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domingo, 26 de abril de 2020

Persio Arida aponta os erros na economia - Míriam Leitão

O Globo

Ao fim da pandemia, o país terá um mar de desempregados e as dores da maior recessão da nossa história. Como enfrentar? Os dois caminhos que se colocam, o de Paulo Guedes e o dos militares, esboçado nos últimos dias, estão errados na opinião do economista Persio Arida. O dos militares, por ser uma velha proposta que nunca deu certo. O de Paulo Guedes, porque se baseia na premissa equivocada. “O erro é essa ideia de que basta conter o gasto público para o investimento privado crescer e o país se desenvolver.” Um governo frágil politicamente tenderá a escolher o caminho que parece mais fácil e familiar, o do Estado propulsor do desenvolvimento, como mostrado no Plano Braga Netto. “Bolsonaro volta às origens, sempre foi estatizante.”




– Esse é o caminho errado. O que tem que ser feito? Tem problema de desemprego, sim, precisa de mais crescimento, sim. Mas deve-se fazer via gasto público? Aí é a reencarnação da Dilma, desenvolvimentista. 

Não é surpreendente porque os militares sempre acreditaram no Estado como promotor do desenvolvimento, igualzinho a esquerda. Esse programa simplesmente expressa a visão estatizante de Bolsonaro. Para mim é surpresa zero. Acho que aconteceria mais cedo ou mais tarde, e foi mais cedo por causa do coronavírus – diz Persio.

[com a pandemia ficou fácil atribuir ao presidente Bolsonaro todos os revezes da economia - esquecem que o CAOS é consequência da Covid - 19 = até a China teve queda do PIB.]

Na visão do economista, do outro lado há também equívocos. Do outro lado, é a ideia do crowding out, de que quando retrai o PIB do governo aumenta o PIB privado, ou seja, basta conter o governo que a iniciativa privada floresce e, como a iniciativa privada é mais produtiva que o gasto do governo, o PIB cresce. Isso é uma agenda simplória, errada macroeconomicamente. Para crescer você precisa de uma outra agenda, que é a abertura de bens comerciais e serviços, privatizações, reforma do Estado e reforma tributária. São essas quatro coisas que fazem o país crescer rápido. Curiosamente o governo não tocou em nenhuma delas. Nunca enviou uma reforma tributária, nem a administrativa, para o Congresso. Não fez abertura alguma, assinou um acordo com a União Europeia que já nasceu velho e não será ratificado porque Bolsonaro atacou o Macron, então esquece diz Persio.

O governo fez a reforma da Previdência, com tamanho menor do que tem sido dito, e o ganho previsto para este ano será pulverizado pela queda da receita previdenciária. Já a privatização ocorreu de forma indireta: – Na privatização não aconteceu nada. Quando uma estatal vende uma subsidiária, o dinheiro flui para a estatal e ela vai gastar depois em outra coisa. O que realmente importa é quando o governo vende a estatal, não a subsidiária, como foi na privatização Fernando Henrique. A privatização Bolsonaro, além de ridícula em termos de tamanho, não adianta nada para o déficit público, é irrelevante. Nada disso iria ter impacto no crescimento. O ano passado decepcionou e este ano iria decepcionar de novo.

Agora é o momento da pandemia em que toda essa discussão ficou para depois. O ponto dele é que se voltar à mesma agenda o resultado será decepcionante:  Você lembra que houve um momento em que ele previa crescer 4%, no começo do ano passado? Veio um e pouco. Não adianta. É a visão errada do problema. Não basta conter o gasto do governo, é preciso fazer outra agenda, que eles nunca tocaram.

A pesquisa divulgada ontem pela XP, feita no calor da queda do ex-ministro Sergio Moro, mostrou forte deterioração das expectativas em relação ao resto do mandato. A visão de que o futuro seria ótimo ou bom era 34% e caiu para 18%. A expectativa negativa (ruim e péssimo) saltou de 37% para 49%. Qual a chance de Bolsonaro, com queda de popularidade e da confiança em seu governo, saindo de uma economia em escombros, apoiar a retomada do projeto de Guedes no qual ele nunca acreditou? Tanto assim que a reforma administrativa entregue pelo ministro ficou mofando na mesa presidencial, até vir a pandemia e ela ser engavetada. O ministro da Economia aceita piamente a versão que Bolsonaro apresenta dos fatos políticos e engoliu reveses com o argumento de que o presidente é que recebeu os votos. Paulo Guedes aceitou limites aos seus planos, mas até que ponto está disposto a ir? A grande dúvida é se aceitará projeto tão estrangeiro ao seu quanto o que se vislumbrou no powerpoint da Casa Civil.







quarta-feira, 11 de maio de 2016

Os quatro equívocos fatais da economia brasileira



Há um erro de base, que pode ser simbolizado numa frase: ‘gasto de custeio é vida’
Imaginem a situação de um médico legista diante de um corpo crivado de balas e que é questionado pelo promotor: “Qual foi o tiro fatal?”

É a mesma situação quando se pergunta: qual foi o erro fatal da presidente Dilma Rousseff? A economia brasileira foi atingida de tantas maneiras que se chegou a um quadro inédito: recessão com inflação; preços subindo mesmo com juros elevados; e contas públicas exauridas.

Não se chegaria a isto sem uma sequência de equívocos. Mas há um erro de base, que pode ser simbolizado numa frase: “gasto de custeio é vida”. Foi o que disse Dilma, ainda ministra do governo Lula, quando ajudou a enterrar um plano de longo prazo de controle das contas públicas.

Como o governo vinha realizando superávits desde o final dos anos 1990, havia espaço para acelerar o gasto. Mas a presidente conseguiu em apenas três anos sair de um superávit primário (receita menos despesa antes do pagamento de juros) de R$ 129 bilhões para um déficit de R$ 32 bi.

Desse erro básico resultaram as pedaladas. A um determinado momento, o dinheiro arrecadado com impostos já não era suficiente. A presidente partiu então para tomar empréstimos, primeiro legalmente, depois se financiando nos bancos públicos, violando regras sagradas da Responsabilidade Fiscal.

O quadro se completou com as desonerações de impostos concedidos a determinados setores, escolhidos entre os amigos da casa. Em vez de reduzir impostos para toda a atividade econômica, o movimento foi elevar para todos e aliviar para alguns. Havia uma suposta lógica: com carga tributária menor, aqueles setores investiriam mais. Ocorre que não fizeram as contas e o resultado foi queda de receita, sem investimentos.

Fechou-se o grande erro: mais gasto, menos receita, déficit anual, crescimento da dívida e da conta de juros. Só o déficit primário chegou a R$ 142 bilhões em 12 meses acumulados até março último.

O segundo erro fatal foi a redução dos juros, em 2012, quando o Banco Central fixou a taxa básica em 7,25% ao ano — a mais baixa da história recente. E isso quando a inflação rodava no teto da margem de tolerância em torno dos 6,5% ao ano. O governo fez exatamente o contrário do que determinava o regime de metas.

De novo, foi um erro conceitual. Baseava-se na falsa ideia de que os juros eram altos porque os banqueiros queriam — como aliás a presidente alardeou na sua campanha de 2014. Os juros eram altos, como são, porque tem inflação e muito déficit público. Tentou-se combater a inflação do modo mais equivocado: mantendo o dólar baratinho, barateando importados e dificultando a vida da indústria local.  Em meio a essas intervenções em pontos chaves da macroeconomia — juros e câmbio —, o governo Dilma aplicou controles sobre dois preços básicos: gasolina/diesel e energia elétrica.

A Petrobras foi obrigada, durante anos, a importar combustível caro e vender barato aqui dentro. Só nos quatro anos do primeiro governo Dilma, estima-se que a estatal acumulou um prejuízo de R$ 55 bilhões. Nesse mesmo período, a companhia foi jogada num plano de investimentos megalomaníaco: quatro refinarias, dezenas de navios, plataformas e sondas, negócios em setores fora de sua área.

Sem caixa, a Petrobras endividou-se, até chegar ao ponto atual: sem fôlego, cancela investimentos e negócios, arrasta a indústria de óleo e gás, tem que vender ativos em um momento ruim. E isso sem contar a corrupção.  Ainda em 2012, ano da plena aplicação da “nova matriz econômica”, a presidente Dilma impôs uma redução de 12% na tarifa de energia elétrica. Isso num momento em que o custo da energia estava em alta, já sob ameaça da seca.

No mesmo momento, a presidente aplicou uma reestruturação do setor — o que veio a quebrar a Eletrobrás e impor prejuízos generalizados para geradoras e distribuidoras.  De início, o governo tentou salvar o setor arranjando empréstimos. Depois, dado o tamanho do prejuízo, e uma vez tendo passado as eleições, veio o tarifaço. No primeiro semestre de 2015, as tarifas subiram em média 50%. Em algumas regiões, quase dobraram.

Por trás de tudo, a concepção clássica de uma esquerda latino-americana. O governo faz tudo: gasta diretamente ou por meio das estatais; seleciona os setores privados que terão financiamento subsidiado; controla os preços básicos; manipula as variáveis macro, juros e câmbio.

Eis os quatro erros fatais.

A produção caiu, os brasileiros ficaram mais pobres.

Fonte: Carlos Alberto Sardenberg – O Globo

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Cenário para 2016



E o que esperar de 2016? Mais do mesmo. Mais inflação, mais desemprego, mais desvalorização do câmbio.
O déficit público é a mais perfeita armadilha para caçar raposas. Este animal é tido por ser muito esperto e atilado e cheio de manhas e artimanhas para alcançar seus objetivos. Não trabalha em linha reta e é imprevisível, quando menos se espera dá o bote. Por isso os espertos da política são apelidados de “raposas”, expressão que é mesmo elogiosa vista do ponto de vista da finalidade da política, mas não da ética. Em geral, os “raposas” são seres sem escrúpulos. 

A esperteza da raposa, todavia, é relativa, visto que ela cai frequentemente em armadilhas. As armadilhas para pegar raposas são as que contam com a sua esperteza, pois ela entra no buraco sem saída para pegar a isca sem ao menos se dar conta e se torna vítima fatal dos caçadores.

Sempre foi assim. As raposas do PT acharam que poderia dar um “pelé” na lei da escassez e fabricar uma prosperidade artificial praticando déficits. Durou o período pré-eleitoral, quando ninguém ainda tinha se dado conta da esperteza posta em prática. Ao se revelar a verdade, o que se viu foi a raposice inteira presa à armadilha. O déficit público é a corda que está enforcando os espertalhões que praticaram o estelionato eleitoral. As leis econômicas são conhecidas até mesmo pelos economistas desenvolvimentistas, que insistem na esperteza de desconsidera-las. A raposice do PT morrerá vítima de dois tiros fatais: a disparada da inflação e a depreciação do câmbio. 

 Esse momento que vivemos de escalada da inflação é particularmente doloroso, já temos duas gerações que se habituaram a taxas de inflação civilizadas. Os jovens não sabem o que é o desconforto de ter que gastar todo o dinheiro antes, para que ele não se deprecie. Melhor dizendo, para escapar à depreciação.  A inflação empobrece violentamente os mais pobres, pois é altamente regressiva do ponto de vista da distribuição de renda. Na prática, a inflação é um imposto sobre os mais pobres, pois os mais ricos, e quanto mais rico isso é verdadeiro, têm como se proteger da moléstia.

Parcialmente, é verdade, pois nessa fase de aceleração normalmente verifica-se queda do PIB (está acontecendo agora), desorganizando os mercados e retraindo a demanda. Aqueles que têm atividade econômica, mesmo de grande porte, sofrem, perdem. Com a desordem que se instalou em 2015, quantos alugueres deixaram de ser pagos? Quantas vendas foram assassinadas? Quantos empréstimos deixaram de ser liquidados? Quantas empresas fecharam as portas? Estou vendo aqui da ótica dos patrões, não a dos desempregados, que ficaram à mercê da sorte. O drama dos mais pobres é exponencialmente agravado pelo desemprego. É o afundar na miséria atroz.

Os oligopólios, que tentam dolarizar os preços dos seus produtos, estão vendo suas participações de mercado despencarem. As marcas mais baratas estão sendo as preferidas pelos consumidores. O trading down é a dura realidade que se encontra no mercado, que está sofrendo perda de renda. É bastante divertido, mas tétrico, ver esse teatro em ação. Os que inicialmente se locupletaram com a expansão artificial do consumo agora estão sofrendo a ressaca e dela não há como escapar.

Um tipo de gente está acima da crise e mesmo lucra com ela. São os rentistas, os portadores de capital aplicados em títulos do governo. Este paga os maiores juros do mundo, que se tornaram a rubrica orçamentária mais expressiva. Parte considerável da arrecadação está destinada a manter esses juros nas alturas, regiamente pagos. Por isso mesmo banqueiros e rentistas pleiteiam a estabilidade da relação dívida/PIB e, para tanto, não hesitam em propor coisas absurdas como a volta da CPMF. Os rentistas querem resolver o problema do déficit público sem que se olhe o lado da despesa, pois assim não colocam o eleitorado conta si. Eles também são raposas à sua moda, eles também caem em armadilhas. Vamos ver quais tiros lhes estão destinados pelo agravamento da crise. O caso grego foi bastante emblemático.

Os rentistas, junto com os funcionários públicos, são a classe mais conservadora do Brasil, pois detestam mudanças que possam ameaçar suas rendas e seu status quo. É uma espécie de conservadorismo revolucionário, que não hesita em pregar a igualdade econômica e social e praticar as maiores iniquidades em sentido contrário. Junto com os rentistas, os funcionários públicos são os maiores usufrutuários do iníquo arranjo social brasileiro, muito bem espelhado na peça orçamentária anual. 

Basta ver o que se gasta com ambos. E o que esperar de 2016? Mais do mesmo. Mais inflação, mais desemprego, mais desvalorização do câmbio. Não se deve acreditar nos cenários dos economistas oficialistas, que sempre veem o cenário do futuro imediato melhor do que o atual. Nenhuma economia pode sair da crise sozinha, ou só o pode mediante uma catástrofe social. Como Dilma Rousseff nada está fazendo para enfrentar a crise, o que veremos é seu agravamento. Para meu uso particular estou trabalhando com queda de PIB de 3%, inflação de 12% e câmbio médio a 4,50. Certo, é meu otimismo particular, mas fazer o que? A realidade poderá se revelar bem pior.

Quem viver verá.

Fonte: Nivaldo Cordeiro - http://nivaldocordeiro.net