O Globo
A censura é terrível. Ela entrega um poder arbitrário ao burocrata que
sempre toma decisões estúpidas. Ela assedia as mentes de produtores
culturais, escritores, artistas e vai construindo a teia dos impossíveis
— cheia de “melhor não” ou “isso eles não aceitarão” — que definimos
como autocensura. [a maior parte dos produtores culturais, especialmente os que priorizam "produzir" (produzir entre aspas é para deixar claro que seria mais adequado um outro verbo, que tem a ver com funções digestivas) material sobre algumas novidades que insistem em invadir nossos lares, nossas escolas e nossas cidades, não tem noção, bom senso e equivalentes que torne dispensável o controle prévio do que pretendem expelir.] A Constituição que o Brasil escreveu no pacto social
da democracia não a tolera. “Cala a boca já morreu”, sentenciou a
ministra Cármen Lúcia. Contudo, ela está de volta.
A censura se infiltra em atos como o veto à propaganda com jovens negros
e descolados porque o presidente da República viu neles algo que
ofendia as famílias. Avança quando se entrega o assunto cultura a um
ministro capaz de qualquer volteio nas leis para bajular o novo chefe,
como, por exemplo, banir temas em edital público. Ela se espalha quando o
Estado vai criando bloqueios à liberdade de expressão usando
subterfúgios como a defesa de supostos valores morais. [supostos??? são valores que estão sendo destruídos de forma sistemática e implacável, destruição que se estende a FAMÍLIA, a INOCÊNCIA de nossas crianças, etc.] Ela fica
escancarada quando o presidente de um banco público, como a Caixa, diz
que não aceita “posicionamento político” em espetáculos que patrocina.
Será preciso voltar mais de dois mil anos e censurar os autores gregos
que se atreveram a usar as tragédias para expor seus “posicionamentos
políticos” sobre dilemas eternos como os limites ao poder despótico. [curioso é ser pacífico que o servidor público dentro da repartição não pode expressar posição política - mas, recursos públicos podem ser utilizados para patrocinar espetáculos defendendo posicionamento político.]
No Brasil de hoje, essa é a tragédia. Governantes de ocasião pensam que
podem reprimir tudo o que não lhes agrada. O presidente usa sua métrica
medíocre para classificar o que pode ser permitido ou o que é proibido
com o dinheiro público. Como se fosse dele, o dinheiro. Os impostos são
pagos por todos os brasileiros. O prefeito vira as costas para as festas
da cidade. A professora Silvia Finguerut, coordenadora de projetos da
Fundação Getúlio Vargas, diz que o estudo “Rio de Janeiro a Janeiro”,
organizado pelo Ministério da Cultura no governo Temer com apoio técnico
da FGV, deixou claro que as festas populares têm grande retorno
econômico. Só no turismo, o carnaval do Rio teve um impacto de R$ 2,8
bilhões na economia. Ao todo, o evento levou aos cofres públicos
tributos no valor de R$ 179 milhões. — Quando o prefeito deixa de apoiar o carnaval, isso terá reflexo na
estrutura necessária para o evento. E a festa tem grande efeito sobre o
turismo, movimenta vários setores da economia. Petrobras, Caixa, Banco
do Brasil sempre tiveram muita presença na área cultural. Desde que o
Brasil se libertou da ditadura este é o momento mais ameaçador para a
área cultural — diz a professora Silvia. [professora Silvia o carnaval pode, e deve, ser apoiado;
mas, é necessário também que medidas sejam adotadas para evitar - prevenção é tudo - cenas deprimentes como as comuns no carnaval de rua do Rio, Salvador, etc.
Cabendo o destaque para aquele nojento, imundo, repugnante, imoral e pervertido golden shower do carnaval deste ano, tragédia que não pode se repetir.]
Nos vários estudos que o ex-ministro e deputado Marcelo Calero
(Cidadania-RJ) coleciona, feitos entre outros pela FGV e a Firjan, a
conclusão é sempre que o retorno de cada real investido na área cultural
é muito grande. Em 27 anos de Lei Rouanet em cada R$ 1 de renúncia
fiscal retornaram para a sociedade R$ 1,59. Mesmo quando se separa o
núcleo cultural das outras atividades da economia criativa se vê que a
cadeia produtiva é intensa e a criação de emprego é alta. Portanto, não é
por perda fiscal que se persegue a cultura. É por autoritarismo. — Temos tido censura às obras culturais com uma visão personalista,
autoritária. Tudo está associado ao ataque às outras instituições que
estamos vendo desde o início do governo. Bolsonaro quer assegurar que
seu capricho prevaleça — diz Calero.
Há uma mistura explosiva: a censura ameaça a democracia, o ataque à
cultura mina um setor econômico, os limites postos por este governo à
arte fazem com que a sociedade não possa se ver de forma completa. O
economista Leandro Valiati, professor visitante de economia da cultura
nas universidades de Sorbonne e Queen Mary, explica que é um erro
econômico banir segmentos da sociedade das manifestações culturais, como
se tenta fazer com o grupo LGBT. [os grupos LBGT podem ter acesso a manifestações culturais, desde que o que apresentem não contrarie, não agrida a MORAL, os BONS COSTUMES, a FAMÍLIA e a INOCÊNCIA de nossas crianças.
Submeter o que pretendem apresentar a um escrutínio prévio é providência que se impõe.] — A diversidade é um valor fundamental, você só estrutura mercados com
diversidade. Não faz o menor sentido o controle governamental sobre o
conteúdo, nem econômico nem politicamente. O Estado como regulador tem
que fazer o oposto: garantir a diversidade e multiplicidade dos mercados
— diz Valiati.
Nas colunas de ontem e de hoje trouxe o pensamento de quem tem estudado o
assunto para mostrar que é burrice econômica querer encurralar a
cultura. Ela tem um valor tangível e que tem sido estudado e medido.
Para além disso, há o valor intangível das manifestações artísticas na
vida de qualquer sociedade. A censura nós a conhecemos na ditadura. Ela é
estéril e estúpida. [mesmo que seja, ou fosse estéril e estúpida se inclui entre o MAL NECESSÁRIO, ou dos MALES o menor.
Uma manifestação cultural do tipo QUEERMUSEU apresenta algo de útil para a sociedade?
É uma imundície tão imunda - a redundância é proposital - que a instituição bancária que patrocinava o evento quando ocorreu em Porto Alegre foi pressionada por seus clientes a desistir do patrocínio e optou por atender aos clientes.]