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quarta-feira, 19 de abril de 2023

Ingênuo ou megalômano? [NA VERDADE, É BURRICE, IGNORÂNCIA.]

Lula assume posição favorável à Russia na guerra contra a Ucrânia TV Brasil/ Reprodução
O presidente Lula é ingênuo ou megalomaníaco? Na revista inglesa The Economist, e em diversas abordagens de jornais dos Estados Unidos, a possibilidade de o presidente brasileiro ser ingênuo tentando ter influência nos “grandes temas políticos em que tem pouca ou nenhuma” é a mais aventada. 
Essa obsessão de Lula de se tornar um líder internacional sem resolver as questões internas do país que governa é antiga, talvez convencido pelo então presidente Barack Obama, que o classificou como “o cara” numa reunião internacional. 
 
Mas Obama se arrependeria mais tarde. No último ano de seu segundo mandato, o Brasil tentou intermediar um acordo nuclear entre Irã e Estados Unidos, coadjuvado pela Turquia, mas ele foi rejeitado pelos americanos. 
O governo brasileiro divulgou uma carta que o presidente americano enviara a Lula querendo provar que o governo dos EUA fugia de compromissos assumidos.
Só que na carta de Obama estava definido que o Irã deveria “reduzir substancialmente” seu estoque de urânio de baixo enriquecimento na transição para o acordo internacional. 
Como Brasil e Turquia permitiam que o Irã continuasse a enriquecer urânio por um ano antes dessa transição, o governo americano recusou o acordo, fechado mais adiante. 
 
Em 22 de julho de 2010, em meio a uma crise causada pelas acusações do ex-presidente colombiano Álvaro Uribe na OEA de que guerrilheiros das Farc tinham estabelecido bases e se escondido atrás da fronteira venezuelana, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciou o rompimento das relações diplomáticas entre os dois países. 
O Brasil se ofereceu para intermediar um acordo, mas foi vetado pela Colômbia por não ter imparcialidade para tal.  
Hoje, depois de ter assumido uma posição descabida a favor da Rússia na guerra com a Ucrânia, o país perdeu completamente a capacidade de participar de um “grupo de países a favor da paz”.  
Não tem cabimento afirmar que a guerra existe por culpa do país invadido, a Ucrânia. 
O raciocínio parece baseado em pílulas de sabedoria de mesa de bar, onde Lula pretendia resolver a questão “tomando uma cervejinha”. 
 Quando um não quer, dois não brigam, raciocina simploriamente Lula. 
 
Há um antiamericanismo infantil na esquerda brasileira, que não distingue um governo democrata, como o de Biden, de um republicano radical, como o de Trump. O acrônimo mais famoso das últimas duas décadas, Bric —criado em análise do Goldman Sachs do final de 2003 unindo as iniciais de Brasil, Rússia, Índia e China - mais tarde entraria a África do Sul, passando a ser conhecido como Brics -, países que estariam no topo da economia mundial nos próximos 50 anos —, está em franca decadência há bom tempo. 
Pelo estudo, o Brasil seria a quinta economia do mundo, medida pelo Produto Interno Bruto. Para chegar lá em 2050, teria de crescer em média 3,6% por 50 anos. Mas tem crescido à média de 2,5% nos últimos 40. Essa performance nos tem valido a classificação de “eternos emergentes”, mais desagradável que “país do futuro”. 
 
Até agora, as discussões no Brics têm sido dominadas por temas que dividem os integrantes: a representação mais ampla dos países emergentes nas organizações estabelecidas depois da Segunda Guerra Mundial e a questão do protecionismo, especialmente na agricultura. 
Dois deles, China e Rússia, estão entrincheirados entre os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. 
E, no tema do protecionismo, a divisão ocorre em outras linhas, porque o Brasil busca apoio aos seus produtos agrícolas, e China e Índia têm o interesse de resguardar sua agricultura familiar. 
A oposição aos Estados Unidos pode uni-los, mas, neste novo mundo geopolítico desenhado pela crise internacional, ainda há muitos avanços a ser feitos pelo Brics.[e para f ... , de vez com o Brics - pessoal é 'ferrar' não é a que você pensaram e que certamente seria mais adequada - a presidente do Banco Brics é Dilma Rousseff, ex-presidente 'escarrada' do Brasil e 'engarrafadora de vento'.]
Merval Pereira, colunista - O Globo  
 
 
 

domingo, 29 de março de 2020

O dilema é real - Folha de S. Paulo

 Hélio Schwartsman


Tentar preservar a atividade econômica não é preocupação sem sentido

[FATO:
O Ilustre jornalista inicia o artigo - excelente e incontestável -  chamando o presidente JAIR BOLSONARO de 'alienado'.
Acontece que se o jornalista ler este artigo na TV, no Rádio, em rede nacional, ele será chamado pelos isolacionistas de alienado.
Sugerimos que suas excelências, Ibaneis, Doria, Witzel e seus aspones leiam esta matéria e consigam contestar o que ela apresenta.]


Jair Bolsonaro é um alienado,[sic] mas a preocupação em tentar preservar a atividade econômica não é sem sentido, sobretudo porque não há clareza sobre quanto tempo a crise da Covid-19 pode durar. A normalização de fato só virá se conseguirmos desenvolver uma vacina ou depois que gente o bastante tiver sido infectada e se recuperado, produzindo a tal da imunidade de rebanho.

Precisamos parar quase tudo por um tempo, para tentar reduzir o impacto da primeira onda da epidemia sobre os sistemas de saúde, mas um lockdown não pode durar para sempre
Basta um experimento mental para constatá-lo: 
ignoramos a real letalidade do Sars-Cov-2, que pode ficar em qualquer cifra entre 0,05% e 3%, mas não precisamos de estudos epidemiológicos para saber que a inanição é letal em 100% dos casos.

E o tempo de paralisação importa. Bem antes de chegarmos ao ponto da fome generalizada pelo colapso da produção agrícola -- se ninguém fabricar mais peças de trator, uma hora o campo para --, começaríamos a colecionar mortos por outras causas, como o agravamento de cânceres devido ao adiamento de cirurgias eletivas, doenças associadas à desnutrição nas famílias mais vulneráveis etc. Nem é preciso introduzir elementos financeiros na conta. Há, por definição, um instante em que os óbitos atribuíveis à deterioração econômica superam os da Covid-19.

Ainda que os parâmetros que permitiriam fazer esse cálculo não sejam hoje conhecidos, o dilema entre proteger o sistema de saúde e proteger a economia é real. Precisamos desde já bolar estratégias para tentar retomar a atividade passada a primeira onda. Bons estudos epidemiológicos ajudariam muito. O que torna a posição defendida por Bolsonaro insustentável são as incertezas em relação à epidemia. Um lockdown exagerado sempre pode ser relaxado, mas um desleixo inicial, magnificado pelo poder avassalador da curva exponencial, não tem volta.

Hélio Schwartsman, jornalista - Folha de S. Paulo