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sábado, 17 de setembro de 2022

PCC mata mulher que se recusou a beijar traficante em SP, diz polícia


Uma mulher de 26 anos foi assassinada após ser "condenada" pelo chamado "tribunal do crime" do PCC (Primeiro Comando da Capital) por negar um beijo a um traficante da facção criminosa em um bar no Itaim Paulista, zona leste de São Paulo, e denunciar o caso, segundo a polícia.

Após o episódio do assédio no bar, ocorrido na noite de 14 de agosto, a vítima Karina Bezerra foi levada a um cativeiro, onde foi mantida em cárcere privado. Ela escapou ao ser resgatada por policiais militares. A mulher, então, relatou o que aconteceu em depoimento à Polícia Civil e ficou escondida em Taboão da Serra, na Grande São Paulo. Mas o seu paradeiro foi descoberto há três semanas por membros do PCC. Segundo a polícia, ela foi assassinada. O corpo ainda não foi encontrado.

Entre os presos, estava Brendon Soares, 27, apontado pelos investigadores como suspeito de ser o responsável pelo "tribunal do crime" do PCC na favela. Segundo a Polícia Civil, ele admitiu envolvimento no assassinato de Karina, mas não deu informações sobre o paradeiro do corpo. O UOL não conseguiu localizar a defesa do suspeito.

 



 
A cuidadora de idosos Karina Bezerra, de 26 anos, foi assassinada pelo tribunal do crime do PCC por se recusar a beijar traficante, segundo a Polícia Civil Imagem: Reprodução da internet...
A cuidadora de idosos Karina Bezerra, de 26 anos, foi assassinada pelo tribunal do crime do PCC por se recusar a beijar traficante, segundo a Polícia Civil Imagem: Reprodução da internet... - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2022/09/16/audios-tribunal-do-crime-pcc-mulher-morta-apos-negar-beijo-traficante.htm?cmpid=copiaecola
A cuidadora de idosos Karina Bezerra, de 26 anos, foi assassinada pelo tribunal do crime do PCC por se recusar a beijar traficante, segundo a Polícia Civil Imagem: Reprodução da internet... - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2022/09/16/audios-tribunal-do-crime-pcc-mulher-morta-apos-negar-beijo-traficante.htm?cmpid=copiaecola

Como a vítima conseguiu escapar de um cativeiro atribuído ao PCC após o assédio? Karina acusou um integrante do PCC de assediá-la em depoimento registrado pelo 50º DP (Itaim Paulista).

Após resistir às investidas do traficante, que tentou beijá-la e agarrá-la à força, ela disse ter sido sequestrada e mantida em cárcere privado entre a madrugada do dia 14 de agosto e a manhã do dia seguinte. Em seu relato, disse só ter escapado da morte porque policiais militares chegaram ao local. Devido ao episódio, foram presas nove pessoas envolvidas no crime. Depois disso, Karina buscou refúgio em Taboão da Serra.

Como foi o caso de assédio? Em depoimento, Karina disse ter ido a um bar na estrada Dom João Nery, no Itaim Paulista, com três amigas por volta das 22h de 14 de agosto. Cerca de duas horas depois, um rapaz identificado apenas como "Xenon" sentou na sua mesa, dizendo estar interessado nela. Mas ela disse ter recusado às investidas.

Contudo, ele teria insistido, segundo relato dado por Karina à Polícia Civil. "[O traficante do PCC] passou a tocá-la, segurar os seus braços, forçando abraços e beijos, mas ela se esquivou de todas as tentativas e começou a se irritar com ele. Inclusive, o xingou e eles passaram a discutir", disse, segundo relato em boletim de ocorrência ao qual o UOL teve acesso.

"A facção [PCC] que se diz contra crimes sexuais obriga mulheres a se relacionarem com os seus integrantes", disse o delegado Pedro Ivo Corrêa dos Santos, da 5ª Delegacia de Investigações sobre Furtos e Roubos a Bancos do Deic, responsável pela prisão dos suspeitos.

O que o traficante disse em meio à discussão? Após ser rejeitado por Karina, o assediador disse "que ela iria ser a mulher dele, por bem ou por mal, que ele era do PCC e que ficaria com quem ele quisesse", detalhou a vítima em seu depoimento.

Como ela foi sequestrada? Após xingá-lo, Karina relatou que o traficante reagiu, dizendo que "ela estava desacatando ele". Em seguida, tomou a chave do seu veículo, a puxou pelo braço e anunciou que ela seria sequestrada. "Não é assim que se trata um irmão [em alusão ao fato de ser 'batizado' como membro do PCC]", teria dito o traficante, de acordo com o depoimento, antes de embarcar no veículo com outros três comparsas. Depois de um trajeto que durou cerca de 15 minutos, Karina foi levada ao cativeiro.

O que aconteceu no cativeiro? No cativeiro, Karina disse ter tido braço e pernas amarradas enquanto era questionada pelo chamado "tribunal do crime" por que não teria ficado com Xenon, que estava armado no local e a ameaçou de morte. "Depois, ele foi embora. Mas antes mandou que os caras 'dessem um jeito' nela", disse a vítima em depoimento à Polícia Civil.

Mudança de cativeiro. Pela manhã, Karina disse ter presenciado a chegada de outras duas pessoas. Em seguida, relatou ter sido levada em um veículo para outro cativeiro, em frente a um barraco. Segundo ela, os criminosos aguardavam pela chegada de "Xenon" quando foram interceptados pelos policiais militares.

Apontado como suspeito de ser o responsável pelo 'tribunal do crime' do PCC no assassinato de Karina, Brendon Soares, 27, foi preso em flagrante por tráfico de drogas, associação para o tráfico e porte ilegal de arma Imagem: Reprodução
 

Como vítima foi localizada pelo PCC. Segundo a Polícia Civil, Karina foi para Taboão da Serra após relatar o episódio em depoimento, com medo de ser localizada pelo PCC. Contudo, a facção criminosa encontrou o seu paradeiro e a assassinou em outro "tribunal do crime".

Áudios indicam como foi o crime. Áudios atribuídos a traficantes envolvidos no assassinato obtidos pelo UOL dão detalhes do crime.

"A menina lá, certo mano? Que 'tava' nas mãos dos parceiros que foi (sic) em 'cana' [presos pela polícia onde Karina foi mantida em cativeiro], tá em Taboão da Serra. Ela procurou lá um moleque que ela ficou. O moleque procurou a 'disciplina' lá [como são chamados membros do PCC]. Os irmãos já pulou pra montar um tabuleiro [tribunal do crime do PCC, na gíria]. Deixar ciente pros parceiros aí".

Um outro traficante cita ainda a versão apresentada por Karina do assédio que deu origem ao episódio. Segundo ele, a vítima teria relatado a investida do traficante em meio ao "tribunal do crime". O criminoso inclusive citou o apelido relatado no boletim de ocorrência.

"Ela está mandando as mesmas ideias que ela mandou pra polícia lá, entendeu? Que o 'Xenon' lá, já mandou o vulgo do irmão, quis ficar com ela, ela não quis. Os irmãos foi [sic], pegou ela e levou ela pro 'tabuleiro'. Aí, os parceiros já montou [sic] o tabuleiro lá pra ver se traz ela pra mão, entendeu, quadrilha? Deixar ciente pros parceiros aí."

Cotidiano - Segurança Pública - UOL 

 

sábado, 4 de setembro de 2021

Os juízes do "tribunal do crime": a guerra entre PCC e Comando Vermelho

DF e Entorno são palcos da atuação de grupos organizados do Brasil. O assassinato de Randerson Carmo, 24 anos, em 2 de julho, expôs a brutalidade de um "tribunal do crime" na capital do país. Desafio da polícia é conter a expansão dessas células

Um conflito bárbaro que dura quase 20 anos no país se expandiu para o Distrito Federal: 
a guerra entre as duas maiores facções criminosas do Brasil, o Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro; 
e o Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, leva violência a áreas do DF e do Entorno. 
A disputa por pontos estratégicos para comercializar drogas deixa um rastro de morte em diversos estados brasileiros e, recentemente, Brasília registrou o assassinato de Randerson Silva Carmo, 24 anos, integrante do CV, decapitado após ser submetido a umtribunal do crime, que durou mais de 10 horas, em Ceilândia, transmitido on-line. 
 
Para especialistas, a ação de faccionados na capital tem sido mais discreta do que em outras unidades da Federação, mas o fato de lideranças do grupo terem sido transferidas para a Penitenciária Federal de Brasília indica o incremento das ações do grupo. Esta semana, um integrante do PCC pertencente à célula do DF, que tinha como função gerenciar as atividades da facção, foi preso em Piracicaba (SP), na companhia de um suspeito de participar do ataque a bancos em Araçatuba

Dos quatro envolvidos no homicídio de Randerson, todos membros do PCC, dois foram presos pela Polícia Civil do Estado de Goiás (PCGO), um morreu em confronto com a Polícia Militar, e o outro está foragido. O Correio esteve em frente à casa onde o jovem foi assassinado e observou intensa movimentação de homens entrando e saindo da residência. Vizinhos relataram à reportagem que o imóvel funciona como um ponto de tráfico de drogas, mesmo após o crime. 

Delegado do Grupo de Investigação de Homicídio (GIH) de Águas Lindas (GO), Vinícius Máximo está à frente do caso e afirma que a polícia tem trabalhado para impedir a instalação e a expansão de facções em regiões do Entorno. “Muitas das ordens dos faccionados, seja para execução, seja para tráfico, saem direto do presídio. Então, nosso monitoramento se concentra muito nas cadeias, para inibir o problema na raiz. Não sabemos ao certo quantos membros de facção estão em Águas Lindas, mas acreditamos que sejam muitos. Eles estão em toda a parte. Nesse caso, em específico, os autores ficavam no DF”, pontuou.

Execução
Fim da tarde de 1º de julho. Por volta das 17h, Randerson, conhecido como Chico Nóia, saiu de casa, em Águas Lindas de Goiás, sem dizer para onde ia. Aparentava estar nervoso, segundo relatou a amiga que morava com ele, em depoimento ao qual o Correio teve acesso com exclusividade. O encontro parecia estar marcado. Próximo a uma padaria da região, ele entrou em um gol branco ocupado por quatro homens, Fernando Gomes de Morais, o Esquerdinha; José Francisco Feitosa Filho, o Foguinho; Antônio Francisco Batista, o Pé na Porta; e um identificado apenas como Zóio. Mal sabia que passaria por uma longa sessão de julgamento, sob acusação de agir para tomar o ponto de tráfico comandado pelo PCC: a Praça Santa Lúcia, em Águas Lindas.

Foram 26km até chegar a uma casa alugada, na Quadra 9 do Setor Industrial de Ceilândia. No interrogatório, à polícia, Fernando contou que, além da rivalidade entre os membros, as duas facções estariam disputando o ponto de tráfico no município goiano. A sessão começou por volta das 20h30. Fernando deu detalhes aos policiais de como ocorreu o tribunal. Segundo ele, cerca de 100 membros do PCC, incluindo um dos líderes, participaram do julgamento. Após mais de 10 horas, a maioria votou pela execução.

Dada a ordem do assassinato, os líderes da facção ordenaram aos “encarregados” que decapitassem Randerson e jogassem a cabeça na Praça Santa Lúcia: seria uma forma de “mostrar o poder”. A vítima foi espancada e esfaqueada com golpes de tesoura.  
O passo a passo do crime foi filmado, como determina uma das leis da cúpula, e o vídeo circulou nas redes sociais.  

Investigação
A cabeça de Randerson foi encontrada na praça, ao lado de um saco plástico preto. Uma testemunha relatou à polícia que recebeu a notícia em um grupo de WhatsApp de moradores e foi até o local. Na volta para casa, disse ter visto Fernando em um bar debochando da situação, dizendo que precisaria sair do bairro o quanto antes, pois tinha assassinado Chico Nóia.

A mãe de Randerson mora no Pará e recebeu a notícia da morte do filho no mesmo dia. A mulher veio para Brasília e, em depoimento, contou que o último contato que fez com o filho foi em 1º de julho, quando ele ligou, disse que estava trabalhando e que pretendia morar sozinho. Narrou que o filho nunca chegou a comentar se era ameaçado ou se era integrante de facção.

Em uma intensa investigação, policiais civis do GIH deram início às diligências e, em 7 de julho, a equipe recebeu a informação de que um corpo decapitado estava em um matagal próximo à Quadra 9 do Setor Industrial de Ceilândia. A perícia constatou que se tratava de Randerson. “A partir daí, iniciamos as apurações para capturar os envolvidos”, disse o delegado Vinícius Máximo.

“Fizemos duas perícias na casa onde ocorreu o crime. Encontramos lençóis sujos de sangue e um buraco na parede onde supostamente eles tinham escondido a tesoura usada no crime”, completou o delegado-chefe da 24ª DP (Setor O), Raphael Seixas. Um dia depois de os policiais encontrarem o corpo, um dos suspeitos do crime, Antônio Francisco Batista, foi morto após atirar contra policiais militares de Goiás.

A PCGO prendeu Fernando e José poucos dias depois do crime. Ambos foram indiciados por homicídio e ocultação de cadáver e cumprem prisão preventiva na cadeia de Águas Lindas. Eles ficarão no Complexo Penitenciário da Papuda, uma vez que o assassinato aconteceu no DF. “Um dos envolvidos está foragido. Estamos intensificando as investigações para identificá-lo e capturá-lo”, reforçou o delegado Vinícius Máximo.

Segurança
No Complexo Penitenciário da Papuda, os presos membros de facção não são separados por cela ou pátio. Isso porque, na avaliação da Secretaria de Administração Penitenciária (Seape-DF), é um meio de evitar o fortalecimento das organizações na cadeia.

No DF, a Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Decor) é a unidade especializada da PCDF na desarticulação de facções criminosas na capital. Em maio deste ano, os investigadores capturaram o chefe da maior organização do Distrito Federal, o Comboio do Cão (CDC), Willian Peres Rodrigues, de 36 anos, que estava foragido desde 2017. Foram anos de investigação até chegar ao paradeiro do homem. O trabalho de monitoramento, no entanto, é sigiloso, para não atrapalhar as diligências.

Atitude dos governos

“Temos observado a expansão de facções prisionais por todo o país, mas também o surgimento de novos grupos, os quais têm se valido claramente da estrutura de Estado. Recentemente, a Polícia Civil do DF e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios desarticularam mais uma célula do PCC na capital com a deflagração da Operação Tríade. A PMDF também prendeu um membro que estava foragido no DF. A PCGO teve êxito na prisão de um membro do PCC em Brazlândia. Ou seja, temos observado ações muito pontuais das forças de segurança pública para impedir que facções se instalem no DF, a partir de investigações, sem, contudo, conseguir resolver efetivamente o problema, pois o PCC tem se organizado como uma hidra: corta uma cabeça e nasce outra. O PCC internacionalizou um modelo de facção cuja forma de autoadministração entre membros e lideranças é complexa e muito bem articulada e, o pior, a partir da infraestrutura oferecida pelo Estado. Enquanto o Estado não atacar a política de drogas, pensar na questão da seletividade penal e nos filtros da entrada do sistema prisional, no problema do encarceramento em massa, na questão dos presos provisórios e não priorização às penas e às medidas alternativas, dificilmente a economia do crime e as facções perderão força.”

Welliton Caixeta Maciel, professor de antropologia do direito e pesquisador do Grupo Candango de Criminologia (GCCrim), da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB).

Filiação
Natural do Pará, Randerson filiou-se ao CV em 2016 dentro da cadeia de Águas Lindas, onde cumpriu pena pelo assassinato de Jeferson Faria Nascimento, 17. Cerca de um mês após passar para o regime semiaberto, ele foi morto.

Preso o "geral do estado"
Mais conhecido como Luiz Adriano, o homem preso pelos investigadores da Decor da PCDF, na terça-feira, pertence à célula do PCC em Brasília e ocupava a função de “geral do estado” dentro da facção, segundo as investigações. O criminoso estava escondido em uma região de chácaras nos arredores da cidade de Piracicaba (SP), onde, de lá, geria os negócios do PCC na capital do país. As ações de Luiz Adriano foram investigadas no âmbito da Operação Tríade, deflagrada em junho deste ano pela Polícia Civil, como forma de conter a tentativa de estabelecimento do PCC no DF. Em decorrência dessa investigação contra o criminoso, constava mandado de prisão preventiva expedido pela Justiça. No momento da prisão, os policiais detiveram outros dois homens, sendo que um deles estava com um ferimento em um dos braços, decorrente de troca de tiros com a polícia durante o mega-assalto em Araçatuba, que deixou três mortos e cinco feridos.
 
Cidades - Correio Braziliense

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Tribunal do Crime: chefes do PCC acompanham em tempo real assassinatos pelo país



"Picotar é o de praxe, meu mano, se caso der. Se não der, só arranca a cabeça ali, tá tranquilo." A ordem acima foi emitida no dia 7 de outubro de 2017 durante uma conferência por celular na qual participaram chefes da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). Eles decidiam na ocasião o destino de um integrante da organização rival, Comando Vermelho, capturado em Campo Grande (MS). Interceptada durante as investigações da Operação Echelon, a conferência mostra o funcionamento de um "tribunal do crime" no qual inimigos do PCC acabam torturados e sentenciados à morte por líderes da facção, que acompanham os assassinatos em tempo real. 

Na denúncia do MP-SP (Ministério Público de São Paulo) constam diversos flagrantes das "sessões de julgamento" do PCC realizadas por todo o país. Há casos relatados também no Ceará, Roraima, Amapá e  Mato Grosso, por exemplo. Do outro lado da linha, os chefes da facção comandam as ações, apesar de alguns deles estarem detidos em presídios com bloqueadores de celulares, como mostrou reportagem da Folha de S.Paulo.


Membros da cúpula do PCC estão presos na Penitenciaria 2 de Presidente Venceslau (SP)

Membros da cúpula do PCC estão presos na Penitenciaria 2 de Presidente Venceslau (SP)... - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2018/07/20/tribunal-do-crime-chefes-do-pcc-acompanham-em-tempo-real-assassinatos-pelo-pais.htm?cmpid=copiaecola

Tortura precede assassinato

Os alvos preferenciais dos julgamentos descritos na denúncia da Operação Echelon são membros do Comando Vermelho. Desde o segundo semestre de 2016, as duas maiores facções criminosas entraram em guerra pelo domínio das principais rotas de tráfico de drogas e armas e da massa carcerária do país. Os chefes do PCC ordenam que os adversários sejam torturados nos interrogatórios. Após matá-los, os "soldados" do PCC devem enviar-lhes fotos e vídeos dos corpos, de preferência com as cabeças arrancadas. O "sentenciado" no caso descrito no começo desta reportagem chamava-se Rudnei da Silva Rocha, 22, conhecido como Babidi. Ele foi torturado durante duas horas para que passasse informações sobre seus comparsas. "Ou você oculta e deixa eles vivos e você morre, ou você abre o coração, sai vivo, e nois vai arregaça todos eles (sic)", disse um membro do PCC. 

Policiais encontraram o corpo de Babidi, na noite seguinte, em um matagal na região oeste da capital sul-mato-grossense. Enrolado em um colchão, o cadáver apresentava marcas de tortura e estava decapitado.

Tentativa de assassinato foi transmitida por celular.  Em outro caso, os chefes do PCC acompanharam "ao vivo" a tentativa de assassinato de um desafeto da facção.
Enquanto atiradores entravam na casa de Rene Fernandes do Advento para matá-lo, outro membro falava ao celular com um dos líderes da facção e lhe informava sobre a "operação".

A tentativa de homicídio aconteceu na cidade de Naviraí (MS) no dia 15 de novembro de 2017. De acordo com a transcrição feita pelos investigadores da Operação Echelon, "é possível ouvir disparos de arma de fogo e gritos de criança". O alvo sobreviveu, apesar de ter recebido três tiros. Quinze dias antes ele já havia escapado de um primeiro atentado. Na ocasião, foi atingido sete vezes.

Secretaria pede isolamento de líderes do PCC
 Autor da denúncia, o promotor de Justiça Lincoln Gakyia afirmou ao UOL que a Polícia Civil paulista compartilhou com as autoridades de outros estados as provas de participação de membros do PCC nos casos de assassinatos flagrados pela investigação. Por sua vez, a SAP (Secretaria de Administração Penitenciária) de São Paulo afirmou, em nota, que pediu à Justiça a internação de alguns denunciados da Operação Echelon no RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), o mais rigoroso das prisões brasileiras. Ou seja, eles ficarão em isolamento por no mínimo um ano, caso a Justiça autorize.

“A investigação ainda em curso já descobriu dezenas de outros crimes cometidos por eles, o que pode gerar outras condenações posteriormente", diz a nota. A punição para os envolvidos cabe agora ao trabalho da polícia e do MP nos estados em que as mortes aconteceram.