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sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Barbeiragens médicas - O pesadelo de adoecer em Portugal - O Globo

Ruth de Aquino
 
Não é um caso só, não são dois nem três. Quase perdi uma amiga querida que teve uma simples apendicite em visita de férias à filha, moradora de Lisboa. Foi vítima de uma mistura de diagnósticos errados – primeiro, gastroenterite, e depois cálculo renal com cirurgia de emergência tipo açougue, UTI sucateada, alta prematura, negligência absurda no pós-operatório e infecção hospitalar com bactéria.
 
Diagnósticos errados e infecção hospitalar são grandes vilões da medicina em Portugal

Minha amiga teria provavelmente morrido de septicemia se não tivesse voltado para o Brasil. 
Seus médicos no Rio descobriram dois abscessos no abdômen e retiraram 40 mililitros de pus. 
Fez a terceira e última cirurgia agora, cinco meses depois de sentir a primeira dor forte num vilarejo na costa vicentina, no Alentejo. Desenvolveu uma hérnia por conta das barbeiragens portuguesas. Sua história é uma saga. Um alerta para brasileiros iludidos. Pensam que a medicina em Portugal funciona e, que maravilha, é de graça! 

Seriam férias de reencontro em julho com a filha numa casa alugada no meio do silêncio, praias de rio e mar, numa aldeia de mil habitantes. De repente, uma dor alucinante. “Vomitei, pensei em intoxicação alimentar. Fui a um hospital público a duas horas e meia dali, em Portimão, no Algarve”. Como a fila dava voltas na emergência por conta da Covid, a próxima parada foi um hospital particular, à 1h da madrugada. Fez tomografia computadorizada do abdômen. Injetaram um remédio para dor, deram antibiótico e a liberaram. Diagnóstico: gastroenterite. 

Como continuava a urrar de dor, com febre, voltou com a filha para Lisboa. Foi ao consultório de um médico brasileiro que atende também na rede pública. Ele diagnosticou cálculo renal. “Deu uma batida do rim. Eu pulei. 'Viu? É pedra no rim, aposto' ”. No dia seguinte, já de cadeira de rodas pela dor, foi à CUF, o sonho de todo mundo. Tipo Copa Star, Sírio Libanês. O ultrassom renal não acusou nada. “Só olharam o rim. Não investigaram. Português pensa na caixinha”. 

Sem evacuar e sem comer quase nada, barriga inchada como se estivesse grávida, começou a vomitar água. De ambulância dos bombeiros, foi para o Hospital Universitário São José, referência pública. O enfermeiro lhe deu uma pulseira verde, de casos não graves! Como gritava que ia morrer, uma residente se compadeceu e a mandou para o cirurgião. “Médicos não botam a mão em você até saber se está ou não com Covid. Fiz PCR na emergência, mas o resultado, negativo, levou seis horas! Uma sonda me tirou dois litros de suco gástrico. Mas só me operaram às 2h da manhã do dia seguinte”. 

“Não fizeram ressonância. Abriram minha barriga, dos seios à virilha, sem saber o que havia dentro. Em duas horas, me abriram, descobriram o apêndice já supurado e me grampearam, técnica em desuso no Brasil. Fiquei 12 dias na UTI”. Outro trauma. “Só 4 enfermeiros por turno para 32 leitos. Cama quebrada. Sem suporte para o soro. A comadre não era individual. Era uma enfermaria mista. Talvez por ser uma sociedade patriarcal, cada homem tinha sua arrastadeira (comadre). Mulher não, tinha que pedir e esperar”. Teve diarreia, mas não havia papel no banheiro. Teve flebite e, quando reclamava de dor pedindo para trocar a veia, ouvia um deboche. “’O que é que é, brazuca?’ ‘Gente, sou cidadã portuguesa’, eu respondia. Muito preconceito”. 

Com seis quilos a menos, teve alta antes do tempo. “Acho que precisavam do leito. Minha ferida ainda estava purgando e eu tinha febre baixa. Não me receitaram antibiótico nem recomendaram cinta. Não me deram telemóvel (celular) de nenhum médico. Era início de agosto. Auge do verão. Médicos em férias. O único disponível se negava a examinar paciente pós-cirúrgico. Com febrão de quase 39, liguei em pânico para o hospital. Me receitaram paracetamol!” 

Uma semana após a alta, em consulta marcada conforme o padrão, o cirurgião receitou antibiótico oral. “Com isso, você pode pegar um avião”. No Rio, ela volta aos poucos à vida, recuperando-se da terceira cirurgia, ainda com muitas limitações. Precisou reconstruir o umbigo, que depois de tantos cortes e intervenções estava na lateral direita do corpo. Teve de colocar uma tela porque não se conseguia unir mais os tecidos, após as infecções. Sempre foi saudável, forte, adepta de ioga, comida orgânica, meditação, bicicleta. Sempre nadou às 6h da manhã. Precisa esperar até retomar seu cotidiano.

Portugal pode, talvez, sofrer de um problema crônico de formação médica e um problema pontual de sucateamento de hospitais.  
Diagnósticos equivocados e infecção hospitalar são os maiores vilões, tanto na saúde pública quanto na particular. 
Também incomoda o raciocínio rígido, preguiçoso, linear, ingênuo e teimoso de muitos médicos de lá. Lembrei-me da piada do ascensorista, que afirmava estar “parado” e não “descendo” – com tanta certeza de que falava a verdade. 

Ah, você pode dizer, erros médicos acontecem, um caso não pode condenar a medicina de um país.
Verdade. E por isso conversei com turistas ou moradores de Portugal. Escutei histórias horripilantes. 
Médico em hospital tentando costurar sem anestesia os lábios de uma senhora que havia caído no hotel.
Enfermeiro em hospital servindo carne de porco para recém-operado de estômago.
Parafusos enferrujados em joelhos.
Médico que não conseguiu enxergar um tumor na tireoide olhando exames de imagem. 
Muita gente, especialmente com mais idade, faz o caminho de volta. Afinal, você quer viver ou morrer em Portugal?

Ruth de Aquino - O Globo


sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Uma boa mãe apóia um bom aborto - cada assassina que morre durante um aborto, ou logo após, representa além de uma punição rápida para a mãe assassina a eliminação de mais uma assassina



Não há, na visão do abortista, nada intrinsecamente valioso na vida humana. A vida de uma pessoa não tem valor por si mesma, mas por elementos extrínsecos a ela


O aborto é, sem dúvida, a maior calamidade humana de todos os tempos.

Não conheço Rita Lisauskas. Fiquei sabendo de sua existência através de um blog no site do jornal O Estado de S. Paulo intitulado “Ser mãe é padecer na internet”. Para seu último texto do blog, Rita escolheu uma bela manchete: “Sou mãe e a favor do aborto”. Curioso. Resolvi ler o texto, (in)felizmente. E, após ter me deparado com uma porção considerável de afirmações perigosas, para dizer o mínimo, resolvi escrever um punhado de comentários. Eles estão abaixo em itálico, e se referem sempre aos grifos em vermelho que fiz ao texto original.

SAIBA MAIS SOBRE O HORROR DO ABORTO, clicando aqui

"Eu nunca fiz um aborto. E se você não quiser fazer um aborto, também não é obrigada a fazer.
Mas todas as mulheres que querem abortar e têm dinheiro vão à clínicas chiquérrimas onde são tratadas com todo o respeito, higiene e com que há de mais moderno inventado pela medicina. Também são servidos cafés e petit-fours “Está boa a temperatura do ar condicionado, Dona Mariana?”
[1]

[1] Para alguém que nunca abortou, Rita Lisauskas parece conhecer bem como é uma chiquérrima clínica de aborto. Ou isso, ou se trata apenas de um recurso meramente retórico para o que virá a seguir.

"Tenho algumas amigas que já abortaram. Não foi uma escolha fácil para nenhuma delas. Mas tudo foi feito com segurança. Uma delas porque achou que não tinha estrutura financeira e emocional para ter um filho. Mas há mulheres que abortam porque são vítimas de estupro. Outras simplesmente porque não se veem como mães e querem dar outro rumo para vida. [2] Algumas foram abandonadas pelo parceiro idiota, homens que usam e abusam do direito de praticar um aborto às avessas, simplesmente fugindo do mapa e fingindo que o problema não é com eles. [3] Foram lá e fizeram. Sentiram culpa? 

Algumas sim, outras não. Saíram de lá vivas e saudáveis? Saíram."

[2] Notamos que tudo pode servir de justificativa para o aborto – desde violência sexual, um crime bárbaro que deixa seqüelas físicas e psicológicas profundas, até o simples “ah, não estou afim de ser mãe”. Olhando por esse lado, é difícil não perguntar: mulheres que decidiram abortar “simplesmente porque não se veem como mães e querem dar outro rumo para vida” realmente tiveram de fazer uma escolha difícil?

[3] Uma das comparações mais estapafúrdias feita pelas feministas, das mais perspicazes às mais pedestres, é entre o aborto praticado pela mulher e o abandono praticado pelo homem diante de uma gravidez indesejada. Abandonar uma mulher grávida, que carrega seu próprio filho no ventre, é um ato de covardia indesculpável. Nisso, todos concordamos. Mas, por mais covarde que seja, ele não se compara à crueldade que é matar uma criança ainda no ventre materno. A desproporção entre os dois atos é tamanha que misturar as duas coisas propositadamente é um sinal claro de desonestidade intelectual.

"As mulheres que não têm dinheiro para um aborto na clínica chiquérrima parecem não ter direito ao próprio corpo [4], ainda que sofram com os mesmos dilemas. Não têm estrutura emocional e financeira. Foram estupradas. Não se veem como mães. Abandonadas pelo parceiro que virou as costas para ela, praticando o aborto masculino socialmente aceito. Elas, como não têm dinheiro, como o Estado lhes vira as costas e a opinião pública aponta o dedo (Vagabunda! Na hora de abrir as pernas não pensou nas consequências, né?), compram um remedinho abortivo no mercado negro e sangram até a morte. Ou vão naquela clínica suja da periferia que mais parece um açougue. E morrem." [5]

[4] Toda e qualquer pessoa, homem ou mulher, tem direitos sobre si mesmo, inclusive sobre seu próprio corpo. Uma coisa, entretanto, que sempre fica clara na argumentação feminista é que a criança que se encontra no ventre materno é, também, parte do corpo da mulher. A criança em gestação não é vista como um outro ser humano completamente diferente: seu status, para o discurso feminista, é ou de um apêndice desagradável que pode ser removido, ou de um parasita asqueroso que precisa ser eliminado.

[5] O nível de sociopatia dessas afirmações beira o delírio. Provavelmente Rita Lisauskas deve desconhecer a centenas de iniciativas particulares, muitas delas de cunho religioso, que acolhem mulheres vítimas de violência e que, mesmo sem se verem em condições materiais ou psicológicas de levarem adiante da gravidez, decidem não fazer aborto. Nenhuma dessas mulheres é tida por vagabunda porque “não fechou as pernas”.

"As complicações do aborto já são a quarta causa de morte materna no Brasil [6]. É uma questão de saúde pública. E não precisa ser nenhum gênio para descobrir que não são as mulheres da clínica do cafezinho e do petit-four que são mutiladas ou morrem. São as mulheres desesperadas e sem dinheiro. Pobres. Da periferia. São aquelas que não têm com quem contar."

[6] Além de não fornecer qualquer tipo de fonte para fornecer esse dado, Rita Lisauskas apenas repete um dos velhos ritornellos de quem defende o aborto. As informações mais recentes disponibilizadas pelo Ministério da Saúde são do ano de 2011, e lá consta que o número de óbitos maternos em decorrência de aborto correspondeu a 8,4% do total de óbitos maternos, totalizando 135 vítimas. Se Lisauskas tem fontes mais atualizadas e corretas, jamais saberemos: ela as omitiu em favor de um efeito retórico emocional.

"Quem diz que é contra o aborto porque é “a favor da vida” não pensa na vida dessas mulheres. A vida delas vale menos que a de alguém que não nasceu? [7] Se esse bebê nascer sem amor, sem grana, sem pai, sem estrutura, sem escola, sem apoio, sem o direito a uma família (já que família agora é só a formada com pai e mãe, né Congresso Nacional), o que será dele?"

[7] Aqui, vemos a recorrência de mais um jogo retórico mentiroso de palavras que visam apenas a criar um efeito emocional forte, mas que tem quase nenhuma correlação com a realidade. Uma coisa que Rita Lisauskas parece ignorar é que o próprio aborto fragiliza profundamente a mulher: a ocorrência de auto-lesões propositadas aumenta em 70% (cf. Anne C. Gilchrist, “Termination of Pregnancy and Psychiatric Morbidity”. Psychological sequelae of abortion – The myths and the scientific facts. Berna, 2011); a chance de uma mulher que abortou cometer suicídio aumenta em 6 vezes (cf. Mika Gissler, Elina Hemminki, Jouko Lonnqvist. “Suicides after pregnancy in Finland, 1987–94: register linkage study”. BMJ 1996; 313:1431); e que o aborto está relacionado ao desenvolvimento de transtornos mentais e comportamentais, como abuso de drogas, ansiedade, depressão, além de ideação e tentativa de suicídio (Mota, Natalie P, BA; Burnett, Margaret, MD, FRCPC; Sareen, Jitender, MD, FRCPC. “Associations Between Abortion, Mental Disorders, and Suicidal Behaviour in a Nationally Representative Sample”. Canadian Journal of Psychiatry 55.4 [Apr 2010]: 239-47).

"Se é contra a sua religião, não faça. Mas não queira que sua fé decida o que outra mulher deve ou não fazer. Se você não pretende criar o filho de ninguém, se não será você quem dirá a criança que não tem comida em casa, se não será você quem vai reconhecer os traços de um estuprador no rosto dela, se não será você quem irá aguentar os nove meses de uma barriga indesejada, se não será você quem irá explicar aos vizinhos que não, “não, não sou casada”, “não, esse filho não tem pai”, “não, não sou vagabunda”, “não, eu fui estuprada”, “não, eu não estava vestida para ser estuprada”, “não, não usei camisinha”, você não tem direito a opinar sobre a gravidez alheia. E mesmo se respondeu “sim” a alguma das questões acima, também não tem o direito de querer obrigar ninguém a levar uma gravidez indesejada adiante."[8]

[8] Na visão dos defensores do aborto irrestrito, ninguém, absolutamente ninguém tem o direito de dizer à mulher grávida: “Olha, o que você carrega no ventre é uma criança, um ser humano diferente de você, e aborto é a mesma coisa que assassinato.” É o império do subjetivismo. Mesmo que um exército de geneticistas, obstetras, ginecologistas e embriologistas defenda isso e forneça toneladas de evidências científicas sólidas, eles são apenas opressores. O que importa é que matar a criança que se carrega no ventre deve ser um direito humano (!!!), uma garantia inalienável de cada mulher.

"Já foi provado: a legalização diminui o número de mortes maternas. Dê uma olhada no nosso vizinho, Uruguai, que jogou o número de mortes de mulheres que abortam próximo a zero. Também diminuirá o número de mulheres que buscam o Sistema Único de Saúde todos os anos para se recuperar de abortos mal feitos. O aborto seguro tem de estar disponível a todas que vão recorrer a ele, porque você querendo ou não, Eduardo Cunha esperneando ou não, as mulheres vão procurar o procedimento como opção para interromper uma gravidez indesejada." [9]


[9] O argumento acima poderia muito bem ser utilizado para, por exemplo, descriminalizar o latrocínio. Afinal, a existência de uma lei que puna o latrocínio não impede que ele seja cometido. O mesmo se estende para o assalto a mão armada, o homicídio, até mesmo a corrupção. A lógica é: se a lei não impede que o crime seja cometido, então, vamos abolir a lei.

"
O que o Congresso tenta empurrar-nos garganta abaixo é um retrocesso. Mulheres tendo de provar que realmente foram estupradas. Pílulas do dia seguinte proibidas. Cadeia para quem explicar para a mulher que o corpo é dela e que a escolha é dela." [10]
[10] Mentiras que já foram suficientemente expostas em meu último artigo.
"Eu amo o meu filho. Porque eu quis ser mãe dele. Lutei para engravidar dele, inclusive. Reservei o melhor de mim para criá-lo. Uma criança só devia vir ao mundo se for desejada." [11]

[11] “Uma criança só devia vir ao mundo se for desejada”. Essa afirmação possui a quintessência do totalitarismo abortista: se eu quero, deixo nascer; se eu não quero, mato. Não há, na visão do abortista, nada intrinsecamente valioso na vida humana. A vida de uma pessoa não tem valor por si mesma, mas por elementos extrínsecos a ela – e, neste caso, o mero desejo de outrem de que ela possa nascer.

Quando lançamos o olhar para o século XX, vemos que foi nele que surgiram as ideologias mais mortíferas de toda a história humana, sistemas filosóficos e políticos que, quando tomaram o poder, dedicaram-se a eliminar deliberada e meticulosamente vidas humanas. O Holocausto nazista, o Holodomor ucraniano, o “Grande Salto Adiante” chinês, os gulags soviéticos, todos eles nos legaram uma montanha com centenas de milhões de cadáveres. Nenhuma dessas tragédias, entretanto, pode ser comparada em escala e em crueldade ao assassinato de uma criança em desenvolvimento, perfeitamente inocente, completamente frágil, no ventre materno. 

O aborto é, sem dúvida, a maior calamidade humana de todos os tempos.

Fonte: https//felipeoamelo.wordpress.com

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Padim Lula: da unção à maldição



Ricardo Pessoa, ex-engenheiro da OAS e empreiteiro da UTC, foi escalado na seleção dos “campeões mundiais” ungidos com as bênçãos do padim Lula de Caetés.

Egresso de uma carreira anônima de executivo da construtora baiana, cujo dono era genro de um figurão da República nos anos JK, na ditadura militar, na Nova República e no mandarinato tucano, Antônio Carlos Magalhães, o ACM – dependendo das circunstâncias, Toninho Malvadeza ou Ternura –, subiu na vida como um foguete. E caiu ao fundo do pré-sal acusado de chefiar um cartel que demoliu o patrimônio e a credibilidade da joia da coroa estatizada brasileira, no qual dava cartas para os ex-patrões da OAS e outros figurões carimbados da construção civil nacional: Camargo Corrêa e Odebrecht, entre eles. 

Subida ao céu e descida aos infernos sob a égide do padroeiro. Os irmãos Joesley e Wesley Batista, filhos de José Batista Sobrinho, o Zé Mineiro, que em 1953 abriu a Casa de Carnes Mineira, um pequeno açougue em Anápolis (GO), adotaram as iniciais do nome do pai, JBS, para denominar um grupo que, no século 21, passou a ser o maior processador de proteína animal do mundo, com 152 mil empregados. Para recorrer a uma metáfora futebolística, tão ao gosto do padim, é como se a Anapolina, cuja torcida chama de xata (com x mesmo), decolasse da Série D do Campeonato Brasileiro de Futebol para ganhar o título mundial contra Barcelona ou Juventus de Turim, não importa.

Há, contudo, uma diferença capital entre os Batistas e Pessoa: enquanto este usa uma tornozeleira para não sair de casa, os goianos comemoram, ano após ano, lucros fabulosos. O máximo de incômodo pode ter sido a decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) de exigir que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) abra o sigilo, que tem mantido teimosamente, sobre as vultosas quantias a que a instituição pública se tem associado em suas conquistas no Brasil e alhures. O estouro da boiada, de Consuelo Dieguez, na Piauí, conta como.

Se o TCU não encontrar nada de errado nas relações entre empresa particular e banco estatal, a não ser generosidade de compadre, a esta altura do campeonato restará a constatação de que os filhos de Zé Mineiro serão privilegiados também pelo fato de o ouro do esperto alquimista de Caetés não ter virado cinzas. Mas o clã mineiro em Goiás nunca será acusado de esbanjar, pois tem multiplicado cada centavo da “viúva” injetado. Ao contrário de Eike Batista, filho de Eliezer, o badalado gestor da Vale estatal que operou o “milagre” da transformação de metal precioso em porcaria, reduzindo a pó todos os papagaios de notas de dólar que empinou e tornando uma herança de mandarim um festival de falências.

Já houve quem dissesse que o melhor negócio do mundo é um poço de petróleo bem administrado e o segundo melhor, um poço de petróleo mal administrado. Eike desafiou essa lei do mercado, mas não passou de um golden boy num ringue de pesos pesados. Se é verdadeiro o grave conteúdo das delações premiadas coletadas pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público Federal (MPF) do Paraná e que têm merecido atenção e aprovação do juiz federal Sérgio Moro, em Curitiba, a ex-maior empresa brasileira, a estatal Petrobrás, despencou do alto de desempenho e reputação invejáveis no mundo para o fundo dos próprios poços na profundeza dos mares, em caixa, patrimônio e credibilidade.

Um dos presos na investigação, antes condenado no escândalo do mensalão, o ex-deputado Pedro Corrêa disse à CPI da Petrobrás que o ex-presidente Luiz Inácio só não foi preso porque ninguém teve coragem de fazê-lo. No depoimento, ele delatou: “Lula achava que o Paulo deveria ser diretor de Abastecimento”. O delator recorreu ao testemunho de um morto, José Janene, mas não faltam vivos que se lembrem do carinho com que Lula tratava seu afilhado de “Paulinho”.

Essa talvez seja a única explicação razoável para o desabafo que o dono do dedo que ungiu os “campeões mundiais” andou fazendo em Brasília na semana passada. De acordo com relato dos colegas Andreza Matais e Ricardo Brito, da sucursal de Brasília, publicado neste jornal no sábado, o ex “admitiu” que “não atravessa uma boa fase”. Duvida quem, como o autor destas linhas, frequentou sua casa na vila operária do Jardim Assunção e sabe que hoje o padim mora em apartamento de luxo na mesma cidade de São Bernardo. E tem garantido conforto para veraneios no Guarujá em apartamento tríplex que, segundo seus acusadores, foi concluído pela OAS para a Bancoop, que não tem um histórico muito católico de entregar vivendas que vendeu. Será exagero concluir que ele cospe na própria sorte? Talvez.

Mas uma parábola futebolística é muito adequada se se juntar o que se publica nas páginas de política, polícia e esportes hoje em dia. O Corinthians não sabe, nem tem, como pagar dívida de R$ 1,15 bilhão pelo estádio ainda sem nome que o BNDES ajudou a Odebrecht a construir para o time do coração de Lula. E este e vários dos ungidos por ele enfrentam dificuldades mais amargas do que a eliminação do ex-campeão mundial da Libertadores.

O MPF leva adiante investigação sobre o poder de indicar executivos heterodoxos para gerir dinheiro público de uma amiga íntima de Lula, Rosemary Noronha, que, nomeada por ele, chefiou o escritório da Presidência da República em São Paulo. Em Portugal, o ex-premier José Sócrates, preso, responde por suspeita de protagonizar o escândalo dos sanguessugas. No processo, o colega brasileiro é citado, e não pelo feito de ser autor do prefácio de seu livro sobre tortura.

Relatam os repórteres que o preocupa mais a eventual delação premiada de Pessoa, cuja empresa tinha há sete meses R$ 10 bilhões em contratos ativos com a Petrobrás. Se este contar por que chefiava os maiores tocadores de obras de Pindorama, aí, quem sabe, a vaca tussa e a porca torça o rabo.

Publicado no Estadão - JOSÉ NÊUMANNE