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sábado, 28 de janeiro de 2023

Três saídas - Dagoberto Lima Godoy

Os célebres 10 mil “Imortais” da Pérsia sustentaram por mais de dois séculos o poder imperial Aquemênida, até a sua queda perante Alexandre, o Grande. Ao longo da história, muitos outros regimes autoritários se mantiveram incólumes, por certo tempo, valendo-se da couraça de suas guardas palacianas, fortemente armadas e bem remuneradas (com o dinheiro dos impostos extorquidos do povo). 
Por algum tempo, mas não para sempre. Alguns deles terminaram caindo por forças externas, como o de Dario III, mas a maioria acabou se destruindo internamente, tal como o câncer acaba corroendo os organismos mais fortes. 
Somente depois de enfraquecidos pela incompetência na gestão econômica; de incapacitados para manter políticas de pão e circo, na forma de programas assistencialistas; de dilacerados pelas disputas viscerais pelo poder; e de imersos na corrupção foi que a população oprimida pode encontrar formas e meios para derrubá-los, sendo comum que a própria guarda pretoriana se juntasse à revolta (ou até a encabeçasse).
 
Diante dessa retrospectiva histórica, como decifrar o quadro kafkiano da nossa situação política? 
Estamos diante de um governo recém-empossado, detentor de um mandato com roupagem democrática, obtido em pleito validado pelo Poder Judiciário, endossado pelo Poder Legislativo e protegido pelas Forças Armadas. 
Tudo indica que estão postas as condições para a longevidade do regime, não importa a multitudinária inconformidade de metade (no mínimo) da população brasileira, assombrada pela avalanche do socialismo “bolivariano” que ameaça afogar nosso continente.  

Afasto, decididamente, a hipótese de esperarmos que um outro grande Alexandre, travestido de paladino da democracia, venha impedir a consolidação do projeto neocomunista anunciado e proclamado pelo presidente, dito vitorioso nas urnas vulneráveis.  

E, na minha despretensiosa perspectiva, vejo três saídas para impedir que se prolonguem estes tempos de arbítrio, corrupção e dissolução dos costumes mais caros aos brasileiros.

Primeira (ardentemente desejada e de vigência imediata): o novo Congresso Nacional, a empossar-se em fevereiro, assume com patriotismo sua missão perante o povo e, como Poder legítimo, impõe aos demais poderes o restabelecimento do estado de direito, o respeito à lei e a garantia dos direitos individuais consagrados na Constituição Federal.

Segunda (técnica e logicamente previsível, a resultar das diretrizes anunciadas pelo governo): gastos públicos incontrolados, programas sociais e culturais assistencialistas, associados à insegurança jurídica, levam a inflação, aversão a investimentos, falta de crescimento econômico sustentável, crescente insatisfação popular.

Terceira (inevitável, a se manterem a degradação ética da política nacional e a disposição dos atuais governantes de “fazer qualquer coisa” para conservar o poder e concluir a proclamada revolução socialista, neocomunista ou bolivariana): a progressiva consolidação de um sistema cleptocrático, no qual a disputa pelo poder e pelos potins do saque contra o patrimônio público provoque a canibalização das lideranças espúrias.

Desperdiçada a primeira saída, qualquer das duas outras levará, cedo ou tarde, a uma nova oportunidade para que se desmonte - tomara que de uma vez por todas o pervertido sistema político atual, de modo que o poder seja entregue às mãos do povo e aos que melhor o sirvam, com honestidade, lealdade e a devida competência.

Qualquer que seja das três saídas a que ocorra, o que se impõe à cidadania é que se mantenha mobilizada e firme na luta pela liberdade, pela restauração dos direitos constitucionais e pela prevalência da dignidade na vida nacional.

Percival Puggina -  Dagoberto Lima Godoy


sábado, 19 de fevereiro de 2022

A cura da velhice - Dagomir Marquezi

Revista Oeste 

Paul McCartney, num show em Nova Iorque | Foto: Debby Wong/Shutterstock
Paul McCartney, num show em Nova Iorque | Foto: Debby Wong/Shutterstock

“Eu poderia ser útil, consertando um fusível / Quando suas luzes apagarem / Você pode tricotar um suéter ao lado da lareira / As manhãs de domingo são reservadas para um passeio / Cuidando do jardim, arrancando as ervas daninhas / Quem poderia pedir por mais?”

Dia 18 de junho, Paul vai completar 80 anos. E ele não para: compõe, grava discos, protagoniza clipes, produz um filme de animação para a Netflix e prepara novas versões de seus discos Flaming Pie e McCartney. E agora vai voltar à rotina maluca de shows pelo mundo com o tour Got Back, que começa nos Estados Unidos em abril. 

O ex-Beatle é o símbolo do novo “velho”; 80 anos não é mais obrigatoriamente a idade para se mudar para uma casa de repouso. Tem gente, claro, que junta dinheiro para se aposentar aos 60 e passar o resto de seus dias sem fazer nada. Mas essa não é mais a regra. Já não existe mais um limite para a produtividade do ser humano. 

Ter 100 anos já não é tão raro. Kane Tanaka, a pessoa mais velha do mundo, chegou aos 119. Ela quer comemorar seus 120 (em 2 de janeiro de 2023). Credita sua longevidade a alguns fatores: “fé em Deus, família, sono, esperança, boa comida e à prática da matemática”. Imagine que no Império Romano e na Idade Média as pessoas morriam de velhas entre 20 e 30 anos.

Kane Tanaka, a pessoa mais velha do mundo | Foto: Reprodução
O copo cheio
Estamos nos movendo para viver cada vez mais. E até mesmo viver para sempre. Poderá chegar o momento em que a velhice seja considerada uma doença. E, como as outras doenças, se tornar evitável e reversível. Podemos chegar a um ponto em que as pessoas não morram mais. Mas isso ainda é uma ideia distante. E eticamente discutível.

O objetivo por enquanto não é a vida eterna. É a chamada healthspan”. Ou seja: o número de anos que as pessoas podem viver bem, sem doenças. Pesquisas estão buscando esse aumento de tempo em que o ser humano não envelheça, ou envelheça o mínimo possível. 

A revista britânica Science Focus, da BBC, dedicou uma capa a essa possibilidade com a chamada “Por que não temos mais que envelhecer”. Segundo a reportagem da BBC, 80% da população mundial acima dos 65 anos de idade possui algum tipo de doença crônica; 68% dessa população possui duas ou mais doenças crônicas. 

Nos próximos 30 anos, calcula-se que o número de pessoas acima de 65 anos vai duplicar e chegar a 1,5 bilhão. Ou seja: pelas atuais condições, 1,2 bilhão de pessoas vão ter uma doença crônica. Pouco mais de 1 bilhão terá duas ou mais. Podemos ver esses números do jeito “copo meio vazio”: vamos precisar de muito dinheiro para aposentadorias e serviços médicos especializados para idosos. 

Ou, como Jim Mellon, presidente da empresa Juvenescence, enxergar o “copo meio cheio”: “Se nós tivermos uma droga que some mais um ou dois anos à duração da vida, teremos trilhões de dólares a mais na economia mundial, porque as pessoas serão produtivas por mais tempo e não teriam todas essas morbidades que custam tanto aos nossos sistemas de saúde”.

Os nove passos para o envelhecimento
O envelhecimento é o maior fator de risco para o câncer e para doenças cardiovasculares e neurodegenerativas. A reportagem da Science Focus lista nove passos que fazem a velhice se tornar um gatilho para doenças:
  1. o DNA se torna instável, possibilitando a ocorrência de mutações;
  2. as células têm mais dificuldade para se comunicar umas com as outras;
  3. as pontas dos cromossomos, conhecidas como telômeros, começam a se desfazer;
  4. células velhas e desgastadas se acumulam e causam danos;
  5. pequenas “baterias” celulares, chamadas mitocôndrias, tornam-se defeituosas;
  6. células-tronco, que podem ajudar a reparar o tecido, ficam esgotadas;
  7. ocorrem mudanças epigenéticas — alterações químicas que não afetam a sequência de DNA, mas afetam a atividade do gene;
  8. as células se tornam menos capazes de produzir e manter proteínas-chave;
  9. a detecção de nutrientes torna-se falha.

A teoria em desenvolvimento parte de um princípio simples: se você corrigir esses nove problemas, poderá prevenir ou adiar muitas das doenças associadas com a velhice. Pesquisadores estão procurando o caminho para essa nova era.

Ressacas e telefonemas de gente chata
A Universidade de Connecticut tem um Centro de Estudos sobre Envelhecimento. Células envelhecidas foram transplantadas para ratos — e a saúde deles decaiu. Em seguida, os pesquisadores usaram nas cobaias um coquetel de duas drogas senolíticas: quercitin e desatinib. As células “rebeldes” foram destruídas. Os ratos se tornaram mais robustos. Desenvolveram músculos mais fortes, tornaram-se mais ativos e viveram mais.

Esses ratos receberam as drogas com dois anos de idade. Em termos de idade humana, segundo o doutor Ming Xu, da Universidade de Connecticut, “é o equivalente a uma pessoa iniciar seu tratamento com 70 ou 80 anos e ter sua vida estendida por cinco ou seis anos”. Segundo a Science Focus, os medicamentos usados na experiência são baseados em pigmentos achados em plantas e vegetais e perfeitamente seguros para humanos. Quercitin já é usado como suplemento dietético e o desatinib, como remédio para leucemia.

Outros estudos mostram que drogas senolíticas podem “adiar, prevenir ou amenizar” mais de 40 doenças, incluindo câncer e várias moléstias do coração, fígado, rim, pulmão, olhos e cérebro. Outras consequências positivas estão sob estudos em casos de diabetes, artrite e doença de Alzheimer. Drogas senolíticas, por definição, retardam o envelhecimento das células.

O maior problema de desenvolver esse projeto com rapidez é o fato óbvio de que o envelhecimento humano é lento. E os estudos devem seguir o ritmo desse envelhecimento para chegar a conclusões seguras. Uma saída encontrada para acelerar esses estudos é o Dog Aging Project (Projeto Envelhecimento de Cães), que está sendo desenvolvido nos EUA. Cães envelhecem sete vezes mais rápido que os humanos, o que pode acelerar os resultados. 

O Dog Aging Project acompanha 500 cães em suas casas tomando um remédio chamado rapamycin, que pode esticar suas vidas, com qualidade, por quatro anos “humanos” — que equivalem a 28 anos “caninos”. A experiência, além dos possíveis resultados, inova pelo método: os animais são estudados com maior precisão em seus lares, longe da crueldade e do artificialismo dos laboratórios.

O paradigma médico hoje, segundo a reportagem da Science Focus, é que o envelhecimento ainda é visto como uma inevitabilidade desagradável da vida, “como ressacas e telefonemas de gente chata”. Para que a indústria farmacêutica gere novos medicamentos e tratamentos, é preciso mudar esse paradigma. 

Um grão de sal
Enquanto esse reconhecimento não vem, o jeito é pegar um atalho. O doutor Nur Barzilai, do Instituto de Envelhecimento do Albert Einstein College of Medicine, em New Iorque, deu um jeito de avançar nas pesquisas sem quebrar o velho paradigma. Ele está explorando um remédio para diabéticos chamado metformin. Barzilai se apoia num estudo britânico de 2014 que mostra que, entre 150 mil pessoas estudadas, os diabéticos que tomavam metformin viviam mais tempo que os não diabéticos que não o tomavam.

Barzilai hoje faz parte de um projeto chamado Tame, que quer dizer Targeting Aging with Metformin (algo como “Atirando no Envelhecimento com Metformin”). Durante quatro anos, 3 mil adultos entre 65 e 80 anos que não possuem diabetes vão receber metformin. O objetivo é observar a capacidade da droga em adiar doenças relacionadas com a velhice. Ou seja, conferir se a metformin é capaz de prolongar nossas vidas. Os usuários de Viagra sabem que essa não seria a primeira vez que um remédio para uma causa acaba resolvendo outro problema.

Teremos mais chances de realizar nossos sonhos levando uma vida saudável e produtiva

Não são apenas drogas genéricas como o metformin que poderão nos fazer viver mais e melhor. A medicina está numa fase de profunda revolução tecnológica que tende a mudar radicalmente as regras do jogo. Veja o exemplo da câmera do tamanho de um grão de sal criada por pesquisadores da Universidade Princeton e da Universidade de Washington. Sua qualidade de imagem equivale a câmeras 500 mil vezes maiores. 

Sua primeira perspectiva de uso era tornar a endoscopia mais simples e menos invasiva. Basta engolir o “grão de sal”. Mas continuando nesse ritmo podemos pensar numa câmera capaz de entrar na nossa corrente sanguínea e registrar o estado de nossas veias e artérias nos mínimos detalhes, como nos filmes Viagem Fantástica e Viagem Insólita.

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Leia também “A morte lenta da noite”

Dagomir Marquezi, colunista - Revista Oeste

 

sábado, 15 de janeiro de 2022

Pesquisadores explicam como exercícios físicos podem ajudar a controlar a ansiedade - O Globo

Estudo realizado na Suécia descobriu que ser fisicamente ativo reduz pela metade o risco de desenvolver o problema  

Um estudo em larga escala com quase 200 mil esquiadores de cross-country, publicado na Frontiers in Psychiatry, descobriu que ser fisicamente ativo reduz pela metade o risco de desenvolver ansiedade clínica ao longo do tempo. Foto: PIOTR REDLINSKI / NYT
Um estudo em larga escala com quase 200 mil esquiadores de cross-country, publicado na Frontiers in Psychiatry, descobriu que ser fisicamente ativo reduz pela metade o risco de desenvolver ansiedade clínica ao longo do tempo. Foto: PIOTR REDLINSKI / NYT

A ciência já oferece muitas evidências encorajadoras de que o exercício pode melhorar nosso humor. Experimentos mostram que quando as pessoas (e animais de laboratório) começam a se exercitar, elas normalmente ficam mais calmas, mais resilientes, mais felizes e menos propensas a se sentir indevidamente tristes, nervosas ou com raiva. Estudos epidemiológicos, que muitas vezes se concentram nas ligações entre um tipo de atividade ou comportamento e vários aspectos da saúde ou longevidade, também descobriram que mais exercícios estão associados a chances substancialmente menores de desenvolver depressão grave. Inversamente, ser sedentário aumenta o risco de depressão.

Leia mais:  Em vez de se preocupar com a dieta em si, treine o cérebro

Saúde mental
Para o novo estudo, que foi publicado na Frontiers in Psychiatry, cientistas do exercício da Universidade de Lund, na Suécia, e outras instituições, decidiram que valeria a pena examinar a saúde mental a longo prazo de milhares de homens e mulheres que participaram do famosa corrida anual de esqui na Suécia conhecida como Vasalopett, em que uma multidão de participantes percorre a distância de 90 km entre Sälen e Mora, na província histórica sueca da Dalecárlia.

Como esse tipo de evento requer saúde, resistência e treinamento abundantes, os pesquisadores usaram dados sobre os corredores do Vasaloppet para estudar como o exercício influencia a saúde do coração, os riscos de câncer e a longevidade.

— Usamos a participação em uma Vasaloppet como um substituto para um estilo de vida fisicamente ativo e saudável — disse Tomas Deierborg, diretor do departamento de medicina experimental da Universidade de Lund e autor sênior do estudo, que completou duas vezes o percurso de 90 km.

Para começar, ele e seus colegas reuniram tempos de chegada e outras informações de 197.685 homens e mulheres suecos que participaram de uma das competições entre 1989 e 2010. Eles então cruzaram essas informações com dados de um registro nacional sueco de pacientes, procurando diagnósticos de transtorno de ansiedade clínica entre os corredores nos próximos 10 a 20 anos. Para comparação, eles também verificaram diagnósticos de ansiedade durante o mesmo período de tempo para 197.684 de seus concidadãos selecionados aleatoriamente que não haviam participado da corrida e eram considerados relativamente inativos.

Os esquiadores, descobriram os pesquisadores, provaram ser consideravelmente mais calmos ao longo das décadas após a competição do que os outros suecos, com mais de 50% menos risco de desenvolver ansiedade clínica. Esse padrão tendia a prevalecer entre esquiadores masculinos e femininos de quase todas as idades— exceto, curiosamente, as corredoras mais rápidas. As melhores finalistas femininas de cada ano tendiam a ser mais propensas a desenvolver transtornos de ansiedade do que outros corredores, embora seu risco geral permanecesse menor do que para mulheres da mesma idade no grupo de controle.

Esses resultados indicam que "a ligação entre o exercício e a redução da ansiedade é forte", disse Lena Brundin, principal pesquisadora de doenças neurodegenerativas do instituto de pesquisa Van Andel, no estado americano do Michigan, que foi outra autora do estudo.

Exercício aeróbico
Segundo Deierborg, não é necessário percorrer, de esqui, longas distâncias nos bosques nevados da Suécia para colher os frutos, disse Deierborg. Estudos anteriores de exercício e humor sugerem que seguir as recomendações da Organização Mundial da Saúde de cerca de 30 minutos de caminhada rápida ou atividades semelhantes na maioria dos dias “tem bons efeitos na sua saúde mental” e esses benefícios parecem se aplicar a uma “população mais ampla”, do que apenas os suecos, disse ele.

Ainda assim, pode valer a pena monitorar sua resposta psicológica a treinos e competições intensos, especialmente se você for uma mulher competitiva.

No entanto, as descobertas têm limitações. Elas não podem provar que o exercício faz com que as pessoas tenham um humor melhor, apenas que pessoas altamente ativas tendem a ser menos ansiosas do que seus pares mais sedentários. O estudo também não explica como o esqui pode reduzir os níveis de ansiedade. Os pesquisadores suspeitam que a atividade física altera os níveis de substâncias químicas cerebrais relacionadas ao humor, como dopamina e serotonina, e reduz a inflamação em todo o corpo e no cérebro, contribuindo fisiologicamente para uma saúde mental mais robusta. Qualquer exercício em qualquer ambiente provavelmente deve ajudar. — Um estilo de vida fisicamente ativo parece ter um forte efeito na redução das chances de desenvolver um transtorno de ansiedade — disse Deierborg.

Em O Globo - Saúde - Bem-estar - MATÉRIA COMPLETA


terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Máscara dupla para cara de pau - Guilherme Fiuza - Gazeta do Povo

Guilherme Fiuza comenta sobre o fascínio de parte da imprensa por “estudos” sem fundamento 

A imprensa sempre gostou de ciência do tipo: comer ovo sem clara pode aumentar a longevidade; soneca pode elevar as chances de obesidade; falar muito no telefone pode estar relacionado à redução da libido, etc. Os “estudos” supracitados foram inventados neste momento aqui mesmo, mas estão baseados em décadas de leitura de chutes da mesma categoria embalados como ciência. Agora projeta isso para uma situação de pandemia.

Vale observar que epidemias em geral também sempre se tornaram acontecimentos muito especiais na imprensa. Em parte pelo papel importante de informação sobre riscos, cuidados e atendimento, em parte pelo papel lamentável de especulação sobre riscos, cuidados e atendimento. Parece ser uma característica inerente ao ser humano: diante de qualquer perigo disseminado e invisível – como são os vírus o poder do controle coletivo (para o bem ou para o mal) sobe à cabeça.

China trai seu acordo com o Vaticano

Um cantor conhecido foi preso na periferia do Rio de Janeiro porque deu um show e, segundo a conjunção científica das manchetes e da polícia, cometeu o crime de colocar em risco as vidas das pessoas que se reuniram para assisti-lo. 
Por esse critério, todos os donos de ônibus, prefeitos e governadores do Brasil tinham que estar presos. Eles permitiram aglomerações em escala muito maior nos transportes coletivos, por muito mais tempo. E aí, cadê as manchetes científicas?

Ninguém sabe, ninguém viu. Na quarentena vip, as notícias são de que o mundo lá fora está acabando, mas você vai se salvar ficando em casa. Empatia é tudo.  Aí aparece o badalado Dr. Fauci, que é uma espécie de fornecedor de manchetes apavorantes, avisando que agora o negócio é usar duas máscaras. Sim, isso mesmo: uma máscara em cima da outra. E ele não estava falando do carnaval. Em qualquer conjuntura mais ou menos sadia isso seria considerado um escárnio. Mas a notícia circulou tranquilamente com cara de diretriz científica e foi consumida como tal. Como assim? Se uma máscara não funciona, ela não deveria ser substituída por uma que funcione?

Não. Segundo a moderna literatura científica fast food, a junção de duas barreiras que não barram desencoraja o coronavírus. Com toda certeza essa diretriz fará muito bem à saúde dos vendedores de máscaras vagabundas.  Tome vacina, use máscara e fique em casa. Grande política sanitária propagada pela grande imprensa – na mesmíssima linha dos critérios hollywoodianos do Dr. Fauci. É isso aí: várias medidas ineficazes juntas haverão de prover a devida eficácia
As vacinas são experimentais, foram liberadas após cerca de seis meses de testes e não têm estudos suficientes em idosos, conforme atestou no Brasil a Agência Nacional de Vigilância Sanitária. 
Mas esse detalhe não constrange absolutamente médicos e jornalistas que propagam a imunização como panaceia.

Existe panaceia de eficácia duvidosa? Na dúvida, use máscara. Ou melhor, use duas máscaras. E lockdown na veia. O lockdown indiscriminado não tem resultado nenhum contra covid, conforme acaba de atestar novo levantamento do epidemiologista John Ioannidis em Stanford feito em dez países, mas pelo menos você não vai preso. Já é alguma coisa.

Veja Também: Decálogo da folia científica

Plataformas de rede social censuram informações sobre terapêuticas antivirais com estudos promissores, porque ciência é só máscara fajuta, vacina incipiente e quarentena burra. Tudo bem. Então vamos continuar divulgando aqui também nossos estudos científicos: além da clara de ovo, da soneca e do celular, cuidado com a imprensa marrom. Dependendo da quantidade diária de manchetes que consumir, você tem até 99,9% de chance de virar um idiota.

Guilherme Fiuza, jornalista - Gazeta do Povo - VOZES


sábado, 14 de dezembro de 2019

O papel da inclusão social - Merval Pereira

O Globo

A crise do Chile, ainda em progresso, foi surpreendente não apenas para as autoridades do país, mas para todos aqueles que apontavam a experiência democrática chilena como exemplar para o desenvolvimento econômico e social de seus pares regionais. Líder entre seus iguais, o Chile é o único membro da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) da região, que reúne os países democráticos mais desenvolvidos do mundo, situação a que Brasil e Argentina aspiram.

 A inflação chilena está em torno de 2%, abaixo da meta prevista, a desigualdade de renda vem caindo desde o retorno à democracia em 1990, com o índice de Gini, que a mede, saindo de 0, 57 para 0,46 em 2017. O do Brasil ficou em 0,62 em março deste ano. Como o número mais próximo de 1 representa maior desigualdade, é possível notar que o Chile, embora seja muito desigual, mais que a Argentina e Uruguai, por exemplo, não é o pior da região.

] O embaixador do Chile no Brasil, Fernando Schmidt, constata, no entanto, que bons indicadores econômicos já não são suficientes para os chilenos, que querem uma distribuição melhor da renda nacional. Não há, portanto, uma explicação única para o que está acontecendo no Chile, mas um conjunto de fatores que provoca o que o psicanalista Joel Birman classifica de crise psíquica causada pelo neoliberalismo econômico, categoria em que inclui até mesmo a sociedade chinesa.

As pessoas que não conseguem produzir dentro das exigências capitalistas se sentem alijadas socialmente. O modelo de capitalização previdenciária, que o ministro da Economia Paulo Guedes queria reproduzir no país, é uma das causas de insegurança quanto ao futuro que no momento atual chegou a um clímax, pois os baby boomers, geração nascida depois da Segunda Guerra Mundial, começam a se aposentar com o sistema privado de previdência.

Paradoxalmente, a saúde financeira do país e a queda dos juros criaram problemas novos. A longevidade, conseqüência do sucesso do desenvolvimento, provoca uma lacuna entre o que se consegue poupar durante o período ativo e o que se precisa para viver mais 20 anos depois de aposentarA taxa de desemprego é de cerca de 7%, mas, à semelhança nossa, cerca de 1/3 da força de trabalho é de empreendedores ou trabalha na informalidade. Mesmo entre os trabalhadores formais, muitos têm empregos intermitentes. E o desemprego entre os jovens e as mulheres é dos mais altos entre os países da OCDE.

 Birman diz que o “empresário de si próprio” é uma característica da sociedade neoliberal, que exige produtividade do cidadão em troca de quase nenhuma segurança social. O embaixador chileno Fernando Schmidt chama a atenção para esse fator na crise chilena, lembrando que o governo já reconheceu falhas nos sistemas de proteção social, que serão revistos, e nos serviços públicos.
São os mesmos problemas que tivemos aqui, a partir das manifestações de 2013, ocasionadas também por um aumento do preço dos transportes públicos. Uma faísca que desencadeou manifestações das insatisfações latentes da população. Essa é uma situação social comum ao mundo atual.

Com o surgimento do “capitalismo de Estado”, capitaneado pela China, a relação direta entre democracia e capitalismo já não é mais uma variável tão absoluta quanto parecia nos anos 80 e 90 do século passado. A democracia está posta em xeque também pela desigualdade econômica exacerbada em países como o nosso. O relatório de 2018 do Latinobarômetro mostra que a percepção de retrocesso na região é a mais alta desde que a pesquisa começou a ser feita, em 1995.

Apenas 20% dos latino-americanos acreditam que seus países estão progredindo, o que leva ao crescimento do número de cidadãos que se declaram indiferentes ao tipo de regime que governa seus países, a maior fonte que alimenta o surgimento de populismos. Por outro lado, pesquisa, apresentada no Instituto Fernando Henrique Cardoso pelo francês Dominique Reynié, da Fundação para a Inovação Política (Fondapol), mostrou que a democracia é o regime preferido em 42 países pesquisados na sondagem internacional que ouviu 35.000 pessoas no estudo “Democracias sob Tensão”.
Mas é preciso crescimento econômico com inclusão social

Merval Pereira, colunista - O Globo


terça-feira, 27 de agosto de 2019

Maia passa de defensor a matéria-prima de Dodge - UOL



['primeiro-ministro Maia' pode fazer companhia ao ex-deputado Eduardo Cunha. 

Cunha foi preso, após ter suspenso seu mandato de deputado (punição aplicada, apesar de não prevista no ordenamento legal brasileiro) e ser defenestrado da presidência da Câmara.]


Rodrigo Maia, o presidente da Câmara, é um dos mais ferrenhos defensores da recondução de Raquel Dodge ao cargo de procuradora-geral da República. Não conseguiu seduzir Jair Bolsonaro. E ainda virou matéria-prima para a chefe do Ministério Público Federal. Dodge foi instada pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo, a decidir se oferecerá ou não denúncia contra Maia, acusado de receber da Odebrecht verbas de má origem. 

Relatório enviado ao Supremo pela Polícia Federal concluiu que o presidente da Câmara e seu pai, o vereador do Rio de Janeiro Cesar Maia, praticaram os crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e caixa três. Os investigadores sustentam que a dupla recebeu por baixo da mesa R$ 1,6 milhão nas eleições de 2008, 2010 e 2014. Identificado nas planilhas da Odebrecht como "Botafogo", Maia nega as acusações. [Lula também nega, quando diz ser inocente.]

O processo foi enviado a Dodge na última sexta-feira (23). Fachin deu um prazo de 15 dias para que ela se manifeste. Como o mandato da procuradora-geral termina em 18 de setembro, só haveria uma forma de transferir a incumbência para o eventual sucessor: requisitando diligências complementares. Algo que desagradaria Fachin, incomodado com a longevidade do processo.

Blog do Josias - Josias de Souza - UOL

sexta-feira, 12 de julho de 2019

A reforma da Previdência e o mito do “almoço grátis”

A ciência econômica é conhecida como “a ciência da escassez”, ou ainda como “a ciência triste”

De fato, há 250 anos, desde a publicação do clássico A riqueza das nações, de Adam Smith, a ciência econômica se propõe um objetivo que é, no mínimo, desafiador: busca equacionar as necessidades ilimitadas dos seres humanos com a escassez dos recursos disponíveis na natureza e na sociedade. Eu ouso dizer que a maior parte da dificuldade em se compreender a necessidade de reformas econômicas fundamentais para a retomada do desenvolvimento econômico do nosso país – como, por exemplo, a reforma previdenciária – é a dificuldade em perceber algo que deveria ser evidente: os recursos disponíveis são insuficientes para atender as necessidades humanas, que são virtualmente ilimitadas, e que, dado este contexto, devemos fazer escolhas, a maioria delas difíceis, porque requerem sacrifícios, ou seja, porque ao fim e ao cabo alguém terá de pagar a conta, mesmo que não perceba. E o fato é que ninguém quer pagar a conta, embora alguém tenha de pagá-la.

É do economista Milton Friedman a famosa frase “não existe almoço grátis”. 
 Alguém sempre está pagando. Mesmo que você não pague o seu almoço, alguém o está fazendo. Muitas pessoas, por exemplo, se queixam dos elevados preços das tarifas dos transportes públicos. De fato, elas são realmente altas. Grande parte deste valor se deve à grande quantidade de gratuidades, isenções e “meias passagens”, pois as empresas majoram o valor das passagens inteiras para preservar o seu equilíbrio económico-social. O mesmo fenômeno se dá nas famosas “meias entradas do cinema”. A existência das meias entradas para uma grande fatia do público leva à majoração do preço da passagem inteira, novamente para preservar o equilíbrio econômico-financeiro das empresas. Não estou aqui dando um juízo de valor. Há argumentos a favor e contra as gratuidades e as “meias” entradas e passagens; o que eu quero dizer é que, sempre que se concede determinado direito a uma fatia da população, isso necessariamente implicará em um dever a uma outra parte. A criação de um direito (por exemplo, o direito ao passe livre estudantil) automaticamente cria uma obrigação (a majoração do preço da passagem e dos subsídios estatais – e por tabela, dos impostos – para financiar este direito).

É a dificuldade em compreender este simples fenômeno econômico (a escassez da riqueza) que bloqueia, na maior parte da população, o entendimento da necessidade e da urgência de uma reforma previdenciária. Temos uma dívida pública crescente que nem sequer amortizamos há seis anos, ou seja, desde 2013. O máximo que fazemos com a dívida é a chamada "rolagem": o governo paga a dívida velha emitindo uma dívida nova. É como se uma pessoa física tomasse um novo empréstimo para pagar o empréstimo que está vencendo hoje. Evidentemente, esta operação implica em um crescimento da dívida, pelo fenômeno dos juros compostos, e tem um limite: a disposição do credor em refinanciar o pagamento da dívida com novos empréstimos. Pois bem: esta é a situação do Brasil no exato momento, pois a última vez que amortizamos a nossa dívida foi em 2013, e desde então só a rolamos. Por que isso acontece? Porque o governo brasileiro, desde 2014, é incapaz de economizar de forma a gerar superávits primários para amortizar a dívida pública; pelo contrário, o governo vem tendo seguidos déficits primários, ou seja, o governo, desde 2014, vem recorrendo ao mercado financeiro para conseguir financiar a totalidade das despesas.

Se não aceitarmos agora, como sociedade, os custos necessários para reformar a nossa Previdência Social, uma catástrofe econômica se-nos avizinhará

Vejamos o quanto é dramática a situação fiscal do Brasil: arrecadamos mais de R$ 1,3 trilhão em impostos, e este ano ainda precisamos pedir ao Congresso autorização para emissão de crédito suplementar no valor de R$ 248,9 bilhões para pagar aposentadorias, benefícios de prestação continuada e Bolsa Família. É dramático que o governo federal, além de não conseguir amortizar a sua dívida, recorra ao mercado financeiro para pagar gastos correntes como o Bolsa Família. Poucos entendem o de fato que foi este pedido. Vi muitas pessoas achando que o governo foi pedir ao Congresso um “crédito” de R$ 248,9 bilhões. De onde sairia este dinheiro? Dos impostos já veio R$ 1,3 trilhão. Seriam novos impostos? Se sim, isto não seria um “crédito”. Não, o governo não foi pedir crédito nenhum ao Congresso, até porque o Congresso não tem esse recurso, pela simples razão de o governo não produzir riqueza. O governo foi pedir ao Congresso, conforme manda a Constituição, autorização para ir ao mercado financeiro captar esse valor pela da emissão de novas dívidas.

Por que chegamos nesta situação catastrófica? Por uma razão simples: porque a nossa demografia mudou radicalmente e a nossa Previdência Social foi concebida de forma que os trabalhadores ativos sustentem os inativos (os aposentados). Este modelo foi concebido num momento no qual a taxa de natalidade era muito maior do que a atual, e a longevidade, muito menor; logo, a proporção de trabalhadores ativos para inativos era, portanto, muito maior do que é atualmente.

O dinheiro da Previdência não nasce por geração espontânea: vem da contribuição dos trabalhadores ativos, dos impostos, e eventualmente (como atualmente) da emissão de dívidas por parte do governo. O problema é que, com a forte queda da taxa de natalidade e o aumento significativo da longevidade, a Previdência Social do Brasil tem se tornado cada vez mais deficitária e, o que é pior, o déficit previdenciário avança em proporção geométrica. Atualmente, os gastos com Previdência já somam 58% do orçamento federal. Se nada for feito, em breve este número chegará a 100%. Será impossível financiar a educação, a saúde, a segurança pública, investir, e muito menos pagar a dívida pública.

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Ou seja, não reformar a Previdência Social será o caminho para o caos, bastante exemplificado pela situação da Argentina e, de forma muito mais grave, pela situação da Venezuela. A Argentina tem hoje uma inflação de 57% ao ano. Isto significa que em apenas 12 meses a moeda argentina perdeu 57% do seu poder de compra. No caso da Venezuela, onde a inflação em 12 meses está em cerca de 1.500.000%, o poder de compra da moeda literalmente foi reduzido a zero e boa parte da economia já se encontra, na prática, dolarizada. Isto é o que pode acontecer no Brasil se o governo não reformar a Previdência: uma explosão hiperinflacionária. Sem poder pagar a dívida, dará o calote em seus credores, o que fará com que estes simplesmente parem de financiar o governo. A alternativa é o aumento de impostos, mas a nossa carga tributária já é altíssima e aumentá-la pode deprimir ainda mais a nossa economia, o que fará a arrecadação do governo cair em vez de subir.

Como o governo detém a senhoriagem, ou seja, o poder de emitir moeda, poderia passar a emitir moeda para financiar as suas despesas, como fazem Argentina e Venezuela hoje. Mas a moeda não existe no vácuo: a moeda é a representação da riqueza e dos bens produzidos na sociedade. Se o governo começa a emitir moeda para financiar seus gastos crescentes sem o lastro necessário (ou seja, sem aumento na produção de riqueza), isto vai gerar um desequilíbrio entre os meios de pagamento disponíveis na sociedade e os respectivos bens e serviços, que permanecem praticamente os mesmos frente ao crescente volume de moeda disponível. Como a moeda é essencialmente uma relação, um aumento de disponibilidade monetária sem uma concomitante criação de riqueza (ou seja, uma expansão do PIB) vai gerar uma desvalorização da moeda, uma diminuição do poder de compra. Isto é o que acontece na Argentina, onde o governo financia os chamados “déficits gêmeos”, com a emissão de moeda, e de forma espetacularmente dramática na Venezuela, onde o Banco Central do país cria dinheiro literalmente do nada para financiar os seus gastos sociais. O resultado dessa loucura financeira é uma desvalorização brutal do poder de compra da moeda, que perdeu 99,99% do seu valor, e o empobrecimento geral da nação, com a redução de 94% da população à pobreza, com cenários distópicos e apocalípticos, como pessoas comendo lixo, bebendo esgoto, matando cães e gatos de rua (e até mesmo pombos) para comer. Isto naquele que outrora foi o país mais rico da América Latina.

Como vimos, não existem soluções fáceis. Daí a “tristeza” da ciência econômica. As necessidades são ilimitadas, mas os recursos são escassos e finitos, e justamente por isso urge fazer escolhas, a maioria das quais exige sacrifícios. Atalhos populistas como os da Venezuela, mais cedo ou mais tarde, sempre levam ao fracasso com custos sociais altíssimos. Porque de fato não existe almoço grátis. Alguém sempre acaba pagando, mais cedo ou mais tarde, de uma forma ou de outra. Se não aceitarmos agora, como sociedade, os custos necessários para reformar a nossa Previdência Social, uma catástrofe econômica se-nos avizinhará, e os custos sociais a serem pagos serão infinitamente maiores do que os exigidos pela atual proposta da reforma. A Venezuela está aí, bem diante dos nossos olhos, para que possamos ver, e nos precaver enquanto é tempo. Quando alguém vê as barbas do vizinho ardendo, a sabedoria popular recomenda pôr as suas de molho.

Publicado na Gazeta do Povo - Dimitri Martins, mestre em Administração e especialista em Gestão Pública, é analista de Políticas Sociais no Ministério da Economia.