Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador TV a cabo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador TV a cabo. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Traficantes passam a atuar na linha de frente de milícias



Promotores pedem força-tarefa para combater grupos atuantes na Zona Oeste

“Se algo não for feito, o Estado do Rio terá, dentro de dez anos, a mais perigosa organização criminosa do país”. O alerta é do promotor Luiz Antônio Ayres, da 2ª Vara Criminal de Santa Cruz, que se refere a um problema que cada vez mais preocupa autoridades do Judiciário e da segurança pública: a crescente associação entre traficantes e milicianos em comunidades e conjuntos habitacionais da Zona Oeste da cidade. Essa mistura explosiva já começa a chegar a outros municípios, e está impondo aos moradores o pior dos dois lados. — Os moradores são obrigados a conviver com um esquema que protege a venda de drogas e precisam pagar mais caro por serviços e produtos. Há uma falsa paz, porque os tiroteios entre milicianos e traficantes cessaram. Em alguns lugares, ficou difícil diferenciar o poder paralelo do estado democrático de direito. Afinal, o agente da lei faz parte do que vem acontecendo — afirma Ayres, que, desde 1996, acompanha investigações e processos sobre quadrilhas de paramilitares.

Quartel-general das milícias
Apenas Antares não pertence aos milicianos.Traficantes vendem drogas nas favelas do Rola e do Aço, mas os territórios são da milícia, que recebe parte do lucro do tráfico. Ao longo da Avenida Cesário de Melo há conjuntos do programa Minha Casa, Minha Vida. Praticamente todos estão nas mãos da milícia. Na Santa Margarida, traficantes e milicianos são sócios

A prática é recrutar mão de obra de traficantes e assaltantes para explorar os serviços sob as ordens de milicianos. É assim nas favelas Bateau Mouche e Chacrinha, na Praça Seca
Em 2005, o GLOBO mostrou como agiam as milícias do Rio, grupos formados por policiais, bombeiros e agentes penitenciários que cobravam por segurança, sinais clandestinos de TV a cabo e fornecimento de gás em regiões pobres e carentes desses serviços. De lá para cá, essas práticas ilícitas continuam, mas algo está mudando entre seus autores. Atualmente, durante operações em que quadrilhas de milicianos são desbaratadas, investigadores têm prendido pessoas com anotações criminais por tráfico e roubo entre seus integrantes.

Traficante que se une à milícia é o “pulá’’
Um levantamento feito pela Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança aponta que, dos 143 milicianos presos em 2010, 42 eram policiais militares da ativa. No ano passado, 155 foram para a cadeia, mas apenas dez eram PMs. O delegado Alexandre Herdy, titular da Delegacia de Repressão às Ações do Crime Organizado (Draco), argumenta que isso está acontecendo porque, agora, são traficantes que estão na linha de frente da exploração de alguns serviços, como a venda de botijões de gás, sob o comando dos milicianos. Em contrapartida, as milícias passaram a atuar em áreas que eram controladas apenas pelo tráfico.

— O traficante que se uniu a um miliciano passou a ser conhecido como “pulá”, por “pular” para o outro lado. Hoje, há muitos “pulás”, a ponto de alguns deles comandarem parte das quadrilhas também integradas por agentes de segurança da ativa e ex-policiais. Consequentemente, as milícias se tornaram mais violentas, estão partindo para o enfrentamento. Em 2010, muitos policiais que integravam milícias foram presos, e eles perceberam que, enfrentando dois inimigos, o estado e o tráfico, perdiam mais do que ganhavam. Daí surgiram alianças com traficantes e assaltantes de duas facções — afirmou o delegado.

A associação entre traficantes e milicianos ganhou forma em Santa Cruz, e, de acordo com investigadores, ultrapassou os limites do município do Rio, chegando à Baixada e a municípios da Costa Verde que, nos últimos anos, registraram altos índices de criminalidade
 — Angra dos Reis, por exemplo, teve 87 homicídios dolosos no ano passado, de acordo com o Instituto de Segurança Pública. A escalada da violência na região estaria relacionada justamente à chegada de novas quadrilhas, dispostas a ganhar territórios que, por décadas, foram dominados por barões das drogas.  — O centro de comando das milícias é Santa Cruz, onde só a Favela de Antares continua sob controle exclusivo do tráfico. Os milicianos mudaram a forma de agir. Antes, os policiais que estavam à frente desses grupos organizados cuidavam de tudo. Agora, têm uma relação de confiança com traficantes — afirma o promotor Luiz Antônio Ayres.

O promotor diz que o estado deveria formar urgentemente uma força-tarefa para combater a crescente associação entre traficantes e milicianos: — Não imaginávamos essa união em 2005, quando as milícias surgiram. Agora, até me arrisco a dizer que, num futuro próximo, não será impossível vermos uma aliança entre elas e o Comando Vermelho, a única facção que ainda resiste à ideia. Isso seria terrível para o Rio. As forças de segurança têm que agir já, uma única delegacia (a Draco) não resolverá a situação.

EXPLORAÇÃO TERRITORIAL E LUCRO FÁCIL
Carmen Eliza Bastos, promotora do 3º Tribunal do Júri, também defende a formação de um grupo especial, com delegados da Polícia Civil, promotores e juízes, para atacar a nova forma de milícia. — As quadrilhas mudaram de perfil, mas o cenário continua o mesmo, é formado por exploração territorial e lucro fácil. Uma força-tarefa, sem nomes expostos, é necessária — diz a promotora, acrescentando que assassinatos estão sendo cometidos pelos grupos com requintes de crueldade.

Na opinião do cientista social Marcelo Burgos, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio), “o quadro é grave e alarmante”:  — A união entre as duas forças criminosas fez as milícias passarem a controlar serviços em áreas do tráfico. Moradores de várias localidades estão vivendo uma situação de total submissão ao crime. E, para piorar, temos de lembrar que o pulo do gato dos paramilitares foi passar a integrar o sistema político.

O Globo

 

sábado, 30 de maio de 2015

Tudo sobe, menos os salários

Os preços seguem em alta e o arrocho reduz a renda das famílias brasileiras, que se adaptam à nova realidade cortando os gastos e o padrão de consumo

Os últimos meses têm sido estressantes para a família Santos. Ana e Ernesto, pais de Artur, Rafaela e Alexandre, elegeram a educação e a formação dos filhos como o investimento mais valioso que poderiam fazer. Ernesto, dono de uma consultoria de vendas, começou a sentir o aperto no rendimento quando as empresas que o contratavam diminuíram a demanda por serviços. Ao mesmo tempo, as despesas passaram a ficar mais pesadas. 

Com menos folga no orçamento, a família se viu obrigada a eliminar gastos para manter a faculdade do primogênito, o curso de alemão da filha do meio e a escola do filho mais novo. A primeira medida foi cancelar os cartões de crédito e trocar o plano dos celulares de pós para pré-pago. Depois, o casal diminuiu a frequência dos serviços da faxineira e, por fim, cancelou a TV a cabo. "É doloroso cortar coisas com as quais nos acostumamos, mas, quando as contas não param de aumentar, é preciso fazer escolhas", diz Ana.

As mudanças de hábitos da família Santos representam um microcosmo do novo padrão de consumo dos lares brasileiros nos últimos meses, com reflexos sobre toda a economia. Em bares e restaurantes badalados, as filas minguaram. Dois em cada três brasileiros reduziram os gastos com lazer fora de casa, segundo dados da consultoria Nielsen. O consumo arrefeceu, diminuindo também o tráfego de veículos comerciais nas estradas. Até mesmo os infernais congestionamentos de São Paulo estão menos intensos nos horários de pico neste ano. São sinais de que a retração na atividade econômica chegou definitivamente à casa dos brasileiros, e as famílias fazem bem em se ajustar. "Para que o dinheiro renda o máximo, é preciso que o consumo seja consciente - isto é, separar o que é essencial do que é ostentação, o chamado bem posicional", afirma William Eid Junior, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas. "Sempre dá para procurar um restaurante que não seja o mais caro", diz o economista. São tempos difíceis corroborados pelos números fracos generalizados da atividade.

Os dados sobre o desempenho da economia no primeiro trimestre do ano, divulgados na sexta-feira, mostraram uma queda de 0,9% no consumo das famílias em relação ao mesmo período de 2014. Foi o pior resultado desde 2003. O produto interno bruto (PIB) como um todo recuou 1,6%. Se o calendário de doze meses acabasse em março, a economia brasileira teria encolhido 0,9%. Não existem mais dúvidas. O país está em recessão. O desemprego aumentou, e os rendimentos reais (descontada a inflação) estão em queda. As dificuldades para as famílias são ainda maiores por causa da inflação. 

Uma comparação entre os preços anunciados pelos supermercados e lojas hoje e há um ano revela o reajuste expressivo no custo de alguns itens de consumo comuns no cotidiano da classe média, sem falar na alta pesada no preço das tarifas de energia e água. O arrocho é ainda mais doloroso porque as famílias haviam se acostumado a um novo padrão de consumo, com viagens internacionais, carro novo na garagem, aquisição de produtos eletrônicos de última geração, saúde e ensino privados de melhor qualidade. A ascensão da classe média havia colocado o Brasil no radar das maiores empresas do mundo. O governo ajudou a impulsionar esse movimento, ao incentivar a concessão de crédito, sobretudo pelos bancos públicos. Mas a capacidade de gastar do brasileiro chegou a um limite.

O desemprego subiu, mas não houve demissões em massa. O maior tormento dos orçamentos familiares é a inflação. O índice em doze meses está em 8,2%, muito acima do teto da meta oficial do Banco Central, que é de 6,5%. E ela não deve ficar abaixo de 8% antes do próximo ano, segundo analistas. Muito além da taxa oficial, no entanto, foram os aumentos de preços de produtos e serviços que fazem parte da cesta de consumo da maior parte da população. A conta de luz subiu 60% nos últimos doze meses; a refeição em restaurantes, 11%; e o plano de saúde, 10%. Ao mesmo tempo, a renda média de quem estava empregado caiu 3%. "O encarecimento de itens essenciais como a energia elétrica e a gasolina tira uma parte do orçamento doméstico. É possível gastar menos com supérfluos, mas não dá para cortar a eletricidade", diz Rodrigo Baggi, economista da consultoria Tendências. Segundo cálculos da empresa, hoje 67% da renda das famílias está comprometida com o consumo de bens e serviços essenciais, e outros 30%, com o pagamento de dívidas (o dado do Banco Central indica que essa fatia é de 22,4% e está crescendo). "A parcela de recursos que sobra para o consumo de outros bens é muito pequena. Além disso, a confiança das famílias está em um nível baixíssimo e não há perspectiva de melhora no curto prazo. Há muito pessimismo", afirma Baggi.

Para ler a continuação dessa reportagem compre a edição desta semana de VEJA no tablet, no iPhone ou nas bancas. Tenha acesso a todas as edições de VEJA Digital por 1 mês grátis no iba clube.

Outros destaques de VEJA desta semana


Não deixe de ler: Cinco garotas que se tornaram milionárias antes dos 20 — sem herança