que apura se houve mandantes do crime?
Na verdade o que esse inquérito quer saber é o seguinte: é se tem alguém [além de Adélio] com aquele dolo homicida, sabe? Com dolo de extermínio. Se a pessoa elocubrou um plano homicida contra o presidente da República. É isso que a Polícia Federal quer saber. Eu acho que a ideia de se investigar é absolutamente legítima. Eu só fui contra a apreensão do meu celular. Nem a busca e apreensão no meu hotel eu achei ruim. Mas no meu escritório de advocacia, e não é só no meu escritório, é em qualquer negócio hoje, se a pessoa tem um smartphone o computador está ali. Tanto que a perda que eu sofri é irreparável. Um monte de cliente sumiu, desapareceu, não entra em contato mais comigo. Os contratos que eu estava fechando, as pessoas não me ligaram mais, eu perdi alguns contatos. E abriu-se no Brasil um precedente perigosíssimo [violação de sigilo profissional da advocacia, segundo Zanone]. E a OAB não faz nada. [o sigilo profissional na relação cliente x advogado é necessário, desde que com limites e o advogado sempre sabendo, antecipadamente, até onde o sigilo existe - não pode é o sigilo ser usado para auxiliar bandidos presos a praticar crimes.]

A PF ainda não devolveu o celular?
Até hoje não. Disseram que têm mais perícia para fazer, tem isso, tem aquilo... o delegado [Rodrigo Morais, que coordena as investigações], rapaz, é gente boa, acredita? Muito educado e tal. Eu tenho medo é do que vem de cima. É hierarquia. É de pedirem, por exemplo, para ele inventar coisa, para fazer maldades. Disso eu tenho medo. E não duvido, né?

E a ação penal contra o Adélio segue suspensa até que se conclua o exame de saúde mental...
Vai ficar tudo suspenso. E hoje eu nem posso abandonar a causa. Eu, Zanone, sou o curador do Adélio. O juiz não suspendeu o processo? Então o Adélio hoje não responde por nada na vida. Se o Adélio ganhar na loteria, ganhar uma herança, qualquer coisa, quem vai administrar isso sou eu.

O Adélio não tem mais nenhum amigo ou familiar o acompanhando?
Parece que tem uma menina aí que falou que é namorada dele, e os parentes pobres.
E ninguém, velho, ninguém.

[o assassino tentou matar o presidente da República Federativa do Brasil e tem que ser punido com rigor extremo - ele e todos que de alguma forma o ajudaram no atentado.] 

Congresso Jurídico

 



segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Quem ganhou

Os brasileiros que gastarão 20 bilhões de dólares em viagens ao exterior em 2018 vão para os EUA e o mundo capitalista, não para a Guiné Equatorial

Publicado na edição impressa de VEJA

Está havendo muito espanto, e até bem mais do que isso, cada vez que o novo presidente Jair Bolsonaro anuncia algum nome para o ministério ou o primeiro escalão do seu governo. Alguns, para dizer a verdade, são aceitos sem muita conversa — gente para o Banco Central, o Ministério da Infraestrutura, a chefia do Tesouro Nacional etc., mesmo porque boa parte do público nem sabe que existe um Tesouro Nacional. São coisas sérias, chatas e, fora os próprios interessados nos cargos, quem vai discutir para valer por um negócio desses? Não dá bem para ver, realmente, nenhuma briga de foice por causa do novo secretário-geral adjunto da Fazenda, por exemplo, ou algo parecido — também não se veem, nesses casos, amizades íntimas que explodem, rixas de morte dentro das famílias ou bloqueios tempestuosos no Facebook, como se tornou praxe na campanha eleitoral. 

Mas assim que aparece uma nomeação mais vistosa, daquelas que mexem com os chamados “grandes temas nacionais”, o tempo fecha. Os surtos de irritação, impaciência e nervosismo que têm acompanhado o anúncio dos nomes se concentram, até agora, numa questão básica: como é que foram escolher um sujeito desses? O novo ministro das Relações Exteriores, por exemplo, foi descrito pelos cientistas políticos praticamente como um doente mental. O da Educação se viu mais ou menos acusado de acreditar que a Terra é plana. A ministra “da Mulher”, ou coisa que o valha, é outro objeto de assombro.

O que está acontecendo? A resposta é: não está acontecendo nada. Ou melhor, está acontecendo exatamente aquilo que tinha de acontecer. No último dia 28 de outubro, o deputado Jair Bolsonaro ganhou as eleições para presidente da República e, dali por diante, passou a escolher para o governo o tipo de pessoa que o seu eleitorado quer ver lá — ou, pelo menos, as pessoas que ele imagina serem as mais capazes de fazer as coisas que prometeu aos 58 milhões de brasileiros que votaram nele. Forçosamente, se você não gosta do que Bolsonaro propôs para o Brasil do começo ao fim de sua campanha eleitoral, e em seus trinta anos de vida pública, também não pode gostar das figuras que ele tem escolhido para ajudar no governo. Não há outro jeito. Como poderia haver? Se o novo presidente estivesse colocando nos ministérios figuras aplaudidas, aprovadas ou aceitáveis por quem votou contra ele, alguma coisa estaria profundamente errada na história toda.

Quem está contra Bolsonaro, e há muita gente contra, tem mais é que não gostar mesmo das escolhas feitas por ele. Quem tem de gostar são os que estão a favor do novo presidente — e há mais gente a favor do que contra, razão, aliás, pela qual é Bolsonaro, e não Lula, quem está nomeando os ministros. Fazer o quê, a esta altura? Esperar que o governo comece, só isso. Aí, sim — se os escolhidos não fizerem o que foi combinado na campanha, ou fizerem mal, haverá toda a razão para dizer que suas nomeações foram um desastre.

O ministro nomeado para o Itamaraty, Ernesto Araújo, ilustra bem esse curioso descompasso entre o resultado da eleição e a condenação do ministério de Bolsonaro pela crítica. Araújo acha que o Brasil deve ter os Estados Unidos como o principal aliado em suas relações exteriores. Não gosta de Cuba, da Venezuela nem de ditaduras africanas, tampouco de que recebam dinheiro de presente do BNDES. 
Desconfia de toda essa constelação internacional de doutrinas que vê com alarme o agronegócio no Brasil, quer que os países abram suas fronteiras à imigração ou imagina um mundo governado por comitês da ONU e burocracias do mesmo gênero.

Mas não é justamente tudo isso que o eleitorado de Bolsonaro espera de um novo Itamaraty? Os brasileiros que gastarão 20 bilhões de dólares em viagens ao exterior em 2018 vão para os Estados Unidos e o mundo capitalista, não para a Guiné Equatorial ou a Faixa de Gaza — quem gosta desses lugares é o ex-chanceler Celso Amorim, só que ele está do lado que perdeu. A população, na verdade, nem sabe quem é esse Araújo; o que sabe, isso sim, é que os Estados Unidos dão mais certo que a Palestina. Se o novo ministro também acha isso, ótimo.

Da mesma forma, criou-se grande escândalo em torno da ministra Damares Alves — ela é contra o aborto, acha que há meninos e meninas, e não “meninxs”, e é a favor do ensino religioso, que existe no Brasil desde o padre Anchieta. O novo ministro da Educação é considerado um homem da Idade da Pedra por ser contra a escola “com partido” — e assim por diante. Queriam o quê? Outro ministério, agora, só com outra eleição.

 J R Guzzo - Veja


quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Economia, economia. E só” e outras notas de Carlos Brickmann

Na verdade, o importante é a economia. Se o cidadão tiver emprego, puder comprar alimentos, pagar o aluguel e as contas, o governo Bolsonaro terá dado certo

Se o governo de Bolsonaro der certo, a presença maciça de militares, a redução do número de ministérios e a redução das restrições ao porte de armas serão aprovadas com entusiasmo pelos eleitores. Se o governo de Bolsonaro não der certo, os eleitores dirão que os ministérios cortados fizeram falta, que arma deve ser proibida e que lugar de milico é no quartel.

Na verdade, esses itens são secundários: o importante é a economia. Se o cidadão tiver emprego, puder comprar alimentos, pagar o aluguel e as contas, o Governo terá dado certo. Simples assim: se a economia estiver em bom funcionamento, tudo estará bem. Lembre o grande Nelson Rodrigues, para quem o Maracanã vaiava até minuto de silêncio. O ditador Médici, em cujo governo a economia cresceu, foi aplaudido. Motivo? Pleno emprego.

No caso de Bolsonaro, se a economia crescer e se aproximar do pleno emprego, anote: Ônix vira gênio político, Alexandre Frota passa a ser um parlamentar brilhante cuja vocação demorou a ser descoberta, a bancada da Bíblia recebeu uma ordem divina e a cumpriu juntando-se ao predestinado que iria salvar o país. Se a economia não crescer, o restante do Governo pode funcionar com perfeição que será sempre considerado muito ruim. Oto Glória, técnico brasileiro que levou a Seleção portuguesa ao terceiro lugar na Copa de 1966 (eliminando o Brasil de Pelé), dizia que “em futebol é fácil passar de bestial a besta”. Em Portugal, “bestial” significa “ótimo”.

A voz de Lula
Antes que comecem a insultar este colunista, quem disse que Médici era popular entre os trabalhadores e venceria uma eleição direta foi Lula. Lula corretamente atribuía a popularidade de Médici ao pleno emprego.

Bons sinais
Há bons sinais no caminho de Bolsonaro: a inflação está baixa, há sinais de confiança do mercado na recuperação da economia, o desemprego é um horror de alto, mas baixou, neste fim de ano, ao nível da época de Dilma.

Maus sinais
E há maus sinais: parlamentares dispostos a aumentar as despesas se forem contrariados, magistrados que nesta época não se preocupam com o déficit público, coordenação política do bloco governista ainda inexistente. O buraco nas contas é grande e já se fala em retomar investimentos (aliás, necessários) em obras de infraestrutura e até mesmo em Angra 3, parada há dezenas de anos. De onde sairá o dinheiro? Pergunte ao Posto Ipiranga: só o superministro da Economia, Paulo Guedes, para responder onde buscá-lo.

Educação em (bom) debate
Só feras: um debate promovido pelo MIT, Massachusetts Institute of Technology, uma das principais universidades do mundo, sobre Visões sobre o futuro da Educação no Brasil, com apoio da Fundação Lemann. “O Brasil precisa avançar na Educação para poder escapar da armadilha de renda média”, diz o professor Ben Ross Schneider, do MIT, coordenador do debate e autor de pesquisa com análise comparativa das políticas públicas educacionais e reformas na América Latina, com foco no setor privado e nos sindicatos de professores. O debate, com Schneider, Lucas Rocha, da Fundação Lemann, Ari de Sá Neto (MIT Sloan Alumni do Brasil, CEO da Arco Educação) e Samir Iásbeck, da Qranio, ocorre nesta segunda, 3 de dezembro, das 18h30 às 21h. Inscrições até dia 30 (e detalhes) neste link. Gratuito. Vale a pena: todos têm o que dizer e não entram em discussão de bobagem.

Olha o indulto!
O Supremo deve decidir hoje se o indulto de Natal assinado no ano passado por Temer vale ou não integralmente. Em liminar, o ministro Luís Roberto Barroso suspendera trechos do indulto, para excluir do benefício os presos por crimes de colarinho branco. Hoje, se a decisão de Barroso for derrotada, condenados por corrupção ficarão livres após o cumprimento de 20% das penas, e sem pagar as multas que lhes foram impostas. Barroso tinha liberado para o perdão de Temer só os condenados por crimes sem violência, com sentença de até oito anos, que já tivessem cumprido um terço da pena, sem liberação das multas e sem colarinho branco. Conforme a decisão do Supremo, Temer poderá conceder um indulto gigante.

Só?
Mais uma denúncia contra o ex-presidente Lula, esta oferecida pela Operação Lava Jato de São Paulo, sob acusação de lavagem de dinheiro em negócio na Guiné Equatorial, África. Segundo a denúncia (que, entre os papeis apresentados, traz e-mail do ex-presidente ao ditador Teodoro Obiang), Lula ajudou a empresa brasileira ARG a ganhar contrato na Guiné Equatorial, e em troca obteve propina de US$ 1 milhão (ou doação legal para o Instituto Lula). Bem, se houve propina de US$ 1 milhão, quase nada diante dos números que têm circulado, Lula será processado por dumping.


Publicado na Coluna de Carlos Brickmann

sábado, 22 de setembro de 2018

A mala suspeita dos amigos de Lula

Autoridades de Guiné Equatorial, na África, ligadas ao ex-presidente Lula, foram presas no aeroporto quando desembarcavam no Brasil com uma fortuna de US$ 16 milhões. A PF desconfia que o dinheiro seria usado na campanha eleitoral

Quando a esmola é demais, até o santo desconfia. Esse antigo provérbio está sendo aplicado ao caso das malas recheadas com US$ 16 milhões (R$ 72 milhões) apreendidas na sexta-feira 16, no Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas, em poder da comitiva do vice-presidente de Guiné Equatorial, na África, Teodoro Obiang Mang, 49 anos, o Teodorin. A fortuna estava dentro de uma maleta com US$ 1,4 milhão em dinheiro vivo e 21 relógios avaliados em US$ 15 milhões, além de R$ 55 mil. Teodorin é filho do ditador Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, que governa Guiné há 39 anos. O ditador é amigo íntimo do ex-presidente Lula e recebeu financiamentos milionários do BNDES para obras em Guiné enquanto o PT esteve no poder.

Lula também fez lobby para que empreiteiras brasileiras, como Odebrecht, OAS e Andrade Gutierrez, realizassem grandes obras em países africanos, especialmente em Guiné. A PF suspeita que a fortuna trazida por Teodorin num avião do governo africano teria mesmo como destino a campanha eleitoral no Brasil, já que os africanos não conseguiram explicar o que fariam com o dinheiro apreendido às vésperas da eleição e num momento em que campanhas estão com dificuldade de obtenção de recursos. Além disso, o dinheiro não foi declarado e entrou no País como se fosse mala diplomática, longe do controle alfandegário. Teodorin forneceu uma explicação que até o mais santo policial desconfiou: que veio a São Paulo para um tratamento médico em um dos pés, recusando-se, no entanto, a indicar o nome dos médicos que o tratariam. Depois de dois dias em Campinas tentando recuperar o dinheiro para fazê-lo chegar às mãos de seu destinatário, a comitiva voltou à África, no domingo cedo, praticamente de mãos vazias: os dólares foram depositados no Banco Central brasileiro e os relógios serão leiloados, com a verba destinada aos cofres da União.

O caso começou a ganhar contornos de escândalo quando o Boeing 777-200 do governo de Guiné Equatorial pousou no Aeroporto de Viracopos, às 9h35 da sexta-feira 16, trazendo a bordo o vice-presidente Teodorin e outros dez assessores. Ao chegarem à área de desembarque, a comitiva disse que todas as 19 malas faziam parte da estrutura diplomática e se recusaram a passar pelos scanners do aeroporto. Depois de quatro horas de negociações, a bagagem foi inspecionada. Uma delas ficou retida pela Receita Federal. Ela continha uma maleta com US$ 1,4 milhão em notas de US$ 100, além de R$ 55 mil. Havia ainda uma caixa com 19 relógios, avaliados em US$ 15 milhões. O mais caro deles, todo cravejado de diamantes, foi estimado em US$ 3,5 milhões. Total da fortuna: R$ 72 milhões. Como as leis brasileiras só permitem o ingresso de R$ 10 mil, tudo foi apreendido e depositado numa agência da CEF à disposição da União. A PF abriu inquérito e Teodorin pode ser indiciado por lavagem de dinheiro. Um delegado da PF ouvido por ISTOÉ disse estar convencido de que o dinheiro iria para campanha eleitoral de algum aliado do governo de Guiné. O presidente da Associação Nacional dos Delegados da PF, Edvandir Felix de Paiva, disse que a entidade está acompanhando as investigações para proteger o delegado de “interferências externas” ao seu trabalho. Os africanos voltaram para Malabo, capital de Guiné, no domingo de madrugada, apenas com os R$ 10 mil permitidos por lei.

As ligações com Lula
Interrogados, os africanos disseram que estavam no Brasil para um tratamento médico de Teodorin, mas não souberam dizer o nome do médico ou do hospital. O dinheiro, segundo eles, seria usado num outro compromisso da comitiva em Singapura, para onde iriam depois. Os policiais não se convenceram. Suspeitaram que os recursos se destinavam a alguma campanha eleitoral. O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, foi um dos primeiros a suspeitar que a fortuna seria usada em campanhas políticas. “Essa quantidade de dinheiro vivo causa estranheza e espécie em qualquer momento, eleitoral ou fora do período eleitoral. É muito dinheiro e é preciso saber a origem e sua finalidade”, disse o ministro.

MATÉRIA COMPLETA, em IstoÉ

 

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

“A culpa da imprensa mentirosa” e outras notas de Carlos Brickmann



Dizem que Teodoro Mang veio repatriar dinheiro no Brasil. Tolice: em campanha da turma de Lula, US$ 1,5 milhão e 20 relógios-joia não dão nem para o começo


Foi um fato normal, dentro da rotina: o vice-presidente da Guiné Equatorial desembarcou em Viracopos, na noite da última sexta-feira, trazendo quase 1,5 milhão de dólares em dinheiro e uma coleção de vinte relógios de alto valor: só um deles, modelo exclusivo, todo cravejado de brilhantes, foi avaliado em US$ 3,5 milhões. Nada mais comum: um turista traz um dinheirinho para gastar, e seus objetos pessoais, como o relógio, não é mesmo? A imprensa burguesa e racista só fez barulho porque o referido cavalheiro e seu pai, o presidente da Guiné Equatorial, são amigos do ex-presidente Lula. E, se fossem brancos, de olhos azuis, ninguém estranharia a bagagem.

Talvez haja quem, entre os caros leitores, que ache que a quantia é grande demais. Mas Sua Vice-Excelência explicou direitinho: faria um tratamento médico, e os médicos mais abalizados, como sabemos, estão cobrando caro. E é preciso estar preparado também para enfrentar o preço dos exames médicos. Ele estava: além do US$ 1,5 milhão, trouxe seus cartões de crédito.

Veja como é nossa imprensa: se ele trouxesse pouco dinheiro e não pudesse enfrentar o custo do tratamento, os jornais diriam que ele veio abusar do SUS; como ele trouxe uma quantia que, a seu ver, seria suficiente, também reclamam. Resultado: Sua Vice-Excelência foi embora sem fazer tratamento.  Há até quem diga que ele veio repatriar dinheiro. Besteira: em campanha da turma de Lula, US$ 1,5 milhão e 20 relógios-joia não dão nem para o começo.

Quem é quem
O passageiro dessa viagem tão rotineira é Teodoro Obiang Mang, filho de Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, no poder há 38 anos. Segundo a revista Forbes, sua fortuna é estimada em US$ 600 milhões. Mas, em 2015, quando pediu à Beija-Flor que a Guiné Equatorial fosse tema de seu desfile, não quis gastar nada: segundo a Lava Jato, exigiu que uma empreiteira interessada em obras no seu país fizesse o patrocínio, em troca de conseguir os contratos. Não teve dificuldades: acostumada aos pixulecos daqui, o patrocínio de uma escola de samba, de R$ 10 milhões, deve ter-lhe parecido uma pechincha.

Um risco, uma oportunidade
Dois candidatos correm o risco de aposentadoria forçada nessas eleições: Marina, que em vez de subir caiu; e Alckmin, que, mesmo em seu reduto de São Paulo, tem menos intenções de voto que Bolsonaro. Em eleições anteriores, Marina em determinados momentos teve uma onda de apoios, que sempre acabou antes da hora. Se essa onda se repetir, como a campanha é curta, até pode ser que se coloque bem. Alckmin tem quase metade do tempo de TV, mas está mal na fita ─ tão mal que em 15 Estados é traído por seus aliados. Mas ninguém é inimigo e a lei da política ainda está em vigor: caso ele consiga calibrar a mensagem e dobrar as intenções de voto, o apoio volta.

Quem sobe, sobe
A lei da política é bem exemplificada no Paraná: o ex-governador tucano Beto Richa ia bem na campanha ao Senado até ser preso pela Operação Rádio Patrulha. Primeira reação: a governadora Cida Borghetti, do PP, que foi sua vice e é candidata à reeleição, pediu ao bloco partidário que o apoia que retire sua candidatura, “para que ele possa se dedicar à defesa”. Claro que não é isso: não há melhor defesa do que se eleger e ganhar foro privilegiado. Cida fez também um forte discurso contra a corrupção. E tucanos importantes já apoiam o candidato do PSD, Ratinho Jr., filho do apresentador Ratinho. Beto foi libertado pelo Supremo. Se mostrar força eleitoral, recupera seus apoios.

O estudo completo está neste link.
 

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

‘Queridos companheiros’



Lula lamentou não poder reencontrar velhos amigos no fim de semana em Adis Abeba, líderes de dinastias cleptocratas que sustentam longevas ditaduras

Horas depois de ser condenado a mais de 12 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, estava pronto para atravessar o Atlântico e participar de uma reunião sobre... a luta contra a corrupção.  A viagem de dez mil quilômetros à Etiópia (14 horas em voo direto) foi abortada pela Justiça na sexta-feira. “Vejam que absurdo” — contou em vídeo na página do PT. “Eu estava com a mala pronta, quando recebi um recado em casa: um juiz bloqueou o meu passaporte.”


Protestou: “Nós vivemos um momento de ditadura de uma parcela do Poder Judiciário, sobretudo o Poder Judiciário que cuida de uma coisa chamada Operação Lava-Jato, que vocês já devem ter ouvido falar aí na África.”  Lula iria à cúpula da União Africana em Adis Abeba, capital de um país onde o “estado de emergência” é decreto recorrente, e a opinião pública não pode ser expressa nem em particular. Queixou-se por não poder estar com “o querido companheiro” Hailemariam Desalegn, primeiro-ministro etíope, cuja polícia matou mil opositores nos últimos 16 meses e recolheu outros 21 mil a “campos de reabilitação” — informa a Human Rights Watch em relatório deste mês.


Organismo comunitário, a União Africana foi erguida nos anos 90 pelo falecido ditador líbio Muammar Kadafi, na época isolado porque patrocinava atentados como o da bomba num avião da Pan Am, que espalhou 270 cadáveres sobre uma vila da Escócia. Kadafi apoiou Lula na campanha de 2002, segundo o ex-ministro Antonio Palocci, preso em Curitiba. Eleito, Lula foi a Trípoli. 

A visita a Kadafi para “negócios” , como definiu, está contada em livro dos repórteres Leonêncio Nossa e Eduardo Scolese. 

MATÉRIA COMPLETA, clique aqui



sábado, 3 de outubro de 2015

Uma aventura na África - documentos secretos do Itamaraty mostram os malfeitos de Lula

Documentos secretos revelam: Lula fez lobby para Odebrecht em licitação na Guiné

Os papéis do Itamaraty também mostram que o ex-presidente usou o nome de Dilma Rousseff junto a presidentes africanos 

 Na manhã de 13 de março de 2013, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarcou em São Paulo num jato Falcon 7x, fretado pela construtora Odebrecht, rumo a Malabo, capital da Guiné Equatorial. O país é governado há 36 anos pelo ditador Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, com quem Lula mantém excelentes relações. Lula se encontrou com empreiteiros brasileiros, que reclamavam da demora do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES, e do Banco do Brasil para a liberação de financiamentos de obras na África. Em seguida, esteve com o vice-presidente da Guiné, Ignacio Milán Tang. Falou como homem de negócios. Disse que estava ali para conseguir contratos para a Odebrecht. Usou sua influência sem meias palavras. O mais poderoso lobista da Odebrecht entrava em ação.

A embaixadora do Brasil em Malabo, Eliana da Costa e Silva Puglia, testemunhou a conversa. “Lula citou, então, telefonema que dera ano passado ao Presidente Obiang sobre a importância de se adjudicar obra de construção do aeroporto de Mongomeyen à empresa Odebrecht (este aeroporto servirá às cidades de Mongomo, terra de Obiang, e à nova cidade administrativa de Oyala)”, escreveu a diplomata, em telegrama reservado enviado, logo depois do encontro, ao Itamaraty. “Adjudicar” é um termo jurídico comum em contratações de órgãos públicos. Costuma designar o vencedor de uma licitação. Em português claro, portanto, Lula havia pedido ao presidente da Guiné que desse a obra do aeroporto à Odebrecht. E, como bom homem de negócios, fazia, naquele momento, questão de reforçar o pedido ao vice-presidente.

O relato sigiloso da embaixadora em Malabo, revelado agora por ÉPOCA, é a evidência mais forte de que Lula, após deixar o Planalto, passou a atuar como lobista da Odebrecht, ao contrário do que ele e a empreiteira mantêm até hoje. ÉPOCA já havia mostrado, também por meio de telegramas do Itamaraty, que Lula fizera lobby para a Odebrecht em Cuba, junto aos irmãos Castro – chegara a usar o nome da presidente Dilma Rousseff para assegurar que o BNDES, continuaria financiando obras no país, como de fato continuou.

O caso da Guiné, no entanto, é ainda mais contundente. A diplomata brasileira flagrou Lula numa admissão verbal e explícita de que ele agia, sim, em favor da Odebrecht. Naquele momento, o governo da Guiné tocava uma licitação para as obras de ampliação do aeroporto. A Andrade Gutierrez, outra empreiteira brasileira, também participava da concorrência, mas não contou com a ajuda do ex-presidente. Lula, ao menos nesse contrato, tinha um único cliente. Um cliente VIP, de quem o petista recebia milhões de reaisapenas por palestras, garantem ele e a Odebrecht.

O telegrama da Guiné compõe um conjunto de documentos confidenciais, obtidos por ÉPOCA, sobre as atividades de Lula e da Odebrecht em países que receberam financiamento do BNDES. Esses papéis estão sendo analisados pelo Ministério Público Federal em Brasília. Como revelou ÉPOCA em abril, os procuradores investigam Lula oficialmente. Ele é suspeito de tráfico de influência internacional, um crime previsto no Código Penal, por atuar em benefício da maior construtora brasileira, envolvida no petrolão. 


Os documentos obtidos por ÉPOCA demonstram que Lula percorreu a África atrás de bons negócios para a Odebrecht e outras empreiteiras, das quais também recebia por “palestras”. Como no caso de Cuba, usou o nome de Dilma. Os papéis mostram, também, que Lula, ainda na Presidência, marcou reuniões de empresários africanos com o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, o que contradiz a versão do executivo sobre as relações do petista com ele e o banco.

Surgem cada vez mais fatos que contradizem  Lula e sua versão de que nunca fez lobby para a Odebrecht e outras empreiteiras. Na última semana, o ex-­presidente foi citado num relatório da Polícia Federal na Operação Lava Jato que mostra uma série de trocas de e-mails de executivos da Odebrecht. Numa dessas mensagens, enviada em fevereiro de 2009, o ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, diz a um assessor especial de Marcelo Odebrecht, presidente do grupo, que o “PR fez o lobby” para a construtora numa obra na Namíbia, na África. “PR”, segundo os investigadores, significa Presidente da República, cargo ocupado por Lula na época dos fatos.

As reuniões de Lula na Guiné deram início a um tour de negócios pela África. Ele passaria em outros três países. Dois dias depois do encontro com o vice-presidente da Guiné, Lula chegou a Acra, capital de Gana. Foi recebido com pompa pelo chefe de Estado do país, John Dramani Mahama. Sem muitos rodeios, numa conversa privada, Mahama pediu o apoio de Lula para conseguir junto às autoridades brasileiras a liberação de uma linha de crédito no valor de US$ 1 bilhão destinada ao financiamento de projetos de infraestrutura. Segundo registro feito num telegrama reservado do Itamaraty, o presidente ganês “frisou que o  apoio do ex-presidente Lula a essa sua demanda serviria para facilitar e acelerar as necessárias negociações relativas à aprovação do crédito”.


Após ouvir atento o pleito de seu colega, o líder petista encontrou uma solução. Destaca a mensagem diplomática: “O ex-presidente Lula disse acreditar que o BNDES teria condições de acolher a solicitação da parte ganense e, nesse sentido, intercederia junto à presidenta Dilma Rousseff”. A pedido de Lula, o presidente de Gana entregou uma nota formalizando a solicitação de crédito. Quatro meses depois, no dia 19 de julho de 2013, o BNDES abriu seus cofres e liberou para um consórcio formado, sim, pela Odebrecht e pela Andrade Gutierrez a contratação de US$ 202,1 milhões (R$ 452,7 milhões, em valores da época) para a construção de uma rodovia em Gana. A taxa de juros do empréstimo é a segunda menor concedida pelo BNDES de um total de 532 operações voltadas para a exportação. O prazo para o pagamento da dívida também é camarada: 234 meses, ou seja, 19,5 anos, bem acima da média de 12 anos praticada pelo banco.

De Gana, Lula seguiu para Benin, acompanhado de empreiteiros presos na Lava Jato, como Léo Pinheiro, da OAS, e Alexandrino Alencar, da Odebrecht. Num encontro reservado com o presidente de Benin, Boni Yayi, Lula expôs as dificuldades para a liberação do empréstimo pelo BNDES para o país. “(Yayi) solicitou apoio do ex-PR Lula para a flexibilização das exigências do COFIG/BNDES”, diz um telegrama. O Comitê de Financiamentos e Garantias (Cofig) é o órgão que auxilia na análise de diversas demandas de operações de crédito para a exportação feitas no BNDES. Os empresários brasileiros tiveram a oportunidade de prospectar projetos de infraestrutura. “Embora o tom da visita, por parte do Instituto Lula, tenha sido mais de cortesia e amizade, o evento ajudou a dinamizar as discussões em torno da relação entre atores privados dos dois países e, principalmente, atraiu a atenção de empresários brasileiros para o potencial de investimentos no Benin”, diz o telegrama. A aventura de Lula na África era um sucesso.

O OUTRO LADO

Procurado por ÉPOCA para esclarecer os e-mails apreendidos pela PF, o ex-ministro Miguel Jorge disse que Lula agiu de forma apropriada. “Se o lobby é feito sem nenhum interesse de lucro pessoal, todo ex-presidente e ex-ministros deveriam usar sua influência em favor das empresas de seu país. Lula, por exemplo, cobra cerca de US$ 200.000 para dar uma palestra para cerca de 300 pessoas, sem promover um produto específico, enquanto o ex-presidente americano Bill Clinton cobra cerca de US$ 300.000”, disse. Questionado sobre o fato de Lula receber dinheiro da Odebrecht, sua maior cliente, para dar palestras em países onde a construtora possui obras financiadas pelo BNDES, Miguel Jorge respondeu: “Aí, é uma avaliação que não é tão fácil de fazer”.

O Instituto Lula, por sua vez, disse que processará jornalistas de ÉPOCA. “A diplomacia presidencial contribuiu para aumentar as exportações brasileiras de produtos e serviços, que passaram de US$ 50 bilhões para quase US$ 200 bilhões”, disse o Instituto. “Temos a absoluta certeza da legalidade e lisura da conduta do ex-presidente Lula, antes, durante e depois do exercício da Presidência do país, e da sua atuação pautada pelo interesse nacional”, disse o Instituto, em nota. Quanto à investigação do Ministério Público sobre Lula, o Instituto Lula afirmou que “há a afirmação textual do procurador de que não há elementos que comprovem nenhum ilícito e que a abertura do inquérito deu-se para estender o prazo”. Por fim, o Instituto disse que “não há o que comentar sobre supostos documentos mencionados pela revista sem ter conhecimento da íntegra desses documentos sem manipulações, para oferecer a resposta apropriada, se for o caso”.

O BNDES disse que “todos os contatos entre o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e o então presidente Lula ocorreram dentro do papel institucional de cada um e da mais absoluta lisura”. Afirmou o banco: “Faz parte da rotina do presidente do BNDES receber empresários e representantes de países estrangeiros. A tramitação das operações de financiamento do BNDES obedece a um processo de análise rigoroso e impessoal, envolvendo mais de 50 pessoas, entre equipes técnicas e órgãos colegiados”.

Procurada, a Odebrecht Infraestrutura diz que mantém uma relação institucional com o ex-presidente Lula e que ele foi convidado para fazer palestras em eventos voltados a defender “as potencialidades do Brasil e de suas empresas”. A empresa diz que apresentou proposta para o projeto do Terminal do Aeroporto de Mongomoyen, na Guiné Equatorial, mas não foi vencedora na licitação. A construtora também disse que os trechos de mensagens eletrônicas apontadas em relatório da Polícia Federal apenas registram uma atuação institucional legítima e natural nos debates de projetos estratégicos para o país. A companhia lamentou a divulgação e “interpretações equivocadas dos e-mails”.

As investigações do Ministério Público Federal no Distrito Federal sobre a suspeita de tráfico de influência internacional praticado pelo ex-presidente e a Operação Lava Jato poderão confluir em algum momento. Os investigadores de Brasília já pediram à força-tarefa de Curitiba o compartilhamento de provas. Procuradores da capital federal apuram se os cerca de R$ 10 milhões pagos pelas empreiteiras envolvidas no Petrolão para a LILS, empresa de palestras de Lula, tiveram origem lícita e uma contraprestação de serviços. Caberá, portanto, ao Ministério Público indicar se há elementos que justifiquem a denúncia do ex-presidente.


Clique para saber mais sobre os malfeitos de Lula em Cuba - mais roubalheira

Ler na íntegra em Época

http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2015/10/documentos-secretos-revelam-lula-fez-lobby-para-odebrecht-em-licitacao-na-guine.html

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Lula, o homem chamado “Brahma”. Ou: A coisa tá feia para o seu lado, falastrão!



Prestem atenção ao trecho de um texto:
“O presidente Luiz Inácio Lula da Silva nunca escondeu sua inclinação por um copo de cerveja, uma dose de uísque ou, melhor ainda, um copinho de cachaça, o potente destilado brasileiro feito de cana-de-açúcar. Mas alguns de seus conterrâneos começam a se perguntar se sua preferência por bebidas fortes não está afetando sua performance no cargo. Nos últimos meses, o governo esquerdista de Da Silva tem sido assaltado por uma crise depois da outra, de escândalos de corrupção ao fracasso de programas sociais cruciais.”

Esse é começo de um texto escrito em maio de 2004 por Larry Rother, então correspondente do jornal americano The New York Times no Brasil. A reação de Lula foi violenta. Tentou, acreditem, expulsar Rother do país, ao arrepio da Constituição, sob o pretexto ridículo de que a pátria havia sido ofendida e de que o jornalista havia se imiscuído em assuntos nacionais. Qual assunto nacional? A, digamos, intimidade entre Lula e o álcool?

Pois é… Reportagem da revista VEJA desta semana informa que a Polícia Federal dispõe de mensagens trocadas entre empreiteiros em que Lula, na condição de presidente ou de ex-presidente, era chamado por um apelido: “Brahma”, numa alusão, certamente, a seus hábitos. A metonímia-metáfora nem chega a ser a melhor. Lula não dispensa uma cerveja, mas é conhecida a sua inclinação por uísque desde o tempo em que presidia o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo.

Enquanto a companheirada enfrentava a polícia, perdia o emprego e corria alguns perigos, o máximo de risco a que se submetia o chefão era se embebedar na sede da Fiesp, em animadas conversas com os empresários do então “Grupo 14”. Um deles, remanescente daquele turma, já me disse que, por lá, o Babalorixá de Banânia nunca foi visto como líder esquerdista. A avaliação que os empresários tinham é a de que ele queria se dar bem e faria qualquer coisa para chegar ao poder.

Pois é… É claro que Lula ser chamado de “Brahma” pelos empreiteiros — e importaria pouco se fosse bebum, beberrão, bêbado, pau d’água, cachaceiro, ébrio, borracho — tem menos importância do que aquilo que revelam as mensagens que vêm a público. Fica evidente que, na Presidência da República ou não, sóbrio ou não, ele se comportava como um mero lobista.

Em outubro de 2012, Léo Pinheiro, presidente da empreiteira OAS, relata a um executivo seu: “Estive essa semana com o Brahma. Contou-me que quem esteve com ele aqui foi o presidente da Guiné Equatorial, pedindo-lhe apoio sobre o problema do filho. Falou também que estava indo com a Camargo para Moçambique X Hidrelétrica X África do Sul”.

Nota: a Guiné Equatorial, hoje uma importante produtora de petróleo, é uma das ditaduras mais sanguinárias no mundo. Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, o amigão de Lula, governa o país desde 1982 — há 33 anos, portanto. É considerado pela “Forbes” o oitavo governante mais rico do mundo, embora o país esteja entre os últimos no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). O tal filho, que vai herdar o trono, é um bandido chamado “Teodorin”. É aquele que financiou o desfile da Beija-Flor neste ano.

Aí é a vez de um executivo da OAS escrever a Léo Pinheiro: “Colocamos o avião à disposição do Lula para sair amanhã ao meio-dia. Seria bom checar com o Paulo Okamotto se é conveniente irmos no mesmo avião”. Como se nota, os empreiteiros tinham a noção da, digamos, “inconveniência”.

O “Brahmaalimentava também os sonhos sebastianistas dos companheiros empreiteiros. Em dezembro de 2012, escreve um executivo da OAS: “O clima não está bom para o governo. O modelo dá sinais de esgotamento, e o estilo da número um tem boa parte da culpa”. Em novembro de 2013, voltava à carga: “A agenda nem de longe produz os efeitos das anteriores do governo Brahma”. Referindo-se a Dilma, na comparação com Lula, analisa o executivo da OAS: “A senhora não leva jeito: discurso fraco, confuso, desarticulado, falta de carisma”. Bem, essa parte é mesmo verdade. Ocorre que o propósito não era bom. Eles queriam a volta de Lula.

Presidentes ou primeiros-ministros podem fazer lobby, digamos, político em favor das empresas do seu país? Podem e até devem. O governo americano pressionou para que o Brasil comprasse os caças da Boeing; o francês, para que fosse da  Dassault, e o sueco, da Gripen. Mas nenhuma dessas empresas foi flagrada em relações incestuosas com o partido do governo ou com o chefe do Executivo. Não reformaram o sítio do mandatário, não lhe pagaram milhões para dar palestras, não o transformaram em mascate de seus interesses, não lhe construíram um tríplex — para ficar nas miudezas.

A política brasileira nunca foi algo a ser copiado pelo resto do mundo. Mas parece claro, a esta altura, que Lula e o PT a conduziram a um novo patamar do vexame.

Há uma grande diferença entre promover os interesses nacionais dando suporte claro e legal a empresas nativas no exterior e se comportar como um lobista vulgar. Há uma diferença entre um empresário chamar o chefe do Executivo de “Excelência” e de “Brahma”. E a cerveja, coitada, nem tem nada com isso. Dizem-me os apreciadores que é de ótima qualidade. E, definitivamente, esse não é o caso de Lula. Se cerveja fosse, eu não a recomendaria para consumo humano.

A coisa tá para feia para o seu lado, falastrão!

Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo