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quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

A última derrota de Satanás e o Juízo Final - VOZES

 Franklin Ferreira - Gazeta do Povo
 
Apocalipse
Cristo como juiz no Juízo Final, em vitral da Catedral de York, na Inglaterra.
Cristo como juiz no Juízo Final, em vitral da Catedral de York, na Inglaterra.| Foto: Wikimedia Commons/Domínio público
 
Apocalipse 20,1-15 está relacionado com os capítulos anteriores, que tratam do anúncio e da queda da Babilônia (Ap 17,1–19,5), e do juízo de Jesus contra as duas bestas e as forças ímpias do mundo no final da história (Ap 19,6-21). Agora, finalmente, o dragão também será derrubado para sempre. Como resume Simon Kistemaker: “O capítulo [20] apresenta quatro quadros que diferem entre si, porém estão intimamente relacionados. O primeiro [quadro] mostra a prisão de Satanás [20,1-3]. Então, depois de Satanás ser preso, vemos um quadro do que acontece aos santos [20,4-6]. O terceiro retrata a soltura e ruína de Satanás [20,7-10], e o último descreve o Dia do Juízo [20,11-15]. O primeiro e o segundo ocorrem contemporaneamente; o terceiro e o quarto seguem um ao outro sequencialmente”.

“Então vi descer do céu um anjo que tinha na mão a chave do abismo e uma grande corrente. Ele segurou o dragão, a antiga serpente, que é o diabo, Satanás, e o prendeu por mil anos. Lançou-o no abismo, fechou-o e pôs selo sobre ele, para que não mais enganasse as nações até se completarem os mil anos. Depois disso, é necessário que ele seja solto por um pouco de tempo.

Assim como a prisão do diabo é limitada a mil anos, o reinado intermediário dos santos é igualmente limitado.

Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada autoridade para julgar. Vi ainda as almas dos que foram decapitados por terem dado testemunho de Jesus e proclamado a palavra de Deus. Estes são os que não adoraram a besta nem a sua imagem, e não receberam a sua marca na testa e na mão; e viveram e reinaram com Cristo durante mil anos. Os restantes dos mortos não reviveram até que se completassem os mil anos. Esta é a primeira ressurreição. Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição. Sobre esses a segunda morte não tem poder; pelo contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele os mil anos.

Quando, porém, se completarem os mil anos, Satanás será solto da sua prisão e sairá para enganar as nações que estão nos quatro cantos da terra, Gogue e Magogue, a fim de reuni-las para a batalha. O número dessas é como a areia do mar. Marcharam, então, pela superfície da terra e cercaram o acampamento dos santos e a cidade amada. Porém, desceu fogo do céu e os consumiu. O diabo, que os tinha enganado, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde já se encontram a besta e o falso profeta; e serão atormentados de dia e de noite, para todo o sempre.

O abismo é uma restrição figurada, pela qual Satanás ficou impossibilitado de pôr em prática sua perversidade que tinha antes de sua restrição.

Vi um grande trono branco e aquele que está sentado nele. A terra e o céu fugiram da presença dele, e não se achou lugar para eles. Vi também os mortos, os grandes e os pequenos, que estavam em pé diante do trono. Então foram abertos livros. Ainda outro livro, o Livro da Vida, foi aberto. E os mortos foram julgados, segundo as suas obras, conforme o que estava escrito nos livros. O mar entregou os mortos que nele estavam. A morte e o inferno entregaram os mortos que neles havia. E foram julgados, um por um, segundo as suas obras. Então a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo. E, se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado no lago de fogo.

Estas imagens que João viu em seu exílio em Patmos, que precedem e sucedem a última batalha, parecem ser caleidoscópicas, sobrepostas, tremidas.

A prisão de Satanás
João viu descer do céu um anjo,
uma visão cheia de símbolos que ocorre antes da última batalha entre o Messias e seus inimigos na história (Ap 19,11-21). O anjo tem na mão a chave do abismo e uma grande corrente, o que indica capacidade para restringir as atividades do dragão, a antiga serpente (uma alusão ao Éden), Satanás (o “adversário”), o diabo (o “acusador”). O anjo segurou [...] e o prendeu por mil anos. Como escreveN. T. Wright: “A passagem que agora temos diante de nós [...] é a única passagem na Escritura em que um ‘milênio’ é sequer mencionado. Aqueles que buscam interpretações especulativas de profecias, é claro, pegam esses e outros trechos, tiram-nos (geralmente) de seus contextos reais e construíram uma cosmovisão bem diferente, na qual desempenham um papel muito mais importante do que eles têm na própria Escritura”. Se estes acontecimentos ocorrem antes do último combate contra a besta e o falso profeta, então o aprisionamento e os mil anos são a autoridade de Cristo que restringe o diabo de algum modo durante o período após sua morte, ressurreição e ascensão. Esse aprisionamento de Satanás não se refere a uma total cessação das suas atividades. Ele ainda está ativo, mas agora opera sob a restrição da autoridade de Cristo.

O abismo é uma restrição figurada, pela qual Satanás ficou impossibilitado de pôr em prática sua perversidade que tinha antes de sua restrição. Assim, até a hora designada por Deus, Satanás será incapaz de enganar as nações estrangeiras. Portanto, a prisão e a expulsão de Satanás estão relacionadas com a primeira vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo. Em regiões onde foi permitido ao diabo exercer quase que poder ilimitado, durante os tempos do antigo Israel, ele é agora forçado a ver os servos de Jesus pouco a pouco ganhando território. Segundo William Hendriksen: “Num comparativamente breve período, o cristianismo se espalha por todo o sul da Europa. Logo ele conquista o continente. Pelos séculos que se seguem ele é proclamado em todos os lugares [do mundo] de modo que os confins da terra ouvem o evangelho daquele que foi crucificado e muitos dobram os joelhos diante dele. [...] A Bíblia já foi traduzida em [...] [cerca de] 1 mil línguas [e algumas partes foram traduzidas em 3,6 mil idiomas]. [...] Em alguns países, as verdades abençoadas do cristianismo afeta[ra]m a vida humana em todas as suas áreas: política, econômica, social e intelectual”.

Mas no fim da era de mil anos, imediatamente antes da volta de Cristo, Satanás interromperá a pregação do evangelho e lançará uma cortina de ilusão sobre as nações, com o objetivo de preparar o ataque devastador contra o povo de Deus. Portanto, o abismo representa uma esfera espiritual na qual Satanás ainda opera de modo restrito ao longo desta era, e o restringe para que ele não possa fazer o que fez no passado. Ele foi capaz de iludir muitos israelitas no passado, de modo que eles tiveram dificuldade em cumprir sua missão de ser uma luz salvadora para as nações. E a nação permaneceu sitiada pela opressão de nações estrangeiras que tentaram exterminá-la. Essa tentativa de destruir Israel culminou no ataque de Satanás a Jesus. Agora, preso, o diabo não será capaz de deter a pregação do evangelho nem o seu recebimento cada vez maior durante a maior parte da era que precede a volta de Jesus.

Ao fim desta era, o diabo será solto por um pouco de tempo. Portanto, os cristãos precisam ter em mente que a época durante a qual o povo de Deus será capaz de espalhar o evangelho em todos os lugares não durará indefinidamente; nem mesmo até o momento da segunda vinda de Cristo. E não há regiões desta terra, como Sudão, Paquistão, Etiópia, China, Coreia do Norte, Índia, Nicarágua e até mesmo na Europa ocidental e nas costas dos Estados Unidos, que parecem já estar entrando no pouco [...] tempo de Satanás?

O reinado dos santos
De onde vêm os exércitos do céu que seguiam aquele que é o Rei dos Reis e Senhor dos Senhores
(Ap 19,14-16)? João viu tronos no céu enquanto ao mesmo tempo Satanás está preso no abismo. E o que acontece no abismo ocorre simultaneamente ao que João viu no céu. E os que estão assentados nos tronos fazem parte do tribunal celestial de Deus, um cumprimento das promessas de que os vencedores exercerão autoridade com Cristo sobre as nações e se assentarão com ele em tronos (Ap 3,21). Esses são os decapitados por terem dado testemunho de Jesus e proclamado a palavra de Deus, que foram martirizados enquanto mantinham sua fé, a despeito de todo o tipo de sofrimentos e perseguições infligidos pelo Estado iníquo. Eles permaneceram fiéis até a morte. E são referidos como almas, para deixar claro que eles ainda aguardam a ressurreição do seu corpo glorificado. O primeiro grupo se refere literalmente a mártires, que são em seguida acompanhados nos tronos pelos restantes dos santos falecidos, os que não adoraram a besta nem a sua imagem, e não receberam a sua marca na testa e na mão. Esse segundo grupo incluiria todos os cristãos fiéis, quer isso se refira a mártires por causa da fé ou aqueles que sofrem outros tipos de perseguição.

Isso tudo ocorre durante mil anos, que devem ser interpretados simbolicamente, uma referência a um longo tempo. Pois, como N. T. Wright afirma: “João usou todos os tipos de números simbólicos ao longo de seu livro. Seria muito estranho se ele, repetidamente, lançasse um número simbólico e redondo bastante óbvio, mas esperasse de nós que o compreendêssemos literalmente”. Assim, mil significa completude, a duração completa desta era aqui descrita. Aponta para a ideia de uma plenitude de tempo oferecida pela soberania de Deus, ao fim do qual certamente virá a vitória final dos cristãos que têm sofrido. Como Gordon Fee escreve: “João não está nesse momento interessado em um período de tempo como tal, conhecido como ‘o milênio’, embora o termo ‘mil anos’ apareça um total de quatro vezes nessas poucas frases. Em vez disso, os dois parágrafos [de 20,1-6], [e] ambos começam [...] com o verbo ‘eu vi’, são melhor entendidos juntos como um interlúdio entre a derrubada do triunvirato profano [...] delineado na seção anterior (19,11-21), e o julgamento final de todo mal, tanto demoníaco quanto humano, em 20,7-15. [...] Sua intenção geral parece ser uma palavra final de conforto para aqueles que ainda serão martirizados por sua devoção a Cristo, em vez de oferecer lealdade incondicional ao imperador”. E os santos falecidos viveram e reinaram com Cristo durante esse período, ao mesmo tempo em que Satanás está no abismo. A vindicação dos santos consiste na realeza que eles receberam nesse período. Mas apenas os que têm parte na primeira ressurreição vencerão a segunda morte, o juízo de Deus sobre os perdidos, e reinarão com Cristo. Isso significa que os restantes dos mortos, aqueles que não têm parte na primeira ressurreição, são os incrédulos em seu caminho para o juízo eterno.

O Cordeiro reconhece diante de Deus todos que estão inscritos no Livro, e todos identificados com sua justiça, morte e ressurreição, são sua possessão.

O exercício de juízo pelos santos e o fato de reinarem com Cristo ocorrem simultaneamente com a prisão de Satanás. Os santos nos tronos também recebem a felicidade de serem sacerdotes de Deus e de Cristo, de estarem protegidos contra a segunda morte, e de reinarem como reis com ele os mil anos. A primeira ressurreição é a trasladação da alma da terra para os tronos de Deus. É seguida, na segunda vinda de Cristo, pela ressurreição do corpo. Assim como a prisão do diabo é limitada a mil anos, o reinado intermediário dos santos é igualmente limitado, mas é seguido por uma etapa consumada de reinado na eternidade. A primeira ressurreição deve ser entendida como espiritual e a segunda como física. A primeira morte dos santos, que é física, os transfere para a primeira ressurreição no céu, que é espiritual. A segunda ressurreição dos ímpios, que é física, os transfere para a segunda morte, que é espiritual – e eterna. A primeira ressurreição é vivenciada apenas pelos cristãos, enquanto a segunda morte é vivenciada apenas pelos incrédulos. A primeira ressurreição, embora incompleta, inaugura uma ressurreição espiritual que será consumada mais tarde de uma forma física – e que João não chama de “segunda” ressurreição. Assim, é razoável interpretar a ascensão da alma na hora da morte à presença do Senhor como uma forma de ressurreição espiritual, em antecipação à ressurreição física e à consumação da vida eterna, que ocorrerão na volta do Senhor. Como afirma N. T. Wright: “A ressurreição, a eliminação da própria morte, dando ao povo de Deus novos corpos para viver no novo mundo de Deus, é a grande esperança do judaísmo antigo e do cristianismo clássico”.

Mas, segundo N. T. Wright, no que se refere ao período de mil anos, “nesse ponto, acima de tudo [...], não é necessário ser dogmático demais. Devemos guardar as coisas centrais que João deixou bem claras [em Apocalipse]: a vitória do Cordeiro e o chamado para compartilhar sua vitória por meio da fé e da paciência. Deus fará o que Deus quiser fazer. [...] Quem tem a vitória é o Deus criador, que o faz para derrotar e eliminar a própria morte e, assim, abrir caminho para o esplendor da criação renovada. Isso é o que importa”. Pois a confiança dos cristãos é que Deus não esqueceu dos seus! Os santos mártires são homenageados como reis e sacerdotes! Os santos redimidos de Deus experimentarão a primeira ressurreição! Portanto, todo o povo de Deus será feliz e santo e não experimentará a segunda morte!


A derrota final de Satanás
Mas, segundo João, Satanás foi restringido,
limitado na sua capacidade de enganar as nações para que juntem forças para atacar e aniquilar o povo de Deus, mas essa restrição é agora removida, e ele liderará um exército procedente de toda a terra, para a batalha. A reunião dessas forças hostis contra o povo de Deus é vista como cumprimento da profecia em Ezequiel 38–39 de que o rei Gogue e [o povo de] Magogue e muitos outros povos se reuniriam para combater Israel. Mas aqui Gogue e Magogue são equiparados a todas as nações em toda a terra. Esses nomes não têm nenhuma relação com qualquer cidade ou país contemporâneo. De acordo com William Hendriksen: “Todo o mundo iníquo perseguirá a Igreja. A perseguição será mundial. [...] O conflito aqui descrito não é entre nações ‘civilizadas’ e ‘incivilizadas’. É, simplesmente, o último ataque das forças do anticristo contra” o povo de Deus. O fato de o número das nações ser, como mencionado, como a areia do mar, ressalta a aparente esmagadora vantagem a seu favor contra os santos. Será que o tempo gasto com especulações de que nações serão Gogue e Magogue não termina por tirar a atenção da centralidade de Deus e de Cristo no Juízo Final e em seu triunfo total sobre todo o mal?

E essas nações marcharam [...] pela superfície [literalmente “largura”] da terra e cercaram o acampamento dos santos, uma alusão ao acampamento dos israelitas no deserto, e a cidade amada[por Deus], expressão usada em referência a Jerusalém. O acampamento dos santos é equiparado à cidade amada, o que enfatiza uma continuidade histórica, e que encontra sua consumação em Apocalipse 21–22. Porém, antes que as nações ataquem os santos, desceu fogo do céu e os consumiu, referência ao episódio do profeta Elias e dos soldados enviados para prendê-lo (2Rs 1,9-17) e, de modo figurado, ao Juízo Final, quando Deus sozinho salvará seu povo ao destruir os seus inimigos. Assim, de acordo com Richard Bauckham: “O objetivo teológico do milênio é unicamente demonstrar o triunfo dos mártires: aqueles que a besta matou são os que de fato viverão – [...] e aqueles que contestaram seu direito de governar e sofreram por isso são os mesmos que, no final de tudo, dominarão tão universalmente quanto ela – e por muito mais tempo: mil anos. Por fim, para provar que a vitória deles no reino de Cristo não pode ser novamente revertida pela impiedade, e que é a última palavra de Deus para o bem contra o mal, o diabo recebe uma última oportunidade de enganar as nações outra vez [...]. Todavia, essa não é uma repetição do governo da besta. A cidade dos santos prova ser inexpugnável”.

O diabo é destacado como aquele que enganou as nações, levando-as a atacar os santos. Portanto, Apocalipse 20,7-10 parece ser uma recapitulação de Apocalipse 19,17-21, o que torna improvável a suposição de que Satanás é lançado no fogo muito tempo depois de seus exércitos. Assim, a besta e o falso profeta foram lançados no lago de fogo e enxofre (Ap 19,20) ao mesmo tempo que o diabo. Os episódios são simultâneos e, assim, os mil anos devem referir-se aos acontecimentos que precedem a batalha final, ou seja, a atual era. Por fim, a trindade satânica sofrerá uma punição eterna, ou seja, serão atormentados de dia e de noite, para todo o sempre.

O dia do Juízo Final
Por fim, João viu um grande trono branco, maior que os demais tronos
. O trono branco indica a pureza e santidade do Juiz. O julgamento prestes a vir do trono é da parte de Deus, que julga não apenas para punir pelo pecado, mas também para vindicar o seu povo perseguido, a culminação do governo de Deus no julgamento final no fim da história. O plano de Deus se concretizou e foi completado e todo o mal será derrotado. A terra e o céu fugiram significa que, quando o dia do juízo chegar, a criação divina será afetada de tal maneira que a terra sofrerá uma completa mudança. Eventos catastróficos, de enormes proporções, acontecerão; o céu será enrolado como se faz com um rolo, para dar lugar aos novos céus e à nova terra. O que é descrito aqui não trata de destruição ou aniquilação, mas de renovação da criação. E não se achou lugar para eles se refere à destruição completa de todo o sistema mundial pecaminoso.

O fato de que João viu os mortos, os grandes e os pequenos [...] em pé diante do trono assume que a última e grande ressurreição dos injustos e dos justos ocorreu. A visão de João assegura que o Juízo Final e a redenção última acontecerão. Os registros escritos nos livros, que contêm os julgamentos divinos, referem-se simbolicamente à memória de Deus, que nunca falha. Por outro lado, uma pessoa será julgada e declarada absolvida sobre esta base: se seu nome estiver registrado no Livro da Vida. A pureza desse momento divino final joga luz em meio a tantas visões obscuras e afirma a destruição final do mal. E notem o efeito da presença do Juiz! Como as pessoas ainda fazem piada do dia do juízo? O mar simboliza o domínio do mal. Se é assim, Deus agora força esse domínio maligno, assim como a morte e o inferno [Hades = lugar dos mortos], a liberar os seus cativos para serem julgados. Não me perguntem como isso se dará. Não está em nosso poder saber os detalhes. Somente Deus pode fazer milagres. Nossa preocupação deve ser nos preparar para aquele dia, quando todos estarão de pé para ouvir a palavra do Juiz.

Viver para sempre com o Senhor é a recompensa que ele outorga a seu povo, cujos nomes estão no Livro da Vida.

O fato de que a morte e o inferno [Hades = lugar dos mortos] foram lançados no lago de fogo significa que as forças que imperaram após a primeira morte, a morte física, agora cessam e são substituídas pela punição eterna no lago de fogo (vale de Hinom = Geena). Isso expressa o fato de que os incrédulos, mantidos anteriormente nos grilhões temporários da morte e do lugar dos mortos, serão entregues aos grilhões permanentes do lago de fogo, que é chamado por João de a segunda morte. A realidade do sofrimento da segunda morte é o ser alvo da eterna ira de Deus, ser expulso do acampamento dos santos e da sua cidade amada, enquanto os justos desfrutam das bênçãos de viverem nela. O alerta de William Hendriksen é importante: “Em nenhum lugar em toda a Bíblia lemos que haverá uma ressurreição dos corpos dos crentes antes dos mil anos e outra dos corpos dos não crentes, após os mil anos. Todos ressuscitam ao mesmo tempo. A Morte, a separação de alma e corpo, e o Hades, o estado de separação, agora cessam. Nem no novo céu nem na nova terra nem mesmo no inferno jamais haverá separação entre corpo e alma depois da segunda vinda de Cristo para julgamento. Portanto, [...] a Morte e o Hades [...] são lançados no lago de fogo. E qualquer cujo nome não tenha sido encontrado inscrito no Livro da Vida será também lançado no lago de fogo”.

A nota do Juízo Final soa mais uma vez: se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado no lago de fogo. Apesar da ameaça final, os santos encontram refúgio no Livro da Vida, onde estão escritos os nomes dos eleitos para a fé desde antes da fundação do mundo (Ap 13,8). Os santos são poupados do juízo. Eles não são julgados pelas suas obras más, porque o Cordeiro já sofreu por eles: ele foi morto no lugar dos santos. O Cordeiro reconhece diante de Deus todos que estão inscritos no Livro, e todos identificados com sua justiça, morte e ressurreição, são sua possessão. Viver para sempre com o Senhor é a recompensa que ele outorga a seu povo, cujos nomes estão no Livro da Vida.

Meditemos com seriedade na afirmação de Jonathan Edwards: “Consideremos bem que, se nossa vida não está na jornada rumo ao céu, então está na jornada para o inferno”. 
Qual relação que você mantém com Deus?
Você está em Cristo? 
Crê em Cristo? 
Pertence a Cristo? 
Você tem segurança de que seu nome está escrito no Livro da Vida? 
Você confia unicamente em Cristo?
Sua segurança de ser cristão é confirmada pelas evidências de uma nova vida?
Você está pronto a ser martirizado por Cristo? 
Essas são perguntas importantíssimas! Sua eternidade depende delas – que pode ser uma gloriosa eternidade no céu ou uma eternidade de punição no lago de fogo. Pense com muita atenção. Pense com muita seriedade. Pense agora mesmo sobre essas perguntas. No fim – onde você estará?

“Ó Poderosíssimo Deus e Pai misericordioso, que tens compaixão de todos os homens, e que não desejas a morte do pecador, porém seu arrependimento e salvação. Misericordiosamente perdoa-nos as nossas transgressões; recebe-nos e conforta-nos a nós que estamos entristecidos e mortificados com o peso de nossas culpas. Tua propensão é ter sempre misericórdia; só a ti pertence o perdoar os pecados. Perdoa-nos, portanto, bom Senhor, perdoa ao teu povo, que remiste; não entre em juízo com os teus servos, porém de tal maneira aparta de nós a tua ira, de nós que reconhecemos, humildes, as nossas transgressões e verdadeiramente nos arrependemos de nossas faltas, e assim apressa-te a ajudar-nos neste mundo, a fim de que vivamos para sempre neste mundo contigo no nosso mundo vindouro; mediante Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém.”


quinta-feira, 13 de abril de 2023

E se Lula for o Plano B? - Percival Puggina

 

         Não se requer muita imaginação para perceber uma certa ordem (no sentido filosófico da palavra) quando se rememora a sequência de decisões judiciais que iniciou com aquele voto do ministro Gilmar Mendes. Em 2016, com Lula e outros réus graduados soltos, o ministro votou a favor da prisão após condenação em segunda instância. Em 2019, com Lula e seus amiguinhos, o ministro mudou de ideia e prisão de quem tem bons advogados ficou para a véspera do Juízo Final.

Essa foi a ponta de uma corrente de decisões judiciais ordenadas e irrecorríveis. Na outra, aparecem duas bizarrices da política brasileira: 1ª) Lula candidato à presidência da República e 
2ª) interdição judicial a quaisquer referências a seu passado recente. Sobre todo um período triste da nossa história se impôs silêncio. Recaiu sobre aqueles “malfeitos” uma espécie de sigilo de cem anos, servilmente obedecido pela mesma mídia que cobriu as denúncias, investigações e julgamentos a que se submeteram corruptos e corruptores.

Como se sabe, há uma diferença importantíssima entre as palavras casual e causal. “Casual” se diz do que acontece por acaso; já a palavra “causal” refere algo que dá causa a determinado efeito. Acontecimentos fluem quando se abre a torneira das causalidades.

De outro lado, tenho bem presente o estupor nacional quando irrompeu na pauta política a impensável aproximação entre Luiz Inácio e Geraldo Alckmin.  
Muito foi dito sobre isso, ao longo de vários meses, sempre na sessão de curiosidades. 
Tratou-se como loucura, devaneio, coisa de terraplanistas a ideia de que essa aproximação fosse possível.  [o maligno, ateu, ex-presidiário, servidor do diabo, das forças satânicas, unir-se a um ex-membro da OPUS DEI.] 
 Que curvatura precisaria ter a espinha dorsal de alguém que, um dia disse ser a volta de Lula à presidência o retorno do criminoso à cena do crime e, noutro dia, ambicionava ser seu vice-presidente?

A linha das causalidades seguia seu curso. Tudo que parecia impossível se foi tornando provável e o provável se convertendo em fato, como se os movimentos fugissem das leis da mecânica política. Só que não! As consequências do ingresso de Alckmin na chapa da oposição, mobilizou os caciques partidários e os “donos do poder” (nas palavras de Faoro) que farejam habilmente a atmosfera política e institucional mesmo quando rarefeita. E isso ela não era. Verdadeira enxurrada de siglas partidárias e patrões da Economia, com apoio das grandes máquinas da comunicação social, fechou fileiras com a dupla.

Os primeiros cem dias do novo governo, se para algo serviram, foi para mostrar que o Poder Executivo, sob a regência do petismo e de Lula, age com uma obstinação: destruir. Destruir não apenas o que foi feito após sua saída do poder, mas, até mesmo, a memória do que foi feito
Editados com furor missionário, decretos e medidas provisórias destes cem dias lembram marretas, marteletes demolidores e rompedores, furadeiras e cortadores de concreto. Derruba tudo!
 
As atenções se voltam para Geraldo Alckmin e as especulações do ano passado sobre os planos dos donos do poder ganham consistência.  
E se a sequência de causalidades estiver seguindo seu curso? 
E se Alckmin for, desde o início, o Plano A, com Lula de Plano B, só cumprindo todo o mandato se algo der errado? [mesmo com toda a contaminação sofrida por Alckmin ao se associar ao maligno e a sua seita de demônios - lembrando  que o antes vulgo 'picolé de chuchu', já não era boa coisa quando era apenas o sucessor de Covas -  Alckmin é para o Brasil e milhões de brasileiros que não fizeram o L e outros milhões que fizeram e hoje se arrependem, a melhor, quiçá, a única, opção para o Brasil se livrar de todo o mal que o maligno está ainda iniciando a execução.]

Como Miguel de Cervantes, “yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay”...

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Lula na vanguarda do atraso - Revista Oeste

Augusto Nunes e  Branca Nunes

O chefe do PT nem esperou o dia da posse para confirmar a opção pelo passado 
Luiz Inácio Lula da Silva, durante cerimônia de entrega do relatório final da transição de governo e anúncio de novos ministros | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil 
Luiz Inácio Lula da Silva, durante cerimônia de entrega do relatório final da transição de governo e anúncio de novos ministros | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil 
 
“É a primeira vez que um presidente da República começa a governar antes da posse”, vangloriou-se Luiz Inácio Lula da Silva nesta quinta-feira, 22 de dezembro, ao receber o “Relatório Final do Gabinete de Transição”, um monumento ao besteirol erguido por quase mil devotos da seita que tem como único deus um delinquente descondenado pelo Supremo Tribunal Federal. 
Incumbida de recensear os mais graves problemas do país, e sugerir soluções para todos, a legião de gênios da raça concluiu que o Lula modelo 2023 terá de reprisar o milagre que operou há 20 anos: mesmo emparedado pelo desastroso legado do sucessor, o enviado da Divina Providência saberá salvar a pátria em perigo
Tal façanha vai garantir-lhe uma nota 10 com louvor no Juízo Final, além da admiração que merece o único estadista do mundo que não aprendeu a escrever nem leu sequer uma orelha de livro por achar que isso é pior que exercício em esteira.
 
A senha para a conversa fiada foi recitada por Geraldo Alckmin, o vice-presidente eleito. Nascido e criado no ninho do PSDB, essa intrigante espécie de tucano demorou meio século para ver a luz. Era carola juramentado desde os 20 e poucos anos quando, perto dos 70, virou socialista, conseguiu tornar-se reserva do maior inimigo e gostou tanto do parceiro que o acompanhou de cócoras no caminho de volta à cena do crime. Entre um “Viva Lula” berrado no palanque e um “Lula é um gênio” sussurrado no almoço da família, Alckmin reza até em latim para que não haja inversões de posição na fila baseada em critérios biológicos. 
 
Era alguns anos mais novo que Mário Covas quando a morte do titular transformou o insosso vice em governador de São Paulo. É sete anos menos idoso que Lula. Enquanto espera, aprende a letra de hinos esquerdistas e bajula o dono do cargo que cobiça.
manifestações lula
O vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB-SP) – 08/12/2022 - 
 Foto: Ton Molina/Estadão Conteúdo
No palavrório que precedeu o sermão do chefe, Alckmin jurou que Lula vai lidar com uma “herança perversa” — ainda mais assustadora que a outra. Menos de um ano em péssima companhia bastou-lhe para aprender a mentir sem ficar ruborizado (e sem temer estágios no purgatório). 
Ele sabe que a “herança maldita” atribuída a Fernando Henrique Cardoso nunca existiu: em janeiro de 2003, caiu no colo de Lula um país com a inflação sob controle, modernizado pelo início da privatização de mamutes estatais e vigiado pela Lei de Responsabilidade Fiscal. 
Alckmin também sabe que o Brasil deste fim de dezembro é infinitamente melhor que a terra em decomposição e assolada pelo desgoverno de Dilma Rousseff.  
Mas foi com voz de quem acabou de comungar que acionou o sinal verde para que Lula responsabilizasse Jair Bolsonaro por todos os males da nação, passados, presentes e futuros.
 
“O resultado é uma fotografia contundente da situação dos órgãos e entidades que compõem a Administração Pública Federal”, falseia o documento fabricado por doutores em arrogância. “Ela mostra a herança socialmente perversa e politicamente antidemocrática deixada pelo governo Bolsonaro, principalmente para os mais pobres. A desconstrução institucional, o desmonte do Estado e a desorganização das políticas públicas são fenômenos profundos e generalizados, com impactos em áreas essenciais para a vida das pessoas e os rumos do país.” Fica combinado, portanto, que Lula tomou posse mais cedo para trazer de volta à vida (e esbanjando saúde) um Brasil sepultado em cova rasa. 
Não para aprovar ainda neste ano, com o aval dos presidentes da Câmara, do Senado e do TSE, a PEC da Gastança, o estupro do teto de gastos, a chicana que fingiu acabar com o Orçamento secreto que segue em vigor e o loteamento do ministério, fora o resto. Eleito pela coligação que juntou o PT, os demais partidos esquerdistas, democratas de galinheiro, superjuízes do STF e iluminados do TSE, o criminoso sem remédio age com a tranquilidade dos condenados à perpétua impunidade. Cadeia é coisa para os outros.

E 500 dias de gaiola não melhoram ninguém, atesta o comportamento de um Lula mais Lula do que nunca. É ele quem tudo decide, da nomeação de ministros ao tratamento reservado a convertidos e aliados de ocasião. [o presidente eleito exige dos que recebem suas benesses,  a servileza e a falta de dignidade como principais requisitos =   servir em um eventual governo do apedeuta eleito é aceitar a postura de joelhos ou de quatro como as mais adequadas e habituais.] Como os Bourbon, não esquece nada e nada aprende. Continuam sangrando na memória feridas abertas por constatações feitas por quem vê as coisas como as coisas são. Na mesma quinta-feira em que Alckmin voltou a louvá-lo, por exemplo, Lula castigou o vice com o rebaixamento a ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Teria sido um acúmulo de funções se o vice tivesse alguma função além de torcer, acampado no Palácio Jaburu, para que o pior aconteça — ao outro.

Se ocupasse o mesmo cargo na Argentina ou nos Estados Unidos, países em que o vice-presidente comanda o Senado, Alckmin estaria agora mais poderoso. Aqui, o número 2 é indemissível, mas qualquer ministro pode ser despejado do gabinete pelo chefe de governo. É o que ocorrerá caso Alckmin infrinja o Manual do Companheiro. 
O espetáculo da sabujice não cancela as acusações do aliado recentíssimo ao comandante do maior esquema corrupto da história. 
Se tivesse aprendido a assimilar tais agravos, Lula seria mais gentil com Simone Tebet e Marina Silva, que fizeram o L no segundo turno
Simone sonhou com o ministério que cuida do Bolsa Família até saber que aquilo não está disponível. 
Marina ainda caprichava na pose de ministra do Meio Ambiente até que alguém fez a advertência: tanta demora no convite é mau sinal. 
As duas enfim se deram conta de que é pecado capital admitir que Lula mereceu a temporada na gaiola.
 
O relatório da turma da transição avisa que o PT segue algemado a fórmulas grisalhas — e insiste em percorrer caminhos que apressam a chegada ao penhasco. 
Cinco páginas do documento tentam justificar o estupro do teto de gastos. Outras seis são consumidas no esforço para demonstrar que tudo vai melhorar se os 23 ministérios virarem 37. 
Um latifúndio de 46 páginas detalha a “herança perversa” debitada na conta de Bolsonaro.  
Em seguida, aparece uma amostra do que os participantes do levantamento batizaram de “revogaço”. Os redatores incluem entre os condenados à morte “oito Decretos e uma Portaria Interministerial que incentivam a multiplicação descontrolada das armas no Brasil, sem fiscalização rigorosa e adequada”. Também é recomendada “a revisão da lista de empresas que se encontram em etapas preparatórias e ainda não concluídas de processos de desestatização, como os Correios e a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC)”.

É compreensível que a promoção de Aloizio Mercadante a presidente do banco tenha excitado fregueses castigados por quatro anos de abstinência

Um redator conciso resumiria em uma frase o palavroso conteúdo do relatório: o programa do governo Lula é revogar as medidas aprovadas por Jair Bolsonaro, ressuscitar as que foram sepultadas e dizer ou fazer o contrário do que ele disse ou fez
Os preparativos para a ofensiva do atraso vêm revelando os alvos preferenciais. 
A vanguarda do primitivismo quer o fim da autonomia do Banco Central, a interrupção das privatizações, a ressurreição do imposto sindical, a engorda do funcionalismo público com o preenchimento das 25 mil vagas que a revolução digital tornou desnecessárias, o desarmamento da população atormentada pela ampliação do arsenal da bandidagem, a redução dos juros e outras velharias há tempos banidas por governantes modernos.
 
O revogaço se amplia a cada indicação para o ministério. Nomeado ministro da Justiça, o senador Flávio Dino mostrou que, embora se tenha filiado ao PSB, o coração permanece no Partido Comunista do Brasil. “Pedir S.O.S. Forças Armadas é crime”, rosnou, indignado com os incontáveis brasileiros que continuam a manifestar-se diante de instalações militares
Dino nem sabe direito o tamanho da fatia que o Orçamento lhe reserva, mas já comunicou que vai contemplar com mais dinheiro Estados governados por gente disposta a desarmar a população e instalar câmeras nos uniformes da PM.

flávio dino comunismo
O então governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), 
desfila no Carnaval vestido de comunista (05/03/2019) - 
 Foto: Reprodução
Incansável caçador de cargos públicos, Márcio França foi premiado com o Ministério de Portos e Aeroportos. Talvez por ter sido prefeito de São Vicente, ali perto, o candidato do PSB derrotado na disputa da vaga de senador por São Paulo reivindicou como brinde o controle do Porto de Santos. Durante o governo Bolsonaro, o velho porto deixou de ser um ancoradouro de corruptos e narcotraficantes para transformar-se num exemplo de sucesso administrativo e político
Já a caminho da concessão, corre agora o risco de cair nas mãos de França. 
Dirigentes do PT e das siglas que orbitam ao redor do partido mais poderoso acham que em time que está ganhando é que se deve mexer.
 
Outros indicados nem precisam de entrevistas para que se preveja o que vem por aí. Todo brasileiro com mais de dez neurônios sabe que esses farão o que fizeram no verão passado — e também na primavera, no outono e no inverno.  
O chanceler Mauro Vieira, de volta ao Ministério das Relações Exteriores que chefiou no governo Dilma Rousseff, retomará a política externa da canalhice aperfeiçoada por Celso Amorim. 
Enquanto essa obscenidade vigorou, o Brasil invariavelmente escolheu o lado errado. Ditadores assassinos, populistas gatunos, escroques repulsivos tudo o que há de pior na escória internacional foram favorecidos pela polidez da cúpula do Itamaraty e pela prodigalidade criminosa dos figurões do BNDES.
 
É compreensível que a promoção de Aloizio Mercadante a presidente do banco tenha excitado fregueses castigados por quatro anos de abstinência. O argentino Alberto Fernández já informou que conta com generosidade do BNDES para a retomada de obras financiadas com dinheiro brasileiro, a juros de pai para filho. 
E a hondurenha Xiomara Castro avisou que pegará dinheiro emprestado no dia da posse de Lula.

Para acomodar Aloizio Mercadante no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Lula tenta alterar a Lei das Estatais. A ideia é, entre outros equívocos, reduzir de três anos para 30 dias a quarentena de quem atuou em campanha eleitoral para assumir cargo de administrador ou conselheiro de empresa pública ou sociedade econômica mista.

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O futuro presidente do BNDES, Aloizio Mercadante (à esq.), 
e o presidente eleito, Lula (à dir.), durante a indicação de 
Mercadante para comandar o banco (13/12/2022) - 
Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo

Criada depois dos escândalos descobertos na Operação Lava Jato, a Lei das Estatais tinha como objetivo interromper o loteamento político dessas empresas. Assim, além da quarentena, foram estipulados requisitos mínimos de experiência e de competência para o preenchimento desses cargos. Sem a Lei, o PT está com o acesso livre aos cofres dessas empresas e a centenas de cargos públicos. Uma reportagem do Estadão de 16 de dezembro deste ano mostrou que o afrouxamento dessa lei criaria uma brecha para 587 indicações, com salários que vão de R$ 214 mil anuais (Companhia Docas do Rio Grande do Norte) a R$ 3 milhões anuais (Petrobras).

Lula também herdará pela primeira vez empresas públicas altamente lucrativas. No ano passado, por exemplo, o resultado líquido dessas companhias fechou próximo de R$ 190 bilhões, 40 vezes mais que os R$ 5 bilhões de 2016e cerca de R$ 230 bilhões a mais que o prejuízo de R$ 32 bilhões registrado em 2015.

Outro exemplo de sucesso que corre o risco de ser revogado por Lula é o Novo Marco Legal do Saneamento, aprovado em julho de 2020. Na época, 35 milhões de brasileiros não tinham acesso à água potável e 46% da população não dispunham dos serviços de coleta de esgoto sendo que dois terços de seres humanos no país não sabiam o que era ter esgoto tratado em casa.

O principal objetivo do Novo Marco é promover a universalização dos serviços, garantindo que 99% da população tenha acesso à água potável e 90% ao tratamento e à coleta de esgoto até dezembro de 2033. Pelas regras sugeridas, não apenas as empresas públicas, mas também as privadas podem participar dos processos licitatórios para oferecer seus serviços a Estados e municípios. 
 Um dos leilões de maior sucesso foi realizado em Alagoas, então governada por Renan Filho, primogênito de Renan Calheiros. Eleito senador, Renan Filho vai compor a base aliada de Lula.

Só o leilão de Alagoas rendeu ao governo R$ 1,6 bilhão. A expectativa de investimento total é de mais R$ 2,9 bilhões ao longo dos 35 anos de contrato para levar água potável e tratamento de esgoto a regiões do semiárido alagoano.

“O êxito no leilão de hoje, que levantou R$ 4,5 bilhões (somando investimentos e outorga), é o resultado de uma agenda que vai transformar Alagoas em uma terra melhor, primeiramente, para quem vive lá e para quem nos visita”, afirmou na época Renan Filho. “O valor acrescentado ao leilão é muito significativo se considerarmos, especialmente, um PIB anual entre R$ 55 bilhões e R$ 60 bilhões.” Procurado pela reportagem para comentar o retrocesso, sua assessoria de imprensa não respondeu às mensagens. [comentário: os primeiros nomes do futuro governo do presidente eleito são tão fantásticos na comprovada eficiência em destruir qualquer governo, que até os membros de Prontidão Total - todos com o compromisso inalienável de fazer tudo que a legalidade permitir para levar ao fracasso um eventual futuro governo do presidente eleito, abreviando sua duração seja pela renúncia do 'demiurgo de Garanhuns' ou pelo seu  impeachment e prisão - não seriam tão eficientes na escolha da equipe que vai abater o apedeuta eleito.]

Com todas essas decisões e ameaças, o Brasil avança em alta velocidade rumo ao atraso. O governo Lula acredita que é possível ganhar uma guerra com sucessivas retiradas.

Leia também “O supremo carcereiro só prende inocentes”

Augusto Nunes Branca Nunes, colunista e Diretora de Redação da Revista Oeste


sexta-feira, 10 de junho de 2022

O mais obsceno faroeste à brasileira - Revista Oeste

Augusto Nunes - Silvio Navarro

A bandidagem punida pela Lava Jato quer de volta o dinheiro que entregou para escapar da cadeia

Sergio Moro | Foto: Gabriela Biló/Estadão Conteúdo/AE
Sergio Moro | Foto: Gabriela Biló/Estadão Conteúdo/AE
 
Naquele dia, a fase da Lava Jato batizada de Juízo Final iniciou a varredura das catacumbas que ocultavam empresários premiados com obras públicas multibilionárias. 
Convocado para depor na Polícia Federal de Curitiba, um bando de figurões homiziados no comando das nove maiores empreiteiras nacionais provocou o primeiro congestionamento de jatinhos na história do aeroporto da capital paranaense, fez uma escala nos quartos de hotéis que reservara por uma noite e foi caprichar no papel de inocente. 
Aquilo não duraria mais que duas horas, informava o sorriso confiante dos depoentes. Todos só voltariam para casa depois de longos meses hospedados na gaiola. E então mesmo os céticos profissionais desconfiaram que a coisa era para valer. Disso o país inteiro teve certeza com o início do cortejo de delações premiadas.

Para escaparem da cadeia, quadrilheiros toparam escancarar caixas pretas, contar tudo o que sabiam e, para espanto das vítimas da quadrilha, devolver à Petrobras ao menos parte do produto do roubo. Passados 500 dias, a Lava Jato havia recuperado R$ 870 milhões. Pedro Barusco, ex-gerente de Serviços da estatal, nem esperou por cobranças: em fevereiro de 2015, avisou que entregaria aos integrantes da Lava Jato pouco menos de US$ 100 milhões

A rendição do novo rico acampado no segundo escalão inaugurou o desfile de cifras inverossímeis, produzidas por refinarias que não saíram das pranchetas e promessas ou ultrapassaram em décadas o prazo fixado para a conclusão das obras
Todas acabaram reduzidas a usinas de licitações criminosas, contratos superfaturados, aditivos pornográficos, propinas de dimensões siderais e outras bandalheiras espantosas.

Em 28 de janeiro de 2015, a presidente da Petrobras, Graça Foster, informou que o saque somara R$ 88,6 bilhões. Tal façanha resultou da mobilização de um elenco de filme épico italiano. O Petrolão juntou gatunos em ação no comando da estatal, empreiteiros de grosso calibre, ministros de Estado, senadores, deputados e donos de distintos partidos, doleiros lavadores de dinheiro, empresários com livre acesso ao Planalto, vigaristas tarimbados (como José Dirceu e Antonio Palocci), sumidades ainda pouco valorizadas (como Sérgio Cabral), um presidente da Câmara, o marqueteiro do rei, três tesoureiros do PT e, fora o resto, um ex-presidente da República. Mas havia topado com adversários bons de briga, bem equipados e extraordinariamente eficazes, que já no início do embate venceram a disputa pelo apoio da torcida brasileira.

Entre o início de 2014 e o fim de 2018, a grande maioria dos brasileiros festejou a ampliação diária do acervo de provas, evidências e indícios de que, se é verdade que chegou com as primeiras caravelas, a corrupção havia alcançado proporções pandêmicas com a Era PT. Para os poderosos patifes, 6 da manhã tornou-se a mais cruel das horas: era nesse momento que soavam as pressagas batidas na porta. Em março de 2016, conversas grampeadas atestaram a onda de angústia que invadira o Congresso. Era preciso estancar a sangria, implorou o senador Romero Jucá aos parceiros Renan Calheiros e José Sarney. A publicação da súplica custou a Jucá a antipatia nacional, a suspensão de viagens em aviões de carreira e a derrota na tentativa de reeleger-se.

Em contrapartida, foram promovidos a heróis nacionais os participantes da ofensiva que, por ter desmontado o maior esquema corrupto de todos os tempos, tornou-se a mais eficiente operação anticorrupção da história. Nos desfiles de 7 de Setembro, a passagem das viaturas da Polícia Federal foi aclamada pela multidão

Nas raras aparições públicas, o juiz Sergio Moro passou a ser aplaudido de pé. É compreensível que os brasileiros honestos tenham enxergado na prisão de Lula a efetiva entrada em vigor de um preceito esquecido numa página da Constituição: todos são iguais perante a lei. 
A sentença de Moro, expedida em julho de 2017, foi confirmada em janeiro de 2018 pelo Tribunal Regional Federal de Porto Alegre. E começou a ser cumprida em em 7 de abril de 2018.

“O Brasil se tornou um país de corruptores sem corruptos”

Sentenciado a pouco mais de 12 anos de cadeia pelas trapaças que envolveram o tríplex do Guarujá, o ex-presidente foi solto em 8 de novembro de 2019 pela mão amiga do Supremo Tribunal Federal
Na véspera, para devolver às ruas o criminoso já punido em segunda instância também pelo que andou fazendo com o sítio em Atibaia, a maioria da Corte decidira que ninguém pode ser preso antes da tramitação em julgado da sentença condenatória. Em março de 2021, o socorro indecoroso se completou com a inacreditável acrobacia executada pelo ministro Edson Fachin, relator dos processos da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal.

Desde que assumiu o posto vago pela morte de Teori Zavascki, Fachin vinha julgando com a placidez de monge tibetano os recursos fabricados pelos advogados de Lula. Só ao deliberar sobre a derradeira manobra o malabarista togado decidiu que o réu deveria ser julgado em Brasília, não em Curitiba. 

Ao inventar a Lei do CEP, o juiz nomeado por Dilma Rousseff arrancou a máscara que camuflava o mais dissimulado dos ministros.  
Ele reivindicara o lugar deixado por Zavascki para consumar o assassinato da Lava Jato, desativada pelo procurador-geral Augusto Aras em fevereiro de 2021. E também inspirar-se no avesso da verdade para transformar um belo capítulo da saga republicana no mais obsceno faroeste à brasileira.

Graças ao roteirista espertalhão, neste outono de 2022 Lula disputa a Presidência caprichando na pose de inocente, aciona judicialmente o procurador federal Deltan Dallagnol por “danos morais”, exige a condenação de Moro por ter perseguido a alma viva mais pura da nação e afirma que o Petrolão nunca existiu. 

No momento, quem deve explicações é o juiz que cumpriu seu dever. No faroeste à brasileira, é o bandido que vence no final. O PT acha pouco: para bancar a festa da vitória, quer que o Supremo obrigue Moro a pagar uma indenização de bom tamanho ao partido que virou bando. Animados com a soltura do chefe, numerosos quadrilheiros solicitam que a conversa fiada que livrou Lula da cadeia seja estendida aos demais companheiros. 
Previsivelmente, apareceram no palco delatores premiados que querem recuperar o produto do roubo usado para driblar a gaiola. 
A realidade brasileira supera o que há de mais inventivo na estante do realismo fantástico.

“É simplesmente imoral pretender a devolução do dinheiro saqueado por ímprobos administradores”, ensina o jurista Ives Gandra Martins, que também contesta as críticas à operação que enquadrou os saqueadores da Petrobras. “Não houve qualquer cerceamento de defesa e as decisões foram baseadas em provas materiais de corrupção, concussão, desvio de verbas públicas, favores inadmissíveis e retorno da parte do assalto às finanças estatais”, resume Gandra. “Não creio que tenha sido esta a intenção da Corte, mas o STF desmontou a Operação Lava Jato. O Brasil se tornou um país de corruptores sem corruptos.”

O jurista Adilson Dallari endossa os pareceres de Gandra. “Tentou-se mostrar que havia um conluio entre o Ministério Público e o juiz. Juízes, promotores e advogados conversam, sim, fora dos autos, mas isso não compromete o curso do processo, nem anula a decisão. Basta ler o texto das sentenças, muito bem elaboradas e confirmadas nas instâncias superiores.” Dallari vê as coisas como as coisas são.Não há ex-condenados, mas descondenados. O STF buscou e encontrou um subterfúgio para livrar o Lula. Outros réus pegaram carona na ação entre amigos que beneficiou o ex-presidente.” Para o jurista, denúncias e ações contra procuradores e juízes têm vida curta: “Depois das eleições serão todas arquivadas, pois são totalmente despropositadas e infundadas”.

Na História Nacional da Infâmia, a sinopse do mais torpe faroeste à brasileira caberá em uma única frase:Quando as investigações se aproximaram perigosamente de alguns ministros do Supremo e seus amigos, os ameaçados resolveram estancar a sangria”.

Com reportagem de Artur Piva e Cristyan Costa

Leia também “A Constituição estuprada”

Augusto Nunes - Silvio Navarro, colunistas - Revista Oeste

 

sábado, 14 de maio de 2022

Risco de conflito nuclear está no campo das possibilidades reais

 Mundialista

Urso de papel, armas de verdade

Por que autoridades e jornalistas — amestrados — falam tanto em guerra nuclear na Rússia?  
Os arsenais nucleares existem para não serem usados, segundo o consenso que se instaurou na época em que Estados Unidos e União Soviética eram potências intensamente rivais, mas racionais, conscientes de que os dois lados tinham poder de se destruir mutuamente de forma jamais vista na história da humanidade. 
Ninguém ganharia uma guerra nuclear porque os dois países haviam desenvolvido sistemas em que mísseis encravados em silos no coração rochoso de montanhas, transportados por “aviões do Juízo Final” eternamente se revezando nos céus ou aninhados em submarinos indetectáveis continuariam a cumprir sua programação infernal mesmo que todos os centros de comando já tivessem virado “cinzas radioativas”. Alguns cálculos falavam em 700 milhões de mortos numa guerra assim, seguidos por mais centenas de milhões que pereceriam de fome
a fuligem lançada na estratosfera obscureceria a luz solar e diminuiria a temperatura do planeta em até oito graus, o fenômeno chamado inverno nuclear que arruinaria 90% das plantações no Hemisfério Norte. Algo parecido com a queda do meteoro que levou à extinção dos dinossauros.

“Putin explodiu a racionalidade ao invadir a Ucrânia e aprisionou a si mesmo num labirinto”

Como é possível que Vladimir Putin, o herdeiro e modernizador desse arsenal apocalíptico, tenha se tornado um Kim Jong-un fortificado, um líder que ameaça, ou manda ameaçar, o mundo constantemente com o terror nuclear? A primeira explicação é a mais fácil: ele faz isso porque está fraco, não forte. A guerra que desfechou contra a Ucrânia tem mostrado que o urso russo é de papel. A resistência dos ucranianos não antecipa um desfecho claro, toda semana morre um general, o mundo desenvolvido caminha para se livrar da russodependência fóssil, só deficientes morais com cérebro de estegossauro têm a falta de vergonha de defender o lado de Putin. A opinião pública russa, que apoia maciçamente a obliteração da Ucrânia, começa a desconfiar que o país não está ganhando. Lembrá-la do poderio nuclear da mãe-pátria afaga egos com muitas desilusões ainda pela frente.

Existe ainda outra possibilidade: Putin e asseclas estão dessensibilizando a opinião pública, esgarçando sistematicamente as várias cortinas que envolvem o tabu das armas nucleares. 
Preparam, assim, o terreno, para o uso de um artefato tático, uma “bombinha” que reverta uma possibilidade, completamente inaceitável do ponto de vista russo, de uma derrota no campo de batalha. 
O filósofo alemão Jürgen Habermas, mortificado com a conversão da esquerda pacifista à ajuda bélica em massa aos ucranianos, disse que a situação atual cria duas opções insuportáveis: derrota da Ucrânia ou escalada incontrolável que acabe levando à III Guerra Mundial, com o terror nuclear pairando sobre todos. “Temos de encontrar uma saída para nosso dilema.” Qual? Nem Habermas, com seus 92 anos, em boa parte dedicados a desenvolver a Theorie des kommunikativen Handelns, uma espécie de teoria de tudo da racionalidade, é capaz de responder. Putin explodiu a racionalidade ao invadir a Ucrânia e aprisionou a si mesmo num labirinto de saídas fechadas. No processo, virou um perigo que o resto do mundo não sabe como resolver.
 
Vilma Gryzinski, colunista - Blog Mundialista - Revista VEJA

Publicado em VEJA, edição nº 2789 de 18 de maio de 2022

 

sábado, 23 de outubro de 2021

Não vou mais criticar o STF - Rodrigo Constantino

Revista Oeste

Vivemos num estado policialesco, numa “ditadura da toga”. Não há mais império das leis, até porque as leis podem ser inventadas do nada  

O recado foi dado. E compreendido. Há crime de opinião em nosso país. Grupos em redes sociais podem virar “milícias virtuais” perigosas se algum ministro supremo assim entender. Até mesmo um jornalista pode ser preso se subir o tom nas críticas contra o arbítrio do STF
Caso ele tenha ido para um país mais livre, com receio desse tipo de perseguição, isso poderá ser encarado como fuga da Justiça, e um pedido para extraditar o “fugitivo” será acatado pela Corte Suprema, apesar de a PGR discordar.

Traduzindo de forma direta, vivemos num estado policialesco, numa “ditadura da toga”. Não há mais Estado Democrático de Direito, império das leis, até porque as leis podem ser inventadas do nada. Não há, afinal, crime de opinião em nosso sistema, tampouco o de espalhar fake news — sabe-se lá por quem definidas essas mentiras. Logo, a lei hoje é aquilo que Alexandre determina. E o tucano não gosta muito de “bolsonaristas”. Conta com a cumplicidade da imprensa para persegui-los em paz, inclusive jornalistas, que serão chamados de “blogueiros” para não despertar a necessidade de uma reação das entidades de classe.

A corda não foi esticada; ela já arrebentou. Aquela conversa entre Bolsonaro e o ministro não foi um apaziguamento, mas uma rendição, pelo visto. E isso depois de milhões tomarem as ruas justamente para defender a liberdade, a Constituição. Foi um rugido forte, de um leão acuado. Mas foi só barulho. A montanha pariu um rato. O lado de lá continuou avançando, e subindo o sarrafo. 
Mudou de patamar, escolheu alvos mais relevantes, demonstrou todo o seu poder ilimitado. Ninguém mais está seguro, ao menos não quem enxerga graves defeitos na postura do atual STF.

Vou escrever sobre música, sobre culinária, sobre alienígenas

E o pior de tudo é ver a turma “liberal” aplaudindo, por não gostar do jornalista alvo do pedido bizarro de prisão. Essa gente não tem princípios, e não se dá conta de que a arma sem freios que hoje mira em seus adversários amanhã poderá se voltar contra qualquer um. O ambiente é tóxico, e a tática está produzindo o efeito desejado: aqueles independentes começam a praticar a autocensura, com medo das consequências de uma crítica mais dura.

Falo por mim. Muitos leitores elogiam minha coragem, mas não tenho vocação para mártir. Está claro que o arbítrio supremo não tem limites, e que ninguém tem como parar o homem. É por isso que decidi não mais criticar o STF. 
Está claro que se trata de um tribunal de exceção, de uma corte política, não constitucional. Impossibilitado de saber a priori o que configura crime ou não, já que não tenho como me calcar na Constituição ou no Código Penal, prefiro então simplesmente encerrar qualquer análise sobre o Supremo. Vou escrever sobre música, sobre culinária, sobre alienígenas.
 
Resolvo também só chamar os ministros de vossas excelências, ou mesmo deuses, se eles assim preferirem
Reconheço em Alexandre uma figura acima do bem e do mal, das leis, da Constituição. Admito sua vitória absoluta, assim como seu poder absoluto.  
E é por essa razão que comunico ao todo-poderoso que, a partir de hoje, ele tem total controle sobre a minha vida. 
Se Alexandre decidir que devo me tornar um vegano, adeus carne. 
Se Alexandre resolver que é para eu ser abstêmio, adeus vinho. 
Posso até ver o copo meio cheio: ao menos vou perder uns quilos…
 
Estou numa peregrinação espiritual que vem me aproximando mais de Deus, mas absorvi o alerta de Jesus Cristo, e saberei separar as coisas: a César o que é de César. E nosso César é Alexandre, o Grande. 
No Juízo Final terei um julgamento que, estou certo, será mais justo. 
Mas, aqui na Terra, nesta vida, abandonei as esperanças e entreguei minha liberdade ao homem mais poderoso do Brasil, quiçá do planeta. Espero apenas que Alexandre não ache ruim meu hobby de tocar bateria, pois isso seria triste de perder. Mas estou disposto a só tocar as músicas que agradam ao ministro.
 
De tempos em tempos lanço mão da ironia como artifício retórico, mas se Alexandre julgar isso inadequado, adeus ironia. A partir de hoje, prometo andar na linha. Qual? Difícil dizer, pois não tenho bola de cristal para inferir o que Alexandre pensa. Mas farei meu melhor para tentar antecipar seus passos e atender a suas expectativas. 
Reconhecer virtudes neste governo, por exemplo, está fora de cogitação. Já penso até mesmo em me filiar ao PSDB, só por precaução. Imagino que seja um ato merecedor de muitos pontos com o ministro. Se for necessário dizer uma ou duas palavras de elogio ao governador oportunista de São Paulo, tomo um Engov e digo. Alexandre é quem manda.

Tenho família para sustentar, filhos para criar e, como já disse, não tenho a menor vontade de ser mártir. Alexandre foi bem claro em transmitir seu recado. Captado, amado mestre. Diga-me o que pensar sobre cada assunto polêmico, e este será meu pensamento. Ou ao menos a minha expressão do pensamento em público. Manda quem pode; obedece quem tem juízo. Não vou mais criticar o STF ditatorial a partir de hoje.

Leia também “A constituição do atraso” 

Rodrigo Constantino, colunista - Revista Oeste