Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador beatle. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador beatle. Mostrar todas as postagens

sábado, 19 de fevereiro de 2022

A cura da velhice - Dagomir Marquezi

Revista Oeste 

Paul McCartney, num show em Nova Iorque | Foto: Debby Wong/Shutterstock
Paul McCartney, num show em Nova Iorque | Foto: Debby Wong/Shutterstock

“Eu poderia ser útil, consertando um fusível / Quando suas luzes apagarem / Você pode tricotar um suéter ao lado da lareira / As manhãs de domingo são reservadas para um passeio / Cuidando do jardim, arrancando as ervas daninhas / Quem poderia pedir por mais?”

Dia 18 de junho, Paul vai completar 80 anos. E ele não para: compõe, grava discos, protagoniza clipes, produz um filme de animação para a Netflix e prepara novas versões de seus discos Flaming Pie e McCartney. E agora vai voltar à rotina maluca de shows pelo mundo com o tour Got Back, que começa nos Estados Unidos em abril. 

O ex-Beatle é o símbolo do novo “velho”; 80 anos não é mais obrigatoriamente a idade para se mudar para uma casa de repouso. Tem gente, claro, que junta dinheiro para se aposentar aos 60 e passar o resto de seus dias sem fazer nada. Mas essa não é mais a regra. Já não existe mais um limite para a produtividade do ser humano. 

Ter 100 anos já não é tão raro. Kane Tanaka, a pessoa mais velha do mundo, chegou aos 119. Ela quer comemorar seus 120 (em 2 de janeiro de 2023). Credita sua longevidade a alguns fatores: “fé em Deus, família, sono, esperança, boa comida e à prática da matemática”. Imagine que no Império Romano e na Idade Média as pessoas morriam de velhas entre 20 e 30 anos.

Kane Tanaka, a pessoa mais velha do mundo | Foto: Reprodução
O copo cheio
Estamos nos movendo para viver cada vez mais. E até mesmo viver para sempre. Poderá chegar o momento em que a velhice seja considerada uma doença. E, como as outras doenças, se tornar evitável e reversível. Podemos chegar a um ponto em que as pessoas não morram mais. Mas isso ainda é uma ideia distante. E eticamente discutível.

O objetivo por enquanto não é a vida eterna. É a chamada healthspan”. Ou seja: o número de anos que as pessoas podem viver bem, sem doenças. Pesquisas estão buscando esse aumento de tempo em que o ser humano não envelheça, ou envelheça o mínimo possível. 

A revista britânica Science Focus, da BBC, dedicou uma capa a essa possibilidade com a chamada “Por que não temos mais que envelhecer”. Segundo a reportagem da BBC, 80% da população mundial acima dos 65 anos de idade possui algum tipo de doença crônica; 68% dessa população possui duas ou mais doenças crônicas. 

Nos próximos 30 anos, calcula-se que o número de pessoas acima de 65 anos vai duplicar e chegar a 1,5 bilhão. Ou seja: pelas atuais condições, 1,2 bilhão de pessoas vão ter uma doença crônica. Pouco mais de 1 bilhão terá duas ou mais. Podemos ver esses números do jeito “copo meio vazio”: vamos precisar de muito dinheiro para aposentadorias e serviços médicos especializados para idosos. 

Ou, como Jim Mellon, presidente da empresa Juvenescence, enxergar o “copo meio cheio”: “Se nós tivermos uma droga que some mais um ou dois anos à duração da vida, teremos trilhões de dólares a mais na economia mundial, porque as pessoas serão produtivas por mais tempo e não teriam todas essas morbidades que custam tanto aos nossos sistemas de saúde”.

Os nove passos para o envelhecimento
O envelhecimento é o maior fator de risco para o câncer e para doenças cardiovasculares e neurodegenerativas. A reportagem da Science Focus lista nove passos que fazem a velhice se tornar um gatilho para doenças:
  1. o DNA se torna instável, possibilitando a ocorrência de mutações;
  2. as células têm mais dificuldade para se comunicar umas com as outras;
  3. as pontas dos cromossomos, conhecidas como telômeros, começam a se desfazer;
  4. células velhas e desgastadas se acumulam e causam danos;
  5. pequenas “baterias” celulares, chamadas mitocôndrias, tornam-se defeituosas;
  6. células-tronco, que podem ajudar a reparar o tecido, ficam esgotadas;
  7. ocorrem mudanças epigenéticas — alterações químicas que não afetam a sequência de DNA, mas afetam a atividade do gene;
  8. as células se tornam menos capazes de produzir e manter proteínas-chave;
  9. a detecção de nutrientes torna-se falha.

A teoria em desenvolvimento parte de um princípio simples: se você corrigir esses nove problemas, poderá prevenir ou adiar muitas das doenças associadas com a velhice. Pesquisadores estão procurando o caminho para essa nova era.

Ressacas e telefonemas de gente chata
A Universidade de Connecticut tem um Centro de Estudos sobre Envelhecimento. Células envelhecidas foram transplantadas para ratos — e a saúde deles decaiu. Em seguida, os pesquisadores usaram nas cobaias um coquetel de duas drogas senolíticas: quercitin e desatinib. As células “rebeldes” foram destruídas. Os ratos se tornaram mais robustos. Desenvolveram músculos mais fortes, tornaram-se mais ativos e viveram mais.

Esses ratos receberam as drogas com dois anos de idade. Em termos de idade humana, segundo o doutor Ming Xu, da Universidade de Connecticut, “é o equivalente a uma pessoa iniciar seu tratamento com 70 ou 80 anos e ter sua vida estendida por cinco ou seis anos”. Segundo a Science Focus, os medicamentos usados na experiência são baseados em pigmentos achados em plantas e vegetais e perfeitamente seguros para humanos. Quercitin já é usado como suplemento dietético e o desatinib, como remédio para leucemia.

Outros estudos mostram que drogas senolíticas podem “adiar, prevenir ou amenizar” mais de 40 doenças, incluindo câncer e várias moléstias do coração, fígado, rim, pulmão, olhos e cérebro. Outras consequências positivas estão sob estudos em casos de diabetes, artrite e doença de Alzheimer. Drogas senolíticas, por definição, retardam o envelhecimento das células.

O maior problema de desenvolver esse projeto com rapidez é o fato óbvio de que o envelhecimento humano é lento. E os estudos devem seguir o ritmo desse envelhecimento para chegar a conclusões seguras. Uma saída encontrada para acelerar esses estudos é o Dog Aging Project (Projeto Envelhecimento de Cães), que está sendo desenvolvido nos EUA. Cães envelhecem sete vezes mais rápido que os humanos, o que pode acelerar os resultados. 

O Dog Aging Project acompanha 500 cães em suas casas tomando um remédio chamado rapamycin, que pode esticar suas vidas, com qualidade, por quatro anos “humanos” — que equivalem a 28 anos “caninos”. A experiência, além dos possíveis resultados, inova pelo método: os animais são estudados com maior precisão em seus lares, longe da crueldade e do artificialismo dos laboratórios.

O paradigma médico hoje, segundo a reportagem da Science Focus, é que o envelhecimento ainda é visto como uma inevitabilidade desagradável da vida, “como ressacas e telefonemas de gente chata”. Para que a indústria farmacêutica gere novos medicamentos e tratamentos, é preciso mudar esse paradigma. 

Um grão de sal
Enquanto esse reconhecimento não vem, o jeito é pegar um atalho. O doutor Nur Barzilai, do Instituto de Envelhecimento do Albert Einstein College of Medicine, em New Iorque, deu um jeito de avançar nas pesquisas sem quebrar o velho paradigma. Ele está explorando um remédio para diabéticos chamado metformin. Barzilai se apoia num estudo britânico de 2014 que mostra que, entre 150 mil pessoas estudadas, os diabéticos que tomavam metformin viviam mais tempo que os não diabéticos que não o tomavam.

Barzilai hoje faz parte de um projeto chamado Tame, que quer dizer Targeting Aging with Metformin (algo como “Atirando no Envelhecimento com Metformin”). Durante quatro anos, 3 mil adultos entre 65 e 80 anos que não possuem diabetes vão receber metformin. O objetivo é observar a capacidade da droga em adiar doenças relacionadas com a velhice. Ou seja, conferir se a metformin é capaz de prolongar nossas vidas. Os usuários de Viagra sabem que essa não seria a primeira vez que um remédio para uma causa acaba resolvendo outro problema.

Teremos mais chances de realizar nossos sonhos levando uma vida saudável e produtiva

Não são apenas drogas genéricas como o metformin que poderão nos fazer viver mais e melhor. A medicina está numa fase de profunda revolução tecnológica que tende a mudar radicalmente as regras do jogo. Veja o exemplo da câmera do tamanho de um grão de sal criada por pesquisadores da Universidade Princeton e da Universidade de Washington. Sua qualidade de imagem equivale a câmeras 500 mil vezes maiores. 

Sua primeira perspectiva de uso era tornar a endoscopia mais simples e menos invasiva. Basta engolir o “grão de sal”. Mas continuando nesse ritmo podemos pensar numa câmera capaz de entrar na nossa corrente sanguínea e registrar o estado de nossas veias e artérias nos mínimos detalhes, como nos filmes Viagem Fantástica e Viagem Insólita.

Continuar lendo

Leia também “A morte lenta da noite”

Dagomir Marquezi, colunista - Revista Oeste

 

terça-feira, 30 de novembro de 2021

Século cancelado - Vozes

Guilherme Fiuza 

Confirmado: o século 21 veio demonstrar como a fascinante cultura de massa pode acabar mal. Os parâmetros de sucesso foram parar num ajuntamento de “likes” – que eventualmente reconhecem valores reais, mas frequentemente consagram imposturas. Em 2001 se despediu do mundo um ser especial que sempre desconfiou da cultura de massa (mesmo ela tendo-lhe dado tudo). Há 20 anos morria George Harrison, o beatle retraído, poupado de viver o século que confirmou toda a sua desconfiança.

Para quem gosta da mentira e de m ...: Volume 1 - Biografia de Lula torna o leitor cúmplice de uma farsa político-intelectual
OMS diz que ainda não está claro se variante ômicron causa doença mais grave

George estava no centro do primeiro fenômeno, ou pelo menos o mais visível, de conexão mundial pela mídia. A beatlemania saiu da Inglaterra para bater recordes de audiência na TV dos Estados Unidos e se espalhar “em tempo real” pelo planeta como nem o cinema americano tinha chegado perto. Com menos de 25 anos de idade, o garoto pobre e tímido de Liverpool já estava rico – e desconfiado do próprio fenômeno que o enriquecera.

Foi o primeiro (e talvez o único) dos “quatro fabulosos” a querer deixar de ser “fab”, ou pelo menos se libertar do que ele considerava a escravidão da beatlemania. Não renegava as conquistas que o fenômeno lhe trouxera. Também se encantou e se divertiu. Mas nunca deixou de olhar para aquilo tudo de esguelha. Para além dos méritos, havia algo incômodo na forma epidêmica de propagação. O arrastão mecânico da cultura de massa. E Harrison nem conheceu o iPhone.

Morreu no dia 29 de novembro de 2001, de câncer no pulmão. Dois anos antes, já com a doença diagnosticada, foi esfaqueado no peito, em sua casa em Londres, por um invasor também proveniente de Liverpool. A exemplo do que aconteceu com John Lennon, assassinado por um fã, Harrison colhia a parte amarga do legado estelar – a tal máquina de sucesso da qual ele tinha suas desconfianças. “Me ajude a escapar desse zoológico”cantou George em “Old brown shoe”, uma de suas grandes canções pelos Beatles que não teve a fama merecida.

É uma canção de amor híbrida e enigmática, como era frequentemente o seu autor, na qual ele buscava o amor certo, ressalvando que o certo é apenas metade do que é errado. São as complexidades da vida que a cultura de massa tende a embotar – e tudo o que deu errado nesse século 21 cheio de moralismo e patrulha é parte do que é certo, ou era para ser, no avanço tecnológico que uniu os povos. Uniu desunindo, talvez dissesse George.

Ele foi o primeiro do grupo a dizer que não queria mais dar shows no auge das turnês que lotavam estádios ao redor do mundo. Não é qualquer um que cogita uma renúncia dessa monta. George Harrison parecia ter uma antena especial para as armadilhas bem apessoadas da humanidade. “O mundo nos usou como desculpa para enlouquecer”, disse ele depois da beatlemania, ao mesmo tempo sério e sorridente, como era sua persona pouco óbvia. Que espaço tem no século 21 um homem pouco óbvio? Nesse mar de cartazes toscos afetando virtudes de fachada?

É bastante significativo que o guitarrista tenha partido em 2001
. George Harrison cancelou o século 21.

Guilherme Fiuza, colunista - Gazeta do Povo - VOZES