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quarta-feira, 17 de agosto de 2022

O teatro mequetrefe dos fantoches do sistema - Rodrigo Constantino

Rodrigo Constantino

Chega a ser hilário ver o grau de delírio na bolha jurídica! Por ossos do ofício, acompanhei quase na íntegra a cerimônia de posse de Alexandre de Moraes no comando do TSE. Escutar a rasgação de seda, os elogios exagerados, e as Fake News de que esse TSE estaria em total sintonia com o povo e que é orgulho nacional, quase me fez cair da cadeira de tanto gargalhar...

Mas não há a menor graça tal espetáculo, eis a verdade. Trata-se de um teatro mequetrefe de fantoches do sistema, cada um alimentando o ego alheio, flertando com a vaidade das autoridades poderosas ali presentes, sem qualquer compromisso com a verdade.

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Finalmente descobri os maiores atributos de "Xande" para ocupar tal cargo: luta Muai Thai e torce pelo Timão. Mas dado o tamanho do troço, parece que não é um simples presidente do TSE, órgão administrativo que toca o processo eleitoral, que está assumindo, mas sim o imperador do Brasil. Ops!  "Somos a única democracia do mundo que apura e divulga o resultado da eleição no mesmo dia", disse Alexandre de Moraes, concluindo que isso é "motivo de orgulho nacional".  
Faltou explicar por que países tão mais ricos e desenvolvidos escolhem caminho alternativo, mais lento. Por ser também mais seguro e transparente?

Na bolha midiática, cúmplice desse teatro, os militantes estavam em polvorosa. Miriam Leitão escreveu: "A posse de Alexandre de Moraes no TSE, e o encerramento do mandato correto de Edson Fachin, está sendo uma forte defesa da democracia. O presidente Bolsonaro tem que ouvir tudo e ver todos os seus desafetos". Risos! Essa turma realmente acredita que basta falar em democracia para defende-la?

Mas não faltam "liberais" pregando voto em Lula, agora que está liberado pedir voto. Um deles, Pedro Menezes, disse que Lula é a única opção contra o "Chávez brasileiro", ignorando que é Lula quem sempre defendeu o modelo venezuelano.

Com medo de um golpe futuro imaginário, ele escolheu (sem esconder a empolgação) o ladrão do Foro de SP companheiro dos piores ditadores do continente, elegível por um golpe supremo
Nunca poderemos agradecer o suficiente a Bolsonaro pelo seu maior feito: fazer todos os petistas enrustidos saírem do armário e assumirem seu esquerdismo patológico em praça pública! Quanto "liberal" desmascarado!!!

Aliás, como sintetizou um seguidor meu, esse início de campanha foi bem simbólico e coerente: Bolsonaro foi na cidade onde teve uma segunda vida iniciada. Lula foi a um encontro com "juízes" que deram a ele uma segunda vida política, num malabarismo bizarro.

Por fim, ao ver juntos na cerimônia de posse de Alexandre os ex-presidentes Sarney, Lula, Dilma e Temer, sentados lado a lado, questionamos: como o Brasil conseguiu sobreviver apesar deles? Como ainda respiramos ares relativamente democráticos, não obstante tal passado podre? Isso é mesmo um enorme mistério!

Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


sábado, 12 de junho de 2021

Renan Calheiros desperta em mim os instintos mais primitivos. E isso não é bom - Paulo Polzonoff Jr.

VOZES - Gazeta do Povo

Assisto, mais uma vez, a uma sessão da CPI da Covid. E, quando percebo, estou soltando um palavrão daqueles bem impublicáveis para o apartamento semivazio.Vai, Queiroga, bate na mesa. Chama o Renan do que ele é! Por que um tipo como esse vive?”, pergunto, na esperança de que o ministro da Saúde incorpore um Alborghetti e ponha os pingos nos devidos is e, por que não?

 

 O prazer do diabo está em fazer com que lutemos contra ele usando suas armas diabólicas.| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Confesso envergonhado: a CPI, expressão mais evidente e ruidosa da política brasileira atual, desperta o que há de pior em mim. Fico indignado e, nessa indignação, sinto quaisquer resquícios de inteligência, prudência e parcimônia se esvaírem de mim. Torno-me, ainda que por apenas uns minutinhos, moralmente oco.

E é desse vazio moral, ainda que circunstancial e, no meu caso, graças a Deus restrito aos momentos que passo diante da televisão para acompanhar a Turma do Renanzinho, que se aproveitam os políticos para nos escravizar. Quando dou por mim, isto é, quando saio desse transe, percebo que Renan ou Aziz ou aquele outro de voz fina estão usando minha própria indignação para controlar meus sentimentos, eliminando os de alta estirpe e fomentando meus instintos mais primitivos, para usar a expressão imortalizada por Roberto Jefferson.

Porque, a rigor, e por mais abjetos que sejam os políticos alvos de nossa ira, somos nós, envenenados pela indignação, pelo senso de justiça e pela impotência, que acabamos dando poder a essas figuras nefastas, sejam elas de esquerda, direita, centro ou uma diagonal qualquer. Não fosse nosso desejo de ver a chamada moralidade pública imposta meio que à força, eles seriam apenas o que são: uns fantoches de Leviatã que não valem nem um tostão furado.

Mas não se engane. Os políticos sabem como nos manter nessa coleira. Tanto sabem que vivem justamente de nos oferecer mais e mais motivos para nos deixar indignados. Os escândalos a conta-gotas, as falas enviesadas, a desonestidade intelectual escancarada – tudo isso é ingrediente para uma poção que nos hipnotiza e aprisiona.

Tentação
Resistir à indignação, é preciso. Mas é mais fácil falar do que fazer. Outro dia mesmo, esbravejando em silêncio (!) diante de mais uma estupidez qualquer do relator da CPI (ou talvez do presidente ou ainda do cara de voz fina),me vi quase transformado num desses consequencialistas que, despudorados, andaram ocupando as páginas dos jornais para desejar a morte de seus inimigos políticos.

Quase. O que me impediu a metamorfose completa nesse monstrengo revolto foi justamente a constatação de que o Mal não está somente nos feitos tortos dos políticos que despertam minha indignação, mas também no meu próprio desejo de consertar o mundo por meio da violência verbal estéril e de uma visão de mundo (passageira) bastante próxima de um fatalismo ultrapessimista. Aquela coisa de dizer que o mundo está todo errado ou que o Brasil não tem jeito mesmo, sabe?

Consertar a política
, essa política pequena, eleitoreira, feita de interesses insuportavelmente mesquinhos, de discursos cínicos, de mentiras ao cubo e da estupidez perversa dos que não têm compromisso com a Eternidade, é uma tentação. Sim, aquela mesma na qual não desejamos cair ao rezarmos o Pai Nosso. É como se o diabo sussurrasse em nossos ouvidos, nos seduzindo com a promessa de que seremos capazes de mudar o mundo ou acabar com esse estado de coisas por ele próprio criado.

Parece um fim nobre, não? Até divino – diria alguém dado a heresias. O problema é que, ao nos oferecer isso, o diabo abre sua maletinha 007 e nos mostra todo o um arsenal de argumentação e ação pautadas por ardis, intrigas e, novamente, fomento à indignação – aquela mesma indignação dos primeiros parágrafos, que nos torna ocos e suscetíveis ao controle do Mal.  É aí que está a tentação à qual temos que resistir. Porque o prazer do diabo está em fazer com que lutemos contra ele usando suas armas diabólicas.

Paulo Polzonoff Jr., colunista - Gazeta do Povo - VOZES