Cogitada por defensores da prisão após a condenação em
segunda instância
, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que permitisse a execução
provisória da pena é vista com dúvidas por especialistas ouvidos pelo
GLOBO. Segundo eles, uma alteração na lei poderia atingir diretamente
uma
cláusula pétrea, que não pode ser alterada nem pelo Congresso.
Assim,
seria inconstitucional. [o Brasil cultiva certos absurdos, inaceitáveis em qualquer outra nação.
O Congresso Nacional = Poder Legislativo = modificar a Constituição em partes que cassa do Estado o direito de punir de forma efetiva criminosos é inconstitucional.
Eventuais desavisados lembrem que o Congresso Nacional é formado por representantes do POVO, sendo o Brasil uma democracia representativa, estando no tão decantado "estado democrático de direito" o Congresso é a instância legítima para decidir.
NÃO PODE, alegam especialistas que é inconstitucional.
Mas, o Supremo Tribunal Federal - que não tem um único integrante representado o POVO pode, mediante o eufemismo de 'interpretar' a Carta Magna, modificar o que lhe convier.
De Corte Constitucional, de 'guardião' da Constituição Federal, o STF passou a ter 'poderes' que são exclusividade dos outros Poderes.
Várias decisões do STF, que podem ser facilmente consultadas, comprovam interpretações que modificam de fato o texto constitucional - apenas não alteram a redação (só virtualmente) já que aí seria forçar a corda.]
Segunda instância
:
voto de Toffoli vira alvo de disputa no STF
Atualmente, há apenas um projeto estudado pela Câmara, de autoria do
deputado Alex Manente (Cidadania-SP). A proposta, contudo, planeja mudar
um dos incisos do artigo 5º da Constituição. Entre juristas, no
entanto, é praticamente unanimidade que esse trecho da Constituição é
inalterável
. — A discussão trata do artigo 5º. Se quiser mudar essa situação por uma
PEC, teria que ir de encontro ao artigo 5º e, do ponto de vista
jurídico, seria flagrantemente inconstitucional — afirma o advogado
Evandro Fabiani Capano, professor de Direito Penal da Mackenzie.
Veja:
'Estou ainda pensando meu voto', diz Toffoli sobre prisão em segunda instância
As cláusulas pétreas servem para proteger direitos fundamentais
presentes na Constituição, listados neste artigo, além de outros
direitos e a organização da democracia, como o voto direto, a separação
entre os Poderes e a forma federativa do Estado.
O trecho em discussão prevê que
“ninguém será considerado culpado até o
trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. No Supremo Tribunal
Federal (STF), os ministros discutem se essa definição exige ou não a
necessidade do esgotamento dos recursos para a prisão.
— É inconstitucional (uma PEC) porque a presunção de inocência é uma
cláusula pétrea. Ou seja, ela é imutável mesmo por emenda à
Constituição. Somente a convocação de uma nova Assembleia Constituinte
pode alterar cláusula pétrea que protege direitos fundamentais — afirma
Rodrigo Pacheco, defensor público-geral do Rio.
Proposta de Peluso
Na quinta-feira, em evento em São Paulo, a ex-procuradora-geral da
República Raquel Dodge chegou a sugerir a possibilidade da apresentação
de uma PEC que permitisse a mudança. A tramitação da proposta do
deputado Alex Manente foi acelerada por deputados próximos à Operação
Lava-Jato, como o presidente da Comissão de Constituição e Justiça,
Felipe Francischini (PSL-PR).
Análise:
julgamento da segunda instância pode tirar processo sobre drogas da pauta do STF
No Congresso, existem outras possibilidades jurídicas que permitiriam a
mudança. Uma delas foi proposta em 2011 pelo ex-ministro do STF Cezar
Peluso e arquivada no começo do ano. O projeto, criado para diminuir o
número de recursos nos tribunais superiores,
não altera nenhuma cláusula
pétrea diretamente.
Atualmente,
depois de condenados em segunda instância, réus podem
apresentar um recurso especial ao STJ e um recurso extraordinário ao
STF. Pela PEC proposta por Peluso em 2011,
esses dois tipos de recursos
deixariam de existir. Com isso, o trânsito em julgado se daria já após
condenação em segunda instância, sem desobedecer ao artigo 5º.
[o artigo 5º se destaca pelo absurdo de conceder direitos e mais direitos sem nenhuma contrapartida de DEVERES.
Retirar o Brasil do jugo dele, justifica qualquer mudança constitucional.]
Não há, porém, garantia de que essa saída não seria contestada.
O projeto poderia ser visto como forma de burlar o artigo 5º:
—
Vejo a presunção de inocência atrelada ao trânsito em julgado como
direito fundamental. Não é mera norma processual — diz o advogado João
Paulo Martinelli, professor do Instituto de Direito Público (IDP).
Para o procurador do MP de São Paulo Marco Antonio Ferreira Lima, no entanto, esse tipo de medida poderia ser adotado.
— Nada mudaria em relação à matéria pétrea. Mudaria apenas quanto à organização judiciária constitucionalmente prevista.
Em O Globo, mais detalhes