O Estado de S.Paulo
Se os fatos não correspondem às versões, danem-se os fatos; Bolsonaro agradece
A realidade e os fatos vão para um lado, a popularidade do presidente Jair Bolsonaro vai para o outro, confirmando que a propaganda é a alma do negócio e que o grande desafio dos governantes em processo de reeleição não é dar bons exemplos, agir estrategicamente e tomar as decisões mais adequadas ao País, mas manter um eleitorado cativo, cooptar o indeciso e atacar sem piedade qualquer tipo de opositor.
[as versões, em sua grande maioria, distorcem os fatos, adaptando-os com a maximização de 'erros', supostamente do governo.
Quem interpreta os fatos é quem os manda se danar.
O que se percebe é sempre considerado realidade e a percepção depende em muito da versão.]
Não importam os princípios, importa o que bate diretamente no bolso. Não
importam os fatos, importam as versões. Os esquemas da família
Bolsonaro, de rachadinhas, funcionários fantasmas e do vício de pagar em
dinheiro vivo escola, plano de saúde e até apartamentos não têm efeito
na popularidade nem na rejeição do presidente. Diminui daqui, soma dali,
o resultado é que Jair Bolsonaro continua sendo o único candidato à
Presidência em 2022 e está em ascensão.
Também não interessa o desempenho trágico do presidente no combate ao
coronavírus, que até aqui matou perto de 110 mil brasileiros. Como não
importam o desmanche do Ministério da Saúde, a disparada das queimadas
na Amazônia, o desdém pelo meio ambiente, o abandono da Educação, a
exclusão da cultura da pauta nacional e a política externa desastrosa.
Sergio Moro, Lava Jato e órgãos de combate à corrupção? Já vão tarde.
Quem está interessado nisso? Em Polícia Federal? Coaf? Receita? PGR? Só
essa mídia “esquerdista”, “petista”, para desmistificar o “mito”. O
“povo” tem mais o que fazer e com o que se preocupar.
[IMPORTANTE: a pesquisa tenta forçar uma resposta desfavorável ao presidente Bolsonaro, mas não consegue.
VEJAMOS:
1 - apresenta duas perguntas sobre a responsabilidade do presidente Bolsonaro pelas mortes resultantes da covid-19 - a pergunta tinha que ser apresentada de forma neutra;
2 - faz outra pergunta tentando atribuir aos governadores a responsabilidade .
CONCLUSÃO: por questionar de forma explícita a responsabilidade de um dos Poderes da União e não questionar a dos outros dois Poderes, a parcialidade, contra o Poder Executivo = presidente BOLSONARO = se torna evidente, indiscutível.
3 - Por uma questão de Justiça deveria constar uma pergunta sobre a responsabilidade do Poder Judiciário e do Poder Legislativo.
Gostem ou não, os dois Poderes praticaram atos que ajudaram e/ou atrapalharam o combate à peste maligna.]
Igualmente pouco importa se Bolsonaro assassinou as promessas de
campanha e voltou à “velha política” e ao Centrão. Os bolsonaristas
raiz, de memória curta, continuam fiéis e o número de desgarrados é
compensado nas pesquisas por outro tipo de rebanho: o dos que precisam
do Estado para sobreviver, até para comer. Para esses, não interessa se
Bolsonaro apenas cedeu ao Congresso, mas sim que é ele quem distribui os
R$ 600 e o socorro a empresas.
Além desse fator objetivo, que muda a percepção no Nordeste e entre os
desempregados e os que ganham até dois salários mínimos, houve também
uma guinada estratégica que estancou a sangria na classe média e entre
os escolarizados: Bolsonaro parou de prejudicar Bolsonaro. [esta é uma das poucas versões que combina com os fatos.] Pôs de lado a
metralhadora giratória contra tudo e todos, saiu das manchetes e
reverteu a curva: deixou de cair, passou a subir.
Portanto, a nova pesquisa Datafolha, apurando que Bolsonaro atingiu o
melhor índice de aprovação desde a posse – 37% - e reduziu sua rejeição
em dez pontos porcentuais – para 34% - pode ter definido dois jogos
internos no governo: a favor de estourar o teto de gastos para vitaminar
a campanha do presidente e, portanto, contra Paulo Guedes.
Se Rogério Marinho, Tarcísio de Freitas e o time militar têm o Datafolha
para convencer Bolsonaro de que gastança garante reeleição, o que
Guedes tem para contrapor? Um crescimento econômico pífio em 2019, antes
da pandemia, e... mais nada. Ah! Mas foi o presidente quem atrapalhou a
reforma tributária e vetou a administrativa! Ok, é verdade. Mas quem
quer saber da verdade, se a versão bolsonarista é que importa?
Moro foi dormir ídolo e acordou Judas, [qualquer traidor ganha o codinome Judas, e o ex-juiz e ex-ministro não seria a exceção.]Luiz Henrique Mandetta era um
poço de popularidade e secou, [o ex-ministro médico, traiu os dois lados:
- o presidente da República nos comícios, que chamavas de entrevistas, quando era contra o seu chefe - criticar o presidente era a regra;
- traiu os seus admiradores quando pregava o isolamento social e se despediu de servidores sem máscara, sem nada do que diz wser essencial para combater a pandemia.] o general Santos Cruz era líder e virou
uma ilha entre militares. Guedes pode ir se preparando. Os “gabinetes do
ódio” (no plural) não atuam só contra críticos e esquerdistas, mas para
apagar a verdade e massificar versões e fake news. As pesquisas depois
colhem o resultado. Descobrem, por exemplo, que Bolsonaro não tem nada a
ver com as 106 mil mortes!!! [por favor !!! quem souber de um só ato - unzinho que seja - do presidente Bolsonaro que atrapalhou, prejudicou, o combate ao coronavírus, por favor, nos informe. Que resultou em uma morte que seja.
Não valem, comentários e opiniões do presidente que não se transformaram em ações.] Bolsonaro e bolsonaristas vão muito bem.
Não se pode dizer o mesmo do Brasil e dos brasileiros.
Eliane Cantanhêde, colunista - O Estado de S. Paulo
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