A imprensa brasileira
desenvolveu ao longo das décadas, como a teoria da evolução garante que
acontece com as espécies ao longo dos séculos, uma habilidade única.
Mantém com vida artificial dentro do noticiário político, respirando por
aparelhos, eventos de importância prodigiosa que têm uma característica
muito simples entre si: não existem. É o que se poderia chamar de “não
fato” – ou, mais precisamente, lendas que vão sendo repetidas de redação
em redação, hoje em dia em tempo real, e que não têm nenhuma relação
com qualquer tipo de coisa que possa ser certificada como realidade. É
como o ar do pastel: está lá dentro, mas não serve para nada.
Você
sabe o que é. Há uns 40 anos, ou por aí, aparece regularmente nas
manchetes de jornal e no horário nobre da TV a seguinte frase:
“MDB pensa em deixar o governo”. Precisa dizer mais alguma coisa? Um “
não fato”
como esse é provavelmente o melhor que se pode obter no gênero, mas há
concorrentes.
“Deputados estudam formação de frente comum”, por exemplo. Um clássico, sempre, são as CPIs. “CPI disso ou daquilo pretende
investigar isso ou aquilo.”
Há também a “apuração rigorosa”, o “novo
estudo” e a “mobilização da oposição” – ou da “tropa de choque”. Nunca
se apura nada, nem o estudo resulta em alguma coisa de útil, nem alguém
se mobiliza para outra finalidade que não seja a de se aproveitar do
erário ou fugir do Código Penal.
Mas
e daí? Essas miragens sempre enchem páginas que correriam o risco de
ficar em branco, ou minutos que poderiam passar em silêncio; pode ser
inútil para o público, mas é útil para preencher espaço e tempo.
Para
sorte de comunicadores e veículos, a disposição do leitor em ser
informado sobre fatos que não estão acontecendo é normalmente muito
generosa; ele lê, esquece o que leu e acaba lendo outra vez. Passa um
tempinho, e lá vem de novo: “MDB pensa em deixar o governo”. Nunca
deixou, e não vai deixar nunca, mas a notícia volta. É a vida.
O
duplo zero do momento são as matérias dando conta do que diz, do que faz
e até mesmo do que pensa
meia dúzia de cidadãos, ou mais, descritos
pela mídia como
“candidatáveis” à Presidência da República nas eleições
de 2022.
Não se para de falar deles, a propósito de tudo.
Assinam manifestos.
Fazem reuniões entre si.
Solidarizam-se uns com os outros. Dão entrevistas. Lançam bulas de
excomunhão contra o governo, o tempo todo. Falam para o Brasil. Falam
para o mundo. Tudo bem, mas o que, no fim das contas, poderia ser um
“candidatável”? Uma coisa é certa: os que desfilam por aí não são
candidatáveis a candidatura nenhuma, não na vida real. Supõe-se que,
para ser mesmo um “candidatável”, segundo o entendimento comum que se
tem dessa palavra, o sujeito precisa ser capaz de se transformar num
candidato de verdade – ou seja, em alguém que tem alguma chance de ser
eleito, um dia, para algo de importância. Ou é isso, ou não é nada. Os
“candidatáveis” de hoje não são nada.
Nenhum dos nomes que
frequentam o noticiário de todos os dias tem a mais remota chance de
chegar à Presidência da República – podem, com sorte, arrumar alguma
coisa em seus Estados (deputado, por exemplo, não é difícil), mas ficam
por aí. Se não são candidatos sérios a presidente, porque jamais serão
eleitos, também não são “candidatáveis”. O Brasil tem dois candidatos a presidente, Jair Bolsonaro e Lula. O resto é o resto. [temos alto apreço pelas sábias manifestações do Guzzo, mas, pegou pesado - ou está brincando - quando cogita do principal resto do resto ser candidato a alguma coisa.
Outro absurdo é alguém acreditar que a CPI da covid-19, vai gerar alguma coisa = está mais para o famoso 'inquérito do fim do mundo' que a cada três meses é prorrogado pelo STF.
A CPI vai ciscar, ciscar e nada produzir. Alguma coisa pode até surgir, desde que leve o tema para um hipotético genocídio; só que por não haver a mínima condição de prosperar com acusações ao presidente Bolsonaro (outros poderão ser acusados) e não acusando o nosso presidente o interesse some.
" Madame Natasha faz qualquer coisa pelo meio ambiente, mas não participa de queimadas do idioma. Na quinta-feira, não houve reunião de cúpula de chefes de Estado.
Houve, quando muito, um vídeo muito chato.
Desde
sempre, as reuniões de cúpula reúnem governantes que às vezes
discursam, mas sempre conversam reservadamente. Essa é a parte útil dos
encontros. Na cúpula de Biden, houve só a parte inútil."]
O
Irã,
condenado oficialmente pela ONU por causa do tratamento abominável que
dá às mulheres, ganhou um lugar no conselho que defende “a mulher”,
nessa mesma ONU. Espera-se, agora, o manifesto de apoio das feministas
brasileiras.
J. R. Guzzo, jornalista - O Estado de S. Paulo