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sexta-feira, 10 de julho de 2020

Projeto Lincoln, criado por dissidentes republicanos, usa armas da direita para atacar Trump - O Globo

Objetivo é minar presidente em estados que tradicionalmente votam no partido, e obrigá-lo a dispersar esforços na campanha

O 'Lincoln Project' é formado por republicanos insatisfeitos com o rumo que o partido tomou sob o comando de Trump Foto: Reprodução
O 'Lincoln Project' é formado por republicanos insatisfeitos com o rumo que o partido tomou sob o comando de Trump 
Foto: Reprodução
Criado em dezembro do ano passado, o Lincoln Project (Projeto Lincoln) reúne ex-estrategistas e consultores do Partido Republicano e é o responsável pela produção desse e de outros vídeos. Com 1,2 milhão de seguidores no Twitter, o grupo ganhou fama com produções que atacam Trump, mas com um discurso mais alinhado a antigos eleitores republicanos insatisfeitos com o atual ocupante da Casa Branca.

Fogo amigoKanye West diz que vai concorrer à Presidência dos EUA
O mais compartilhado dos vídeos causou a ira do presidente americano, que foi às redes sociais atacar os fundadores do Projeto Lincoln. Trump lembrou que muitos deles participaram de campanhas de candidatos que derrotou nas primárias do partido em 2016.
“Um grupo de Republicanos Apenas No Nome que fracassaram enormemente 12 anos atrás, depois há oito anos e que foram vencidos por mim, um iniciante na política, quatro anos atrás, copiaram (sem imaginação) o conceito de uma propaganda de Ronald Reagan, fazendo o possível para ficarem quites com seus fracassos”, escreveu Trump, de madrugada, no Twitter.

A propaganda que enfureceu Trump foi divulgada em maio e tem mais de 2 milhões de visualizações no YouTube. Os criadores fizeram um jogo de palavras com uma das mais famosas propagandas do ex-presidente Ronald Reagan (1981-1989), um herói para os republicanos.

Com o título “Morning in America” (Manhã nos Estados Unidos), a peça original da década de 1980 mostrava um país em franco crescimento graças à política econômica adotada pelo partido. Em maio, entretanto, o Projeto Lincoln usou o mesmo modelo para apresentar uma visão oposta: “Mourning in America” (Luto nos Estados Unidos) mostrava cidades decadentes, o crescente desemprego e o fracasso do governo federal em lidar com o novo coronavírus.
— Nós esperamos o máximo possível para formar o grupo porque esperávamos que alguém, sobretudo alguém eleito, faria isso antes. Nós queremos pôr Trump na defensiva — afirma John Weaver, um dos fundadores.

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Em 2016, Trump focou seu tempo e dinheiro em estados do chamado Cinturão da Ferrugem, como Wisconsin, Michigan e Pensilvânia, alguns dos mais afetados pela realocação de indústrias fora do país. A vitória nos três estados, por uma diferença menor que 0,8 pontos percentuais, foi a diferença que garantiu a eleição de Trump no Colégio Eleitoral, mesmo sem ter a maioria dos votos populares em nível  nacional. 

Em O Globo, MATÉRIA COMPLETA



segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Como ser ao mesmo tempo cosmopolita, identitário, ambientalista, nacionalista, protecionista e desenvolvimentista?

Segue um resumo das urnas no Reino Unido. Os conservadores mantiveram a fatia dos votos da eleição anterior. Os trabalhistas perderam uns sete pontos percentuais. A diferença final foi cerca de dez pontos. O sistema de voto distrital permitiu aos conservadores formar uma maioria confortável no parlamento. Os trabalhistas perderam votos pró-Brexit para os conservadores e votos anti-Brexit para os Liberais-Democratas. Esse é o resumo.

Os votos operários pró-Brexit que os trabalhistas do RU perderam para a direita são parecidos com os do Rust Belt (cinturão da ferrugem, zonas de desindustrialização) que os 
democratas de Hillary Clinton perderam para Donald Trump. E esse movimento expõe o desafio fundamental enfrentado pelo discurso da esquerda nos países desenvolvidos. Como ser ao mesmo tempo cosmopolita, identitário, ambientalista, nacionalista, protecionista e desenvolvimentista?

Os três primeiros vetores costumam atrair os jovens,
 mas os três últimos falam ao coração dos nem tanto. E mesmo entre os jovens a bandeira do emprego tem forte potencial mobilizador. Daí verifica-se o desafio demográfico de uma esquerda cosmopolita e antenada, especialmente em países com crescimento populacional desacelerado ou negativo. O sujeito pode lacrar à vontade nas redes mas isso não garante uma coalizão social majoritária, e sem ela não se ganha eleição.

As pesquisas mais recentes mostram qualquer candidato democrata derrotando Trump no voto nacional, mas o presidente americano bateria qualquer candidato democrata no colégio eleitoral, 
se a eleição fosse hoje. O pedaço da classe trabalhadora perdido pelos liberais (esquerda nos Estados Unidos) para os republicanos nos estados volúveis continua vulnerável a Trump. Inclusive porque os empregos estão bombando. Protecionismo traz resultados ali.

Desemprego alto e/ou desconforto social são combustível para turbulências políticas e alternâncias de poder. Aqui, o governo Jair Bolsonaro aposta na retomada da economia, e em programas como a carteira verde-amarela. Iniciativas parecidas, como o Primeiro Emprego no mandato inicial de Luiz Inácio Lula da Silva, falharam. Na Argentina, Alberto Fernandez tenta medidas agressivas pró-emprego na largada. Não quer dar mole.

No fim a economia decide, na maioria das vezes. Mas é preciso uma leitura mais cuidadosa do que vem a ser
 “a economia”. As manchetes bonitas da imprensa especializada nem sempre se traduzem como satisfação social. Um exemplo? aumento da produtividade das empresas na saída da crise, notícia positivana outra ponta são menos empregos e mais produção pela mesma remuneração. Pois é, tudo tem dois lados.
Talvez esteja na hora de fazer a leitura político-eleitoral da economia levando mais em conta o bem-estar social, objetivo e subjetivo. O Chile ensina isso. O Reino Unido também. Mas os números frios continuarão tendo sua força, como mostra Donald Trump. 
Ele só consegue resistir ao cerco do impeachment porque a economia americana e os empregos ali estão bombando.
A única certeza? Só se ganha eleição falando ao povão. Isso nunca muda.

AnálisePolítica - Alon Feuerwerker, jornalista e analista político