Sigiloso, implacável e devastador.
Assim é descrito o Sistema Oceânico Multipropósito Status-6, uma arma nuclear russa que está em fase de desenvolvimento e que tem preocupado os Estados Unidos. Em sua Revisão de Postura Nuclear (NPR, da sigla em Inglês) divulgada em 2 de fevereiro, o Departamento de Defesa americano incluiu a arma como uma das ameaças que justificam os EUA modernizarem seu arsenal atômico.Já a Rossikaya Gazeta, o jornal oficial do governo russo, o batizou como o "artefato do dia do juízo final".
Capaz de atravessar o oceano
O
Status-6 foi projetado como um veículo autônomo capaz de atravessar o
Oceano Pacífico e lançar um ataque radioativo mortal sobre a costa oeste
dos Estados Unidos. Ele é adaptado para mergulhos tão profundos
que se tornaria invisível a sistemas de detecção. Sua carga incluiria
ogivas nucleares de alta potência. "Sua detonação provocaria uma
enorme nuvem radioativa", explica à BBC Mundo, o serviço em espanhol a
BBC, Pavel Podvig, autor do blog Russian Forces, que divulga informações
sobre armas nucleares, controle de armas e desarmamento na Rússia,
baseadas em análises científicas. O plano russo é contar com o que os especialistas chamam de "arma de terceira onda" definitiva.
Caso tanto os mísseis balísticos terrestres como submarinos fossem neutralizados por um hipotético ataque inimigo, leia-se americano, o Status-6 teria a capacidade de lançar uma resposta atômica em terreno adversário.
Ele seria lançado a partir de um submarino adaptado para isso.
'Danos enormes'
Hans
Kristensen, da Federação de Cientistas Americanos, destaca que os
"Estados Unidos têm capacidade para perseguir os submersíveis inimigos,
mas, uma vez que se lança um torpedo, a história é diferente"."Se essa arma fosse concluída, certamente causaria danos enormes", diz Podvig.
Mas a dúvida é justamente essa, se o Status-6 será realidade algum dia.
Apesar de ter sido oficialmente reconhecido como uma ameaça pelo Pentágono, os especialistas encontram muitas razões para ceticismo.
"Não está claro que ele vá ficar operacional", diz Podvig.
Os Estados Unidos e seus aliados souberam dos planos de desenvolvimento dessa arma durante um encontro do presidente russo Vladimir Putin com seus generais na cidade de Sochi, na Rússia. Em imagens divulgadas por canais controlados pelo Kremlin, é possível ver rapidamente um dos militares mostrando um documento confidencial a Putin.
A folha continha desenhos e detalhes do Status-6, desenhado pela Rubin, uma fabricante de submarinos nucleares de São Petersburgo. Logo surgiram especulações sobre se a divulgação das imagens foi acidental ou estratégia para intimidar potenciais adversários.
Kristensen lembra que "os russos fazem frequentemente essas coisas, de manter, durante anos, programas dos quais posteriormente não sai nada".
"Eu não acho que vai ser operacional da maneira como foi descrito", reforçou Podvig.
Então, por que os estrategistas do Pentágono o incluíram em um documento oficial como uma ameaça real para a segurança nacional?
"O Status-6 é tecnicamente possível e, na comunidade de inteligência, eles acham melhor estarem preparados para algo assim", ressalta Podvig.
Kristensen descarta que esse sistema de armas em desenvolvimento tenha sido uma das razões para a revisão da política nuclear de Washington. "Eles o usaram como um dos exemplos assustadores de que os russos são maus e podem obter suas próprias armas para respaldar o argumento de que os Estados Unidos precisam melhorar suas armas nucleares."
De acordo com informações recentes divulgadas pela agência de notícias Bloomberg, Trump espera que o Congresso aprove um aumento de 7,2% no orçamento da Defesa para o próximo ano. Em seu discurso sobre o Estado da União, relatório que os presidentes americanos apresentam anualmente aos parlamentares, ele pediu a construção de um arsenal nuclear "tão forte e poderoso que possa impedir qualquer tentativa de agressão de outro país".
Outras ameaças
Embora
o NPR tenha citado, além do Status-6, "pelo menos dois outros sistemas
de alcance intercontinental", os especialistas fizeram ponderações em
relação à fala de Trump sobre uma deterioração das capacidades dos EUA. "O
fato de que a Rússia estava há algum tempo modernizando seus
equipamentos não significa que os EUA não o fizeram também, mas que isso
aconteceu muitos anos antes", diz Povdig. Agora, depois de anos de política de não proliferação de armas nucleares em Washington, essa corrida parece prestes a recomeçar. "Já na época da Guerra Fria sempre se citava as armas da grande potência alheias como justificativa para as próprias. É assim que sempre funciona."
BBC Brasil