E o que esperar de
2016? Mais do mesmo. Mais inflação, mais desemprego, mais desvalorização do
câmbio.
O déficit público é a mais
perfeita armadilha para caçar raposas. Este animal é tido por ser muito esperto e atilado
e cheio de manhas e artimanhas para alcançar seus objetivos. Não trabalha em
linha reta e é imprevisível, quando menos se espera dá o bote. Por isso os
espertos da política são apelidados de “raposas”,
expressão que é mesmo elogiosa vista do ponto de vista da finalidade da
política, mas não da ética. Em geral, os “raposas”
são seres sem escrúpulos.
A esperteza da raposa, todavia, é
relativa, visto que ela cai frequentemente em armadilhas. As armadilhas para pegar
raposas são as que contam com a sua esperteza, pois ela entra no buraco sem
saída para pegar a isca sem ao menos se dar conta e se torna vítima fatal dos
caçadores.
Sempre
foi assim. As
raposas do PT acharam que poderia dar um “pelé” na lei da escassez e fabricar
uma prosperidade artificial praticando déficits. Durou o período pré-eleitoral, quando
ninguém ainda tinha se dado conta da esperteza posta em prática. Ao se revelar a verdade, o que se viu foi a
raposice inteira presa à armadilha. O déficit
público é a corda que está enforcando os
espertalhões que praticaram o estelionato eleitoral. As leis
econômicas são conhecidas até mesmo pelos economistas desenvolvimentistas, que
insistem na esperteza de desconsidera-las. A
raposice do PT morrerá vítima de dois tiros fatais: a
disparada da inflação e a depreciação do câmbio.
Esse momento que
vivemos de escalada da inflação é particularmente doloroso, já temos duas
gerações que se habituaram a taxas de inflação civilizadas. Os jovens não sabem
o que é o desconforto de ter que gastar todo o dinheiro antes, para que
ele não se deprecie. Melhor dizendo, para escapar à depreciação. A inflação empobrece violentamente
os mais pobres, pois é altamente regressiva do ponto de vista da
distribuição de renda. Na prática, a
inflação é um imposto sobre os mais pobres, pois os mais ricos, e quanto
mais rico isso é verdadeiro, têm como se proteger da moléstia.
Parcialmente,
é verdade, pois nessa fase de aceleração normalmente
verifica-se queda do PIB (está
acontecendo agora), desorganizando os mercados e
retraindo a demanda. Aqueles que têm atividade econômica, mesmo de
grande porte, sofrem, perdem. Com a
desordem que se instalou em 2015, quantos alugueres deixaram de ser pagos? Quantas vendas foram assassinadas? Quantos empréstimos
deixaram de ser liquidados? Quantas empresas fecharam as portas?
Estou vendo aqui da ótica dos patrões, não a dos desempregados, que ficaram à
mercê da sorte. O drama dos mais pobres é exponencialmente agravado pelo
desemprego. É o afundar na miséria atroz.
Os oligopólios, que tentam
dolarizar os preços dos seus produtos, estão vendo suas participações de
mercado despencarem. As marcas
mais baratas estão sendo as preferidas pelos consumidores. O trading down é
a dura realidade que se encontra no mercado, que está sofrendo perda de renda.
É bastante divertido, mas tétrico, ver esse teatro em ação. Os que inicialmente
se locupletaram com a expansão artificial do consumo agora estão sofrendo a
ressaca e dela não há como escapar.
Um tipo de gente está acima da
crise e mesmo lucra com ela. São os rentistas, os portadores de capital
aplicados em títulos do governo. Este paga os maiores juros do mundo,
que se tornaram a rubrica orçamentária mais expressiva. Parte considerável da arrecadação está destinada a manter esses juros
nas alturas, regiamente pagos. Por isso mesmo banqueiros e rentistas pleiteiam a estabilidade da relação
dívida/PIB e, para tanto, não hesitam em
propor coisas absurdas como a volta da CPMF. Os rentistas querem resolver o
problema do déficit público sem que se olhe o lado da despesa, pois assim não
colocam o eleitorado conta si. Eles também são raposas à sua moda, eles também
caem em armadilhas. Vamos ver quais tiros lhes estão destinados pelo
agravamento da crise. O caso grego foi bastante emblemático.
Os rentistas, junto com os
funcionários públicos, são a classe mais conservadora do Brasil, pois
detestam mudanças que possam ameaçar suas rendas e seu status quo. É uma
espécie de conservadorismo revolucionário, que não hesita em pregar a igualdade
econômica e social e praticar as maiores iniquidades em sentido contrário. Junto com os rentistas, os funcionários
públicos são os maiores usufrutuários do iníquo arranjo social brasileiro,
muito bem espelhado na peça orçamentária anual.
Basta ver o que se gasta com ambos.
E o que esperar de 2016? Mais do mesmo.
Mais inflação, mais desemprego, mais desvalorização do câmbio. Não se deve
acreditar nos cenários dos economistas oficialistas, que sempre veem o cenário
do futuro imediato melhor do que o atual. Nenhuma
economia pode sair da crise sozinha, ou só o pode mediante uma catástrofe
social. Como Dilma Rousseff nada está fazendo para
enfrentar a crise, o que veremos é seu
agravamento. Para meu uso
particular estou trabalhando com queda de PIB de
3%, inflação de 12% e câmbio médio a 4,50. Certo, é meu otimismo
particular, mas fazer o que? A realidade poderá se revelar bem pior.
Quem viver verá.