Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador general de quatro estrelas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador general de quatro estrelas. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Saúde, presidente!

Febre e pneumonia nunca é bom, muito menos para presidente recém-empossado

 Elogiável o presidente Jair Bolsonaro manter a sociedade informada sobre o seu quadro clínico, com boletins e entrevistas do porta-voz, Otávio Rêgo Barros. Dito isso, não é possível achar que a situação está absolutamente sob controle, após dez dias no hospital Albert Einstein. Não é tão tranquila e reconhecer isso não é “sensacionalismo”, como advertiu Bolsonaro pelo Twitter, mas sim trabalhar com a realidade.  Normalmente, fechar uma colostomia é um procedimento rápido, de baixo risco, sem complicações. Não é o que vem ocorrendo no caso do presidente, esfaqueado grave e covardemente num comício em que era carregado pela multidão.

A bolsa seria retirada em dezembro, mas adiaram para janeiro. A cirurgia era estimada em três horas, mas durou sete. Ele sairia do hospital na quarta-feira passada, mas os médicos adiaram a alta, sem nova previsão. Primeiro, enjoo e vômitos. Depois, febre. Em seguida, volta ao semi-intensivo. E, ontem, a notícia de que, apesar dos antibióticos, os exames de tórax detectaram pneumonia. Bom não é.Do ponto de vista do governo, o impacto é quase imperceptível, já que Bolsonaro vem recebendo todas as informações no hospital, os dois ministros-chave, Paulo Guedes e Sérgio Moro, estão a mil por hora e o Planalto e o próprio governo estão sob o controle do ministro Augusto Heleno, do GSI.

Guedes cumpre uma agenda cheia, com governadores, presidentes da Câmara, do Senado e do Supremo, assuntando, sentindo o ambiente político, vendendo a reforma da Previdência. E Moro repete o script, estreando inclusive numa seara que não costuma ser muito fácil para neófitos em política: o corpo a corpo com parlamentares, para ouvir mais do que falar e garantir viabilidade ao seu pacote – que, na verdade, são dois em um, contra a corrupção e contra o crime organizado.
 Assim, o que incomoda na internação de Bolsonaro, mais longa do que o previsto e mais difícil do que o desejável, é que ele continua sendo coadjuvante no seu governo, assim como na sua campanha à Presidência. Após a facada, a campanha andou sozinha e Bolsonaro se limitava a posts pelas redes sociais e a entrevistas pontuais à mídia mais camarada. Com a terceira cirurgia, ele está comandando o País a partir do hospital e do Twitter e o governo também anda sozinho.

Na campanha, o resultado foi a forte entrada em cena de seus trs ilhos mais velhos, Flávio, agora senador, Eduardo, o deputado metido em política externa, e Carlos, o responsável pela imagem do pai. No governo, o resultado é um constrangimento: a desenvoltura do vice Hamilton Mourão.  General de quatro estrelas, bem preparado, com opiniões fortes sobre tudo e sem papas na língua, Mourão deu de ombros à ordem de Bolsonaro para todos calarem a boca durante as eleições e também dá de ombros à sugestão (em falta de uma palavra melhor) de Augusto Heleno, seu colega de farda e de Alto-Comando do Exército, no mesmo sentido. Não calou a boca na campanha, não cala agora no governo.

Bolsonaro e seu entorno providenciaram um “gabinete de emergência” no hospital, mas as visitas estão vetadas, as videoconferências não deslancharam e eles não estão conseguindo evitar o protagonismo do vice-presidente.
Se mudança houve, foi no tom de Mourão. Na eleição, conservador e polêmico. No governo, equilibrado e até surpreendente. Já falou com naturalidade sobre aborto, embaixada em Israel e ameaças contra o ex-deputado Jean Wyllys. E, ontem, recebeu a CUT, nada mais nada menos. Mourão politicamente correto?
Homem saudável e razoavelmente jovem, Jair Bolsonaro deve estar louco para ter alta logo e assumir, de fato, a Presidência. Bons votos!

domingo, 24 de setembro de 2017

As incontinências de um general

Sob as botas do general Olympio Mourão Filho, que marchou do IV Exército em Juiz de Fora ao Rio de Janeiro para arregimentar seus pares e desencadear o golpe, teve início o primeiro lampejo da ditadura que castigou o País por mais de duas décadas. Um ultraje às liberdades individuais, lancinante castigo aos perseguidos políticos e à democracia, esse período negro de nossa história deixou chagas irreparáveis na memória nacional. 

Mourão o conspirador -, de índole belicosa e temperamento irrefreável, era tido e havido como um comandante fanfarrão às vésperas da aposentadoria, que embora não levado à sério foi o primeiro a mobilizar tropas e setores militares para a derrubada da presidência naquele longínquo ano de 1964. No arco de tempo de lá para cá, a repetir a história como pilhéria, um outro general Mourão, esse burocrata das finanças em Brasília, também nos derradeiros dias antes de trocar a farda pelo pijama e seguir à reserva, decidiu soltar os demônios dias atrás durante uma fala em evento na maçonaria cujo teor deveria servir para, no mínimo, enquadrá-lo no crime de insubordinação, passível de severa punição. 

Não foi o que aconteceu. O Mourão da vez, general de quatro estrelas,[membro do Alto Comando do Exército]  que atende pelo registro de batismo como Antonio Hamilton Martins Mourão e tenta uma candidatura ao comando do Clube Militar, não mediu palavras e nem foi contido ao falar em intervenção pelas armas no caso de a Justiça “não solucionar o problema político”. Alegou contar com o apoio dos “companheiros do Alto Comando do Exército” que, nas suas palavras, compartilham da mesma ideia. Foi (não há dúvida) a maior e mais explícita ameaça à ordem constituída desde o fim dos tempos da tutela armada. Instituições civis e os poderes da República estavam claramente afrontados. 

O Judiciário submetido a uma chantagem: ou retirava os “elementos envolvidos em todos os ilícitos” ou, nos dizeres do general, “nós teremos que impor isso”. [pedir a um Poder que cumpra seu dever não caracteriza chantagem e sim o legítimo exercício de um direito.] Não existiu margem a interpretações distorcidas sobre as intenções do oficial que, sem qualquer cerimônia, mandou às favas o regulamento disciplinar segundo o qual é vetado a militares da ativa emitir manifestações de cunho político. A tibieza da reação das autoridades surpreendeu até os mais próximos convivas do Planalto. O Ministro da Defesa, Raul Jungmann, limitou-se a um pedido de explicações do chefe do general e deu o caso por encerrado, sem punição ao indisciplinado Mourão. 

A escalada de inquietação dos brasileiros – que correram às redes sociais para comentar o temor da ameaça – só cresceu. O pior ainda estava por vir. Foi o próprio comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, em programa televisivo, quem reiterou que não se cogitava punir ou repreender o colega de farda pelo ato. Ao contrário, Villas Bôas chegou a elogiar o subordinado: “O Mourão é um grande soldado, uma figura fantástica, um gauchão…”. Deu ainda endosso público às imprecações lançadas ao afirmar que, pela Constituição, as Forças Armadas podem ser empregadas sim para garantir a ordem, numa interpretação muito particular e distorcida do artigo que só aceita tal situação “sob a autoridade suprema do presidente da República”. [não é o caso presente, mas e se for o presidente da República o causador da quebra da ordem pública? 
As FF AA terão que cumprir uma ordem dada pelo próprio autor da desordem? cumprir uma ordem ilegal?]] O comandante do Exército lançou a senha para uma espécie de cordão de isolamento em torno de Mourão na caserna. A reportagem da ISTOÉ levantou as razões. Como relata nesta edição, o próprio Villas Bôas – além de vários outros generais tão drapejados de medalhas e comendas como ele – participou de uma reunião sigilosa dias antes que motivou o discurso na maçonaria. O general Augusto Heleno, que comandou as tropas no Haiti, não hesitou em dar publicamente aval “irrestrito” às ideias de Mourão que, diga-se de passagem, é reincidente e fez no passado duras críticas à classe política, tendo na ocasião perdido o Comando Militar do Sul. [eram tão procedentes, corretas e necessárias as críticas feitas a escarrada ex-presidente Dilma - destacavam a incompetência e corrupção reinante no seu governo - que enquanto o general apenas mudou de função a criticada foi devida e legalmente impedida e expulsa da presidência da República.] Fato recorrente, o flerte com regimes de exceção e ideias de ultradireita acontecem aqui e alhures em tempos de crise. A busca de uma alternativa radical, vendida como solução fácil e eficaz, embute decerto riscos desconhecidos e valores enganosos como o de imaginar que não há malversações ou desvios de qualquer natureza nesses sistemas. Nada mais falacioso. Na ditadura, o estrangulamento da informação, a censura sob diversas formas e o controle violento daqueles que se opõem ou denunciam o regime, escamoteiam as faltas gritantes cometidas debaixo dos panos. Sem liberdade e sob a direção das armas a sociedade perde o controle do próprio destino.


Fonte: Revista IstoÉ - Carlos José Marques, diretor editorial da Editora Três