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segunda-feira, 2 de novembro de 2020

A morte é uma possibilidade real para todos nós - Ana Dubeux

O respeito à morte

Faça um favor ao mundo: não mate a morte. Fale sobre ela; escreva sobre ela. Respeite a importância e o tamanho dela na vida de alguém. Tão viva quanto qualquer outra condição natural da existência humana, a morte é uma possibilidade real e concreta no amanhã de todos nós e de todos os que amamos. Por essa razão, havemos de aprender a lidar com os barulhos e os silêncios que a sucedem e que também a antecedem.

O medo do que virá, o pânico de perder um dos seus, o choro da saudade, o luto tão pouco compreendido e, às vezes, tão pouco respeitado... Todos esses sentimentos e emoções que cercam a morte nos colocam de joelhos perante ela. Não digo isso baseada nos meus próprios pensamentos. Reportagem da Revista do Correio de hoje mostra como enfrentar a etapa finda da vida humana é tarefa necessária. Sim, é preciso falar sobre a morte.

A psicóloga Cristiane Ferraz Prade, vice-presidente da Casa do Cuidar, organização social sem fins lucrativos que atua na prática e ensino de cuidados paliativos, conta na reportagem que as pessoas têm dificuldade de lidar com a morte e aí ficam sem saber o que fazer quando se deparam com ela. “Procuram qual a frase certa e acabam falando coisas que não ajudam. A gente se afasta desta angústia e não se permite elaborar a existência da finitude, que pode ser uma elaboração enriquecedora, que permite que se viva de forma autêntica e mais inteira. A morte é uma grande professora, mas a gente precisa ficar para ouvir a lição”, recomenda.

Nosso silêncio também ensurdece e, com frequência, adoece. O momento da partida, com toda a dor que isso envolve, pode ser mais bem vivido e compreendido se a sociedade, todos nós pudermos entender melhor o fim. Talvez encarar a morte como um novo começo; talvez envolvê-la com sentimentos de ternura e amor por quem partiu; talvez abraçando as causas que o outro deixou; escrevendo suas lembranças ou apenas dando e recebendo ombros e abraços para amparar.

Conheço muitas pessoas que conseguiram lindamente — e não sem sofrimento — ressignificar um momento de despedida. A maioria não se prepara para isso e, de fato, não existe ensaio antes de as cortinas fecharem. Mas o espetáculo continua para quem segue. Porque cada um é o protagonista de sua própria vida. É preciso refazer os cenários, os atos, dar nova leitura aos fatos. É preciso mexer no roteiro que fugiu do previsível e adaptar o texto para encaixar a dor e a saudade. Na nossa biografia, sempre haverá perdas.

Neste feriado de Finados, convido a uma reflexão e reproduzo o que já ouvi de muitos pais órfãos e amores sofridos de uma falta eterna: não tente limitar ou abreviar o luto de alguém; não indique soluções fáceis para preencher vazios profundos; não procure as palavras certas na hora de consolar, procure, antes, entender que esse momento chega para todos nós e que é preciso falar sobre isso com mais naturalidade ao longo da vida. Não é um preparo antecipado, é apenas um esforço para ser o humano que somos em toda a sua dimensão.

Correio Braziliense


sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Jair, o que a gente vai dizer?

Não falta muito para o Brasil ser chamado a assumir lado numa briga de cachorros muito grandes


O grande espetáculo geopolítico do século ganhou mais ritmo. O Departamento de Comércio do governo americano acaba de divulgar uma lista de novas tecnologias que terão exportação restringida. Elas incluem inteligência artificial, computação quântica e robotics. A lista de restrições às exportações dessas tecnologias é claramente desenhada para preservar o avanço americano em relação à China.

A divulgação da lista ocorreu poucas horas depois de um áspero duelo de discursos no encontro da cúpula econômica dos países da Ásia e do Pacífico entre o presidente da China (ao qual a imprensa internacional já se refere como imperador) e o vice-presidente americano Mike Pence (Trump esnobou o encontro). A guerra de palavras entre Beijing e Washington tornou mais difícil acreditar numa solução breve para a declarada guerra comercial entre os dois gigantes da economia mundial.

Mais ainda: na guerra de discursos, China e Estados Unidos descreveram-se mutuamente como potências coloniais na Ásia. Pence pediu aos países da região (e outros fora dela) que não aceitem “dívida externa” (uma referência à grande iniciativa estratégica chinesa de projetos de infraestrutura em vários países) que possa “comprometer sua soberania”. E Xi Jinping acusou os EUA (embora não tivesse mencionado o nome) de solapar o sistema de regras internacionais “por motivos egoísticos”.

Se alguém ainda tinha alguma dúvida, a ascensão da China resulta num confronto geopolítico de proporções inéditas, e tanto o desafiante (a China) como o desafiado (os Estados Unidos) comportam-se totalmente de acordo ao que previam algumas teorias sobre Relações Internacionais: a superpotência americana não pode tolerar o surgimento de uma outra superpotência capaz de dominar sozinha uma parte do mundo. E, inicialmente, dedica-se a uma clássica política de “containment” (comparável à da Guerra Fria com a União Soviética). A China já denuncia esse tipo de “cerco”.

As mesmas teorias supõem que inicialmente a China crescerá de forma harmônica e pacífica, até sentir que sua própria segurança (e crescimento) estão em risco – o ponto já parece ultrapassado. É esse tipo de tensão geopolítica que tem trazido medo nos últimos meses aos mercados internacionais – mais até do que as disputas comerciais travadas em termos de “guerras”. Aqui entra o papel de indivíduos. Xi Jinping, o novo imperador chinês, não deixa de maneira alguma a impressão de ser um dirigente propenso a ceder a pressões externas. Ao contrário: ele parece convencido de que o único objetivo dos Estados Unidos é o de conter a China.

Xi vai se encontrar dentro de alguns dias na cúpula do G20 com Donald Trump, o homem que acredita que conflitos geopolíticos dessa magnitude colossal se resolvem com “amigos” conversando ao redor de um campo de golfe (como ele fez com Xi Jinping na Florida). De fato, a cúpula chinesa aparentemente diferencia entre as instâncias tradicionais de formulação de condutas externas americanas (departamentos de Defesa e Estado), que se engajaram no “containment” como estratégia frente à China, e a figura de Trump.

O problema, porém, ficou claro para as outras potências que lidaram com chineses e americanos nos últimos tempos. Cada vez mais Washington e Beijing pedem aos líderes de outros países que assumam um lado nessa disputa monumental. Mesmo com tantos oceanos nos separando dos EUA e da China, não vamos escapar de ouvir a mesma pergunta: qual o lado?
E aí, Jair, o que a gente vai responder?

William Waack - O Estado de S.Paulo