O Globo
A crise foi tanta nos últimos anos que o Brasil reduziu as expectativas. Hoje já se contenta com alta do PIB na casa dos 2,5%
As análises dos bancos para 2020 trazem uma coleção de dados otimistas,
ainda que a projeção para o crescimento seja de apenas 2,5%. [2,5% não é o PIBÃO dos tempos do general Médici, mas, é superior aos 0,8% previsto por alguns 'pessimistas'.
O importante a tendência, crescente, de aumento do PIB e a queda, acelerando, do desemprego.
Apesar de alguns considerem para um número indiscutível de desempregados - abaixo dos 12% e caindo ( pouco acima dos 11.000.000 de desempregados) - a existência de mais de 17.000.000 de desalentados = condição básica para ser um desalentado é ser um desempregado.
Talvez a regra seja diferente para aqueles petistas que perderam as mamatas - mesmo assim, são desempregados.] Esse número
é melhor do que o dos últimos três anos, mas o Brasil, se o atingir,
estará ainda assim crescendo menos do que a média do mundo. Os bancos
avaliam que o ano começa sem alguns dos riscos que assustaram a economia
mundial em 2019, e com a previsão de crescimento maior no Brasil. Há
mais otimismo em relação a determinados setores, como o da indústria do
petróleo, que deve crescer acima de 6% com a entrada em operação de
quatro novas plataformas.
O clima de “agora vai” é tão forte que na mensagem que encaminha seu
relatório sobre 2020 a XP Investimentos diz que o “avião está na
cabeceira pronto para decolar”. A crise foi tanta nos últimos anos que o
Brasil reduziu as expectativas. Hoje já se contenta com alta do PIB na
casa dos 2,5%. Nenhuma decolagem se dá com voo tão baixo. “À nossa
frente o horizonte está limpo e aberto. Os preparos necessários já foram
feitos.” Começa assim o texto da XP. O Brasil tem um volume
considerável de preparos necessários e não feitos antes que se possa
falar em decolagem. É mais torcida do que análise. O Itaú ressalta no seu cenário que o ano começa sem duas ameaças, a
da guerra comercial China-EUA e do Brexit desordenado. O Bradesco já não
aposta que o risco da guerra comercial tenha ficado para trás. De fato,
a ciclotimia da relação entre as duas potências torna difícil garantir
que não haverá outros momentos de incerteza. E se agora há um mandato
político claro para o primeiro-ministro Boris Johnson sair da União
Europeia, os efeitos sobre a economia britânica e outros países ainda
não estão controlados. E, como lembra o banco, a eleição americana vai
acirrar a polarização. O mundo deve continuar sendo um ponto de dúvida
no cenário.
A projeção é de um crescimento mundial de 3,1%, com estabilidade no
comércio global. Como diversos países reduziram taxas de juros em 2019, o
estímulo monetário poderá ajudar essas economias em 2020. Segundo o
relatório do Itaú, pode haver mais apetite por risco da América Latina
em 2020, apesar das incertezas no Chile, que estará votando uma
Constituinte, e da Argentina, que tentará sair do córner cambial e do
nível de atividade em que se encontra. As previsões são de que a
recessão vai continuar por lá.
A expansão do crédito no Brasil é apontada por todos os analistas
como um efeito direto da queda das taxas de juros nos últimos anos, com
inflação controlada e uma fonte de dinamismo para este ano. O processo
já vinha acontecendo no ano passado e vai continuar. Segundo o Bradesco,
as vendas de veículos devem crescer 7,2%. Eletrônicos e bens de consumo
também devem se beneficiar dos juros baixos. É sempre bom lembrar que
as taxas caem, em diversas linhas, mas para níveis ainda muito altos se
comparados a qualquer país do mundo.
O Bradesco também prevê que a indústria extrativa vai crescer puxada
pelo petróleo. O grande desafio será fazer os leilões de concessão e
formatá-los de tal forma que não sejam a decepção que foram os leilões
do pré-sal em 2019. Mas a projeção de alta de 6,3% na produção de
petróleo vem de quatro plataformas que entrarão em operação este ano,
colhendo-se investimentos feitos anteriormente. A extração de minério de
ferro deve crescer comparada aos últimos anos em que houve os desastres
de Mariana e de Brumadinho.
O mercado imobiliário vai continuar sua recuperação, iniciada em
2019, e de forma mais disseminada pelo país. É a previsão mais comum no
mercado financeiro. Por outro lado, não há centro de estudo de banco que
preveja que o desemprego cairá de forma mais forte. Será uma redução
gradual. O próprio governo prevê que ficará acima de 10% até 2022. Um
desemprego tão alto por tanto tempo cria um clima social de
instabilidade. [o Brasil resistiu por anos a um desemprego crescente, taxa em alta, e resistirá a um desemprego em queda, ainda que a taxas modestas.
Resistiu por anos a um círculo vicioso e em 2020 se consolida o já iniciado círculo virtuoso.]
A produção de grãos deve ter um crescimento modesto, de 1,6% na
previsão da Conag, mas com alta de 4,7% na soja, que é a principal
cultura. O complexo carnes vai continuar se beneficiando da crise do
suprimento de carne suína na China, abrindo possibilidades para o
produto brasileiro. Tudo analisado, a previsão é de um ano melhor do que 2019, mas ainda
com taxas muito modestas de crescimento, alto índice de desemprego ainda
remanescente, e muitas reformas para melhorar o ambiente de negócios no
Brasil.
Míriam Leitão, jornalista - coluna em O Globo, com Alvaro Gribel, de São Paulo