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sábado, 4 de setembro de 2021

Os juízes do "tribunal do crime": a guerra entre PCC e Comando Vermelho

DF e Entorno são palcos da atuação de grupos organizados do Brasil. O assassinato de Randerson Carmo, 24 anos, em 2 de julho, expôs a brutalidade de um "tribunal do crime" na capital do país. Desafio da polícia é conter a expansão dessas células

Um conflito bárbaro que dura quase 20 anos no país se expandiu para o Distrito Federal: 
a guerra entre as duas maiores facções criminosas do Brasil, o Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro; 
e o Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, leva violência a áreas do DF e do Entorno. 
A disputa por pontos estratégicos para comercializar drogas deixa um rastro de morte em diversos estados brasileiros e, recentemente, Brasília registrou o assassinato de Randerson Silva Carmo, 24 anos, integrante do CV, decapitado após ser submetido a umtribunal do crime, que durou mais de 10 horas, em Ceilândia, transmitido on-line. 
 
Para especialistas, a ação de faccionados na capital tem sido mais discreta do que em outras unidades da Federação, mas o fato de lideranças do grupo terem sido transferidas para a Penitenciária Federal de Brasília indica o incremento das ações do grupo. Esta semana, um integrante do PCC pertencente à célula do DF, que tinha como função gerenciar as atividades da facção, foi preso em Piracicaba (SP), na companhia de um suspeito de participar do ataque a bancos em Araçatuba

Dos quatro envolvidos no homicídio de Randerson, todos membros do PCC, dois foram presos pela Polícia Civil do Estado de Goiás (PCGO), um morreu em confronto com a Polícia Militar, e o outro está foragido. O Correio esteve em frente à casa onde o jovem foi assassinado e observou intensa movimentação de homens entrando e saindo da residência. Vizinhos relataram à reportagem que o imóvel funciona como um ponto de tráfico de drogas, mesmo após o crime. 

Delegado do Grupo de Investigação de Homicídio (GIH) de Águas Lindas (GO), Vinícius Máximo está à frente do caso e afirma que a polícia tem trabalhado para impedir a instalação e a expansão de facções em regiões do Entorno. “Muitas das ordens dos faccionados, seja para execução, seja para tráfico, saem direto do presídio. Então, nosso monitoramento se concentra muito nas cadeias, para inibir o problema na raiz. Não sabemos ao certo quantos membros de facção estão em Águas Lindas, mas acreditamos que sejam muitos. Eles estão em toda a parte. Nesse caso, em específico, os autores ficavam no DF”, pontuou.

Execução
Fim da tarde de 1º de julho. Por volta das 17h, Randerson, conhecido como Chico Nóia, saiu de casa, em Águas Lindas de Goiás, sem dizer para onde ia. Aparentava estar nervoso, segundo relatou a amiga que morava com ele, em depoimento ao qual o Correio teve acesso com exclusividade. O encontro parecia estar marcado. Próximo a uma padaria da região, ele entrou em um gol branco ocupado por quatro homens, Fernando Gomes de Morais, o Esquerdinha; José Francisco Feitosa Filho, o Foguinho; Antônio Francisco Batista, o Pé na Porta; e um identificado apenas como Zóio. Mal sabia que passaria por uma longa sessão de julgamento, sob acusação de agir para tomar o ponto de tráfico comandado pelo PCC: a Praça Santa Lúcia, em Águas Lindas.

Foram 26km até chegar a uma casa alugada, na Quadra 9 do Setor Industrial de Ceilândia. No interrogatório, à polícia, Fernando contou que, além da rivalidade entre os membros, as duas facções estariam disputando o ponto de tráfico no município goiano. A sessão começou por volta das 20h30. Fernando deu detalhes aos policiais de como ocorreu o tribunal. Segundo ele, cerca de 100 membros do PCC, incluindo um dos líderes, participaram do julgamento. Após mais de 10 horas, a maioria votou pela execução.

Dada a ordem do assassinato, os líderes da facção ordenaram aos “encarregados” que decapitassem Randerson e jogassem a cabeça na Praça Santa Lúcia: seria uma forma de “mostrar o poder”. A vítima foi espancada e esfaqueada com golpes de tesoura.  
O passo a passo do crime foi filmado, como determina uma das leis da cúpula, e o vídeo circulou nas redes sociais.  

Investigação
A cabeça de Randerson foi encontrada na praça, ao lado de um saco plástico preto. Uma testemunha relatou à polícia que recebeu a notícia em um grupo de WhatsApp de moradores e foi até o local. Na volta para casa, disse ter visto Fernando em um bar debochando da situação, dizendo que precisaria sair do bairro o quanto antes, pois tinha assassinado Chico Nóia.

A mãe de Randerson mora no Pará e recebeu a notícia da morte do filho no mesmo dia. A mulher veio para Brasília e, em depoimento, contou que o último contato que fez com o filho foi em 1º de julho, quando ele ligou, disse que estava trabalhando e que pretendia morar sozinho. Narrou que o filho nunca chegou a comentar se era ameaçado ou se era integrante de facção.

Em uma intensa investigação, policiais civis do GIH deram início às diligências e, em 7 de julho, a equipe recebeu a informação de que um corpo decapitado estava em um matagal próximo à Quadra 9 do Setor Industrial de Ceilândia. A perícia constatou que se tratava de Randerson. “A partir daí, iniciamos as apurações para capturar os envolvidos”, disse o delegado Vinícius Máximo.

“Fizemos duas perícias na casa onde ocorreu o crime. Encontramos lençóis sujos de sangue e um buraco na parede onde supostamente eles tinham escondido a tesoura usada no crime”, completou o delegado-chefe da 24ª DP (Setor O), Raphael Seixas. Um dia depois de os policiais encontrarem o corpo, um dos suspeitos do crime, Antônio Francisco Batista, foi morto após atirar contra policiais militares de Goiás.

A PCGO prendeu Fernando e José poucos dias depois do crime. Ambos foram indiciados por homicídio e ocultação de cadáver e cumprem prisão preventiva na cadeia de Águas Lindas. Eles ficarão no Complexo Penitenciário da Papuda, uma vez que o assassinato aconteceu no DF. “Um dos envolvidos está foragido. Estamos intensificando as investigações para identificá-lo e capturá-lo”, reforçou o delegado Vinícius Máximo.

Segurança
No Complexo Penitenciário da Papuda, os presos membros de facção não são separados por cela ou pátio. Isso porque, na avaliação da Secretaria de Administração Penitenciária (Seape-DF), é um meio de evitar o fortalecimento das organizações na cadeia.

No DF, a Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Decor) é a unidade especializada da PCDF na desarticulação de facções criminosas na capital. Em maio deste ano, os investigadores capturaram o chefe da maior organização do Distrito Federal, o Comboio do Cão (CDC), Willian Peres Rodrigues, de 36 anos, que estava foragido desde 2017. Foram anos de investigação até chegar ao paradeiro do homem. O trabalho de monitoramento, no entanto, é sigiloso, para não atrapalhar as diligências.

Atitude dos governos

“Temos observado a expansão de facções prisionais por todo o país, mas também o surgimento de novos grupos, os quais têm se valido claramente da estrutura de Estado. Recentemente, a Polícia Civil do DF e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios desarticularam mais uma célula do PCC na capital com a deflagração da Operação Tríade. A PMDF também prendeu um membro que estava foragido no DF. A PCGO teve êxito na prisão de um membro do PCC em Brazlândia. Ou seja, temos observado ações muito pontuais das forças de segurança pública para impedir que facções se instalem no DF, a partir de investigações, sem, contudo, conseguir resolver efetivamente o problema, pois o PCC tem se organizado como uma hidra: corta uma cabeça e nasce outra. O PCC internacionalizou um modelo de facção cuja forma de autoadministração entre membros e lideranças é complexa e muito bem articulada e, o pior, a partir da infraestrutura oferecida pelo Estado. Enquanto o Estado não atacar a política de drogas, pensar na questão da seletividade penal e nos filtros da entrada do sistema prisional, no problema do encarceramento em massa, na questão dos presos provisórios e não priorização às penas e às medidas alternativas, dificilmente a economia do crime e as facções perderão força.”

Welliton Caixeta Maciel, professor de antropologia do direito e pesquisador do Grupo Candango de Criminologia (GCCrim), da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB).

Filiação
Natural do Pará, Randerson filiou-se ao CV em 2016 dentro da cadeia de Águas Lindas, onde cumpriu pena pelo assassinato de Jeferson Faria Nascimento, 17. Cerca de um mês após passar para o regime semiaberto, ele foi morto.

Preso o "geral do estado"
Mais conhecido como Luiz Adriano, o homem preso pelos investigadores da Decor da PCDF, na terça-feira, pertence à célula do PCC em Brasília e ocupava a função de “geral do estado” dentro da facção, segundo as investigações. O criminoso estava escondido em uma região de chácaras nos arredores da cidade de Piracicaba (SP), onde, de lá, geria os negócios do PCC na capital do país. As ações de Luiz Adriano foram investigadas no âmbito da Operação Tríade, deflagrada em junho deste ano pela Polícia Civil, como forma de conter a tentativa de estabelecimento do PCC no DF. Em decorrência dessa investigação contra o criminoso, constava mandado de prisão preventiva expedido pela Justiça. No momento da prisão, os policiais detiveram outros dois homens, sendo que um deles estava com um ferimento em um dos braços, decorrente de troca de tiros com a polícia durante o mega-assalto em Araçatuba, que deixou três mortos e cinco feridos.
 
Cidades - Correio Braziliense

terça-feira, 4 de junho de 2019

Polícia acredita que mulheres esquartejaram menino após pensão ser suspensa

Mulheres mataram menino quando souberam da suspensão do benefício da irmã dele. Investigadores acreditam que elas queriam diminuir os gastos da família, pois viviam em fuga

[a causa do crime foi que a criança atrapalhava o relacionamento homossexual que as duas mantinham - tal informação foi fornecida pelo delegado da 26ª DP, em entrevista à TV Globo, DF-1,1/6/2019]

casal acusado de matar e esquartejar Rhuan Maycon, 9 anos, decidiu cometer o crime no dia em que descobriram o corte da pensão da irmã de criação do menino, de 8 anos. Rosana Auri da Silva Candido, 27, mãe da vítima, e Kacyla Priscyla Santiago Damasceno, 28, mãe da garota, contaram, em depoimento, que a vítima seria um “empecilho” ao relacionamento delas. A Justiça do Acre determinou a suspensão do benefício em 3 de maio, mas elas souberam da decisão apenas na última sexta-feira, quando foram a um caixa eletrônico de Samambaia. Agora, os investigadores trabalham com a hipótese de que a morte de Rhuan tenha sido motivada por diminuição de gastos caseiros. [ Tais vermes deveriam ser condenadas à pena de morte - mas, morrer devagarzinho, e antes de cada sessão de disciplina seriam anestesiadas, para não sentir dor, mas, sem perder a consciência e verem o tratamento que estavam recebendo.]

Rosana e a companheira fugiram do Acre com os filhos em 2014, quando os pais dos meninos entraram com ações judiciais para tomar a guarda das crianças. Apenas a filha de Kacyla recebia pensão do pai, o agente penitenciário Rodrigo Oliveira. De acordo com o delegado à frente do caso, Guilherme Sousa Melo, da 26ª Delegacia de Polícia (Samambaia Norte), apesar da fuga, a Justiça entendeu que o corte do benefício poderia prejudicar ainda mais a criança. Após cinco anos, o Tribunal de Justiça do Acre decidiu suspender o benefício, na tentativa de fazer com que a mulher aparecesse para sacar o benefício.

Além da pensão, Kacyla e Rosana davam golpes em locatários (sic)  de imóveis para se manter. Durante o tempo de fuga, passaram por incontáveis endereços de diferentes estados. Em Goiás, moraram em Goiânia, Trindade e Anápolis. Também viveram em Aracaju, capital de Sergipe. No DF, além de Samambaia, onde cometeram o crime, moraram em Ceilândia. Geralmente, elas ficavam nos imóveis poucos meses e fugiam quando as contas estavam muito atrasadas. Reservadas, não se relacionavam com os vizinhos e mantinham a presença das crianças em segredo, principalmente Rhuan, que teve o pênis cortado por ambas no ano passado. Elas tinham medo que o garoto falasse sobre a mutilação.

No último endereço, em Samambaia, Kacyla trabalhava como cabeleireira e saía de casa todos os dias, às 7h. Os policias tentam descobrir o local de serviço da mulher, para interrogar os colegas de trabalho dela. “Vamos expandir as investigações para saber do cotidiano da família, identificar se as crianças sofreram mais crimes e apontar a motivação real das assassinas. Na quarta-feira, vou ao Acre iniciar as investigações no estado”, contou Guilherme. Nesta segunda-feira (3/6), o delegado ouviu vizinhos do casal, que informaram não saber da presença de crianças na casa. “Em dois meses, eles viram a menina apenas uma vez. As acusadas ainda deram a entender que a garota era uma visita”, explicou o policial.

Rhuan e a irmã não frequentavam a escola havia ao menos dois anos. A menina saía de casa apenas para ir à igreja frequentada pela mãe e madrasta. O menino ficava trancado o dia inteiro. As mulheres estudaram métodos de remover o pênis do filho na internet. Elas informaram aos investigadores que “ele sarou em 15 dias” e não o levaram a um hospital. O garoto era tratado como menina. Vestia as roupas da irmã e estava com cabelo comprimido, para passar a imagem feminina. O delegado frisou querer enquadrar as mulheres em mais crimes, além do homicídio qualificado, como maus-tratos e lesão corporal, porque há indícios que os filhos teriam sido agredidos em Goiânia.
Reencontro
Vivendo sob maus-tratos, a filha de Kacyla carrega sequelas. No domingo, o pai dela, Rodrigo, veio do Acre buscar a filha. No entanto, o reencontro foi conturbado. Durante cinco anos, o casal doutrinou a menina para que ela tivesse medo da figura masculina e constantemente falava que todos os problemas que a família passava era por causa do pai. Por isso, a garota ainda não consegue ficar à vontade na frente do agente penitenciário e precisará passar por tratamento psicológico para reverter o quadro. Enquanto isso, ficará no abrigo, em Taguatinga, para onde foi levada após a prisão das mulheres que a criavam.


Abalado, Rodrigo não conseguiu conversar com a reportagem do Correio. De acordo com o Conselho Tutelar, o órgão intermediará a reaproximação dos dois. Nesta segunda-feira (3/6), pai e filha se encontraram novamente. Dessa vez, eles se viram na delegacia. Ambos foram conversar com o delegado e os conselheiros. “Ela demonstra saber o que aconteceu. Deu alguns detalhes sobre a convivência dentro de casa. Agora, o trabalho da polícia com a criança está encerrado. Apenas o Conselho acompanhará o caso”, destacou Guilherme.
Velório
Desempregado, o pai de Rhuan, Maycon Douglas Lima de Castro, 27, conseguiu dinheiro para transportar o corpo do filho para o Acre. Ao Correio, ele disse “querer dar um enterro digno ao filho”. Sem ter como para pagar o serviço, ele terá ajuda do Governo e da Defensoria Pública do Acre, que garantiram custear as despesas do translado. “O que eu mais quero é trazer meu menino de volta para a terrinha dele”, ressaltou.


A Defensoria Pública do Acre informou que aguarda a finalização dos exames periciais para entrar com ação para o translado do corpo. De acordo com o órgão, o procedimento é demorado, mas deve ser finalizado ainda esta semana. O governador e a primeira-dama do estado, Gladson Cameli (PP), e Ana Paula Cameli, se posicionaram sobre o caso. Eles disseram estar “perplexos” com o crime, mas que não mediram esforços para transportar o corpo do garoto.


Ocultação
Rosana e Kacyla assassinaram Rhuan no fim da noite de sexta-feira. O garoto estava dormindo quando foi surpreendido com diversos golpes de faca. Em seguida, ele teve o rosto desfigurado, foi decapitado e esquartejado. As investigadas ainda tentaram queimar a carne dele em uma churrasqueira, para poder descartá-la em um vaso sanitário. No entanto, pararam por causa da grande quantidade de fumaça.

As mulheres distribuíram o corpo do menino em uma mala e duas mochilas escolares. Rosana descartou um dos itens em um bueiro de Samambaia, mas foi vista por pessoas que estavam na rua. Curiosos abriram o objeto e encontraram o corpo. A Polícia Civil foi acionada e prendeu as suspeitas em casa. Elas confessaram o crime.

Correio Braziliense



 

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Tribunal do Crime: chefes do PCC acompanham em tempo real assassinatos pelo país



"Picotar é o de praxe, meu mano, se caso der. Se não der, só arranca a cabeça ali, tá tranquilo." A ordem acima foi emitida no dia 7 de outubro de 2017 durante uma conferência por celular na qual participaram chefes da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). Eles decidiam na ocasião o destino de um integrante da organização rival, Comando Vermelho, capturado em Campo Grande (MS). Interceptada durante as investigações da Operação Echelon, a conferência mostra o funcionamento de um "tribunal do crime" no qual inimigos do PCC acabam torturados e sentenciados à morte por líderes da facção, que acompanham os assassinatos em tempo real. 

Na denúncia do MP-SP (Ministério Público de São Paulo) constam diversos flagrantes das "sessões de julgamento" do PCC realizadas por todo o país. Há casos relatados também no Ceará, Roraima, Amapá e  Mato Grosso, por exemplo. Do outro lado da linha, os chefes da facção comandam as ações, apesar de alguns deles estarem detidos em presídios com bloqueadores de celulares, como mostrou reportagem da Folha de S.Paulo.


Membros da cúpula do PCC estão presos na Penitenciaria 2 de Presidente Venceslau (SP)

Membros da cúpula do PCC estão presos na Penitenciaria 2 de Presidente Venceslau (SP)... - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2018/07/20/tribunal-do-crime-chefes-do-pcc-acompanham-em-tempo-real-assassinatos-pelo-pais.htm?cmpid=copiaecola

Tortura precede assassinato

Os alvos preferenciais dos julgamentos descritos na denúncia da Operação Echelon são membros do Comando Vermelho. Desde o segundo semestre de 2016, as duas maiores facções criminosas entraram em guerra pelo domínio das principais rotas de tráfico de drogas e armas e da massa carcerária do país. Os chefes do PCC ordenam que os adversários sejam torturados nos interrogatórios. Após matá-los, os "soldados" do PCC devem enviar-lhes fotos e vídeos dos corpos, de preferência com as cabeças arrancadas. O "sentenciado" no caso descrito no começo desta reportagem chamava-se Rudnei da Silva Rocha, 22, conhecido como Babidi. Ele foi torturado durante duas horas para que passasse informações sobre seus comparsas. "Ou você oculta e deixa eles vivos e você morre, ou você abre o coração, sai vivo, e nois vai arregaça todos eles (sic)", disse um membro do PCC. 

Policiais encontraram o corpo de Babidi, na noite seguinte, em um matagal na região oeste da capital sul-mato-grossense. Enrolado em um colchão, o cadáver apresentava marcas de tortura e estava decapitado.

Tentativa de assassinato foi transmitida por celular.  Em outro caso, os chefes do PCC acompanharam "ao vivo" a tentativa de assassinato de um desafeto da facção.
Enquanto atiradores entravam na casa de Rene Fernandes do Advento para matá-lo, outro membro falava ao celular com um dos líderes da facção e lhe informava sobre a "operação".

A tentativa de homicídio aconteceu na cidade de Naviraí (MS) no dia 15 de novembro de 2017. De acordo com a transcrição feita pelos investigadores da Operação Echelon, "é possível ouvir disparos de arma de fogo e gritos de criança". O alvo sobreviveu, apesar de ter recebido três tiros. Quinze dias antes ele já havia escapado de um primeiro atentado. Na ocasião, foi atingido sete vezes.

Secretaria pede isolamento de líderes do PCC
 Autor da denúncia, o promotor de Justiça Lincoln Gakyia afirmou ao UOL que a Polícia Civil paulista compartilhou com as autoridades de outros estados as provas de participação de membros do PCC nos casos de assassinatos flagrados pela investigação. Por sua vez, a SAP (Secretaria de Administração Penitenciária) de São Paulo afirmou, em nota, que pediu à Justiça a internação de alguns denunciados da Operação Echelon no RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), o mais rigoroso das prisões brasileiras. Ou seja, eles ficarão em isolamento por no mínimo um ano, caso a Justiça autorize.

“A investigação ainda em curso já descobriu dezenas de outros crimes cometidos por eles, o que pode gerar outras condenações posteriormente", diz a nota. A punição para os envolvidos cabe agora ao trabalho da polícia e do MP nos estados em que as mortes aconteceram.