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segunda-feira, 14 de outubro de 2019

O capitão quer guerra - O Globo

Bernardo Mello Franco

DISCURSOS DE BOLSONARO

Jair Bolsonaro quer guerra. Na sexta-feira, o capitão participou de uma solenidade no Complexo Naval de Itaguaí. Diante de operários e oficiais da Marinha, fez mais um discurso em tom de combate. “Temos inimigos dentro e fora do Brasil. O de dentro são os mais terríveis. O de fora nós venceremos com tecnologia e disposição, e meios de dissuasão”, afirmou. [É DEVER do presidente da República, das autoridades constituídas e mesmo de qualquer cidadão brasileiro alertar para os inimigos que rondam o Brasil - inimigos que sempre estão presente, não só no Brasil, os inimigos podem até mudar conforme o país onde estão, mas sempre existem -  e também combatê-los.]

O Brasil já teve um presidente que se sentia perseguido por “forças terríveis”. Agora é comandado por um ex-militar que vê perigos em toda parte. A retórica de Bolsonaro expõe uma personalidade viciada em confronto. No último dia 2, no Planalto, ele falou em “dar a vida pela pátria”. “Não nos esqueçamos que o inimigo está aí do lado, o inimigo não dorme”, advertiu. [alguns podem até se espantar quando um militar, ou mesmo um ex-militar, considera algo absolutamente normal dar a vida pela Pátria;

os militares estão ligados por juramento ao solene compromisso, diante da Bandeira Nacional, de dar a vida pela Pátria = compromisso que não se extingue quando, por qualquer razão, passa à condição de ex-militar (exceto se a razão for traição à Pátria);
aliás, este compromisso se estende a todos os brasileiros, ainda que nunca tenham sido militares - por enquanto, apenas os do sexo masculino - visto que é regra o reservista prestar solene juramento à Bandeira Nacional, assumindo o compromisso em comento.]
 
Em agosto, no QG do Exército, jurou “lealdade ao povo” e conclamou o povo a “marchar para o sucesso”. “Não nos faltam é inimigos como os de sempre, que teimam em ganhar a guerra de informação contra a verdade”, afirmou. Na ausência de guerras reais, o presidente se dedica a fabricar inimigos imaginários. No início do governo, a ameaça viria dos comunistas, que estão em extinção desde a queda do Muro de Berlim. Em seguida, foi a vez de estudantes, professores, artistas e jornalistas.
Com a onda de queimadas na Amazônia, entraram na mira cientistas e ambientalistas que alertam para os riscos de destruir a floresta. [fenômeno sazonal que ocorre este ano, correu nos anteriores e ocorrerá nos vindouros.] Depois a fúria se voltou contra líderes da centro-direita europeia, como Angela Merkel e Emmanuel Macron. [qual presidente de uma nação soberana não se sente ofendido e reage com firmeza e veemência, quando um presidente de um país, especialmente no caso do Macron com viés colonialista, sugere internacionalizar parte do território nacional?] 
 
A pregação contra “inimigos internos” é usada por todo regime autoritário. Na ditadura brasileira, o conceito fazia parte da doutrina de segurança nacional. Servia para simular um ataque iminente e justificar a repressão feroz aos opositores. No caso de Bolsonaro, a estratégia se mistura a uma tendência à paranoia. Nos últimos tempos, o capitão passou a enxergar inimigos até nas próprias bases. Personagens como o cantor Lobão e o deputado Alexandre Frota, que o apoiaram com fervor, viraram desafetos do governo. Agora o alvo é o PSL, o partido do clã presidencial. Aliados que resistem à nova cruzada, como o senador Major Olímpio, estão prestes a entrar na lista dos proscritos.

Bernardo Mello Franco, jornalista -  Blog em O Globo


terça-feira, 18 de outubro de 2016

Lula é psicopata, criminoso e deve ser preso, detona Lobão

Lobão fez 59 anos na terça-feira 11, véspera do Dia da Criança. “Vai ter muita língua de sogra”, avisou o músico, dias antes, afiado na ironia. Há tempos o cantor solta a língua em declarações implacáveis contra o PT. Após as eleições municipais, não foi diferente. O músico não votou, mas fez campanha para João Doria Jr. (PSDB) em São Paulo nas redes sociais. “Moro em São Paulo há sete anos, mas meu título está no Rio. Sequer pensei em mover meu bumbum para votar lá por falta de opção”, diz. Na metralhadora giratória do autor de “Vida Bandida”, poucos são poupados. Ele só elogia Sérgio Moro. Não escapam Lula, Dilma Rousseff, Gilberto Gil e até Chico Buarque. “É assustador ver o Chico Buarque declarando ‘vamos fazer uma nova junção da esquerda’. Esse cara come capim.”  Lobão contou ter sido convidado por Janaína Paschoal, co-autora do pedido de impeachment, para assistir ao julgamento da ex-presidente, tal como Chico que acompanhou Lula. “Meu gatinho estava morrendo e não ia sair de perto dele por nada”, diz ele, que lançou este ano o disco “O Rigor e a Misericórdia”. “É o disco mais bem gravado da minha vida.”




Como avalia o Brasil pós impeachment e pós-eleições?
As urnas foram muito eloquentes. Houve uma rejeição total ao PT, ao mito Lula, a Dilma. E deu ainda um recado: golpe não cola.  No caso mais específico da eleição do João Doria em primeiro turno, em São Paulo, houve um discurso duro, mas ao mesmo tempo educado, conciliador, amortecendo essa onda de ódio. O discurso da privatização também me chamou a atenção. Era um tabu falar em privatização e virou um trunfo eleitoral. A derrota do PT foi acachapante. Em São Paulo, perdeu em redutos petistas. O PT passou de maior partido do Brasil a um partido nanico. Talvez a esquerda não leve em consideração, mas o Brasil é um país conservador. Há um segmento sectário da esquerda que quer impor uma suposta vanguarda política que é um retrocesso e sempre uma figura de lamentação.

Por que o sr. diz que Lula é um grande enganador?
Toda a narrativa de esquerda é mentirosa. Lula é um psicopata. Psicopata é sedutor, simpático,  causa empatia. Há um livro, “Ponerologia”, de Andrzej Lobaczewski, um psiquiatra polonês. Ele escreveu esse livro no campo de concentração. Ele mostra fabulosamente como acontece a fabricação do poder, do populismo, tanto nazismo quanto socialismo, e ele é feito de duas camadas diferenciadas: o alto da pirâmide é sempre ocupada por psicopatas e a base por histéricos. Os líderes são psicopatas, e a militância é histérica. É um livro básico para entender a coisa da simpatia e da malandragem, do homem do povo, dos líderes carismáticos. Veja Fidel Castro, famosíssimo, fazia  um espagueti violento, charmoso. 

O livro mostra como uma sociedade adoece nesse sentido. E eu acredito que nós estamos nesse momento. E se o Lula é psicopata, a Dilma está mais para oligofrênica. Parece ser uma pessoa com alguma dislexia, não sabe se expressar. Perto dela, o Lula parece um cara inteligente, dentro da sua ignorância crassa. Dilma é opaca, não tem carisma, é furibunda por haver provavelmente entraves cognitivos no cerebelo dela. Talvez, no Rio, o Marcelo Freixo possa chamá-la para ser secretaria de alguma coisa, caso seja eleito. Mas acho que ela não se cria mais em lugar nenhum.

Há tempos o sr. tece críticas duras ao ex-presidente.
Lula tem o que merece, assim como a Dilma. Lula é um criminoso e o PT é uma organização criminosa. Ele deve ser preso por vários motivos. O que está sendo imputado, muito embora seja pena suficiente para ele pegar 30 anos de cadeia, é a ponta de um iceberg. Al Capone foi preso pelo imposto de renda. O que está em jogo é algo muito mais barra pesada do que falar sobre o roubo do ladrão de galinha do sítio de Atibaia.

Pode ser específico?
O caso mais grave do PT não é a corrupção em si. É a conduta ideológica criminosa de querer se perpetuar no poder por meio de uma doutrina altamente questionável que já deu errado e estão regurgitando: querer reeditar a cortina de ferro que a União Soviética perdeu no Leste Europeu. A Lava Jato mostra que Lula foi longe, mas é cedo para cantar vitória, apesar dessa derrocada da esquerda e da dita onda conservadora.Eles ainda detém poder. Essa resiliência do Lula e do PT reside na área cultural. É assustador ver Chico Buarque declarando “vamos fazer uma nova junção da esquerda”. Esse cara come capim.  Isso atenta contra a inteligência dele. A minha revolta advém de um exame de consciência. Eu já apoiei isso.

Como era o tempo em que apoiava o partido?
Fiz campanha para o PT por 11 anos.  Em 1989, no dia da eleição do Collor, cantei Lula-lá ao vivo no Faustão. O Faustão falava na minha orelha: “A  Globo vai sair do ar”. Já pedi desculpas ao Faustão por isso. Eu fiz aquilo com a mesma cara e coragem que hoje digo o contrário. Eu me sinto otário. Nunca cobrei um tostão para fazer campanha para o PT. Na metástase de corrupção que invadia os partidos, eu via uma chance do PT mudar o poder público. Ingenuidade. No início de 2000 eu fui ao Capão Redondo (SP) com um vereador do PT, o Albertão. E, então, na rádio comunitária onde estávamos, chega uma figura suspeitíssima. Depois, vim a saber que era um colombiano das Farc, com uma mala de 50 mil dólares para a campanha desse vereador petista. Eu entrei no núcleo duro do partido. Eu tinha uma relação com Lula.

Como era essa relação?
Com Lula, tive um encontro, no diretório do PT em São Paulo. Encontrei-me com Lula, Genoino, Jose Dirceu, Mercadante, Marisa. Eu já tinha visto Lula duas ou três vezes. Uma coisa emblemática aconteceu. O Ale Yousseff (produtor cultural) chamou o Lula para me cumprimentar.  Quando Lula apertou minha mão, e disse “Oi companheiro”, acabou a luz! Ficamos uns 10 minutos no escuro. Aquela falta de assunto.

 Por que achou emblemático?
Foi quase cenográfico. Parecia que a luz tinha acabado como fruto de nosso choque eletromagnético. Além dessa circunstância jocosa, fui lá para cobrar investimento em educação. Lula respondeu: “Companheiro, isso é a nossa prioridade”.

E ocorreram outros encontros?
Isso foi em 2002. Fiquei com o telefone do Lula. E meu único telefonema para ele foi para alertá-lo para ter cuidado com Gilberto Gil, porque ele era um braço da Warner Brothers e era um cara que estava impossibilitando tanto a numeração de CDs, uma luta histórica na classe, como inviabilizando a lei contra o jabá (pagamento às rádios por música tocada), e que depois, como ministro, acabou sacramentando.  Eu liguei e disse: “Lula, cuidado com o Gil e com a Paula Lavigne, que é assessora do  José Serra”. Lula foi solícito: “Muito obrigado companheiro. Vamos monitorar o caso.” Me pareceu atento ao que eu dizia. Quando Gil virou ministro, fiquei perplexo. Pensei: ele está botando a raposa no galinheiro. Quando Gil assumiu o ministério, e eu cheguei a achar que, com sua ascensão, mal ou bem ele fosse abraçar uma briga histórica da classe. No ano seguinte, ele dá uma entrevista praticamente falando que o jabá era uma prática que não adiantava ir contra, tornando-o quase aconchegante culturalmente.

O sr. declarou que ser de direita é um xingamento e ser de esquerda é um elogio.
No Brasil, a esquerda é a detentora da benevolência. É patológico. Se você estudar Stalin, Mao Tse Tung, Fidel Castro, eles foram assassinos, psicopatas, causaram mortandade, fome, totalitarismo, miséria. A esquerda brasileira se melindra com os militares quando a esquerda é endemicamente militarista. Quem gosta de parada, míssil, farda verde oliva é a esquerda. Hitler era de esquerda em seu partido estatista, trabalhista e autoritário.  Ele tinha o manifesto comunista como livro de cabeceira. Essas figuras estão dentro desse oráculo. Um universo basicamente estatista. Quando se fala do fascismo das privatizações, eles tem que entender que o fascismo é totalmente estatista. É fundamental para a democracia tirar o sex appeal da esquerda. Isso tem que ser feito com alta cultura. Você vê os artistas, todos comunistas, é uma vergonha. Esquerda é cafona, clichê, retardada.

O sr. é chamado de roqueiro de extrema direita. Como se sente?
Me chamar de roqueiro é como chamar surfista de paneleiro. Uso o rock como concepção de música. A adjetivação “de Direita”, no Brasil, é contaminada. Mas, se ser de direita é lutar pela propriedade privada, pelo livre comércio, pela liberdade de expressão, então sou um cara de direita. O conceito de direita deve ser revisto. Quem conduz a recessão social, o ódio, a indulgência tem sido a esquerda.

Do que o sr. gosta?
Gosto de literatura portuguesa. Eça de Queiroz. Mas literatura brasileira…? Tento gostar de Machado de Assis desde que minha mãe me deu a coleção para escrever bem. Leio, mas odeio. A narrativa me irrita. Sensorialmente, quando leio Machado me sinto na antessala da delegacia do Catete. Não é nada aconchegante. Tenho sensação similar quando entro no Facebook. Acho chato Guimarães Rosa. E Graciliano Ramos, são três delegacias do Catete. É um purgatório intelectual. Na música, sou conservador e amo a música brasileira até os anos 50. Gosto do Roberto Carlos da Jovem Guarda, antes dele se tornar um motel ambulante, daqueles com cheiro de desinfetante sexual. Quando estava começando a ouvir Rolling Stones e Beatles, vejo um panaca de 20 anos cantando. Era Chico Buarque, que parecia ter pressão baixa: “Estava à toa na vida…” Pensei: que coisa reacionária. Minha mãe adorava. Ela não sabia distinguir a beleza dos olhos azuis de Chico da beleza dos olhos azuis de Médici. Chico era o noivinho da senhora de classe média. A Tropicália, por mais que fosse cínica e ambígua, era mais subversiva em sua linguagem. O Brasil não saiu da Semana de Arte Moderna de 1922. Ela é onipresente e onipotente até hoje. Lula é a coroação do Macunaíma. Lula é um herói sem nenhum caráter. A máxima que sintetiza a Semana de 22 é que nós nos nutrimos dos nossos piores defeitos.

Nesse contexto, como vê Sergio Moro?
Em virtude dessa condição macunaímica, Sérgio Moro é alçado a herói. Não tenho erudição jurídica para comentar a tecnicidade das questões da Lava Jato, me aparenta que estão bem respaldadas. É engraçado, o PT rouba 100 vezes mais do que o Paulo Maluf e as pessoas ficam com peninha? Moro é um exemplo para a conduta moral do brasileiro mudar 180 graus o rumo dessa malandragem. Ele deve se tornar um paladino dessa mudança. Aqui pega bem ser malandro e pagar propina para vaga de carro. Para a gente ser um país adulto, temos que começar por ai.

Como avalia o governo Temer?
O momento é saia justa para o Temer. Ele é de um partido de raposa que vem da coalizão com o PT e deve estar com mil problemas de rabo sujo. Ele nomeia um ministro e o ministro é réu no STF. Nomear um réu como Marx Beltrão não torna o governo simpático. O resultado das eleições municipais vão dar mais legitimidade a ele como presidente. Mas eu espero que Temer seja mais incisivo nas suas decisões e que tenha menos receio de ter que agradar a todos. Mas Temer quer privatizar, demitiu todo o poder de fogo da mídia do PT, blogs, isso foi sensacional.

Fonte: IstoÉ - Gisele Vitória