Bolsonaro quer baixar imposto de importação de computadores
Atraso domina mercado tecnológico
Num de seus últimos tuítes, o presidente Bolsonaro anunciou: “Para
estimular a competitividade e inovação tecnológica, o governo estuda
(...) a possibilidade de reduzir de 16% para 4% os impostos sobre
importação de produtos de tecnologia da informação, como computadores e
celulares.” É o caso de se sentir o alívio da diretora de futebol da seleção
feminina da Tailândia, que chorou ao ver o gol de seu time depois de
tomar 13 x 0 contra os Estados Unidos e de ralar um 5 x 1 contra a
Suécia.
Tomara que o capitão emplaque essa. Como seus tuítes fazem parte de uma
realidade paralela, ficaria de bom tamanho se passasse a revelar todos
(repetindo, todos) os obstáculos que aparecerão no caminho. Os computadores, bem como os tablets e os celulares, custam caro no
Brasil. A inovação tecnológica da indústria é desprezível, e esse
mercado é dirigido pela mão invisível do atraso. Em 1975, quando a China vivia as trevas da Revolução Cultural que
descambou até para casos de canibalismo, em Pindorama uma aliança de
militares e burocratas começou a erguer barreiras contra a importação de
computadores. Nascia assim uma das maiores ruínas produzida pela
ditadura, a chamada reserva de mercado da informática. Era mais fácil
trazer um quilo de cocaína do que passar pela Alfândega com um
computador. A ideia era criar uma tecnologia nacional, copiando patentes
estrangeiras.
Em 1984, quando o Congresso sacramentou a maluquice, um grupo de
engenheiros chineses fundou a empresa Lenovo. Ela ralou, mas hoje é a
maior vendedora de computadores do mundo. É a China que monta os
iPhones, e seus celulares estão entre os melhores. Os chineses disputam
com os americanos a dianteira na tecnologia da informática. Os campeões
nacionais brasileiros atolaram. Deve-se ao então presidente Fernando Collor a quebra do monopólio do
sonho, ao qual juntaram-se grandes bancos e empresários. A reserva de
mercado acabou, mas a mão invisível continuou agindo no escurinho de
Brasília. Reciclou-se, beneficiando-se de incentivos fiscais, franquias
de importação y otras cositas más. O resultado desse contorcionismo está
aí: os celulares e os tablets são caros, e os computadores competem
graças ao imposto de importação de 16%.
O tuíte de Bolsonaro poderá ser uma baforada, como foi o “peso real”. Se
ele contar, passo a passo, por que a ideia não vier a avançar, prestará
um grande serviço. As guildas empresariais já anunciam que uma redução
do imposto provocará a fuga de indústrias. Nesse caso, um dos motivos
que mantêm essas empresas em funcionamento é a barreira tarifária.
Restará discutir se ela faz sentido. Sempre será bom lembrar que a
Abolição da Escravatura destruiria a produção do café. Era lorota.
No final do século passado, quando o Brasil começou a abrir sua
economia, a indústria fortificou-se na defesa de sua proteção. Isso para
não se falar na venda de ilu$ões, como o plano de construção naval.
Noves fora alguns trogloditas, a agricultura e a pecuária tomaram o
caminho inverso, modernizando-se. Surgiram dezenas de centros de
pesquisas agrícolas, e hoje o agronegócio empurra a economia. Enquanto
isso, as guildas industriais continuam dando jantares para autoridades.
Uma indústria pode crescer protegendo-se dos concorrentes, mas definha
quando se protege dos consumidores.