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quinta-feira, 4 de agosto de 2022

Consumo brasileiro de carne suína pode ser o maior da história

Em 2022, o consumo brasileiro de carne suína deve atingir 17,5 quilos por habitante anualmente. É a maior estimativa já registrada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Brasil deve produzir 4,8 milhões de toneladas de carne suína | Foto: Sergey Kolesnikov/Shutterstock

Brasil deve produzir 4,8 milhões de toneladas de carne suína | Foto: Sergey Kolesnikov/Shutterstock

A série histórica da estatal tem início em 1996, quando o consumo brasileiro desse alimento ficou em menos de 10 quilos por habitante. Naquele ano, a produção nacional ficou em 1,6 milhões de toneladas, conforme as informações da companhia.

Salto no consumo brasileiro de carne suína
Para 2022, a Conab projeta a disponibilidade de 3,8 milhões de toneladas de carne suína. Somando com a quantidade que o Brasil deve exportar (1,1 milhão de toneladas) a produção nacional deve chegar a 4,9 milhões de toneladas. Assim, houve um acréscimo de 200% em 26 anos. Desse modo: o resultado triplicou. Entre os fatores que contribuíram para esse aumento, dois ficam claros nos dados da companhia.

Um deles é a expansão do rebanho, que partiu de aproximadamente 30 milhões para praticamente 43 milhões de cabeças. Ou seja: o acréscimo foi de 45%. O outro é o ganho de produtividade. Em 1996, cada animal abatido pesava, em média, cerca de 50 quilos. Desde 2020, esse número passou de 110 quilos. E em 2022 deve superar 113 quilos, a melhor marca nos registros da Conab.

Neste ano, somando bovinos, suínos e frangos, a média de disponibilidade no mercado interno deve ficar em cerca de 90 quilos por cabeça. Cerca de 20% disso é de proteína de origem suína.

Distribuição dos abates de suínos no Brasil

Foto: Reprodução/Abpa

De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal, em 2021 o país produziu 4,7 milhões de toneladas de carne suína. Sozinha, a Região Sul concentrou 70% dos abates. A liderança ficou com Santa Catarina: pouco mais de 30%.

 Revista Oeste

 

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Ano melhor do que aquele que passou - Míriam Leitão

O Globo

A crise foi tanta nos últimos anos que o Brasil reduziu as expectativas. Hoje já se contenta com alta do PIB na casa dos 2,5%

As análises dos bancos para 2020 trazem uma coleção de dados otimistas, ainda que a projeção para o crescimento seja de apenas 2,5%. [2,5% não é o PIBÃO dos tempos do general Médici, mas, é superior aos 0,8% previsto por alguns 'pessimistas'. 
O importante a tendência, crescente, de aumento do PIB e a queda, acelerando, do desemprego.
Apesar de alguns considerem para um número indiscutível de desempregados - abaixo dos 12% e caindo ( pouco acima dos 11.000.000 de desempregados) - a existência de mais de 17.000.000 de desalentados =  condição básica para ser um desalentado é ser um desempregado.
Talvez a regra seja diferente para aqueles petistas que perderam as mamatas - mesmo assim, são desempregados.]  Esse número é melhor do que o dos últimos três anos, mas o Brasil, se o atingir, estará ainda assim crescendo menos do que a média do mundo. Os bancos avaliam que o ano começa sem alguns dos riscos que assustaram a economia mundial em 2019, e com a previsão de crescimento maior no Brasil. Há mais otimismo em relação a determinados setores, como o da indústria do petróleo, que deve crescer acima de 6% com a entrada em operação de quatro novas plataformas.

O clima de “agora vai” é tão forte que na mensagem que encaminha seu relatório sobre 2020 a XP Investimentos diz que o “avião está na cabeceira pronto para decolar”. A crise foi tanta nos últimos anos que o Brasil reduziu as expectativas. Hoje já se contenta com alta do PIB na casa dos 2,5%. Nenhuma decolagem se dá com voo tão baixo. “À nossa frente o horizonte está limpo e aberto. Os preparos necessários já foram feitos.” Começa assim o texto da XP. O Brasil tem um volume considerável de preparos necessários e não feitos antes que se possa falar em decolagem. É mais torcida do que análise. O Itaú ressalta no seu cenário que o ano começa sem duas ameaças, a da guerra comercial China-EUA e do Brexit desordenado. O Bradesco já não aposta que o risco da guerra comercial tenha ficado para trás. De fato, a ciclotimia da relação entre as duas potências torna difícil garantir que não haverá outros momentos de incerteza. E se agora há um mandato político claro para o primeiro-ministro Boris Johnson sair da União Europeia, os efeitos sobre a economia britânica e outros países ainda não estão controlados. E, como lembra o banco, a eleição americana vai acirrar a polarização. O mundo deve continuar sendo um ponto de dúvida no cenário.

A projeção é de um crescimento mundial de 3,1%, com estabilidade no comércio global. Como diversos países reduziram taxas de juros em 2019, o estímulo monetário poderá ajudar essas economias em 2020. Segundo o relatório do Itaú, pode haver mais apetite por risco da América Latina em 2020, apesar das incertezas no Chile, que estará votando uma Constituinte, e da Argentina, que tentará sair do córner cambial e do nível de atividade em que se encontra. As previsões são de que a recessão vai continuar por lá.

A expansão do crédito no Brasil é apontada por todos os analistas como um efeito direto da queda das taxas de juros nos últimos anos, com inflação controlada e uma fonte de dinamismo para este ano. O processo já vinha acontecendo no ano passado e vai continuar. Segundo o Bradesco, as vendas de veículos devem crescer 7,2%. Eletrônicos e bens de consumo também devem se beneficiar dos juros baixos. É sempre bom lembrar que as taxas caem, em diversas linhas, mas para níveis ainda muito altos se comparados a qualquer país do mundo.

O Bradesco também prevê que a indústria extrativa vai crescer puxada pelo petróleo. O grande desafio será fazer os leilões de concessão e formatá-los de tal forma que não sejam a decepção que foram os leilões do pré-sal em 2019. Mas a projeção de alta de 6,3% na produção de petróleo vem de quatro plataformas que entrarão em operação este ano, colhendo-se investimentos feitos anteriormente. A extração de minério de ferro deve crescer comparada aos últimos anos em que houve os desastres de Mariana e de Brumadinho.

O mercado imobiliário vai continuar sua recuperação, iniciada em 2019, e de forma mais disseminada pelo país. É a previsão mais comum no mercado financeiro. Por outro lado, não há centro de estudo de banco que preveja que o desemprego cairá de forma mais forte. Será uma redução gradual. O próprio governo prevê que ficará acima de 10% até 2022. Um desemprego tão alto por tanto tempo cria um clima social de instabilidade. [o Brasil resistiu por anos a um desemprego crescente, taxa em alta, e resistirá a um desemprego em queda, ainda que a taxas modestas.
Resistiu por anos  a um círculo vicioso e em 2020 se consolida o já iniciado círculo virtuoso.]
A produção de grãos deve ter um crescimento modesto, de 1,6% na previsão da Conag, mas com alta de 4,7% na soja, que é a principal cultura. O complexo carnes vai continuar se beneficiando da crise do suprimento de carne suína na China, abrindo possibilidades para o produto brasileiro. Tudo analisado, a previsão é de um ano melhor do que 2019, mas ainda com taxas muito modestas de crescimento, alto índice de desemprego ainda remanescente, e muitas reformas para melhorar o ambiente de negócios no Brasil.


Míriam Leitão, jornalista - coluna em O Globo, com Alvaro Gribel,  de São Paulo

domingo, 17 de dezembro de 2017

O dilema da carne suína

A ONG Mercy For Animals denuncia caso de maus tratos a animais na Aurora Alimentos e lança campanha contra os métodos de produção da indústria brasileira de porcos

Um funcionário de uma granja raspa os dentes de um leitão, que grita sem parar. Ao seu lado, uma porca observa o procedimento, também aos gritos. Para quem não está familiarizado com os métodos de produção de carne suína, a cena é chocante. As imagens constam em um vídeo, obtido com exclusividade pela DINHEIRO, gravado pela ONG Mercy for Animals, que advoga em favor do bem estar animal – inclusive incentivando o veganismo. Ele foi produzido por um funcionário da organização, que se infiltrou entre os trabalhadores de uma cooperada da Aurora Alimentos, uma das maiores cooperativas agrícolas do Brasil, com R$ 8,5 bilhões de faturamento e 72 mil famílias associadas, na cidade de Xanxerê (SC). Em outra tomada, é possível ver as chamadas celas de gestação, onde as fêmeas são confinadas. O espaço é tão pequeno que não permite, sequer, que elas se virem para o lado. Algumas mordem as barras de ferro insistentemente. “É um sofrimento terrível”, afirma Lucas Alvarenga, vice-presidente da Mercy for Animals no Brasil. “Essas práticas não estão alinhadas com a tendência mundial, que é de acabar com as celas de gestação.”
Vídeo gravado pela ONG Mercy for Animals mostra maus tratos a animais
atenção: Este vídeo contém cenas fortes de maus tratos a animais

Na terça-feira 28, a ONG apresentará uma denúncia contra esse tipo de prática. Ao mesmo tempo, lançará uma petição solicitando ao Grupo Pão de Açúcar (GPA), maior varejista brasileiro, que se comprometa a não comprar mais carne de porco de fornecedores que utilizem as tais células. “Focamos no GPA em virtude do tamanho e da importância da empresa, mas o ideal é que todos os varejistas tenham a mesma atitude”, diz Alvarenga. Banir esse tipo de criação de porcos de suas compras é algo que grandes empresas alimentícias e cadeias de restaurantes, como Nestlé, McDonald’s e Burger King já fizeram em escala global, mas não foram acompanhadas pelas redes de varejo nacionais.

A ação da ONG acontece em um momento delicado para a indústria brasileira de proteína animal. Na semana passada, a Rússia anunciou uma restrição temporária à compra de carne suína e bovina do Brasil, em virtude da suposta presença de estimulantes de crescimento, como ractopamina, nos produtos. O país é o principal destino internacional da carne de porco brasileira, respondendo por quase 40% das exportações nacionais, que superaram os R$ 4,7 bilhões no ano passado. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) afirma que não há estimulantes na carne exportada. No setor de bovinos, as práticas de criação já são mais adequadas no Brasil. O setor de aves também passa por uma modernização. De qualquer forma, é uma mostra de como a pressão internacional pode afetar o setor. E, ao que tudo indica, restrições do tipo poderão acontecer no caso das celas de gestação.

O uso dessas celas é polêmico. Elas começaram a ser introduzidas na indústria de suínos na década de 1950, logo após a Segunda Guerra Mundial. “As porcas grávidas, na disputa por alimentos, acabam brigando e machucando umas às outras”, afirma o professor Mateus Paranhos da Costa, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Jaboticabal. “O que, na época, não se levou em consideração são as consequências desse confinamento ao animal.” Segundo informações do Mapa, porcos são animais gregários, ou seja, tendem a formar grupos de convívio. Eles organizam seu habitat de forma natural, separando áreas de alimentação, descanso e defecação.

A não observância dessas características cria problemas de comportamento que, posteriomente, são equacionados pelos produtores com ainda mais violência, como corte de rabo, restrição de movimentos, entre outros. O professor explica que o contexto, na década de 1950, era o de produzir alimentos no pós-guerra. A questão do bem estar animal nem era levada em consideração. O assunto começou a ganhar importância a partir de 1964, quando a britânica Ruth Harrison publicou o livro “Animal Machines”, que mostrava a dura realidade da criação intensiva de animais. A partir de então, começou a surgir um forte movimento global demandando um tratamento mais adequado aos animais de abate. “Estamos entrando em um momento de conflito, no qual as ONGs pressionam cada vez mais, e os produtores tentam defender seus modelos de produção”, afirma o professor.

Esse parece ser o caso desse novo embate entre a Mercy for Animals e os suinocultores. Em nota, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa os granjeiros, diz que “não é correto afirmar que o Brasil está atrasado em relação ao tema ” Segundo a ABPA, as maiores empresas do setor já assumiram o compromisso de extinguir a prática, dentro de um prazo pré-estabelecido. De fato, BRF, Aurora e JBS, os três maiores do País, já disseram que vão abolir as celas, até 2026. O frigorífico Frimesa estabeleceu o mesmo prazo. A ABPA afirma, ainda, que não existe legislação em nenhum país produtor sobre esta prática. “Esta é uma questão que parte da imposição de determinados grupos empresariais”, diz a nota. 

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